Atravesso o corredor que me leva pra arquibancada. Minha vida vira do avesso. Ontem, hoje, sempre. Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio. É assim no Maraca. É assim na História, de Heráclito a Francisco Moraes. O velho faz oitenta anos. OITἘNTA.
Metade dessa vida de amor dedicada ao Flamengo, eu acompanhei. De perto, de longe. Junto ou separado. Procurando por ele na arquibancada só pra encontrar, respirar aliviada e suspirar: agora é com eles. Nosso time é o Moraes em campo. Ele é o Flamengo que aprendi a amar. O Flamengo que inclui. Que bota todo mundo pra dentro. Que não deixa ninguém de fora. Que grita pra quem quiser e tiver que ouvir – a frase que mais li nos seus textos – NÃO ESQUEÇA DO SEU POVO, FLAMENGO.
Tenho muitas lembranças e histórias relacionadas a ele. Na arquibancada virou referência geográfica: “Te espero ali à esquerda do Moraes”. “Fica aonde na arquibancada?” “Um pouquinho mais pra cima do Moraes” Uma vez cheguei com a bola rolando, estádio explodindo, um segurança fechou o corredor que me leva até ele. “Tá cheio, entra pelo próximo.”Eu respondi: sabe há quanto tempo eu entro por esse corredor, m e u c a m a r a d a!? Meu irmão vendo o barraco se armando, me chamou: “Vamos. vamos. vamos,” E eu quase chorando: “Eu tenho que ver o Moraes” Ele continuou: “No intervalo você passa lá.” “Nãoooo, tem que ser antes!” O segurança se comoveu, liberou. Maraca lotadão. Bola rolando. Ele concentrado ninguém chega perto. Eu arrisco sempre. Apertei a mão dele. E segui. Em silêncio. Meu irmão mandou: “Esse escândalo todo pra encontrar o Moraes e tu nem falou com ele”. Eu respondi: não precisava, ele me olhou, a parada está no olhar: “Gol do Flamengo.” Perdi meu irmão na multidão, mas vi o Moraes. E ele me viu.
Moraes fez da vida o Flamengo e do Flamengo sua vida. É uma entidade da arquibancada. Sua presença agrega. Impõe. Ilumina. Da última vez que passei no lugar sagrado para dar meu abraço nele, tinha gente de todos os continentes para falar com ele, tirar foto, trocar uma ideia. Falar com o Moraes de Flamengo já te legitima pra VIDA rubro-negra. Sem você, Moraes, e seu amor rubro-negro, não sou ninguém. Eu sou porque você é. Você é porque nós somos. O Flamengo é UBUNTU. Filosofia que nos permite descartar TODAS as diferenças na arquibancada rubro-negra.
Da série Jogos pra esquecer, ou melhor, pra não contar, tenho um na Ilha do Urubu. A viagem que me fazia chegar até lá me impedia de descer tantos degraus daquele esqueleto. Vi Moraes no mesmo lugar, na Ilha. Pensei, vou mentalizar um abraço. De repente, quando olho na direção, ele não estava mais lá. Jogo começado. Me desesperei. Desci literalmente quicando e consegui ver os ENFERMEIROS levando ele. Comecei a gritar e perguntar o que ele tinha. Foi então com aquela cara SAFADA que ele respondeu: “Esqueci de tomar o remédio da pressão.” PUTAQUEPARIU. A minha subiu.
Peço licença a um conterrâneo dele, lá do Piauí, Torquato Neto, para parafrasear esses versos: “Eu, rubro-negra, confessa; Minha culpa, meu pecado. Meu sonho desesperado. Meu bem guardado segredo. Minha aflição. Eu, rubro-negra, confessa. Minha culpa, meu degredo. Pão seco de cada dia. Tropical melancolia. Negra solidão.”
Com esses versos, conto pro Moraes que não fui a Lima e que tudo se esvai a cada lembrança. Minha (in) Glória Eterna. E aí entra o Moraes, “Mas eu te vi lá, do meu lado.” Ameaço um choro, e choro, meu pai nunca vai me perdoar lá no céu por ter perdido aquilo, velho. “Mas você estava perto de mim. Bem juntinho. Eu te vi antes dos gols. Depois te perdi. EU TE VI NO JOGO.”
Esse é o Moraes. Que não perde rubro-negro ausente, que não perde ninguém. Rubro-negro não perde filho, rubro-negro não perde amigo, nem amiga. Rubro-negra não perde pai. Se ele fosse terminar esse texto diria: Rubro-Negro não perde.
Pra vocês.
Paz, AMOR e MAIS MORAES, por favor,
Texto fantástico para uma pessoa igualmente fantástica.
Sou fã desde sempre dele.
Sempre Flamengo !!!
Desse jeito, já sou fã do Morais!
Não no conheci, já tinha ouvido falar dele.
O texto me trouxe muitas lembranças do Maracanã antigo e diversos, muitos jogos “da antiga” vieram a minha mente…
Fiquei frustado, tenho que dizer a verdade.
Sendo apenas dois anos mais velho que este outro Moraes, a verdade verdadeira é que nunca dele ouvira sequer falar.
Que flamenguista de merda eu fui, a única conclusão possível.
Valeram as fotos da Vivi.
Lá com seus vinte anos (uma graça), ao lado do herói do texto e, quero crer, pois não posso garantir, aquela menininha em pé, na ponta esquerda, na foto do ônibus.
SRN
FLAMENGO SEMPRE
Viva aos Moraes do flamengo , viva aos Moraes que cantam o Flamengo, aos que seguem aonde que que seja o Flamengo, viva a Vivi que escreve com a alma e coração rubro negro.
Como é ótimo ser flamenguista e saber que temos uma nação que ama e segue religiosamente o Flamengo assim como os Moraes da vida e eu.
Não some não Vivi, não nos abandone.
E se o MORAES é Isso tudo, viva o MORAES.
SRN
Que texto! Puta que pariu!!!!!!!!!