Abril foi incomparavelmente pior que a ponta de um torturante band-aid no calcanhar.
Dia 13, partiu Moraes Moreira, coração musical de dois dos melhores discos da história da MPB, Acabou Chorare e Novos Baianos FC. Dia 15, Rubem Fonseca, autor de tanta literatura boa e pelo menos três obras-primas, os contos O Cobrador, Feliz Ano Novo e A Arte de Andar nas Ruas do Rio de Janeiro. Dia 16, Luiz Alfredo Garcia-Roza, criador do delegado Espinoza, personagem que comandava a 12ª DP, na Hilário de Gouveia, em Copacabana, quase cara a cara com o boêmio Pavão Azul e suas pataniscas de bacalhau. Fui vizinho do personagem, no Bairro Peixoto. Ele morava defronte à pracinha; eu, logo acima, na Décio Vilares, perto do pequeno Hotel Santa Clara, num delicioso apartamento que dividi inicialmente com meu amigo e irmão Jeronymo e depois com minha amiga e irmã Angèle.
Maio não começou melhor.
Em 2017, o Vasco terminou o Campeonato Brasileiro em sétimo lugar, o que lhe dava o direito de disputar a fase pré-grupos da Libertadores. Entretanto, o Flamengo disputaria a final da Copa Sul-Americana com o Independiente de Avellaneda e, em caso de título rubro-negro, o Vasco pularia direto para a fase de grupos. A jornalista Marluci Martins fez uma rápida enquete entre torcedores vascaínos famosos, para saber se torceriam pelo Flamengo a fim de encurtar o caminho à participação do clube cruz-maltino no torneio. Um dos entrevistados foi Aldir Blanc, e no meio de sua resposta veio o irreverente e preciso tiro de misericórdia: “O que o Vasco vai fazer na Libertadores?” Na mosca. Com uma vitória, dois empates e três derrotas, o Vasco caiu cedo.
Enquanto o país derrete, me vem à memória uma frase que li e me impressionou, há algumas décadas, na coluna “Informe Econômico”, do saudoso Jornal do Brasil. Infelizmente, não me recordo o nome do autor, só sei que, no meio de sua análise a respeito de mais uma das muitas fases turbulentas e desanimadoras pelas quais o Brasil passava, o sujeito mandou: “Não há regra no mundo que obrigue um país a dar certo.” Eis o sentimento.
Da mesma forma que a melhor maneira de homenagear Rubem Fonseca e Garcia-Roza é ler seus livros, e a de celebrar Moraes Moreira é ouvir suas canções, a Aldir Blanc cabe a lembrança das letras carregadas de sarcasmo e lirismo. E no momento que vivemos, em que enfermeiros são espancados durante um protesto silencioso e justo, escolho os versos finais de “Lupicínica”:
Aquela mulher que dosava / O soro nas veias dos agonizantes / Não teve sequer um calmante / Pra dor sem remédio que aflige os amantes / Por mais que a literatura / Celebre figuras em vã fantasia / Ninguém foi mais nobre / Que a pobre da enfermaria
Tá osso.
Textão!!!
Tá. Beijão e se cuida.
Não tô nem aí pro futebol e evito sites e canais esportivos diante da insanidade dos dirigentes que querem a todo custo a volta às atividades, ao custo das vidas das pessoas (A morte do massagista Jorginho do Flamengo foi consequência do vírus; e a causa? Pois é…)
No meu entender é fundamental que se tenha a maior- e melhor – quantidade possível de informações sobre a pandemia, não só pra poder ter consciência do que está acontecendo neste momento como para relaxar numa realidade inesperada e imprevista. Há poucos dias publiquei um comentário aqui e em outros lugares dizendo que a crise era uma grande oportunidade para uma mudança de paradigma e se tudo voltasse ao “normal” era sinal que tínhamos perdido essa oportunidade e que, provavelmente, outras epidemias, mais devastadoras, viriam, até que aprendêssemos. Pois bem, hoje de manhã li no portal do Yahoo uma entrevista de um renomado cientista brasileiro dizendo a mesma coisa, só que com dados e projeções matemáticos prevendo que a próxima onda virótica vai matar bilhões. Li os comentários sobre a entrevista e a totalidade deles era de críticas, chamando o cara de coveiro, pedindo pro Yahoo tirar do ar (e já saiu do painel, não consegui encontrar pra colocar o link) e coisas do gênero, mostrando como neguinho prefere dar uma de avestruz a enfrentar os fatos, desenvolvendo a consciência e evoluindo através dela. A equação é muito simples, embora eu não tenha autoridade nas especialidades do cientista: o Universo se move e se equilibra em movimentos de espirais, tanto ascendentes como descendentes. No planeta, a energia responde às vibrações do ser humano e das outras espécies, mas a nossa, por ter o elemento racional e um cérebro que tem a capacidade de fazer escolhas, é predominante e decisiva. Por isso a importância de elevar e expandir o nível de consciência, compreendendo e aceitando que somos os causadores da pandemia – o vírus somos nós. Só a partir dessa compreensão, que desperta tanto a humildade quanto a responsabilidade, a contaminação pode ser freada e novos vírus evitados – espiral ascendente. Caso contrário, se insistirmos na ignorância e inconsciência, as consequências vão ser cada vez mais dramáticas e devastadoras, num movimento que não é promovido por algum deus, jesus ou buda puto da vida conosco, mas pelo próprio universo em busca do equilíbrio primordial eliminando as ervas daninhas que danificam a beleza e a harmonia do seu belo e abundante jardim.
Ou se está do lado do Bolsonaro e o nível de consciência que ele representa – arrogância, prepotência, irresponsabilidade e autoritarismo -, ou se abraça, pesquisa e compreende, de uma vez por todas, que não há saída além da solidariedade, cooperação e sentimento de unidade entre tudo e todos (até com os viceínos).
Escrevo como uma contribuição, mas estou pronto a parar caso desagrade de alguma maneira.
srn p&a
Achei o link
https://br.noticias.yahoo.com/coronav%C3%ADrus-pode-ser-s%C3%B3-ensaio-180153575.html
Brilhante!
Relembrando velhas lições do meu tempo do ginásio, comecei a comparar a Idade da Trevas com os dias atuais do Brasil.
Na Idade Média, o senhor feudal detinha a posse da terra, o pode político e militar. O clero era responsável pela salvação espiritual de todos. Os guerreiros eram incumbidos de zelar pela segurança e os servos tinham a responsabilidade de executar o trabalho nos feudos.
Adaptando para os dias de hoje, podemos dizer que o poder econômico controla todos os demais poderes da república. As igrejas continuam responsável pela salvação espiritual. As organizações militares zelam pela segurança e o povo trabalhador executa os serviços para o enriquecimento de quem detém o capital.
Naquela época, a igreja vendia o “salvo conduto” para o céu. Hoje, principalmente as igrejas neopentecostais vendem de vassouras ungidas a grãos de feijões abençoados, sem contar com o dízimo e as ofertas, como forma de “passaporte para o paraíso.”
Pois bem, a partir do ano de 1347, a Peste Negra, a mais devastadora da história, matou entre 30% a 60% da população da época, uns 200 milhões de pessoas. Diziam que era castigo de Deus. Criou uma série de convulsões religiosas, sociais e econômicas. Acreditavam que determinaria mudanças significavas no comportamento do homem.
A Idade das Trevas ainda durou mais de 200 anos e muito pouco mudou na face da terra até os nosso dias, relativamente ao ser humano que continua com a imaginação do pensamento da maldade no coração, conforme já dizia o Senhor em Gênesis 6:5,6.
Meu caro Rasiko, eu não acredito em mudanças.
Fique em casa. Não saia. que a coisa tende a piorar.
Você não acredita, Áureo? Eu tenho certeza. Não sei se dei a entender ao contrário, mas acho que “nós somos o vírus” é bastante claro; e, sim, a coisa vai piorar e muito, pra depois, um dia, talvez, quem sabe, melhorar. Só não sei se vou (vamos) estar por aqui. Por isso mesmo não tenho a menor expectativa com o futebol.
Quanto a não sair de casa, já disse aqui também, estou de quarentena há uns 10 anos. Minha rotina não mudou em nada – casa, supermercado, caminhada nas montanhas – e no paraíso onde moro, como diz o Murtinho, não houve nenhum infectado.
Obrigado pelo texto, Murtinho!
Não está fácil…
Sem Flamengo e sem tantos que se foram.
Flamenguistas como Moraes, vascainos queridos como o Aldir, Ruben Fonseca e Flávio Migliaccio. E olhe que já tínhamos perdido a botafoguense Beth.
Desfalques sentidos.
E nós que perdemos o Jorginho, o mais antigo personagem do clube…
Mas, finda a tempestade o sol nascerá…diria o tricolor Cartola
Sou do tipo de ficar criando teorias,e nestes tempos de pandemia,a que me veio foi esta;Mesmo não sendo religioso,mas acreditando num Deus,acho que Ele finalmente se deu conta de que a humanidade não se reciclará dos seus erros para que não continuem errando sempre os mesmos.Porque só isso pode explicar tanta gente boa indo e tantos “mitos” ficando.É no que tenho me apegado,torcer,tão fervorosamente quanto num jogo do Mengão,pra que se isto for verdade,que nesta seleção de quem vai e quem fica eu possa estar do lado da galera do bem,junto de quem eu amo.Me desculpem o desabafo pessimista,mas como já disseram “tá osso”,e eu prefiro um belo bife a uma costela cheia deles.Vá em paz Aldir,se juntar aos bons porque por aqui continuamos a sobreviver ao invés de viver.
Pra quem gosta de filme francês, uma iniciativa da Embaixada francesa, di grátis.
http://festivalvariluxemcasa.com.br/#filmes
valeu rasiko !
adoro filmes franceses,vou me deliciar com alguns desses.
SRN !
Rapaz, estou de acordo, com você e com o Rasiko, o único, até agora, que me antecedeu.
Que fase !, já dizia um comentarista de cujo nome me esqueci.
Tudo caminhando às avessas.
Um Flamengo, campeão de tudo em potencial, que não pode jogar.
Os mais velhos, nos quais, a contragosto, estou incluído, recolhidos ^ao lar^.
Pior de tudo, as vidas sendo ceifadas por uma gripezinha muito da filha da puta, que agora nos levou o Aldir Blanc.
Lembro-me, acho que já escrevi até aqui, com certeza em algum lugar, de um domingo que fiquei sozinho em casa, já que a Vera, com os meus dois filhos mais velhos, os únicos existentes até então, saíra para uma festa de criança e custava a voltar.
Televisão, por mera sorte, ligada, no Fantástico,
Nem prestava muita atenção.
De repente, fico enebriado.
Que qué é isso, meu irmão !
ELIS, a incomparável, numa arena de circo, com aquela voz prodigiosa.
A música, de uma beleza poética.
A letra, de uma poesia única.
O bêbado e o equilibrista.
Chorei de emoção.
Logo em seguida, a Vera chegou e tudo relatei para ela, ainda muito emocionado.
Impossível de se esquecer.
Logo falei, é um verdadeiro HINO à esperança.
Iria se tornar o HINO da anistia, diria melhor, dos anistiados.
Quando o grande Brizola (que o grande Bill detesta, cada um na sua), voltou ao País, soou no antigo Galeão.
Com muitos outros também.
Para mim, ficou registrado para sempre.
O bêbado, o equilibrista, e, pela minha idolatria, a ELIS REGINA.
Hoje, não chorei.
Não tem cabimento para quem é eterno.
SRN para um vascaíno de fé.
FLAMENGO SEMPRE
PS -Raziko, Mestre Incomparável das mentes humanas. Entre outras coisas, você reviveu o meu sogro. Sempre falou, desde os primórdios da humanidade, a respeito dos poderes insuperáveis do alho. Já acreditava, agora ainda mais.
Meu querido Carlos Augusto, lamento destruir sua ilusão, mas o meu papel, que sigo à risca e ensaio diariamente em busca da melhor interpretação, não permite hipocrisia nem omissões. Brizola foi um canalha, e não estou falando de suas posições políticas, que não me interessam nem um pouco – nem dele nem de ninguém. Hoje, 5 de maio, em 1970, fui preso pela repressão por ter publicado na antiga Fatos&Fotos matéria exclusiva sobre a tentativa de sequestro do cônsul americano em Porto Alegre. Fiquei 1 mês numa cela do DOPS assistindo barbarismos cotidianos e completei 1 ano de prisão domiciliar. Fui julgado e absolvido pelo tribunal militar e quando fui encaminhar meu visto de saída do país (na época, essa era a regra), me foi negado. Armei a fuga fugindo pro Uruguai durante a madrugada numa aventura perigosa que envolvia a participação de um amigo que não tinha nada a ver com as calças a não ser o nobre sentimento. Cheguei a Montevidéo com pouquíssima grana da indenização da Bloch, que me despediu no dia seguinte à minha prisão. Não tinha dinheiro pra comprar passagem de ida-volta pra NYork como exigia o protocolo. Me salvou um amigo uruguaio que trabalhava no Ministério do Turismo e a hospedagem e alimentação gratuitas no Hotel Alhambra do ex-governador do DF, Ivo de Magalhães. Como só me sobraram 6 dólares (- 2 que tive que deixar em Ezeiza como taxa de embarque), fui à casa do Brizola, de cujo filho, Zé Vicente, eu era amigo e companheiro de noitadas musicais. Pedi a ele 100 dólares pra poder chegar numa terra totalmente estranha. Ele, sem nem mesmo chegar na porta e olhar na minha cara, negou e fez um gesto de desprezo. Anos mais tarde, já de volta ao Brasil, 2 fatos reveladores: Eu produzia e apresentava um programa de televisão no DF chamado “Brasil, Brasília”, de variedades artísticas e culturais, com entrevistas. Foi na fase da abertura “lenta e gradual” e um deputado barbudo, Getúlio não sei das quantas, veio me perguntar se eu faria uma entrevista com o Brizola assim que ele retornasse ao Brasil. Respondi que sim, mas relatei o que tinha acontecido em Montevidéo e que iria confrontá-lo ao vivo se ele, mesmo assim, topasse a entrevista. O deputado desistiu. Em outra ocasião, agora no Rio, Nereida Daudt Brizola, casada com o Zé Vicente (na ocasião acho que já estavam separados) e morando no Arpoador, sabendo do meu trabalho como terapeuta, me pediu ajuda pra “dar um jeito na Neusinha” (Brizola) que estava cheirando qualquer coisa que passasse na frente do nariz dela. O quadro que vi foi devastador e não precisei de 10 minutos- como qualquer pessoa com um mínimo de sensibilidade não precisaria, mesmo não sendo profissional da área – pra identificar a causa: Leonel de Moura Brizola e seu egocentrismo exacerbado (vou pular os detalhes que são evidentes pra quem conhece o capo e sua família). Não estou tirando a responsabilidade da Neusinha (cada um de nós é inteiramente responsável pela própria vida, não importam as circunstâncias – não existem vítimas, mesmo que as aparências apontem pra isso), mas tanto ela quanto Zé Vicente e todos em volta, incluindo a Nereida, eram profundamente infelizes.
Não se iluda com político nenhum, Carlos. “Se político fosse bom, não seria político”, me disse um adorável e hilário sábio na Índia.
Desculpe o textão, mas o clichê “brasileiro tem memória curta” é “fato venério” (aka Paulinho Gogó) 🙂
grande abraço, srn p&a
E não é aquele osso gostoso de uma costela bem passada. O prezado do JB tava certo e se tivesse uma regra que obrigasse um país a dar certo, com certeza o Brasil não iria cumprir. Acabei de comprar um par de pantufas me preparando pra entrar na oitava década desta vida e as fases não turbulentas são exceção neste país e não foi por mero diletantismo que vivi, destes quase 80, somando tudo, quase 40 no exterior. Estou provando o mesmo sentimento de quando me exilei em Nova York e Londres em 1971/72, respectivamente – eram os lugares em que mais queria estar, especialmente naquele momento, mas não naquela condição de não poder voltar. Minha rotina atual não mudou em absolutamente nada; faz anos que estou de quarentena, mas saber que meus movimentos, seja lá pra onde for, não dependem de mim, da minha vontade e liberdade de ação, gerou uma pressão psicológica e emocional que me pegou de surpresa. O pior de tudo é esse estupro cultural e o lado B, de bom, é que nossa geração, você incluído, apesar de mais novo, cresceu e se formou com o crème de la crème das artes no Brasil. E isso fez e faz toda a diferença. Mas, e daí?
srn p&a
PS-Estou receitando nas consultas online banho frio (eu faço massagem no corpo todo com pedras de gelo – a sensação é de uma corrida de fórmula 1 no sangue; energia a mil), 2 dentes de alho em jejum e mais 2 durante o dia (cru, claro), e muita cebola, também crua. Os 3 são excelentes pra fortalecer o sistema imunológico (e me espanta que poucos especialistas tenha abordado essa questão de forma mais contundente – sistema imunológico forte é uma barreira quase intransponível pra qualquer tipo de doença), o alho é o mais potente antibiótico natural que existe sem efeito colateral e a cebola (pode acrescentar a pimenta também) mantém as vias respiratórias desobstruídas e é excelente pros pulmões.
É isso aí, Raziko, uso alho há não sei quantos anos e até agora como diria o suicida passando pelo sétimo andar está tudo bem. Já até inventei uma maquininhla de descascar alho.
🙂 🙂 🙂