Durante dez anos da minha vida comecei escalando meu time pela lateral direita. Foi pensando nessa (de)ordem que segui com o coração apertado e a alma rubro-negra de um flâneur para o jogo de despedida do Léo Moura. Como uma torcedora que anda pelas arquibancadas do Maraca a fim de experimentá-la. Tenho certeza que o Charles (Baudelaire) me acompanharia nessa. Mas segui sozinha e pensativa mesmo. E agora? Quando alguém me perguntar sobre a escalação do Flamengo eu vou ter que começar pelo número um, que para mim sempre veio depois do dois. E só a torcida do Flamengo pode me julgar. Do degrau mais alto da arquibancada vi homens emocionados, crianças com aquele penteado que durante dez anos eu me perguntei: Por quê, Deus? Por quê? Vi famílias inteiras eternizando o capitão Léo Moura. E como se não bastasse, “o verbo divino se fez carne e habitou entre nós.” Zico estava lá.
Léo Moura não está relacionado na minha lista de ídolos. No meu time de todos os tempos ele é banco. Mas, vivo uma era que “Qualquer amor me satisfaz! Qualquer amor! Qualquer rapaz!” Chico Buarque e Francis Hime de trilha sonora e um jogador com dez anos de serviços prestados, e alguns desserviços de trocado para dar garantia. Enquanto um “jogo de Libertadores de mentirinha” era disputado no templo do futebol, eu tentava entender esse casamento da lateral direita, entre tapas e beijos. Léo Moura não é ídolo dessa geração nascida e criada no facebook. Essa turma vive num tempo de amores líquidos, de fluidez, de “nasce um craque, ele é vendido lá pra fora, chega outro, é vendido, trocado, esquecido, nasce outro”. É a história cíclica do futebol “moderno”. Leonardo da Silva Moura se tornou ídolo de uma geração que viu por DEZ anos um jogador (vencedor) na mesma posição. Apenas isso. Léo Moura se tornou ídolo por “apropriação indébita da natureza de sua posição.” Era só mais um Silva.
Entre um Cirino, um Douglas Baggio, um Matheus Sávio, um Paulinho e por aí vai, desvio meu olhar para um menino de aproximadamente 10 anos. Ele usava um manto sagrado de número 9. Uma peruca de moicano. E “o” nome gravado na camisa: Arthur Coimbra. Praticamente uma miscigenação de jogadores do Flamengo. Para o menino moicano com várias “identidades” rubro-negras o conceito de ídolo é líquido. E o desafio é entender como o jogador sem vínculo, se conecta. Léo Moura, ousadamente, seguiu na contramão dessa história. Por isso foi aplaudido de pé por mais de 30 mil rubro-negros. Ninguém me contou, meninos, Eu vi(vi). Na arquibancada virtual, alívio. A torcida do efêmero não perdoa. Se cansa. Esgota. Satura. Eu agradeço. Tudo que é sólido, nós aprendemos com o velho Karl, desmancha no ar. E assim termina essa história moicana. Com emoção.
Volto pra casa cantarolando: “Qualquer amor, eu corro atrás. Qualquer calor, eu quero mais. Qualquer amor, qual nada”. E penso no Pará.
Para o Léo Moura, Paz & Amor.
Be sure to preserve your life force, chi. This practice is absolutely essential. Be sure to respect the power of words. Don’t engage in vulgar language or activity.