Para surpresa de zero pessoas o Flamengo bagunçou o Madureira em Volta Redonda. Até bater de frente com a gente o Tricolor Suburbano era a única potência invicta no campeonato carioca, uma competição tão essencial que vem sendo disputado em virtual clandestinidade.

É tão difícil acompanhar o Carioca que hoje em dia pro cara conseguir assistir o jogo do Flamengo ele precisa ser hacker, ou no mínimo, ter conexões na deep web pra arrumar um link pirata pra transmissão. Porque tá todo mundo duro e é muito difícil se motivar pra meter a mão no buraco de pano pra assinar pay per view de uma competição café com leite. Não tem mais bobo no futebol.

Depois de sete rodadas absolutamente irrelevantes em que o Flamengo botou as crias pra jogar e tavam dando conta do recado na boa, ontem finalmente as estrelas da companhia entraram em campo. Não que o Madureira inspirasse cuidados, mas pros nossos popstar pegarem ritmo de jogo antes de jogar a Supercopa no domingo contra o Porco.

Porque não dá mesmo pra se preocupar com o Carioqueta. Pega até mal pro Flamengo, desse tamanho, levando o Carioca a sério. Se jogando com os dimenó, Vitinho e Michael já tava uma covardia, imagina com Rodrigo Caio, Felipe Luiz, Arão, Gerson, Everton Ribeiro, Arrascaeta, Gabigol e Bruno Henrique. . .  é covardia também. Mas é por um bem maior.

O Madureira veio de brabo, começou indo pra cima, jogando de igual pra igual. Teve nem graça, o Flamengo jogou em alta velocidade, tocando a bola de pé em pé, chegando fácil na área do Madureira. Rapidinho Gabigol marcou o primeiro dele. Gol que foi invalidado criminosamente pelo olhômetro do bandeirinha. É aquela parada, o carioqueta tem VAR. Tem mas acabou. Principalmente se for pra atrasar o lado do Flamengo.

Mas o torcedor rubro-negro fica até mais calmo quando essas paradas acontecem. A torcida é forjada na luta, já aprendeu que quando o Flamengo está sendo roubado é porque as instituições nacionais estão funcionando normalmente. Se for pra manter aceso o fogo sagrado do estado democrático de direito estamos até dispostos a nos deixar roubar de vez em quando. Como disse o Bardo no Othelo, o roubado que sorri rouba alguma coisa do ladrão.

Mas depois do gol anulado rolou tipo uma exibição dos poderes ofensivos do time. O Madureira não chegava mesmo, Diego Alves, Arão e Rodrigo Caio ficavam batendo papo lá atrás e botando o Isla pra correr que nem um condenado. E o Isla, como se sabe, tá sofrendo daquele problema do lateral que avança muito. Filipe Luiz não, que Filipe Luiz não corre, é a bola que corre atrás dele.

O jogo foi bem tranquilo pro nosso sistema defensivo, o que é ruim, porque é um setor do time que não foi adequadamente testado. Inclusive o amigo Diego Alves, que tomou o seu golzinho de praxe e se machucou de novo, levantou aquela questão delicada: Nosso goleiro tá bichado? Tomara que não, porque não sei se o Hugo tá pronto. Mentira, sei sim. Não tá pronto.

Mas do meio pra frente o Flamengo tava tipo Harlen Globe Trotter, altas jogadinhas complicadas, passes inteligentes, bolas de curva e muitos dibres. Os gols foram saindo naturalmente, sem muita correria. Toda hora tinha alguém do Flamengo quase fazendo um golaço. Não é forçar a barra dizer que o time lembrou, vagamente, o Flamengo de Jesus. Mas a gente não tem maturidade pra essa conversa.

Os destaques absolutos foram Gabigol e Arrascaeta. O uruguaio, 63 kilos de alcatra limpinha, ainda que não seja tão bom quanto o Rodriguinho, destoa. Não destoa do elenco do Flamengo, Arrascaeta destoa da população boleira mundial. Toque de bola infernal, visão de jogo muita acima da média e um jeito malandro de se mexer em campo e de criar tumultos na defesa adversária que criaram uma ligação imediata com a ordeira torcida do Flamengo. Que além de ser disciplinada, sabe reconhecer os talentos únicos como poucas torcidas do Brasil.

Vamos dar a César o que é de César. Só pra ficar nos últimos anos, foi a torcida do Flamengo que “descobriu” Rafinha, Rodolfo e Paulinho 762. E percebeu na hora que Arrascaeta não veio do mesmo planeta que eles.

Por isso que todo torcedor do Flamengo será eternamente devedor do Itair Machado pelo chapéu que o Cruzeiro deu no Flamengo quando nos vendeu o Arrasca. Espero ansiosamente que ele volte em breve à direção de algum grande clube brasileiro pra gente voltar a fazer negócio. Enfim, Arrascaeta gastou o couro contra o Madureira. Mais uma tremenda demonstração de respeito e grandeza, porque Arrascaeta joga duro contra qualquer adversário, independente do tamanho. Arrasca já é um grande na história do Flamengo.

E o outro destaque do jogo foi o Gabigol, agora oficialmente artilheiro do Flamengo no século, ainda junto com o Renato Canhão, mas já pode chamar ele assim sem medo de magoar alguém. Gabigol brilhou, perigoso, decisivo, sempre fazendo gol bonito e tudo isso sem ser fominha. Jamais vou entender como a Inter deixou esse cara ir embora. Na humildade, Gabigol é melhor que Lucaku e Lautaro Martinez juntos. É incrível, mas os chineses donos da Inter deram mole. Melhor pro Flamengo

Em resumo: goleada, liderança, outro patamar, carioca é obrigação, fora Bozo, aquele blá que geral conhece. A lição mais importante que fica do jogo pro torcedor do Flamengo é não se empolgar demais com o Carioca. É uma droga recreativa leve, de efeito não duradouro, mas que sobe muito rápido à cabeça e pode confundir um pouco a mente da rapaziada. Carioca não é parâmetro pra nada. Foco na Supercopa, que também não vale nada além de dinheiro, mas pelo menos o jogo passa na TV.

Fogo nos racistas.

Mengão Sempre