Muita gente ficou preocupada com a anômala derrota pro Juventude no domingo, os mais apavorados previram até o início de uma fase de perrengue rubro-negro. Mas não foi nada disso que aconteceu. Desprezando o mau agouro dos especialistas, o Flamengo foi até Cuiabá pra fazer história e conquistar uma das mais importantes vitórias da campanha do eneacampeonato.

Enquanto parte da torcida do Flamengo tava cornetando o Michael o Flamengo tava fazendo história. E vencendo os terríveis obstáculos que a vida colocou no seu caminho rumo ao triunfo. O Flamengo jogou pela primeira com um time que tem o mesmo nome de uma cidade onde o Flamengo até então só tinha apanhado.

Nos seus quatro jogos anteriores na Arena Pantanal o Flamengo conseguiu a proeza de empatar com o Santos, perder do Fluminense, do Goiás e até do Vasco. Até ontem o Flamengo nunca tinha feito sequer um gol naquelas latitudes. Pra aumentar o grau de dificuldade do que já era extremamente difícil o Flamengo entrou em campo de meia branca pra enfrentar um time cheio de ex-jogadores, muitos portadores de nomes pouco convencionais, e ainda se deu ao luxo de atacar pro lado errado.

Por sorte nossa rapaziada não liga muito pra essas paradas religiosas e em menos de 10 minutos o Pedro já tinha feito o gol dele e colocado as coisas dentro de uma perspectiva mais realista. E o gol meio que definiu o andamento da partida até o fim. O Cuiabá arrecuou o seu pessoal e se dedicou exclusivamente à tarefa de não deixar o Flamengo fazer outro gol. E quase foram bem-sucedidos.

Mas o menino Muniz, quem tem um pacto com os deuses da bola e nem deveria ter ficado no banco, entrou no jogo, desconsiderou o esforço dos cuiabanos e encontrou o amigo Tiago Maia em ótimas condições pra receber o passe preciso e marcar o 2×0 que sepultou, pelo menos por hora, os planos de quem previa uma minicrise no Flamengo. Ainda não foi dessa vez que nos deram motivo pra uma boa pixada no muro da Gávea.

E assim o Flamengo saiu da embaraçosa segunda página da tabela e se enxertou ali entre os 10 primeiros colocados. Uma posição que não condiz com a inconteste superioridade rubro-negra, mas que é perfeitamente adequada ao momento e está em conformidade com todas as regras de etiqueta do protocolo do Deixou Chegar Fudeu. G4 antes da vigésima rodada écoisa de novo-rico, estamos em outro patamar. Vamos nos manter no sapato.

E não tem sido nada fácil manter o perfil baixo e discreto que é uma das características mais marcantes do torcedor rubro-negro. O Flamengo não para de surpreender e assombrar. Agora tem esse problema da defesa, aparentemente insolúvel. Mesmo com Arão improvisado, Diego Wallves e Rodrigo Condomínio toda hora dodóis, o Flamengo tem hoje, pasmem, a melhor defesa do campeonato.

Os reais motivos para esse comportamento irregular dos nossos defensores, irregular e contrário às nossas tradições, permanecem restritos ao campo das especulações. Não está descartada a hipótese de que Rogério Ceni, durante o recolhimento de sua quarentena, ter formulado um novo esquema defensivo que impede o Flamengo de tomar gol. Não é impossível, Ceni tem capacidade para tal, mas não se pode desconsiderar o fato de que o Flamengo tem enfrentado nessas rodadas iniciais do Brasileiro carne-assadas históricas.

Domingo teremos, enfim, um joguinho mais tranquilo, um Fla-Fluzinho em localidade exótica, dessa vez o Itaquerão, um belíssimo gramado cercado por mais de um bilhão em dívidas, penduras e fiados. Não temos nada com isso, lá no Flamengo as contas estão em dia e nosso único vacilo foi deixar a grama do Maraca se transformar em pasto. Ainda que nesse inquérito da manutenção do gramado haja 50% de responsabilidade do Flor, sempre relutante em assumir seus B.O.s. Por sorte a CBF/CONMEBOL ficaram com essa pica de arrumar a grama pras finais da ridícula e clandestina Copa América.

Ninguém tá vendo essa merda, mas caso alguém passe em frente a um televisor ligado em um canal obscuro que esteja transmitindo os jogos da competição é de bom alvitre saber que os rubro-negros devem torcer pela Colômbia (Arvre Seca!), cuja vitória sobre o Uruguai significará  o retorno imediato de Arrascaeta. Pra cima do paisisto, cafeteros!

Da mesma maneira que a torcida do Flamengo não medirá esforços para incentivar o Chile diante da Seleção Brasileira, entidade privada que opera sem controle da sociedade e nos sequestrou Everton Ribeiro e Gabigol como se fosse uma estatal russa açambarcando a propriedade privada e impedindo o livre girar das engrenagens do capitalismo. O Brasil perder significa não apenas a volta dos nossos craques, mas também a permanência de Isla longe do Ninho por mais alguns dias. Matheuzinho é Raça Fla.

Agora que o Flamengo começou mais uma série invicta, tá na hora do time do Flamengo se reencontrar.

Mengão Sempre