Já aprendi com ele há algum tempo que não vale a pena escrever post no calor de uma derrota. Flamengo perde, você bufa, xinga a mãe de uns 3 ou 4 e senta em frente ao computador achando que é o martelo do mundo. As ideias se confundem, o raciocínio é traído pelas emoções e acabamos, invariavelmente, atirando pra todos os lados e ferindo mais inocentes do que o Manual do Justiceiro considera de bom tom.
Pelo menos pra mim prescrevo uma quarentena moderada de 48 horas antes de voltar a bancar o gato-mestre. É um intervalo de tempo razoável para que a natural superioridade filosófica e ontológica do rubro-negrismo racional volte a sobrepujar sentimentos menos nobres tais quais a vontade de matar, de morrer, de abandonar de uma vez por todas esse negócio de Flamengo, entre outras pirraças. Não chego aos radicalismos de voltar a assistir ao jogo que perdemos para identificar falhas e virtudes. Não, que se dane, perdeu já era, um abraço. Acho que é desnecessário falar mais sobre uma derrota, tenho outros assuntos em mente.
Entre as muitas alegrias e ensinamentos que o Flamengo me proporciona além do jogo de futebol em si, certamente o meu preferido é a observação e a interação com a torcida, esses 40 milhões de irmãos e irmãs que reagem de 40 milhões de maneiras diferentes ao fenômenos que ocorrem na Flamengosfera. Ultimamente tem sido difícil estar na torcida do Flamengo fisicamente, mas uma parte dessa torcida está nas redes sociais e com elas, mesmo que o Flamengo continue jogando apenas na casa do caralho e adjacências, eu consigo interagir. Ui! Ficou mei gay o interagir, meu querido, mas é o que temos pra hoje.
Essa galera rubro-negra das redes sociais é pilhada, impaciente, intolerante e muitas vezes injusta pra caramba. Igualzinho à galera das arquibancadas. O que é lógico, já que são a mesma galera. Como estamos combinando agora que é a mesma galera, podemos então, só pra simplificar, nos referir a essa galera como torcida do Flamengo, ok? Pois muito bem, a torcida do Flamengo ficou bem puta com a derrota pro porco. Até aí normal, ninguém gosta de perder.
O que tem me chamado a atenção é uma tendência, que no domingo se viralizou, de não culparem mais os jogadores e treinador pelos maus resultados. A moda agora é dizer que a culpa é de quem os contratou. Não é sempre que tenho a ventura de concordar com um suposto senso comum existente na torcida do Flamengo sobre este ou aquele tema. Mas devo confessar que poucas vezes discordei tanto de um argumento. Explico minhas razões.
Se toda a responsabilidade pelos maus resultados em campo fosse exclusiva de nossa elite dirigente, no caso de sucesso eles receberiam as taças e fariam a volta olímpica carregados nos ombros da torcida? Lógico que não! É uma tremenda inversão de valores. Cada um no seu quadrado. Dentro de campo quem tem que resolver é o jogador, o técnico pode ajudar, assim como o juiz e os bandeirinhas, mas fazer gol, evita-los e trazer 3 pontos pra dentro do vestiário é trabalho do jogador.
Querer criticar a diretoria é normal, previsível, faz parte do jogo. Enquanto a bola não entra na quantidade e do jeito que a torcida exige, a cartolada sofre. E não adianta eles falarem nada, depois de uma derrota nada que saia da boca de um dirigente é capaz de adoçar os ouvidos do torcedor. Mas no meio dos desabafos do torcedor às vezes aparecem boas ideias. Como um cara no Twitter dizendo que quando for jogar em Brasília o Flamengo só pode fazer zona mista no anel superior. O Flamengo tem quem monitore as redes sociais e de repente uma ideia boa que aparece no meio das cornetadas pode ser colocada em prática. Assim espero.
Essa torcida do Flamengo no Twitter tem reclamado bastante da politica do Flamengo não limitar a venda de ingressos para a torcida adversaria à apenas 10% da capacidade dos estádios. Claro que a barbárie do jogo de domingo fermenta esse tipo de pensamento, é até compreensível. Hoje a torcida do Flamengo apoia a ideia de 10% de torcida adversária nos estádios. O apoio da torcida é importante, mas não exime a ideia de ser idiota, antifutebol e antiflamenga.
O Flamengo joga no Brasil inteiro e a atrai hordas de rubro-negros em uma raio de mais de 1000 km do estádio. Torcedores que passam às vezes mais de um ano para conseguir ver o Flamengo em campo. Se limitarem a 10% a presença da Magnética nos estádios como esse pessoal vai fazer? A Nação Rubro-Negra seria a maior prejudicada se essa ideia idiota vingasse. Não está no DNA do Flamengo esse apequenamento diante do adversário, essa admissão de temor, esse medo do contraditório, essa supremacia da ideia única. O Flamengo nunca foi desses leite-com-pera, por que começaria agora com essas frescuras?
Os clássicos centenários no Maracanã, e até em outras praças como São Paulo, Brasília, Manaus são uma prova de que o futebol carioca, a verdadeira matriz do futebol brasileiro, não precisa importar nenhuma calhordice do futebol paulista, onde os marginais venceram a guerra há muito tempo. O Flamengo tem o dever de manter suas raízes democráticas e de bom convívio com as torcidas adversárias. A violência não pode ser combatida com mais violência, porque ela é autodestrutiva. Além do mais, dinheiro não aceita desaforo. Até prova em contrário, o certo é que o Flamengo venda entradas dos seus jogos a todos que quiserem comprar.
Ao longos de seus 120 anos o Flamengo construiu uma cultura própria no futebol, que compreende a forma de torcer, de vibrar e de aceitar a existência de outras culturas do futebol. Não podemos deixar que isso se perca pelo fanatismo de quem, lamentavelmente, vem a cada dia perdendo a capacidade de dialogar. O Flamengo, pra ser um dia, de fato e de direito, o Maior do Mundo, tem que combater o pecado e amar os pecadores.
Quer um exemplo? César Martins. Fez que foi e acabou ficando na hora que a chapa esquentou, não correu. Não é um portento técnico, mas enverga o Manto que nem homem pra caramba. Fez cagada no primeiro gol dos porcos, mas sua atitude no lance do segundo gol deles foi irrepreensível. Eu faria aquele pênalti 3000 vezes. César Martins demonstrou, de forma plástica e de mão trocada, que deixar a bola entrar no gol do Flamengo não é uma opção. O Flamengo ensina, mas é preciso que a gente também queira aprender.
Mengão Sempre
Acho legal dividir o estádio. Mas não faremos mais para os times paulistas. A torcida paulista é a pior coisa do futebol brasileiro. Os caras conseguiram fazer seus clássicos virarem de torcida única. Tosco.
Descordo MUITO quanto essa proporção da divisão de torcidas, ninguém vai ser bonzinho conosco de querer fazer o mesmo com a magnética, pois sabem que por onde vamos enchemos os estádios (menos em Volta Redonda).
Tanto na diplomacia quanto no Futebol, existe a Lei da Reciprocidade!
SRN
*Discordo