Ganhar do Foguinho é bom. Mas é um prazer vulgar, rotineiro, que conta pouco na tabela de satisfação de desejos do rubro-negro médio. Como se sabe, esse torcedor padrão vive num estado permanente de rumo a Tóquio e ganhar dos mortos de fome por apenas um gol de diferença poderia até mesmo ser encarado como uma espécie de fracasso. Há muitos que pensam assim e não os critico. Manter altos padrões também é papel do torcedor.
Mas mesmo o torcedor mais exigente e intolerante há de admitir que ganhar dos sem-ônibus com eles dando unhada, fazendo pirraça e voluntariamente se humilhando publicamente em mais uma reedição do seu tradicional chororô pra justificar ter levado outra pisa do Mengão é muito divertido.
Se o torcedor botafoguense médio tivesse uma fração do bom humor dos rubro-negros a sua marca distintiva, o chororô, já teria se tornado mais uma fonte de receita pro clube. E olha que eles estão precisando desesperadamente de um qualquer, já que vender ingresso e camisa para mais ou menos 18 sofredores é o business plan ideal pra levar a boca à falência.
Mas como os infelizes aparentemente levam a sério essas groselhas conspiratórias que inventam quando o lombo ainda está quente da coça que levaram, o chororô, e todo seu potencial cômico e comercial, acaba se tornando uma negócio meio triste, melancólico. Bem feito pra eles, quem torce pro Botafogo não está mesmo a fim de se divertir com futebol. Se alguém estiver com pena de botafoguense que pegue um e leve pra criar em casa. Mas que esteja avisado que eles são muito difíceis de encontrar e não se reproduzem com facilidade.
O Flamengo não precisou fazer muita força pra ganhar dos caras. Mesmo com 27 desfalques a diferença entre o material humano à disposição de cada treinador era imensa, desmesurada. Mesmo assim, desfalcado e remendado, submetido a métodos alienígenas de treinamento, o Flamengo não fugiu as raízes e deu aqueles moles que só o Flamengo sabe dar.
O Flamengo foi dominante desde o apito inicial, mas de que adianta domínio quando o goleiro dá mole? Os alvinegros não faziam um gol praticamente desde a Guerra do Paraguai, mas a nossa defesa à europeia, com marcação alta e o escambau, conseguiu levar dois gols deles no mesmo jogo.
É verdade que Diego Alves tem sido uma preocupação, chutam a bola no nosso gol e ela entra. Os dois gols que ele levou no domingo eram perfeitamente evitáveis. Saiu malíssimamente no primeiro gol e montou uma barreira que mais parecia a arcada dentária do Tião Macalé. Foi justamente através do buraco imoral deixado na barreira que o chute dos caras passou. Nojento!
Antes mesmo de levarmos o nosso imerecido 12º gol em 12 jogos a defesa já tinha mais um desfalque. Rodrigo Caio, que tem sido o patrão da nossa cozinha, saiu aos 12 minutos com algum músculo estourado. É absurdamente alta e grilante a quantidade de lesionados em nosso elenco. Não há paz pro torcedor rubro-negro. O Departamento Médico está bombando, acontece tudo ao mesmo tempo.
Thuler foi muito bem substituindo o Rodrigo Caio, mas além do ataque do Botafogo ser uma contradição em termos e não servir como parâmetro, o menino Thuler ainda é bem moleque. Já mostrou que tem qualidades, mas o ideal era ir colocando a responsabilidade aos poucos sobre as suas costas. Infelizmente, o planejamento foi pras picas e do jogo das nossas vidas contra o Emelec não tem como Thulerbauer escapar.
Pra dar a escovada humilhante que a torcida exige nos equatorianos vamos com a zaga novinha em folha, jovens atletas que só jogaram uma vez juntos. Pergunta se vai ser tranquilo? Pelo menos o espanhol Marí foi correto em sua estreia e, segundo vários gatos mestres, deu um show de posicionamento e cobertura. Meu critério para avaliação de zagueiros é muito mais tosco, não fazendo merda ou entregando rapaduras já dou de cara uma nota 7. Dei um 8 pro Marí pra incentivar.
Pra permanecer no tema estreia, com um pouquinho de boa vontade podemos considerar que foi também a estreia de Gerson. Jogou com muita desenvoltura fora de sua posição original e pareceu estar com muito mais vontade que vários amiguinhos em campo. Uma atuação que aparentemente confirma todas as narrativas de que ele era Flamengo desde o útero materno e que o período em que se abrigou sob pavilhões menos honrosos foi apenas mais um dos contratempos e peripécias aos quais os verdadeiros heróis se submetem. Foi premiado com a vitória e com um golaço.
Aliás, os três gols do Flamengo foram plasticamente bonitos. Gabriel meteu golaço batendo de primeira e Bruno Henrique deixou o dele em jogadas com participação decisiva de Rafinha. Rafinha nem é um cara alto, tem 1,70, mas quando colocado ao lado dos laterais em atividade no Brasil ele assume as proporções de um gigante. Tento refrear a empolgação, mas se Felipe Luís for capaz de fazer a bombordo o que Rafinha tem feito a estibordo vai ser muito ruim de segurar o Flamengo.
Isso, é claro, se as contusões deixarem de esfacelar os times que Jorge Jesus tem mandado a campo e se a janela europeia de verão deixar. Porque ela tá aberta e o risco de que mais talentos sejam por ela sugados é real e imediato. O defenestrado da vez foi Leo Duarte, quem será o próximo ninguém pode garantir. Estou preparado para o pior, o futebol agora é assim e não vale a pena se apegar a ninguém.
Só não gostaria que a janela desse verão tragasse o palidrômico minicraque Reinier. Que ainda não jogou sequer uma partida profissional, mas a torcida já sabe dizer o seu nome de trás pra frente com extrema naturalidade. Sempre cultivamos a esperança de ver as joias lapidadas no Ninho do Urubu jogando ao menos durante uma temporada completa pelo time de cima do Flamengo. Mas também sabemos o quanto isso tem ficado cada vez mais difícil e improvável de acontecer. Ainda mais nos casos dos fora de série como Vinicius Junior e o e anacíclico Reinier.
Apesar das inúteis, desmedidas e hilariantes lágrimas botafoguenses o jogo com eles faz parte do passado. O que ficou do rápido entrevero com o coirmão pequeno foram os três pontos obrigatórios e o que pode ser considerado o último coletivo da torcida para o jogo da Libertadores. A torcida do Flamengo deu show durante 90 minutos, apoiando sem parar e ajudando a criar no estádio o clima irrespirável e prejudicial à saúde dos adversários. É pra isso que pagamos ingresso, pra trabalhar pelo Flamengo.
Chega de miudezas, treino é treino, jogo é jogo. A sorte está lançada. Nosso foco é a Libertadores, com desfalque ou sem desfalque. O time ainda não sabemos se está preparado pra decisão de quarta-feira, a torcida nós temos certeza que está. É um ótimo começo.
Mengão Sempre
Cade o texto do emelec?
O Flamengo tornou-se, e é há muito tempo, o grande arqueólogo da mediocridade mumificada. A cada jogo descobre uma tumba e traz a múmia anônima à luz dos eternos, e ela brilha na mídia por alguns dias, mas sempre com a intensidade emprestada pelo Flamengo. Depois, se enterra de novo, por múmia desimportante que é.
“Só não gostaria que a janela desse verão tragasse o palidrômico minicraque Reinier. Que ainda não jogou sequer uma partida profissional, mas a torcida já sabe dizer o seu nome de trás pra frente com extrema naturalidade”.
GÊNIO! Hahahahaha
Arthur, que a gatomestragem não me escute, mas você é o cara.
Crônicas inigualáveis de puro flamenguismo, e cada vez melhores.
Está nos devendo uma live no Twitter enquanto dá uma geral nas louças.
Abs e SRN.
Prezado Muhlenberg,
concordo plenamente com Fernando Amadeo, é sempre incomensurável ler seus textos. Sua ilustração da barreira montada pelo nosso arqueiro, “e montou uma barreira que mais parecia a arcada dentária do Tião Macalé” traduz exatamente a tragicomédia que foi aquilo. Parabéns e não deixe de nos presentear sempre com seus textos de humor fino e sagaz.
SRN!!
Por mais que eu queira me convencer, me convenço mais que não vai dar… mais uma vez, é essa a sina do Flamengo, é essa minha sina. A dúvida é: assisto ou não ao jogo, de cara limpa ou com umas de Teacher e Rivotril nos cornos? Enfurnado em minha tumba sob um cafuné gostoso de Ana, a aranha romântica, e ouvindo as sábias palavras de Miki, meu rato-mestre, surdo a cantigas macabras da vizinhança arco-íris aí em cima, me parece a opção mais provável. Bom jogo para todos.
pergunta que não quer calar….
pq tirar reinier da seleção se não vai jogar ?
SRN !
Arthur, vc é um mestre. Palidrômico foi insuperável.
Palidrômico, vai lá. E anacíclico? Gastou o dicionário de sinônimos e verborragia.
Demais!
Palidrômico *
Prezado Muhlenberg,
É sempre com inenarrável prazer que leio, ou melhor, delicio-me com seus textos, repletos de sabedoria envolta numa aura de humor que alegra e diverte nosso espírito Flamengo.
Como rubro-negro dos quatro costados, agradeço por seu rubronegrismo latente, típico dos mulambos de raiz.
Para mim a frase “submetidos a métodos alienígenas de treinamento” é a hors-concours, dentre as tantas magníficas dessa irretocável crônica.
SRN! Vamo virá Mengô! Vamo virá Mengô! Vamo virá Mengô!
Nojento
O artigo do Grão Mestre é sensacional, no seu melhor estilo.
Todos os comentaristas já ressaltaram, em razão do que vou mudar de assunto.
Vou escrever a respeito do palindrômico Reinier, que também é Jesus Carvalho.
Tudo faz crer que deva ser primo do Jorge, seu técnico.
A família Jesus cada vez maior no futebol, a partir do Gabriel, que é bem inferior ao nosso Gabriel Barbosa.
Sempre gostei de números e nomes que sejam palindrômicos, mas, confessso, nunca reparei o óbvio, ou seja, que escrevendo de frente para trás ou de trás para frente Reinier é sempre reinieR.
Dito isto, consultei a Internet e constatei que o garoto nasceu no dia 19 de janeiro de 2002.
Dado importantíssimo.
Dia em que a nossa musa fujona, a Nivinha, dançava a sua valsa de entrada na adolescência, e também do meu trigésimo sexto aniversário de casamento.
Em assim sendo, só podia sair um autêntico flamenguista e um craque em potencial.
Com absoluta certeza.
Só nos resta exigir ao primo Jorge que escale, o mais rapidamente possível, o xará arrevesado do felizardo marido da Grace Kelly, que nunca trabalhou na vida para merecer tamanha recompensa.
Jorge Jesus coloque imediatamente o Reinier Jesus, que a Libertadores será nossa.
Convictas SRN
FLAMENGO SEMPRE
muito bom! SRN
hahahahahhahahahahah palidrômico Reinier muito bom…”uma barreira que mais parecia a arcada dentária do Tião Macalé”…esse Arthur é fueda!
O que mais me empolgou no jogo foi a comemoração do gabigol! Aparentemente está baixando o espírito flamenco nessa bagaça.
Quarta eh entrar com essa pegada jogar com intensidade e vibração e se o diabo prevalecer e os gols nao saírem (toc, toc, toc) CAÇAR cada equatoriano desgraçado e mandar uns 4 para enfermaria.
Que o Palmeiras enfrente um todo poderoso flamengo ou um EMELEC jogando com 10 pq não tem mais como compor elenco.
Muhlenberg em ótima forma após a “intertemporada”. Aliás, intertemporada é o caralho, é cada uma que inventam….
Tem uma historinha no universo terapêutico que ilustra mais um texto hilário do Arthur.
Um milionário americano foi diagnosticado com uma doença terminal com prazo de validade de 2 meses.
Pensou “Já que vou morrer, que seja às gargalhadas”.
Alugou uma suite presidencial no Waldorf Astoria e mandou buscar todos os filmes de Jerry Lewis, Chaplin, Buster Keaton e assemelhados.
Findo o prazo, se sentia cada vez melhor, cheio de energia e aproveitou o embalo pra se divorciar da sua velha e carcomida mulher, o que fez com que aumentasse ainda mais sua renovada alegria de viver.
Voltou ao médico. Veredito: curado.
O poder da brincadeira, do humor, da galhofa e da zoação são insuperáveis ferramentas de cura.
Na pior das hipóteses (às vezes, a melhor), caímos fora morrendo de rir. Literalmente.
Acordar lendo pérolas como “Os alvinegros não faziam um gol praticamente desde a Guerra do Paraguai” e “montou uma barreira que mais parecia a arcada dentária do Tião Macalé”, acabou de acabar com a minha cadeira já com os braços e as costas mais caídos que a minha bunda.
srn p&a