Abro a página em branco para tratar do Flamengo x Cruzeiro, e uma súbita queimação na mufa me leva a afastar o lepitópi. Quem seria capaz de falar sobre uma partida de futebol em tempos nebulosos como estes? Somente um monstro, um débil mental ou um paspalho se atreveria a escrever sobre uma final de Copa do Brasil em pleno setembro de 2017. Pois sou, de bom grado, este monstro, este débil mental, este paspalho.
Que se pode fazer? Lembro o notório louco por futebol Nick Hornby, na antológica introdução de seu livro (livraço) “Febre de bola”: “A verdade é a seguinte: durante trechos alarmantemente grandes de um dia normal, sou um retardado.” Pelo Arsenal, no caso dele. Cada um com suas armas, mas o inglês está certo: a resposta, meu amigo, é desbundar, apelar para a válvula de escape mais à mão, ou enlouquecer e se rasgar lendo os jornais.
Prefiro endoidar aos poucos, como minhas irmãs e irmãos flamengos, em especial os que vejo por este dias nas esquinas e bares da cidade. Você os reconhece de longe. Olham para os cantos, perdidos, exibem olheiras fundas como as do treinador Reinaldo Rueda, enquanto empunham caveiras imaginárias, remoendo: “Muralha ou Thiago, eis a questão!”. Sim, qualquer questão é melhor do que se ver de volta à razão, ou ao governo Temer.
Demorou, mas depois de uma semana, enfim consegui abstrair as seguidas falhas sob as traves rubro-negras, deixando a aflição escapar (e parar bem no pé do atacante do Cruzeiro, ai Jesus).
O que me ajudou bastante nesse sentido foi uma chegadinha à aprazível Tijuca, endereço de uma clínica ortopédica a que fui obrigado a visitar por conta de uma estripulia que lesionou minha mão direita. O dia estava bonito, a vista da Lagoa era agradável do banco de carona, e os pensamentos vagavam (“Que bonito o Cristo empedradão de braços abertos, parece o Muralha na hora da falta…”), quando fui interrompido pelo motorista, quase na boca do túnel André Rebouças:
– Arrumou o que nessa mão aí?, reparou o simpático chofer, um paraibano da cidade de Sapé – Pois olha, eu passei seis meses quase sem trabalhar de tanta dor, até que o primo me trouxe a cura lá do norte. Tiro e queda, esfrego duas vezes por dia. Sabe o quê? Sebo de carneiro! Ué, tá rindo?
Rindo era apelido, eu flatulava todo o estofado do carro de tanto gargalhar. Já não tinha nem mais ar, mas o paraibano animou-se e foi em frente, sem ligar para minhas convulsões:
– Sebo de carneiro sim senhor, pode botar fé. Mas tem de ser natural hein, não essa imitação que o povo vende em qualquer lugar no Rio. De preferência de carneiro capado! Você passa assim ó, na região machucada, e o calor alivia a dor na hora. Age na junta, sabe? Com poucas aplicações a mão ficou boa, fera…
Enquanto eu me reaprumava, o paraibano discorreu então sobre outras maravilhas da medicina natural do norte. Sucupira para artrite, saião para gripe, chá de espinheira santa para caganeira, catuaba para.… Mas o pensamento voltou, debilmente, para o nosso sofrido elenco, que além de disputar algumas peladas encarniçadas já foi obrigado a jogar quase 50 jogos este ano.
Será que não valeria importar uns bons nacos de sebo de carneiro para auxiliar no tratamento dos nossos craques? Não será isso que anda faltando ao joelho de Conca, aos quadris de Rômulo, aos pés do Trauco e a uns 201 ossos do Rafael Vaz? Do Rio de Janeiro ao sertão da Paraíba vai-se em pouco mais de 20 horas pela estrada. Seria maldade, amigos e amigas flamengas, pedir ao ocioso treinador de goleiro Victor Hugo para dar um pulinho lá, talvez de bicicleta?
Pensando tamanhas besteiras o trânsito passa mais rápido, e logo cheguei ao meu destino na praça Saens Peña, uma clínica especializada em mãos, dedos e punhos. Saltei do carro agradecido e, só então, ao me ver entre outras dez múmias, jovens e senhoras com os bracinhos enfaixados em tipoias, tive a revelação que me fez perdoar Alex Muralha, Thiago Rodrigues, Victor Hugo e todos os seus colegas de profissão. Amigo leitor, nossos goleiros não têm culpa; o brasileiro em geral é que ainda não sabe direito usar as mãos.
Sim, somos todos como bebês de colo, que não se entendem com os próprios dedinhos. Empurrei as revistas velhas da mesa, pedi lápis e papel à secretária e comecei, ali mesmo, a redigir a importante tese, que me dará fama, reconhecimento e fortuna, assim que eu conseguir entender os garranchos escritos com minha mão canhota. O fato é que o tratado terá mais de 217 páginas, e exemplos de carne e osso que provam o que estou dizendo, do Romero Brito às dançarinas de axé, dos jogadores de vovôlei do Leblon ao Armando Volta, o “Sambarilove” aquele do toca-pintinho.
Não importa sobre o quê, o lance é continuar escrevendo. Para esquecer de onde estamos, mas principalmente de quando estamos.
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A mão ainda não está totalmente curada, mas quando melhorar prometo escrever sobre as 238 almas flamengas (sim, 238!) que tiveram a coragem de presenciar aquela pelada vagarenta no Engenhão. A desprestigiada peleja, entre um Botafogo de travas altas contra um Flamengo de saltos idem, me fez recordar o causo que era contado pelo cronista Sandro Moreyra. Jogo no interior, vazio de dar dó, e o locutor anuncia, pelo alto-falante: “PÚBLICOOO PAGANTE: Dr. Carmo, seu Afonso da farmácia, Dr. Alberto e senhora, padre Silva…”. Aposto que nem o padre Silva nem o alvinegro Moreyra teriam ido ao Engenhão no último domingo.
[…] […]
Avai
De novo jogo ruim. Parece que a turma não entrosa de jeito nenhum.
Enquanto os fracos adversarios tinham fôlego, mostravam a nos como é que se faz um contra-ataque e como é que um time moderno se defende.
Uma aula.
Depois de cansados, erravam quase tudo, mesmo assim levando perigo a nossa “zaga”.
Na frente, se fez valer a sacanagem de não deixar jogar o nosso único atacante durante semanas e semanas. O VIZEU é muito bom, estava em um ótimo momento, fazendo gol de tudo que é jeito – e foi tirado para a entrada de um ERRO imenso. E quase sem chances para voltar, nenhuma confiança passada, etc . Enfim, a sacanagem de sempre com os jovens.
Agora, querem enfiar o menino em jogos assim, para ele decidir. Não deu certo. Ele perdeu, pois a confiança não esta mais la e para ser adquirida precisa-se apostar nele e não naquela horroroso.
Enfim – insatisfação, mesmo com muitas chances perdidas, TODAS não trabalhadas, mas na pressão, na tentativa de acontecer algo por si mesmo etc.
Esse time nao deslancha.
E o publico, hein. PIOR que na Suíça …
SRN
Acho que é meu dever.
Preciso falar, falar em esperança, mesmo que seja fora do futebol, fora de todo e qualquer esporte.
Aqui não seria o lugar adequado, ou, aproximando-me de um juridiquês, o foro próprio.
Certamente não.
Há que se convir, no entanto, que este RP&A que, com tristeza, parece se enfraquecer a cada dia, foi o filho pródigo do Urublog, criação maior do Grão Mestre, como gostava de apelidar o nosso Arthur Muhlemberg.
E, no Urublog do Grão Mestre, houve, já em passado remoto, um notável artigo enfatizando uma obra que é, pelo menos para mim,
marcante e magistral.
 Sociedade do Espetáculo, de Guy Debord.
Debord também é, se bem interpreto, um dos inspiradores de um jovem JUIZ DE DIREITO, que merece todas as letras maiúsculas,
chamado Rubens Casara, lá do Rio de Janeiro.
Não o conheço, nunca sequer o vi, mesmo que de passagem.
Não importa, pois tive a oportunidade de ler alguns dos seus muitos trabalhos.
Como velho e aposentado magistrado, tenho este jovem como uma redenção.
Por isto mesmo, aproveito, mesmo que talvez de forma indevida, este espaço que deveria ser do futebol e, mais restrito ainda, do Flamengo, para divulgar um artigo que foi escrito ainda hoje.
Afinal de contas, o meu amor pelo Flamengo, que surgiu do quase nada que é o pensamento de uma criança de seis anos, robusteceu-se, muito e muito, ao longo de tantos anos, exatamente por ser o mais POPULAR clube do País.
Nunca me interessou se somos a maior torcida do mundo, mas de extrema importância a autêntica popularidade flamenga, que, como tantas coisas positivas, vai se esvaindo a partir que os Estádios passaram a ser chamados de Arenas.
Voltemos ao Rubens Casara e seu artigo.
Tema – Colaboração Premiada.
Rigorosamente dissecado, melhor dizendo, perfeitamente dissecado.
Se quiserem seguir meu conselho, leiam no Diário do Centro do Mundo (16.09.2017, pois não sei se e quando este comentário será publicado).
D E F I N I T I V O.
SRN
FLAMENGO SEMPRE
Pensando sobre a torcida-nova da gente, essa de classe merdia que nao sabe de nada da historia, menos ainda coloca algo em pratica – a nao ser cantar sem fim 2 coisas, entre um selfie e outro, vestido com a ultima camisa do Mengao: “Uma vez Flamengo” … etc. outra vez “sou brasileiro, com muito” aaarrrghhhh ….
Ai me lembrei do mestre Nelson Rodrigues:
“Quando o Flamengo esta perdendo no Maracana, o povo até vaia minuto de silencio”.
Esses tempos nao voltam mais. Como muita outra coisa aih no BR: Democracia, justiça, direito, paz, cultura. E claro, futebol.
O pais inteiro e o futebol virou essa merda que da pra assistir daqui mas – pelo menos EU – posso desligar.
Boa noite !
SRN
Exijo a volta de Gabriel…!
Edvan-Alagoin has-Ba.
PS – Quem é melhor do que ele? O Geuovane? ( ou sei lá como se chama)
FUI…!
Rueda, El Brujo, leu e obedeceu !
Afinal de contas, quem pode discordar de um Sábio !
Saiu a escalação para o jogo contra o Ixpó e dela consta o nome do grande Arcanjo Gabriel !
Meus sinceros parabéns ao Edvan, que manda e desmanda no Brujo.
Agora, passo a acreditar em uma completa reviravolta no Brasileirão.
Com Gabriel no lugar de Vinicius Júnior, não há quem possa resistir ao Super-Fla.
Surpreendidas, em termos, SRN
FLAMENGO SEMPRE
Que horror.
Parecia impossivel, mas eles conseguem – PIORAR de jogo em jogo.
Que futebolzinho de merda.
Juro por deus que lah pro fim teria gostado ver esse timeco levar um gol da Chepecoense, para acarretar uma crise na Gavea. Assim nao da, tem que acontecer algo. Essses sangue de barata sao intragaveis. E jah vejo o filme à voltar pra tela, aquele do futebol inexistente. Quero mais nao.
Goleiro – bosta.
Defensores – bostas. O que um velho como o Juan faz em campo? O que um Rever? Dos laterais nem falo.
Cuellar? Cu de quem?
Diego – aceitavel, classe por si, nao tem ninguem que joga com ele.
Burrio, o jovem do Madrid (graças a deus que foi vendido), o infeliz de um G-Erro ….
Cada figuaraças …. soh jogar é que nao sabem.
Lebar sufoco nos ultimos 15 minutos é demais. Um timeco de mortos-vivos dando um banho de pressao, dribles e chutes na gente.
So nao fizeram 3 por serem ruins.
Masssss, se ELES foram ruins, imagina a gente.
Nota zero.
Esse ano esta uma verdadeira merda.
Grande Henrique, tem que melhorar para domingo mesmo. Vamos com tudo!
[…] […]
[…] […]
Sem qualquer brincadeira.
Que timaço os catarinos (é assim o gentílico, indago) montaram para os franceses !
PQP, todos jogadores de seleção e, mais ainda, das mais poderosas seleções do mundo – França (óbvio), Brasil, Itália e Uruguai, todas campeãs mundiais – tendo entrado no segundo tempo, para completar a lista, o Draxler, da Alemanha, atual campeã, e o Lo Celso, da vice-campeã, a Argentina.
Lo Celso, salvo engano, ainda não jogou na seleção principal, mas breve-breve chega lá, sendo que aqui esteve nas Olímpiadas do ano passado.
Da mesma forma, penso que o Areola ainda não atuou no time de cima francês, onde insistem com o velho capitão, mas atuou em todas as demais, da sub-02 à sub-21, tendo sido o reserva nos dois últimos jogos das Classificatórias (defendo a expressão européia, muito mais lógica).
Há alguns veteranos, já próximos de uma merecida aposentadoria, como os Tiagos, o nosso e o meio-nosso, que também é italiano.
De toda forma, um timaço, que vai dar muito trabalho aos papões de títulos, Real Madrid, Barcelona, Bayern e algum Manchester, que pode ser o último dos virgens, junto com o próprio PSG.
Conclusão final – ganhar a Libertadores é muito bom, mas também é ponto final.
SRN
FLAMENGO SEMPRE
Diante do sebo de carneiro, resta-me o silêncio.
Silêncio que ganha maiores dimensões depois do que, entristecido, ontem constatei.
Diego Alves, Rodiney, Rodolfo, Rever e Pará – Cuellar, William Arão e Diego – Berrio, Guerrero e Everton.
Ao que dizem, será este o time de hoje à noite, para enfrentar a poderosa Chapecoense.
Na verdade, pouco importa se um ou outro nome for trocado.
Dá na mesma.
Ontem, já mencionei, liguei a TV para assistir o jogo do PSG.
Do PSG, como poderia ter sido do Barcelona, do Bayern, do Chelsea e de outros mais.
Espantei-me, de pronto, quando foi dada a escalação.
Areola, Daniel Alves, Marquinhos, Tiago Silva e Kursawa – Thiago Motta, Rabiot e Verrati – Mbappé, Cavani e Neymar.
Por favor, meus muitos amigos e poucos inimigos, comparem os dois times, o nosso (poderia ser qualquer outro time brasileiro) e o francês, sendo certo que também poderia ser qualquer dos outros times europeus já mencionados.
Os ONZE jogadores de cada time, UM a UM, posição por posição.
Resultado final – ONZE a ZERO para eles.
Isto mesmo, não é SETE a UM, é ONZE a ZERO.
Senti que não estava apenas em outro continente, mas em outro PLANETA.
Perguntei-me, mesmo antes de ter lido mais um excelente artigo do Dunlop.
SERÁ QUE SEBO DE CARNEIRO CAPADO DÁ JEITO (int).
Entristecidas SRN
FLAMENGO SEMPRE
Auto resposta.
Entrou o Juan, que, apesar de velho, é bem superior, os outros dez foram aqueles mencionados.
Resultado – 0 x 0, com uma baita sorte.
Aí, eu volto a indagar.
Ganhar a Libertadores teria sido ótimo, mas, em seguida …
Se passasse, o que seria EXTREMAMENTE difícil, por um timeco qualquer africano ou asiático (muita propensão para repetir os vexames do Inter, do Patético e do Atlético Nacional), do Real Madrid tomaria um sapeca-iáiá de fazer gosto.
CINCO no barato, não valendo gol do CR-7.
Santo Papa, obrigado !
Bem que São Judas Tadeu já tinha me sussurado – ^não blasfeme, o nosso querido Francisco sabe os milagres que faz^.
Santificadas SRN
FLAMENGO SEMPRE
PS – não ia registrar, mas não resisto à tentação (mais uma).
São Judas Tadeu ainda teve tempo de me dizer – ^já viu o Francisco errar (int). Por acaso ele pretende visitar o Brasil temerário e usurpado (int)^.
Carlos, ao meu ver o Juan deveria ir pra praia, se aposentar. Devagar e ruim.
Opa, Henrique!
Pela enésima vez quebro a jura diante dos últimos flamengos: nunca mais falar sobre futebol. De dentro da minha gélida tumba, retumba um eco definitivo, fiapos de lucidez que só o além nos dá. Vem em forma de sugestão. Já que o problema do Flamengo é goleiro ( do Brasil, segundo o Tom é di piano) por que o nosso Rueda não treina um time sem goleiro? Ele que criou vários times, cada um deles mais disforme que uma ameba com fome, não custa tentar essa formação. Treinar exaustivamente um time sem goleiro. Quem sabe um homem a mais lá na frente não soluciona o nosso crônico problema de não fazer gols?
Muito bom Marcelo! Que a pelada, digo peleja, de hoje seja menos tétrica.
Abraços e SRN
Roberto