Na semana passada estava boquiaberto com aquele 4×1 num jogo fora de quartas de Libertadores. Naquela empolgação típica do novo rico disse que era uma realização assombrosa do Flamengo, desconsiderando totalmente a indigência física e moral do adversário. Como eu sou idiota. Fora as excentricidades estatísticas, que não fazem parte do jogo, atuam apenas em nossos campos cerebrais, não havia nada de extraordinário ou singular naquela vitória.

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O Olimpia é uma carne assada, tão macia que apenas um teste Warner-Bratzler, metodologia desenvolvida durante 30 anos por dois cientistas ingleses pra medir com exatidão de miligramas a força de cisalhamento necessária pra dar uma mordida num bife, poderia nos dizer o quão macia ela é.

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A gente é Flamengo, mas acima de tudo a gente é brasileiro e esse negócio de medir, anotar e comparar dá muito trabalho. Bastou o jogo da volta em Brasília e todo mundo percebeu, sem precisar morder ninguém, que o atual penúltimo colocado do brabo campeonato paraguaio deu sorte de não apanhar de mais. É carne assada de cortar com a colher e desmanchar na boca.

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Brasília foi só lazer, o Flamengo treinou, sem suar muito a camisa e sem despentear o cabelo. O Olimpia teve dificuldade até pra nos enfiar a porrada, que seria uma atitude feia, mas compreensível. Muito mais aceitável que a apatia e falta de tesão que acabaram comprometendo a qualidade do espetáculo. Falaro à pampa que o Arrasca tava jurado, mas chegou na hora e peidaro. O público não gosta de ser enganado, não prometa o que você não pode entregar, é veneno de bilheteria.

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Por sorte o Flamengo estava atento e não deixou os índices de audiência caírem, segurando o seu público com todos os truques possíveis. Principalmente com gols, alguns muito bonitos e até, como aprendeu com os mestres Harlen Globe Trotters, deixando o adversário fazer uma cesta de vez em quando pra partida não perder a graça. O gol do Olimpia pode ser considerado como o alívio cômico no fim do primeiro ato. Diogo Alves e Leo Pereira de bunda no chão foi até engraçado, humaniza os jogadores.

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Times como Flamengo, que além da star quality (a habilidade especial que faz com que algo ou alguém pareça muito bem-sucedido ou melhor do que outros) tem plena consciência da sua importância para a indústria do entretenimento, são muito raros. Aqui no Brasil a maioria absoluta dos times desfruta de uma popularidade, e até de receitas, cuja origem nem seus dirigentes sabem explicar ou definir. Por isso são tão instáveis e frequentam com mais assiduidade as filas do que os pódios.

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Como o Flamengo já está na final da Libertadores, e isso não é objeto de debate, é apenas a comunicação de um fato inevitável, esse mês de break na Libertadores vai ser útil pra rapaziada dispensar alguma atenção às miudezas cotidianas que mesmo sem o brilho da Libertadores constroem a estrutura onde se incrustam as nossas gemas esportivas.

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A saber: a Copa do Brasil, que vale uma grana responsa e o Flamengo está há sete anos sem vencer. Apesar dos adversários serem todos meia-boca o Flamengo não pode tratá-la com aquela irresponsabilidade de deixar tudo pra última hora, que se funciona muito bem em Brasileiros pode dar ruim num mata-mata. Que Renight não invente e persista na fórmula que tem dado certo. Quarta que vem pega o time do Felipão lá no Uruguai do Norte, dá uma coça resolvedora e faz festchenha no jogo da volta no Maraca. Não tem erro.

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E ainda tem o Brasileiro, mesmo que a nossa força gravitacional eventualmente atraia tudo pra nossa órbita, não é uma boa deixar ninguém disparar. Até agora a nossa distância pros paraguaios da vez pagando mico no G4 está dentro da normalidade. Mas tem que manter isso aí até a 33ª, 34ª rodada, logo, é proibido perder pontinhos bobos pro Ceará, por exemplo.

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Como a semi da Libertadores tá teoricamente resolvida é pra ir à Fortaleza com força máxima, resolver o jogo e espalhar o pânico na arcoirizada sem vergonha e mal vestida. Ainda que em uma competição longa por pontos corridos todas as forças telúricas, físicas e espirituais conspirem a favor do Flamengo não se deve esquecer que o ENEA é obrigação e que os alemão vivem pra nos fuder.

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Por enquanto tá tudo dando certo, parece que até a janela europeia nos favoreceu. Ainda estamos muito longe da perfeição, esse ainda é um esboço do Flamengo que vai dominar o mundo, mas estamos nos aproximando daquele ponto perigoso em que se melhorar demais estraga. Sapato, Flamengo, sapato.

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Mengão Sempre

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