Quando os argentinos empataram, eu levantei e fui embora do meu bar deixando a cerveja pela metade. Não tenho confiança em jogadores “profissionais”, em treinadores “profissionais”, em diretores “profissionais” que não são capazes de exprimir a autêntica mística flamenga, exatamente o que fez com que o torcedor se apaixonasse e se envolvesse dessa maneira ensandecida.

Aquele bando de idiotas não sabe que a palavra “amador” quer dizer “aquilo que se faz por amor”. Impossível esquecer Zico & Cia não porque eles eram profissionais, mas comprometidos e fiéis no seu amor pelo Flamengo. Eram homens de caráter acima e além de qualquer dúvida. As entrevistas desses homens, até hoje, são emocionantes e, a mim pelo menos, explicam com clareza a razão e o porque de tanta paixão transmitida ao torcedor.

Ver e ouvir esses jogadores de hoje falando após uma derrota – e da maneira que ela acontece -, é revoltante. Me sinto um completo imbecil de ainda perder tempo e energia (e como perco!) com “isso”, mesmo sabendo que nunca mais vou ver alguma coisa sequer semelhante ao que já foi.

Quando ouço o Zico dizendo que só foi ganhar “algum dinheiro” no Japão, me dou conta, ainda mais profundamente e com mais certeza, de que não há o menor sentido em me desgastar emocionalmente dessa maneira que não posso evitar assistindo aquele bando de perebas vestindo o Manto sem o menor respeito, consideração, conhecimento de causa e comprometimento – DE CORAÇÃO E ALMA – com ele.

E isso não vai mudar. Se alguém tem esperança, é melhor perder. Não se iluda. Não tem a menor a chance disso acontecer. Sentimentos não são impostos de fora pra dentro, como se fosse uma pílula. E não adianta, como Zico e Júnior sugeriram, conhecer a história do clube. É preciso ter vivenciado aquilo, sentir na pele, estar envolvido desde criança, desde sempre, pra entender do que se está falando.

Há anos atrás, quando os salários milionários começaram a jorrar, previ que ia dar merda. Pra ser mais exato, foi quando o Felipe Melo, recém saído das categorias de base, declarou que seu sonho era jogar no Milan. Conseguiu, se não no clube, pelo menos na cidade. Esses caras, a maioria esmagadora de ignorantes e analfabetos, não tinham – e não têm – nenhuma estrutura psicológica e de caráter pra aguentar esse assédio. O que antes era paixão – e pro torcedor, apesar de tudo, continua sendo – virou um negócio bilionário. O que antes era consequência, se tornou causa. O que antes era praticado por Homens, hoje está nos pés de robôs. Robôs que são agentes de uma gigantesca lavagem de dinheiro internacional. Não tem como voltar atrás.

Não há tesão que resista.

Mas, afinal, quem foi o culpado pelos distúrbios e invasão do Maracanã, no jogo de quarta-feira passada?

O Major Silvio Luiz, comandante do GEPE, afirma que já vem há muito alertando a administração do Flamengo sobre a dificuldade na triagem das carteiras de sócio torcedor, triagem feita por um cordão de isolamento, com o fim de impossibilitar a chegada de qualquer invasor perto das catracas.

Assim, diz o Major, a PM não tem como saber se o cartão do sócio torcedor está devidamente habilitado para o jogo. E que a solução seria um ingresso impresso em papel.

O Flamengo atribui a culpa à ma atuação da PM e aos desordeiros de sempre.

Sem adentrar no mérito da questão, apenas tenho um observação sobre todo o acontecimento.

É publico e notório que quando o Flamengo abre o site para a venda de ingressos, a preferência da compra começa no plano mais caro.

Ora, nos jogos de pouca motivação, que atrai um reduzido número de torcedores, aqueles fieis torcedores, frequentadores assíduos dos jogos do Flamengo, aqueles que não medem esforços econômicos, aqueles que com chuva ou com sol estão lá na arquibancada incentivando o time – esses torcedores de planos mais simples conseguem comprar o seu ingresso.

Mas, quando chega o momento de comer o filé, ficam fora da mesa. Pois bem, foram 6 mil o número aproximado de sócios torcedores, tomados por uma revolta, de uma fúria incontrolável, que tentaram ou mesmo invadiram o Maracanã.

Eu entendo que o Flamengo comete um profundo erro ao privilegiar os planos mais caros na compra de ingressos. Existem torcedores que só assistem ao Flamengo jogar nas melhores partidas, nas decisões.

Para mim, o correto seria privilegiar os torcedores assíduos, na ordem de frequência da sua assiduidade, independentemente do valor do plano, porque, afinal, no frigir dos ovos, um sócio torcedor de plano inferior, por exemplo, que paga para ver quatro partidas por mês, contribui financeiramente para o Clube muito mais do que o possuidor de plano superior, mas que só vai para o estádio na hora do filé mignon.

SRN!

Quando todos pediam a barração do Márcio Araújo e a consequente efetivação do Cuéllar, eu alertava que com Cuéllar e Arão de volantes o Flamengo, sob o comando de Muricy Ramalho, havia perdido todas as competições que disputara.

Paulo Victor; Rodinei, César Martins, Wallace e Jorge; CUÉLLAR, WILLIAN ARÃO e Macuello; Marcelo Cirino, Guerrero e Emerson.

Eis o time base do início de 2016 do técnico Muricy Ramalho. Perdeu tudo que disputou.

Os argumentos contrários alegavam que o problema não estava na dupla de volantes, porém na defesa que era fraca.

Diego Alves; Pará, Réver, Juan e Trauco; CUÉLLAR, WILLIAN ARÃO e Diego; Everton Ribeiro, Guerrero (Vizeu) Everton.

Eis o time base do fim de 2017 do técnico Reinaldo Rueda. Perdeu tudo que disputou.

Como podemos observar, mudou-se o time todo, com exceção dos dois volantes.

E, antes que digam alguma bobagem, quero desde logo esclarecer que não estou com isto querendo sustentar que Cuéllar e Arão não têm qualidade técnica para vestir o Manto Sagrado e menos ainda que Márcio Araújo é solução. Muito longe disso.

Apenas creio que por flagrante incompatibilidade de posicionamento dentro de campo, o divórcio de ambos já deveria ter sido prolatado por sentença.

SRN!

Eu também não sentia uma atmosfera tão tensa desde os anos 90.

Demos sorte de termos entrado com tranquilidade pelo Belini e saído com certa rapidez. Mas passamos por várias turbas xingando a gente de burguês e outros doidos para levarem uma esbarrada e nos enfiar a porrada.

No estádio, o momento de sufoco foi um morteiro estourado poucos degraus acima, bem perto de um menino, que chamamos, junto com os adultos que estavam com ele e mais outro para ficarem mais abaixo. Esse menino ficou na minha frente e visivelmente estava muito tenso. Meu filho, que num Flamengo e Atlético ficou do lado de dentro do estádio e eu do lado de fora, porque a minha entrada era inteira e a dele meia, e disso não esquece, morreu de pena do garoto. Esses traumas ficam.

Fiquei refletindo depois, e estou triste até agora por isso, que não dá para ir a um estádio e ficar aliviado que conosco foi tudo bem…

É evidente que a redução do Maracanã, junto com o aumento dos preços dos ingressos, gerou uma divisão de classes, cuja disputa está sendo travada na marra entre os que podem entrar e os que não admitem ficar de fora.

Foi foda. Foi deprimente.

Saúde e Sorte.

Time do Flamengo é, hoje, a imagem do Rodrigo Caetano. Arrumadinho, bem vestido, falando corretamente e com português escorreito. Mas, sem raça, sem fibra, sem aquilo roxo que sempre nos caracterizou é que nos levou a muitos títulos sensacionais. Com essa postura, não vamos ganhar nada. E vc foi muito feliz: esse Diego Ribas é a imagem do Flamengo atual. Precisamos de um Felipe Ximenes, fora do campo, e de um Rondinelli, um Bruno ou um Almir Pernambuquinho dentro do campo. Fora os almofadinhas, para o bem de todos e felicidade geral da Nação.