Há uns dias, num programa de TV, o rubro-negro Aydano Motta sugeriu, com notável desprendimento pelos bens materiais pertencentes a terceiros, que o Flamengo, na sua condição de primo rico do futebol nacional, deveria ajudar os clubes menos favorecidos. Foi o suficiente para que parte da torcida do Flamengo nas redes mostrasse veemente discordância com instrumentos de políticas compensatórias baseados na transferência de renda.
Como Aydano não envolveu o seu nobre objetivo de melhorar o nível do futebol brasileiro apontando qualquer fonte de recursos que não o próprio caixa do clube, destilou-se um bocado de preconceito neoliberal por parte de alguns rubro-negros defensores do estado mínimo, que no fundo parecem que não lutam com o estado, mas sim com o Estado de Bem-Estar Social. Um modelo de organização social e politica que, apesar de todos seus defeitos de origem, ainda é capaz de diminuir desigualdades.
Desigualdade que se é inerente à competição esportiva, não é desgraça obrigatória na divisão de riquezas de uma nação. Mas é moléstia que atinge a todos, sem exceção. Com mais intensidade aos clubes e entidades que não foram tocados pela graça divina da meritocracia ou pelas asas da liberdade econômica que está fazendo o país avançar célere em direção ao Brasil grande dos anos 70.
Tinha algum ressentimento nas críticas, reclamações sinceras de que quando estávamos na lama nunca fomos ajudados. E muito preconceito com os clubes com a corda no pescoço que dependem das cotas de TV como nós dependemos do ar que respiramos. Achei que ficou meio feio, pareceu coisa de novo rico com péssima memória. Não adianta andar bem vestido se não for também gente fina.
E quem é gente fina mesmo não esquece que outro dia ainda estávamos na merda e não fica tripudiando dos pobres. A proposta do jornalista era abusada, mas não tinha nada de herética. Só era pouco consistente, mais um assunto pra preencher o enorme tempo em que se está no ar nessas resenhas televisivas. Mas que deveria provocar reflexão.
Não é muito coerente que a torcida do Flamengo, popular e multitudinária, compartilhe com a nossa elite econômica morena, cevada por gerações e gerações nas tetas da viúva, dessa grave miopia em relação aos mercados consumidores. Que ricos oligarcas que desde 1889 vem financiando caquistocracias rapaces prefiram exterminar com a concorrência para operar com altas margens e rápido retorno em mercados concentrados ainda vá lá.
Mas estranhei que logo a mulambada, cuja força econômica está firmemente alicerçada no lumpemproletariado urbano e rural, que minera seu ouro suado nos corres infinitos de roças, tendinhas e barracas de camelô, fosse cair nesse trompe-l’oeil liberal. Um conto-do-vigário ao qual julgava ser o rubro-negro médio imune.
O Aydano podia até estar só querendo biscoito, mas o Flamengo, se na sua cúpula houver algum real interesse em pensar no clube a longo prazo, que significa pensar no bem-estar da Nação nessa e nas futuras gerações, vai ter que ajudar os outros clubes, sim. É inevitável. Aliás, o Flamengo já faz uma espécie de filantropia há muitos e muitos anos. Com geral na nossa aba, no Rio de Janeiro, no Brasil e em parte significativa do mundo livre.
É a torcida do Flamengo que mantém o sistema funcionando e que dá sustentação a todo um setor da economia que gira milhões em receitas, empregando milhões de pessoas. Até um analfanúmero de humanas como eu é capaz de fazer uma conta de subtração. Aí é só ver de que tamanho fica o mercado de futebol brasileiro depois que se subtrai o dinheiro relacionado ao Flamengo do resultado final do bolo.
Mais cedo ou mais tarde, teremos que encontrar formas de ajudar ainda mais os pequenos. Quanto mais crescermos mais precisaremos deles pra viver. Não podemos fazer campeonatos jogando contra nós mesmos. Vejam o estado pré-falimentar dos nossos embaraçosos rivais cariocas. O Flamengo Superpotência Mundial G7 mal saiu da casca e à Vasca, ao Flor e ao Foguinho já não resta sequer a prataria para passar nos cobres. Pistoleiros do Serasa, da Light, da Cedae e do Prezunic andam pelas madrugadas na captura dos Três Patetas. A falência já nem bate na porta deles, chega chegando, metendo a mão na maçaneta.
Mas por acaso seria bom para o Flamengo que Curly, Larry ou Moe fossem à bancarrota? É claro que não. Precisamos deles. Não é porque estamos no topo da cadeia alimentar que podemos esquecer que fazemos parte do mesmo ecossistema. O Flamengo até que sobreviveria se as três bocas fossem simultaneamente à falência, pois pode jogar em qualquer lugar do Brasil com casa cheia.
Mas a primeira vítima colateral de uma quebradeira entre os nossos rivais seria a própria torcida do Flamengo no Rio de Janeiro, que perderia de uma só vez seus principais fregueses. São pequenos, não ganham nada, as camisas são feias, mas sem eles vamos zoar quem? Quem vai pagar a nossa cerveja? Isso pra não falar na brutal diminuição do número de jogos no Maracanã. Temos que salva-los.
É claro que é maneiro ver os caras sofrendo sem um puto, sem água e no escuro, mas não é muito inteligente deixar a casa cair pra depois ir buscar dinheiro público pra reformar o imóvel sinistrado. Mesmo porque não existe dinheiro público, o único dinheiro que existe é o de quem paga impostos. Ou seja, no final do ciclo econômico o dinheiro pra pagar a conta do salvamento dos pequenos vai sair do bolso da torcida do Flamengo mesmo. No fim das contas, o Aydano estava falando, talvez inadvertidamente, do dinheiro dele mesmo.
Não existe almoço grátis, se a torcida do Flamengo quer ter alguém pra zoar vai ter que pagar pelo serviço. Teremos que aprender a lidar com isso, a interdependência não é vergonha. É melhor que o Flamengo anteveja o lance, se antecipe e faça a revolução antes que o povo a faça. Como já citei Tatcher, Friedman e o Presidente Antônio Carlos, encerro com uma máxima do meu querido Tio Levi, comerciante de tino: Zem cliente o loja fecha.
Mengão Sempre
Arthur sou fã de suas crônicas, mas parece-me que você esta ingressando num fac símile do “clube do vinho”. Depois do rapaz ter falado essa bobagem eu passei a prestar atenção nele, e fiquei abismado com a quantidade de tolices que o mesmo fala sempre que abre a boca.
Arthur sou fan de suas cronicas, mas acho que você esta entrando para um “clube do vinho” em relação ao seu amigo Aydano. Ao meu parecer o rapaz esta prestando vestibular para idiota. Desde que o mesmo falou essa bobagem homérica fiq
O Flamengo tem sim que ajudar os demais clubes, mas dando exemplo de gestão e responsabilidade financeira e trabalhando para melhorar o “produto” futebol brasileiro. Eles que comecem a nos acompanhar nas decisões nas federações e CBF de forma a aumentarmos o tamanho do bolo. Não precisamos democratizar a pobreza em nome da igualdade, que sejamos desiguais, mas sólidos e viáveis.
Afinal, não existe almoço grátis.
Nasci em 82 e passei a torcer pelo Flamengo na década de 90. Se o Flamengo passar pelo Grêmio e for campeão da Liberta em cima de River ou Boca, vou comemorar até meu fígado parar de funcionar, é claro, mas acho que ainda assim não vou ficar tão maluco de felicidade quanto fiquei com o gol de falta do Pet em cima do Vasco, sem exageros acho que foi o dia mais feliz da minha vida.
Pra mim a alegria de vencer um rival forte no seu auge e zoar os torcedores rivais filhos da puta arrogantes não tem preço. A geração atual não sabe e provavelmente nem vai saber o que é ficar ansioso do dia de um clássico regional, num dia de Flamengo x Vices, que nervoso que dava assistir a esses jogos, como esses fdp nos zoavam se perdíamos.
Não duvido que daqui a 40 anos os 3 pequenos fiquem do tamanho dos atuais Madureira, Bangu ou Olaria, já que 90% dos moleques de hoje em dia que eu vejo são flamenguistas, ou vão virar casaca pro nosso lado. Mas infelizmente esse é um caminho que eles mesmo preferiram tomar, ao se preocupar mais com o Flamengo e seus cheirinhos do que com a administração corrupta de seus próprios times. Nossa alegria daqui pra frente vai ser zoar palmeirense e são paulino pela internet, já que todos os cariocas serão Flamengo.
Pra finalizar: discordo veementemente sobre dar ajuda financeira aos 3 pequenos. Os países da África recebem dinheiro dos países mais ricos, o resultado é esse que vemos aí. E na África não tem mais jeito, mas aqui no Rio ainda dá tempo de reverter essa situação, basta os sócios torcedores dos pequenos elegerem administradores sérios daqui pra frente, que ainda podemos ter alegrias zoando os Vices no futuro. A situação vai chegar num ponto crítico em que a falência vai ser inevitável para os nossos “irmãos” se eles mesmo não tomarem uma providência.
COOOOORRE LÁ no globoesporte.com mulhemberg.
o Mengão tá cobrando 105 mangos de uma venda de um moleque há 200 anos atrás pro avaí.
No mínimo você acha que tem que deixar pra lá, né?
mas já era.
RENDA PENHORADA! hahahaahha, é assim que se faz. Seriedade.
(lembrei que o governo do PÊTÊ dava dinheiro pra bolivia, nicaragua, cuba e países da áfrica… como vc acha que o Flamengo deveria fazer. Que piada…)
o Flamengo já ajuda DEMAIS por existir aqui nesse balneário semi falido.
o Flamengo SUSTENTA o campeonato estadual (erradamente chamado de “carioca”) e responde por bom número da renda dos certames nacionais.
DAR dinheiro para flu, vasco e botafogo?????? pelo contrário, pra eles seria TAMANHA HUMILHAÇÃO que o remédio, achando que faria bem, seria o DERRADEIRO VENENO pra esses clubes de bairro fecharem as portas.
Pode anotar aí.
E queremos é MERITOCRACIA, isso sim !!!!!!!!!!!!!!!!
Hauahuaa
Como liberal quero deixar aqui meu chapéu pela crítica inteligente. Pena que meus “amigos” da teoria nao conseguirão ou captar ou lidar com a acidez dos comentário.
Essencialmente eh isso mesmo. Clubes esportivos vivem do show proporcionado sem adversário nao existe show.
Com certeza não será sai do do Flamengo que os rivais obterão dinheiro, principalmente elegendo Eurico Miranda para controlar finanças. Mas que o bolo precisa Ser melhor repartido nao resta dúvida.
Até lá, hegemonia.
Falta muito, mas MUITO ainda pra essa suposta hegemonia, meu amigo.
Há 5 anos, só ganhamos carioqueta. Mesmo assim só metade deles.
Parece que finalmente chegou a hora e a vez do Flamengo. Sem ufanismo, o time está sobrando, eu tenho visto jogos dos outros concorrentes e eles estão muito distantes do que o Flamengo está jogando. Mas neurótico e masoquista que sou, fico sofrendo com o meu leite derramado. Ano passado mesmo com aquele time inconstante já dava pra ganhar alguma coisa, passam na minha mente como um filme de horror, o gol perdido do Paquetá contra o Palmeiras, a derrota contra o Ceará ( no Maracanã ou no Ninho?) com direito a frango do Diego, e parece que um improvável empate com o S.Paulo e outras tragédias típicas flamenguista que meu inconsciente com pena de mim bloqueou. Tudo isso com técnicos amadores e os discursos ocos do Diego dura lex sed lex no cabelo é só gumex. O melhor momento do time foi com o Dorival Jr, que chegou já tarde demais. Meu raciocínio simplista: se com tudo isso, fomos vice que dirá agora. Por isso acho que agora é a hora e a vez do Flamengo. Os adversários estão no canto do ringue quase nocauteados, resta ao Flamengo terminar o serviço e colocá-los na lona sem dó nem piedade. Por isso acho fundamental o jogo com o Avaí, temos que esmagá-lo inapelavelmente, jogar com seriedade como se fosse um jogo decisivo, sem essa de ficar com pena do adversário, chega de justificativas de fim de jogo, afinal de contas, estamos livres do Diego Ribas.
Xisto, esse adversário não merece a mínima piedade. Por incrível que pareça, está rigorosamente igual em número de vitórias no Brasileiro. Cinco a cada. Parece mentira, mas é verdade.
Pelo texto, creio que o Arthur não votou em Bolsonaro rsrs
Estou com muitas dúvidas …
sempre que pode destila ódio contra o MITO.
Lamento por ele.
Nesse texto, discordo 100%