Advertência: o autor, com receio de não ser inteiramente entendido nesta crônica de batismo no prestigiado portal República Paz & Amor, incluiu um glossário ao fim do texto para esclarecer o uso de termos obscuros (como, por exemplo, “glossário”) e palavras advindas do português arcaico (como “Eurico Miranda”.)
Estava no carro voltando do Flamengo x Grêmio na quinta-feira, pensando no talento do Leandro Damião – ou seja, em nada – quando enfim compreendi tudo. A gente aqui achando que o clube está disputando o Campeonato Brasileiro de 2017 para valer, sonhando com o hepta, mas na verdade o objetivo é outro, muito mais louvável.
Sim, o Flamengo cansou de ser apenas o principal “trem pagador do futebol nacional”, como a crônica o consagrou, e se imbuiu de uma missão ainda mais árdua: resolver nossa gravíssima crise econômica. Segura que o papo é sério.
Me responda, leitor mirim de Miriam Leitão, como começou toda essa pindaíba de que padecem os brasileiros? Resposta rápida: com o mercado de combustíveis, a partir da crise política causada, como se sabe, pelo fim abrupto do contrato entre Flamengo e Petrobras nos idos de 2009. Deu-se a partir daí o crescente aumento da gasosa, o que ajudou a empurrar a inflação mais do que o Márcio Araújo no Cuéllar.
E o que faz o C.R. Flamengo Ilimitado em 2017, com o objetivo insuspeitado de reaquecer o setor? Aluga até 2019 um estádio a uns 20km de todos os principais bairros do Rio de Janeiro, sem acesso pelo subterrâneo, barca ou asa delta, e ajuda a salvar o país. Sim, são 18km da Ilha do Governador a Caxias, 19km até o Maracanã ou o Centro, 25 até Copacabana e mais de 30 para a Barra. Tática mais genial que os anúncios do posto Ipiranga.
Não foi a primeira vez, claro, que a instituição rubro-negra intervém para ajudar com soro caseiro à nossa economia desarranjada. Lembram da crise do açúcar em 1822, não? Quem não lembra. Especialistas da PUC-Rio garantem que a treta financeira só foi dar uma melhorada mesmo em 1895, quando nasceu o Mais Querido. E o Milagre Econômico de 1968? Seria coincidência ter ocorrido um ano após a chegada do menino Zico à Gávea? Se ainda estiver em dúvida, reveja os índices da hiperinflação brasileira dos tempos de Sarney e Collor, que começaram a amansar, “por acaso”, no ano do penta em 1992.
O que parece coincidência e bravata, na verdade, explica-se pelo tal “desânimo” ou “otimismo” do mercado. Sim, economia é abstração, é consumo e investimento baseados na confiança e boa vontade. E como pode um país se manter submerso na crise quando um terço dele está gastando rios até com um Cavalinho do Mengão de pelúcia, um bem supérfluo que custa 50 mangos na porta do estádio? Numa recessão desse tamanho, só o Flamengo consegue fomentar tantos empregos e subempregos, do vendedor de salsichão ao Eurico Miranda.
Assim, esqueça Henrique Meirelles e outros bolhas. O que pode salvar o Brasil mesmo são as ações e decisões rápidas dos doutores Diego Ribas e Paolo Guerrero. Há apenas um singelo problema. Para que o ousado plano econômico de Bandeira de Mello & equipe funcione, é preciso que o escrete brilhe e honre o Manto; que o torcedor saia do estádio de peito inflado, e não como se deu nessa quinta-feira.
Para provar o que digo e não soar como pilhéria, cito um cronista meio esquecido, o Henrique Pongetti. Em 1964, no jornal “O Povo”, Pongetti reproduziu o papo que teve com um diretor estrangeiro de uma “poderosa indústria metalúrgica do Estado da Guanabara.” O jornalista mandou (e a nobre doutora Marizabel Kowalski registrou, em bela tese presente na internet):
– Pode responder com franqueza: o operário brasileiro é inferior em rendimento ao seu equivalente de países de grande tradição industrial?
– Absolutamente! O operário brasileiro assimila os ensinamentos com uma rapidez espantosa, e produz tanto como seus melhores colegas estrangeiros, desde que obtenha a mesma assistência moral e material. Paz de espírito, paz do coração, paz do estômago. Mas é emotivo, e pode produzir menos sob o impacto de um acontecimento qualquer, sem ligação direta com seu destino ou de alguém de sua família.
– Por exemplo…?
– Uma derrota do Flamengo. São como greves emocionais sem interferência de sindicatos: mais lágrimas do que suor; um grande e respeitável sofrimento…
Senhores José Ricardo & membros do time, ilustríssimos irmãos flamengos, atenção portanto: o resto da temporada não tem nada a ver com a busca de mais taças para a nossa sala de troféus. Trata-se de atuar e empurrar o time pensando na estabilidade econômica de um gigante chamado Brasil, quase tão imenso e complicado quanto nossa humilde Nação Rubro-Negra.
* Glossário:
Eurico Miranda: vice-rei de São Januário. Acompanhado invariavelmente por um segurança e um charuto, ambos acesos. Dizem que foi convidado a sair do PP, então partido de Maluf e Bolsonaro, pois sua figura queimava o filme dos colegas, vê se pode.
Imbuiu: não, nada a ver com Buiú, vá abrir um dicionário.
Maracanã: arena parecida com o Coliseu, só que mais arruinada.
Pilhéria: chiste, piada. Exemplo: “Gosto do Ramires, seria um baita reserva para o Márcio Araújo.”
Sarney: um Eurico de bigode.
[…] […]
Queria entender como um jogador que faz gols de bicicleta e de letra, um artilheiro nato que não desiste de nenhuma jogada, e ainda larga jogadores na cara do gol com passes de calcanhar, pode ser considerado um ‘nada’.
SRN
Saudações
Nada mais agradável que ler o filho da querida Maria. Irretocavel!!!
Como a Radio Armazem tem o programa de samba as terças vamos fazer um especificamente para unir Flamengo e Samba. Certamente salvaremos o Brasil !
O Capacete diz que vem !
A FOTO
O nosso grande amigo Danilo Bruxolobo, aqui da RP&A e o autêntico Rei Arthur dos CDN, mandou-me, através do nosso zapp, a famosa FOTO deste artigo.
Em tamanho maior, incluindo, atrás do Zanata (é ele mesmo, como estava na cara), ainda nas escadas do vestiário, mais dois jogadores, também de costas, mas, mesmo assim, inconfundíveis, Fio (com a 10) e Doval (com a 7)
A foto em questão acompanhava uma reportagem exatamente sobre o Zanata, do seu sucesso (indiscutível) ainda no início do ano de 1970, quando chegou a ser cogitado para a nossa seleção, que iria ganhar o Tri Mundial.
Pela legenda que acompanha a foto, o jogador n. 3 seria o Brito (para mim, não é, pois quero crer que seja o Tinho), o 9 o Dionísio, o 11 o Arilson e o 8 o Liminha, como já havia escrito anteriormente..
Por mais que usasse uma lupa, não consegui ler no placar (nesta segunda foto dá pra ver melhor) o nome do nosso adversário.
Fiquei imaginando com esses SETE jogadores (com Tinho e não com Brito), que pudesse ter sido quando do sensacional jogo que tivemos contra a então forte Seleção da Romênia (que, na Copa, perderia para a nossa apenas por 3 x 2), no mês de fevereiro de 1970, que ganhamos, após BRILHANTE EXIBIÇÃO, de 4 x 1, sendo técnico o Yustrich, com Sidney no gol (1), Murilo (2) e Tinteiro (6), como laterais, não me lembrando ao certo quem estaria com a 4, do então chamado quarto-zagueiro (Onça, Manicera, algum outro, cabe consultar a Flaestatísticas).
Um domingo brumoso, em pleno Maracanã, o verdadeiro, com este então jovem escriba vibrando nas arquibancadas.
De qualquer forma, foi, COM CERTEZA, pelos jogadores da foto, um jogo do Torneio Internacional de Verão, disputado no início de 1970, que, de forma invicta, conquistamos, goleando depois o Independientes da Argentina (6 x 1) e, para a conquista final, ganhando do … Vasquinho, de forma mais tranquila e bem mais eficiente, por 2 x 0, sem brigas e com muita categoria.
Bons tempos …
Fraternas SRN
FLAMENGO SEMPE
Manda pra mim, Carlos!
Na foto do texto um Flamengo de 1970…Zanata…Liminha…Arilson… Dionísio e Tinteiro…
CDN/SRN
Outro jogo merda!
Tem 100% de bola, mas não fazem n-a-d-a.
O gol saiu de um acaso.
Jah o contra-gol nao. Eita lentidão – mais uma vez provada. E lah continuam … Zé lento e Joao lesma. Na MEIUCA da nossa defesa!
E eita goleirinho que não segura UMA, poha!
Jah vi que o Geovanio serah meu segundo G-Erro. Para que trouxeram uma bunda dessas, essa bunda 2?
E o que faz Bunda 1 durante 90 minutos? E pq não é tirado, então?
Porque o porra de um Conca não entra, se pode entrar bunda 2? Se entram Mancuello e Cuellar, outros bundudos?
Chega dessa escalaçao de merda !
SRB
Mais um time escalado, da escolha desse burro, pra perder…!
Edvan-Alagoinhas-Ba.
PS – Que os jogadores que entrarão se superem em campo e, sobretudo, não atendam as “instruções” desse ‘treinador’ Zé Boceta…!
Vamos MENGÃO, vê o que se pode fazer…! Agora é esperar!
FUI…!
Haha MT bom. Realmente eh a única forma de reverter essas expectativas deprimidas de consumo, e consequentemente estimular investimentos!
Muito bom Dunlop.
Só não concordo em associar o nome do Bolsonaro ao do Maluf.
isso aí !!!! estamos com o Mito !
Simplesmente sensacional com uma contextualização política exuberante.
Magníficas Saudações Rubro-negras!
Ler uma crônica , muita bem escrita por sinal , tendo o mais querido como tema é o que de melhor pode acontecer num momento de ócio perdido nos meandros da rede . Parabéns e que a sua frequência seja regular no RPA .
Humor refinado em um texto com alma rubro-negra, muito bom de se ler. Parabéns a todos da República Paz e Amor.
Nosso Flamengo vai chegar lá , no sapatinho, sem oba-oba. Mas vamos chegar sim!
Saudações rubro-negras!
Excelente coluna! Seja bem vindo.
http://www.reddit.com/Flamengo
O PERFIL E A FOTO
Voltei, de imediato, tão entusiasmado fiquei.
Sinceramente, pensei estar assistindo os últimos dias do RP&A.
Sem mais nem menos, Arthur, anteriormente sempre entusiasmado, abandonou o barco, para mim sem qualquer motivo.
O tal de Branco em momento algum vestiu a camisa.
Murtinho, sempre notável, e Vivi, idem, quase sempre foram episódicos (Murtinho, nem tanto).
Restou a coragem e o brilho da Nivinha, mandando brasa, mais e mais,
Mesmo assim, seria pouco, até porque, NÃO SE PODE NEGAR A IMPORTÂNCIA, uma queda acentuada no número de comentários foi fácil de se observar.
Eis que surge, para alegria minha (acredito que de muitos), o Marcelo Dunlop.
Veio para ficar, pois lá está com o nome nos créditos iniciais.
… e com direito a PERFIL.
Gostei por demais do PERFIL.
Pela foto (não é esta a do título), um garoto.
Um garoto que, por muitos aspectos me ganhou.
Não vou citar samba, cerveja, etc e tal, pois esta é uma regra geral.
Dr. Rubens, ou, como muitos diziam, Dr. Rubis.
Um craque fantástico que veio lá de São Paulo (não do São Paulo, da Lusa).
Camisa OITO autêntico.
Senhor do meio campo.
Ele e o Dequinha, gastavam a bola.
Não tinha pra ninguém.
l953, meus quinze anos, meu primeiro título pra valer (o de 44, nem me dava conta direito).
A primeira vez, JAMAIS é esquecida, verdade real, não esta dos atuais juristas de araque, mas de quem gosta de viver a vida.
Agora, a FOTO.
Não a do Marcelo, pois foto de homem sempre é horrorosa.
A FOTO do artigo.
Uma porrada de homens, mas, para alegria geral, todos de costas.
Uma das minhas muitas manias, pois os que já caminharam bastante são cheios delas.
De quando será, indago.
A camisa, com aquelas listras finas, sugere um passado.
O camisa 5, bem alourado (até demais), permite pensar no Zanata.
O oito, bem a sua frente, pode ser o Liminha.
Ambos compuseram o meio campo de 71/72.
De certa qualidade, mas sem a menor comparação com Dequinha e Dr. Rubens.
Mas, MUUIIITTTO superior ao 5 e ao 8 dos nossos dias, que abalam o futuro da economia brasileira.
Quem souber, ou pensa que sabe, que palpite.
Uma dica, as arquibancadas um tanto vazias ao fundo, sugerem um jogo contra o Bangu ou Bonsucesso, o que seria possível naquela época.
Fraternas SRN
FLAMENGO SEMPRE
Otimo comentario, valeu !!!
E a camisa é da minha época, anos 50?
SRN
EXCELENTE !
Na estréia direta (depois de duas via Murtinho, que esclareceu ter sido via Nivinha) um artigo jocoso (acho que não precisa glossário), extremamente inteligente.
Única ressalva – a citação, mesmo que bem colocada, da Cegonhóloga (procurem o ABC do Conversa Afiada), logo no primeiro artigo. A mentirosa do avião, de tão chata que é, costuma afastar os leitores, à simples citação do seu nome. Quase desisti da leitura, mas valeu, e muito, a pena resistir.
Parabéns.
Espero que a assiduidade seja semelhante à da Nivinha, pois estamos todos precisando de diversão inteligente.
Alegres SRN
FLAMENGO SEMPRE
PS – perigo a vista para a economia brasileira. Amanhã, no Mineirão, o Mano está louco para se vingar de 2013, que, até hoje, não engoliu, como comprovam as entrevistas que ainda costuma dar. Parada indigesta, onde um empatesinho está de bom tamanho.
Vou procurar este “ABC”. Obrigado a todos os leitores pela acolhida. SRN
Digamos que sejam PSs.
PS 1 – além do ABC, hoje é imperdível no Conversa Afiada do Paulo Henrique Amorim a reprodução, na íntegra, da matéria jornalística de ontem na Record (não havia assistido) a respeito das safadezas da Vênus Prateada. IMPERDÍVEL ! ! ! ! !
PS 2 – não é que acertei. 1 x 1. De ÓTIMO tamanho, com agradecimentos especiais ao inacreditável Sassá.
Muito bom Marcelo. Bem vindo ao RPA.
Abraços e SRN
Cuidado com esse português arcaico, pode arrumar novo desafeto. Lembrar do nosso amigo Claudio Bussunda. No mais, outra bela crônica.
Saudoso Bussunda!
Sensacional! O estilo lembra e muito o Artur Muhlenberg.