Às vezes é muito difícil justificar o comportamento irracional das massas mal vestidas diante da confirmação de fatos de amplo conhecimento público referendados pela boa ciência. E ficam enchendo o saco, apontando complôs, armações e bem-bolados só porque o Flamengo atropelou mais um transeunte sem parar para prestar socorros. Como foi previsto e anunciado por gato-mestres profissionais e amadores o Flamengo passeia no Brasileiro, fazendo tabula rasa de convenções que hoje, diante das circunstâncias, perderam sua razão de ser, como, por exemplo, a suposta desvantagem de jogar fora de casa.

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A cada rodada do Brasileiro o Flamengo vem mostrando que enquanto as variantes do corona vírus mantiverem os torcedores bem seguros em seus sofás, não faz a menor diferença onde o jogo será jogado. Sem torcida todos os campos são neutros e o Flamengo joga com tamanha naturalidade que até parece que tá treinando nesses prados da neutralidade.

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E essa naturalidade tem sido um fator preponderante para esse Flamengo sem vergonha, que vulgarizou as goleadas e colocou aquele sarrafo, que Jorge Jesus já tinha deixado bem alto, em altitudes até então desconhecidas e inobserváveis a olho nu. Além de esculachar com adversários tolamente orgulhosos da suposta invulnerabilidade de suas casamatas, o Flamengo tem conseguido reverter escritas e tabus que atormentaram o amor-próprio de três ou quatro gerações rubro-negras. Beira-Rio, Itaquerão, Arena do Grêmio, Vila Belmiro e outros logradouros de má fama deixaram de ser fantasmas pro Flamengo. Agora é tudo nosso.

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Sábado o Flamengo organizou mais uma excursão de caráter punitivo à Vila Belmiro. A superioridade do Flamengo foi tamanha que o time simplesmente brincou com o Santos, dando inclusive a falsa esperança aos praianos de que poderiam chegar a um honroso empate com o virtual eneacampeão do Brasil. Fazendo um primeiro tempo de muita inteligência e pouca exuberância, o Flamengo de Renight usou os 45 minutos iniciais para estabelecer um domínio mental sobre o imaturo Santos, que sentiu muito a pressão. O juiz atrapalhado também contribuiu pra deixar o jogo mais tenso, errando muito e falando mais do que o necessário.

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Mas quem vacilou bonito na etapa inicial foram supostos conselheiros, convidados, abas ou bicões que o Santos abrigou em seus camarotes, mesmo com a proibição expressa de torcedores nos jogos do Brasileiro. Esses privilegiados otários, em vez de ficar no sapatinho, já que estavam fazendo paradas erradas, não controlaram o fogo na perereca e, acreditando piamente na impunidade, iludidos que eram protagonistas da partida, tiveram a jumenta ideia de fustigar o infustigável Gabigol. Logo ele, o Chatão, que se alimenta de controvérsias e se fortalece com provocações. Que otários!

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Marrento, convencido, presunçoso, vaidoso e facilmente pilhável, não é segredo para ninguém que Gabigol ainda tem muito o que desenvolver em suas habilidades sociais. Essas falhas o nove do Flamengo busca compensar com o carisma nato e com a sua espetacular performance esportiva. Os números de Gabriel Barbosa estão aí, sendo esfregados diariamente na cara dos “foi mal na Europa” e criando constrangimento para os demais centroavantes nativos, incapazes que são de sequer se aproximar das abusivas marcas do Príncipe Rubro-Negro.

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Mas isso aí todo mundo sabia, menos os babacas que o Santos “botou pra dentro”. Incentivado pelo comportamento antissocial e, porque não dizer, antisantista  desses picaretas, que na falta de uma lingerie pra lavar na mão com sabão neutro ficaram xingando Gabigol. O que aconteceu foi que o cara ficou puto e acabou com o sábado dos manés. Oportunista, muito bem colocado e sempre ligado no serviço, Gabigol deixou três cocos na balaio santista e teria deixado mais se o jovem arqueiro alvinegro não tivesse, a exemplo de 9 entre 10 goleiros que enfrentam o Flamengo, incorporado o caboclo Manuel Neuer e feito defesas absurdas.

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Mas mesmo com Neuer incorporado num cavalo bom não tinha jeito, o Flamengo sobrava na partida e mesmo quando o Santos tentava uma graça, não conseguia chegar com perigo na nossa cozinha. Que mais uma vez contrariando o bom senso e a injusta má fama de seus cozinheiros, saiu de campo zerada, sem tomar gol e sem matar ninguém de susto. O Flamengo de Renight é a confirmação mundana da teoria da evolução de Darwin, geral se melhorando e aprimorando as espécies.

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Pra completar o carnaval rubro-negro na Baixada Santista ainda teve a estreia irretocável de Andreas Pereira, que deu letrinha e deixou um gol com menos de três minutos em campo. Andreas Pereira, ao lado de Gabigol, lidera a estatística brasileira no quesito média de gols. Os dois malucos alcançaram a animalesca marca de um gol por jogo. Assim fica realmente difícil pros caras dos outros times se motivarem a brigar por um vice-campeonato que se afigura cada vez mais disputado.

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Não nutro a menor simpatia por nenhum dos 19 concorrentes ao vice do Brasileiro, mas pelo bem da competição é fundamental que os treinadores lembrem seus atletas que não há vergonha alguma em ser vice pra esse Flamengo, é uma honra reservada para poucos que abrilhantará o currículo de qualquer um. A suposta falta de competitividade provocada pela superioridade desmedida do Flamengo não invalida o Brasileiro, só muda a forma de como ele deve ser encarado pela arco-íris.

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O Flamengo vai ganhar mesmo, tudo certo, não é pra ficar chorando ou fazendo pirraça. Mesmo porque todo mundo foi avisado antes. É pra curtir a experiência e aproveitar a jornada, sem se preocupar excessivamente com o destino final. É tipo ir com a namorada assistir Titanic, todo mundo sabe que no final o navio afunda, mas isso não é motivo pra se privar de um grande espetáculo e, quando o enredo assim o permite, rola até uns beijinhos na consagrada.

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Agora a torcida rubro-negra se prepara para uma grande provação, ficar duas semanas sem Flamengo, hiato prolongado que não faz bem pra nossa saúde. Nem tanto pela ausência do Flamengo, mas principalmente, pelo excesso de ideia errada que surge nesses dolorosos períodos de racionamento. O maior produtor de conteúdo do futebol brasileiro só tem a oferecer uma fofocada desvairada, especulações infundadas, bate-bocas inúteis entre sujeitos irrelevantes e o desagradável, mas inevitável, debate político próprio dos anos eleitorais na Gávea.

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Que Zico nos ajude a atravessar esse ordálio sem perder nossa alma imortal.  

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Mengão Sempre