Faz tempo.

Eu ainda nem tinha chegado aos sessenta.

Havia encerrado meu compromisso com o blog “Questões do Futebol” da revista Piauí, trabalho que me rendia um polpudo cheque mensal de meio salário mínimo, e passava o Natal no interior de São Paulo, na casa da sogra.

Tocou meu celular, era o chefe. (A transcrição do diálogo está no post “Benção, Magnética”, publicado em 20 de janeiro de 2015, em que eu me apresentava à torcida rubro-negra e, em especial, aos inúmeros fãs do Urublog do GE.)

O primeiro encontro aconteceu no Braseiro da Gávea. Arthur pediu um frango assado, que já chegou à mesa tendo a sobrecoxa atingida pelas gotas que pingavam do ar-condicionado. Chopes servidos, ar-condicionado desligado, começou o bate-bola sobre o que seria o blog.

As instruções do Mulamba eram rígidas: façam o que quiserem. Acostumado aos sisudos e engessados briefings das agências de propaganda, estranhei e achei mais seguro confirmar. Lá na Piauí, eu disse, escrevo sobre futebol de forma genérica. O homem insistiu: faz o que tu quiser. E mandou o argumento definitivo: qualquer coisa que se escreva sobre futebol deságua no Flamengo; não há futebol sem o Flamengo. Certíssimo.

Nivinha, Vivi, Arnaldo e Arthur, eu não conhecia nenhum dos quatro pessoalmente. As duas e os dois me impressionaram, e a conversa parecia uma afinada troca de passes do time de Jorge Jesus, feito aquela que botou o Palmeiras na roda, no Allianz Parque, e terminou com o toque de Arrascaeta para o barbante. Beliscamos alguma coisa, bebemos bem mais que isso, saímos do Braseiro para meia dúzia de stellas do outro lado da esquina, na parede colada ao Guimas, onde a Nivinha gravou um vídeo de apresentação do projeto.

Há cinco anos, numa bela tarde de verão carioca, a Praça Santos Dumont, ali em frente ao Jockey Club Brasileiro, testemunhava o lançamento do República Paz & Amor, o mais humilde satélite na órbita do planeta vermelho e preto.

O início foi promissor. No entanto, e como era de se esperar, com as dificuldades que o time encontrava para convencer e beliscar um caneco – em 2015 e 2016, não nos sobrou sequer o estadual para contar a história –, os leitores deram uma desanimada, muitos sumiram, os comentários rarearam. Porém, nada nos derrubou, e 2019 provou que valeu a pena ter comprado a briga.

Compromissos profissionais de um ou de outro, aqui ou ali, provocaram afastamentos temporários, mas ninguém jogou a toalha. Em junho de 2017, o blog passou a contar com o reforço de Marcelo Dunlop, que além de escrever feito gente grande – o cara tem mais de 1,90m –, é uma flor de pessoa. (Dunlop não aparece na foto que ilustra este post como castigo por ter entrado tardiamente na vida do RP&A. Quem mandou perder tempo com jiu-jitsu?)

A seca prosseguiu. Nada de Brasileiro, neca de Copa do Brasil, Libertadores então, um fiasco atrás do outro. Um campeonatozinho carioca em 2017 e olhe lá. No entanto, a rapaziada se manteve atenta e forte, segurando a onda de ter de mamar nas tetas de vacas magras.

Até que, para alívio de Diego Alves, Willian Arão e Everton Ribeiro, os caras foram chegando: Rodrigo Caio, Arrascaeta, Gabriel, Bruno Henrique; Rafinha, Pablo Marí, Filipe Luís, Gerson. E ele, a luz, Jorge Jesus. O time ganhou, atropelou, brilhou, encantou e se firmou como o melhor do futebol brasileiro no Século XXI.

Agora, o RP&A tem a expectativa de que a impressionante temporada de 2019 traga de volta o entusiasmo e a participação dos primeiros meses de vida e, por que não?, dos gloriosos tempos do Urublog. É um chamamento: leia os posts, assista aos vídeos, siga nas redes sociais, curta, comente, participe, indique aos familiares e aos amigos (quem é que não tem um porrilhão de amigos rubro-negros?).

E antes que eu me esqueça: compre “Libertador – A Reconquista Rubro-Negra da América” e “Heptacular – O Ano Mágico Rubro-Negro”, ambos do Arthur Muhlenberg, além de “Festa na Favela”, feito em parceria por mim e pela Nivinha.

Cinco anos de batalha não podem passar batidos. E sem falsa modéstia: a gente ralou, a gente merece.