O genial escritor flamengo Alvaro Moreyra tinha uma frase lapidar: “As cartas dos suicidas não levam selos”.
No Oriente Médio, um mês antes da Copa do Mundo, um amigo rubro-negro descobriu que tais missivas podem não levar selos, mas chegam longe, e com um barulho daqueles.
A saga que contaremos a seguir chegou lá de Doha, e arrancou risadas reais até do Zico, durante o encontro de Arthur I de Quintino com alguns súditos, no QG da embaixada Fla-Qatar.
Tudo começou às dez para as seis da manhã no país sede da Copa. O brasileiro Rodrigo Ribeiro, flamengo normalzão como você e eu, extravasou sua alegria com o tetra na Copa do Brasil, logo após a vitória suada sobre o Corinthians de Vitor Pereira, em outubro.
Adrenalizado, saiu então para uma corridinha na orla. Ao retornar, havia uma ligação perdida no seu celular. Um telefonema da polícia qatari. Sobressaltado, o carioca ligou de volta:
– Seu Rodrigo? – Sim, pois não. – O senhor está bem, seu Rodrigo? – Sim, tudo certo. Obrigado por perguntar… – Seu Rodrigo, o senhor poderia vir à delegacia para prestar uns esclarecimentos? – (Gulp)
Rodrigo assentiu, claro, tomou sua ducha e foi à DP próxima. Lá, finalmente entendeu o que estava acontecendo. E o resultado não foi multa, repreensão ou penitência. Rodrigo encarou apenas uma saraivada de sonoras gargalhadas, disparadas pelos oficiais.
O papo na delegacia rolou nesses termos, resumidamente:
– Seu Rodrigo, seus vizinhos nos telefonaram de manhã. Eles nos alertaram que o senhor estava na varanda, aos berros, gritando por socorro e ameaçando que daria cabo de sua vida. O senhor tentou se jogar, seu Rodrigo?
– Hein? Eu?
– Sim, o senhor.
– Meus amigos, eu sou Flamengo, o Flamengo foi campeão da Copa do Brasil ontem nos pênaltis. Eu sou o habitante de Doha mais feliz do mundo, eu não quero me jogar de lugar nenhum.
– Flamengo? Copa do Brasil? O senhor poderia repetir, por favor?
Pois é, caro irmão flamengo, cara amiga flamenga. Aquela memorável disputa de pênaltis no Maracanã, como o farfalhar das borboletas no Equador provoca avalanches no Himalaia, motivou uma confusão dos diabos no Oriente Médio.
Após os berros ensandecidos do torcedor brasileiro, os vizinhos se desesperaram e acionaram a polícia. Enquanto Rodrigo trotava, seu prédio era cercado por uma viatura da defesa civil, uma ambulância, um carro com policiais e toda a administração do condomínio, provavelmente munidos com redes, colchões gigantes de ar e escadas magirus, sem falar no esporro das sirenes.
Já que não havia ninguém em casa, ficaram procurando o torcedor lá embaixo, esborrachado. Avaliem o tamanho do alívio da apavorada equipe de buscas.
A história rodou a tal ponto no país que o torcedor da Fla-Qatar experimentou, até o início da Copa e da chegada de Messi, Zico e Júnior, popularidade digna dos grandes craques.
Fica portanto o alerta, fanático torcedor, empolgada torcedora.
Ao celebrar um gol do Flamengo no exterior, pesquise antes se “Adeus, mundo cruel!” não soa como “Rodinei, porra! Chupa, filhasdazunha” ou algo similar.
Meus amigos, voltei.
Fiquei um tempão sem me manifestar.
Dois motivos.
Inicialmente, as eleições, cujas consequências ainda andam por aí, deixando-me ligeiramente preocupado.
Depois, a Copa do Mundo.
Uma vez explicado, deixarei para escrever um pouco mais para depois. Está na hora do almoço.
SRN
Excelente texto. Me divirto e fico um pouco arrependido. Sou Botafoguense, não tenho como participar desses momentos maravilhosos que é ver seu time ganhar por penaltis
Meus amigos, voltei.
Fiquei um tempão sem me manifestar.
Dois motivos.
Inicialmente, as eleições, cujas consequências ainda andam por aí, deixando-me ligeiramente preocupado.
Depois, a Copa do Mundo.
Uma vez explicado, deixarei para escrever um pouco mais para depois. Está na hora do almoço.
SRN
Bela história, belo texto. Imagino as incontáveis. Teremos histórias da Fla Marrocos?
As histórias procuram seus contadores [2]
Que maravilha de história flamenga. Sensacional!
Excelente texto. Me divirto e fico um pouco arrependido. Sou Botafoguense, não tenho como participar desses momentos maravilhosos que é ver seu time ganhar por penaltis
Em dezembro de 81, vamos repetir essa história de novo e seu esporro vai ter que ser dobrado meu camarada. Saudações Rubro Negras.
Sensacionais a história e o texto. Parabéns! Rodrigão é uma peça. Certamente tem muitos outros “causos” flamengos para contar.
As histórias procuram seus contadores.