Até que essa Supercopinha fez valer a pena acordar antes das 11 da manhã. Além do prazer de misturar ovos, banana, granola e cevada gelada, o Flamengo x Palmeiras do domingo, 11 de abril, ainda me fez viajar no tempo. Meu primeiro jogo no Maracanã, se existisse o acaso, foi justamente um Fla x Parmera, com disputas de pênalti e tudo.
Eram as regras meio esdrúxulas da Copa União de 1988, mas marcou. Na companhia sempre nobre de Mario Cavalo e de Marquinhos Dunlop, tomei aquele choque de que poucos se recuperam, ao ver a grama reluzente pelos holofotes do velho Mario Filho. E vimos, de quebra, o centroavante Gaúcho, no gol sem luvas, ofuscar uma partidaça do Zico, no time ainda confuso do Telê Santana. Ir ver Zico e acabar engolindo Gaúcho foi uma lição do que é o futebol. Ou, ao menos, do que é um Flamengo x Palmeiras
Foi uma noite catártica, além de muito maluca – Zetti de tíbia quebrada, Flamengo com um a mais, passe mágico do Galo, gol do Bebeto (no Gaúcho, sem luvas), Zinho e Aldair perdendo seus penais e o Bandeira errando feio – não o auxiliar, o palmeirense Fábio Camargo Bandeira, um gaúcho que viera do Náutico. Novatos no esquema, nos aboletamos no meio das arquibancadas, lugar perfeito para assistirmos a uma espetacular pancadaria entre a Jovem e a Mancha, com bambus e tudo. Quer dizer, o que deu para ver por cima dos ombros, enquanto o pai nos catava aos gritos, pelos braços. Grande noite.
E foi naquela quinta-feira chuvosa, ainda, que comecei a exercer aquilo que chamo de Lei de Vickery, em tributo ao comentarista inglês. Tim Vickery, no “Redação Sportv” de outro dia, lascou a frase sábia, que anotei na mesma hora:
“Talvez o pior do futebol brasileiro seja essa necessidade que se tem de apontar o dedo para um culpado. Em toda partida, vocês precisam escolher um vilão”. Grande Vickery. O comentarista bretão, se bem me lembro, falava do centenário goleirão Barbosa, nosso camisa 1 em 1950, mas a frase me serviu como uma luva. Desde aquela quarta-feira chuvosa de 1988, em que ri do Bandeira e me enfureci com Zinho, eu era um torcedor tipicamente brasileiro.
Quase 33 anos depois, bem mais sereno e maduro, liguei a TV buscando prestar mais atenção ao duelo entre Ceni e o Abel português, em como um tentaria armar a arapuca para o outro. Quando desliguei o televisor, confesso, só conseguia concluir que o outro Abel, o que barrava Don Arrasca, é que não estava numa fase muito lúcida.
Como um professor de Jiu-Jitsu me ensinou, disputa divertida normalmente é aquela em que os dois lados erram muito, e foi assim o Flamengo x Palmeiras, com dribles improváveis, gols perdidos, reviravoltas. Um jogo difícil de ver quieto no sofá, e ainda mais complicado de aplicar a Lei de Vickery, e eleger um vilão.
Recordemos:
* 1º minuto: Lateral mal batido, Diego Alves chutando macumba e Arão perdido, provavelmente pesadão da banana com granola. Brincadeira!
* 5 minutos: Carniceiros! Verdugos! Só na pancada eles vão nos segurar.
* 6 minutos: Opa, tinha condição, Bandeira canalha! (não o gaúcho que veio do Náutico, agora é o auxiliar mesmo, preste mais atenção.)
* 9 minutos: Felipe Melo carniceiro! Vai ser o vilão do jogo, isso é claro.
* 21 minutos: Não tem vermelho, juiz safado!
* 22 minutos: Gol. Golaço. Ih, olha o VAR! Lá vem os do cafofo do Osama atrapalhar. Gol, ufa.
* 28 minutos: Ô zaga que gosta de cochilar! Dieeego salva. Não o Alves, o outro, com o calcanhar.
* 40 minutos: Ô Isla burro do cacete, opa, boa Isla, valeu VAR.
* 44 minutos: Bruno Henrique, meu filho, ô Bruno Henrique… Chuta com a ôta pata má, meu filho.
* 49 minutos: Ô Abel, tá vendo o Arrasca? Alô, Abel, tá vendo isso que o Arrasca tá fazendo hoje? Como tu barrava o Don Arrasca, Abel? Hein? Oi tia Abigail, desculpa, foi engano.
* Segundo tempo, 17 minutos: Vai mexer, Ceni? Ah, tava demorando para mexer errado. Vai lá, mexe aí. Treinador é o vilão mais certo que mordomo, certamente vai atrapalhar o time.
* 24 minutos: Ah, Gabigol, não pode perder essa… De herói para vilão, um clássico desde as novelas do José Lewgoy.
* 26 minutos: Everton Ribeiro passou para o amigo do Canteros, Rodrigo Caio com os miolos fritos de calor faz o pênalti. Estúpidos. Não dá para confiar.
* 43 minutos: Vai, Michael, entra, lascou tudo. Veja se pelo menos não bate o penal que o ovo com cerveja está embrulhando todo aqui.
Penalidades:
* Boa! Seu puto! Boa! Seu bosta! Diego Alves não pega mais nada, hein… Seu puto! Boa! Ah, Michael não… Diego Aaaalves (voz de Galvão) Te amo, Victinho! Mengoooo…
Sem conseguir escolher um vilão sequer, e feliz da vida, peguei uma cerveja pro meu irmão e disparei: “Haja coração. Aí, ainda lembra daquela merda que o Zinho fez? Cobrou mal pra cacete.”
Sem vilão? Furou-se a máxima do Vickery? A crônica – muito boa – mostra isso. Aguardemos os próximos jogos do Mengão, Que eles não apareçam.
Essa derrota contra o Vasco talvez chegou no momento certo. Com certeza em cima da hora.
A bofetada sonora contra um time de segunda divisao e com esse resultado negativo claro, perto de uma goleada, nao da margem a discussoes.
A mais ridicula dessas é dizer que „faltou Arrasca“. Naturalmente esse craque falta. Mas faltar contra um timeco de segunda divisao? E com todos os outros estando la e se esforçando?
Mais uma vez o time falhou feio na parte defensiva. Nao aprendem, pelo contrario, estao piorando.
Bola parada, bola alta, contra-ataques … tudo virou um horror. De novo.
Somente o JJ tinha conseguido fazer desaparecer certos erros, o Ceni trouxe-os de volta, estao ai, a luz do dia.
Todos sabemos que os adversarios vao jogar exatamente nos nossos erros e esses tem lugar e nome: Defesa.
Nao temos um defensor que preste de verdade. Nenhum. Nem o Caio.
Mas todos podem melhorar, e muito. Treinando.
Pra falar primeiro do meu preferido, o idoso. Participou em todos, repito, todos os gols de ontem, foi figura chave neles. Nos gols dos outros, claro. Dos 8 ataques do vice, 6 foram pelo lado dele. Zufall?
Nao basta mais construir a avenida com o nome dele, agora ja perde duelos dentro da area, nao salta, nao ganha combate.
Centrou 2 bolas boas. Virou o jogo 2 vezes. Nada mais.
Mas nao é somente ele. Que fosse! Os outros tb parecem que nao aprenderam o métier de defensor. Passam a impressao de serem improvisados.
O novo até me fez ter saudade do …. Gustavo Henrique! Arao, o volante, perdidaço no meio da defesa, o chileno na frente ok, no mas, atras zero.
Impressionante que o Ceni, embora ex-goleiro, nao gosta de armar uma defesa segura. Va entender.
Levamos gol contra qq um, nao importa quem. Nosso goleiro aceita todas que vao na direçao do gol. Nao defende uma dificil.
Essa falta de saber jogar a posiçao, em conjunto, é culpa do RC, dele e de ninguem mais.
Mecanismos que nao funcionam apontam para falta de treinamento. E para esses o tempo esta encurtando.
Pela enésima vez vimos que contra time recuados (e desses vao nos esperar muitos) nos falta rapidez, inteligencia e malandragem. Nao podemos contar sempre com lançes de craque do Arrasca, ER ou BH. Ja conhecemos esse filme!
Uma saida simples para essa deficiencia notoria é o pressing que arrebenta com timecos recuados. 90 minutos de pressing. Como fazia o JJ, com muito sucesso. Porque foi abolido, esse jeito de jogar?Hoje podemos trocar 5 jogadores, 5. Na época do JJ eram 3. E dava!
A terça traz o primeiro jogo de verdade. Duvido que o RC saiba encontrar a tatica certa. Tenho a maior apreensao pelo nosso time. E por nos.
O 1×3 ou causou insegurança nos jogadores ou acordou eles.
Vamos ver o quanto sao profissionais e como vao reagir.
Preocupadissimas (Carlos) SRN.
Escrito depois do jogo do vasco – continua valido e mais ainda pq o 2×2 da portuguesa mostrou somente que a) nao temos reposiçao a altura e b) o tecnico nao sabe tirar o melhor dos jogadores, nem mesmo fazer eles entrarem com a faca entre os dentes.
Ta na hora de sair.
Em cima da hora.
queremos RENATO GAUCHOOOOOOOOO
Fale por vc cumpadi e me inclua fora dessa.
Meus muitos amigos e pouquíssimos inimigos.
Estava de saco cheio e com muita preguiça de escrever, melhor dizendo, de batucar os teclados do computador.
Não resisti, dessculpe Dunlop, às colocações do Xisto.
Um que conheceu o Maracnã antes de mim. Que puta inveja. Fui “apenas” ao segundo jogo, Brasil 4 x 0 México, inaugural da Copa de 50. A minha reação foi de surpresa e choque. Como seria possível existir um estádioo tão grande, com aquelas arquibancadas de cimento armado intermináveis ! Algo de inimaginável !.
Como o Xisto, também estava acostumado aos então grandes estádios, como o de São Januário.
Todos os demais no Rio e Niterói não chegavam perto.
Conheci muitos. Dos times grandes, covardia. Seria natural. Laranjeiros, General Severiano e a nossa modesta Gávea, para mim o mais amado de todos, é óbvio. Conheci quase todos os pequenos, Teixeira de Castro, citado pelo Xisto, Conselheiro Galvão, o minúsculo Figueira de Melo, Campos Sales e até, então em outro Estado, Caio Martins.
A partir dos 12 anos, a minha segunda casa passou a ser o Maracanã.
Aproveitando o fiasco de ontem, encerrando um longo período sem derrotas para o arqui-rival Vasco, posso dizer, em autêntico ato de vingança, que, em um domingo chuvoso, do início dos anos 50 (na verdade, não me lembro mais se 51 ou 52), estava lá, na minha segunda casa, quando quebramos uma escrita de cerca de 20 jogos, pior ainda, os 7 anos de pastor, ganhando dos cruzmaltinos (epa, em homenagem ao Xisto) por 2 x 1, sendo certo que eles reclamaram paca de irregularidade no gol da vitória,
Como não havia esse tal de VAR, bola pra frente, minha gente.
Saudosistas SRN
FLAMENGO SEMPRE
PS – Carlyle. Foi convocado para a Seleção, treinou, mas não participou dos 22. Ainda me lembro dos tempos em que era do Atlético Mineiro, o maior astro local.
PS 2 – Heleno, o de Freitas. Para falar a verdade, um SENHOR JOGADOR. Muito superior ao astro mineiro. Pena que maluco. Acho que chegou a ser internado em Manicômio.
Dunlop, volúvel que sou, agora meu vilão é o Ceni, aliás, de certa forma sempre foi. Depois dessa derrota para os viceinos dentro de um filme que já vimos várias vezes, então… O mesmo ramerrão, Flamengo dominando inteiramente a partida, posse de bola impressionante e o adversário jogando pela tal bola da vez, dessa vez até excederam o número foram três. Só Rogério não vê o óbvio. Para se jogar assim há que se ter uma zaga ágil, além do goleiro funcionar como zagueiro, este, sim, estar sempre atento para jogar ali como autêntico zagueiro. E o que me consta não é o caso do Diego, o Hugo já nasceu viciado, além do narcisismo que está prejudicando sua carreira. Um pouco de humildade não faz mal a ninguém. Por que essa secura de fazer gol a todo momento? Deixa os outros “gostarem do jogo” como diz o lugar-comum desses cronistas(epa!), dá um pouquinho a bola pros caras. Em caso recente, quando o Palmeiras aparentemente nos dominou não corremos grandes perigos, até precipitação do Rodigo Caio. Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém já dizia minha vó, sábia portuguesa de trás-os montes.
Xisto, assim como pra vc, também pra mim o Ceni não tem a menor condição de ser técnico do Flamengo. Eu poderia explicar, mas o Joza Novalis faz muito melhor e com muito mais propriedade. Excelente analista que encontrei através de uma entrevista que ele deu pro Venê Casagrande, neto do Casão.
Olhaí!.
https://www.youtube.com/watch?v=Gt3XaPrll-w
Caro Dunlop, meu primeiro jogo no Maracanã, eu já era cobra criada. Já andara pelos estádios ( naqueles tempos não tinha essa frescura de arena, era estádio mesmo, o que dava uma certa dignidade aos alçapões de então) São Januário, Teixeira de Castro (esse foi onde vi meu primeiro jogo de futebol, um inesquecível Vasco com Heleno de Freitas, xingando Deus e todo mundo, nos seus estertores, Ademir Menezes, Chico e o velho Bonsuça com um tremendo goleiro argentino, tido como dos melhores: elegância pura, o cara, esqueci o nome) General Severiano e outros. Pois mesmo cascudo eu tive uma emoção que guardo até hoje. Depois de subir uma rampa que não acabava nunca, tudo era grande no gigante do Maracanã que nem o chamavam assim, tão modesto ao nascer, atravessei o túnel sob as arquibancadas superiores e como tudo parecia interminável, quase caí pra trás quando de repente, não mais que de repente, me vi diante daquele “tapete verde” que me entrou pelas retinas quase me fazendo desmaiar de emoção, tão mágica aparição que surgira do nada. Guardo até hoje. Iriam jogar Cariocas e Paulistas, os paulistas venceram e o nosso gol, isso me lembro, foi Didi quem marcou, se foi de folha seca ou não, não me lembro, aí já é demais pra meus combalidos neurônios. Na ocasião eu tinho um outro ídolo chamado Carlyle, assim mesmo no original como o grande escritor inglês, um tal de Thomas. O sujeito era tricolor, nosso grande rival na época. A pronúncia do nome do cara já merecia gozação, nós já terminando o ginásio pronunciávamos como manda o figurino, o “aí”, os outros pobres mortais iam de Carl”i”le mesmo. Uma das maldades da vida da qual, mesmo pequena, me arrependo. Pois o nosso Carlyle fazia gol pra caralho à beça, e apesar de tricolor( que não eram flozinhas, mas já pó-de-arroz) era meu ídolo. Grandão, bonitão, vasta cabeleira loura que depois eu compreendi que era pra esconder um defeito que tinha numa de suas orelhas, era raçudo, um tanque como se dizia na época. Veja a ironia, eu tive um irmão temporão que tinha o mesmo defeito na orelha, adivinha como era o apelido dele entre os peladeiros? Carlyle e olha, jogava também um bolão o meu carlaile de sangue, foi o melhor da família. Só sei que perdemos o jogo o Carlyle presepeiro paca perdeu um monte de gol e eu saí do Maracanã ainda embevecido, mas puto da vida com meu ídolo. Meu vilão do jogo. E para completar como na Seleções do Reader’s Digest meu personagem inesquecível.
Que beleza de crônica esportiva, Dunlop! E que jogão!
Obs.: só faltou mencionar o golaço de Rodrigo Caio no último penal: que categoria!
Bom demais!
SRN