A vasca tentou, perseverou, acreditou, mas não teve jeito. Hóspede mal educado, desses que arrota na mesa e limpa o pé na colcha, o Flamengo Malvadão foi a São Janu, zoou o cativeiro, mostrou que o VAR é nosso e acabou com os sonhos dos coraçõezinhos infantis em conquistar o BI da Taça Empatei com o Flamengo.

No sapatinho frenético, girando o elenco, dando chances aos cria e sem ler jornal ou assistir mesas redondas, o Flamengo, bicho papão insaciável, já fustiga os fundilhos das montarias paraguaias que gostam de se amostrar arrozando as mina no G4 antes da hora e nunca comem ninguém. As vãs esperanças da arcoirizada em um retorno fúnebre do Flamengo à friend zone do Brasileiro foram definitivamente sepultadas no segundo tempo em São Januário.

Quando Bruno Henrique aproveitou um balão mágico de Thiago Maia, ganhou a dividida com o bom goleiro bacalhau sem fazer falta, jogou a nêga no canto da mesma baliza onde a mãe de Arubinha enterrou aquele sapo histórico pra cravar 2 x 1, acabou o autoengano, geral se convenceu que o Flamengo vai ganhar o Brasileiro de novo. Porra, demorou!

Enquanto as portas da percepção se abriam pra arco-íris a enzolândia rubro-negra homiziada nos desvãos do Twitter reclamava prenhe de razão reversa que o Flamengo jogara mal e ameaçava com cancelamento aos mulambos que ousassem comemorar o que para eles fora um indigno triunfo sobre um adversário com necessidades especiais. Pra lavar um chão da área de serviço com Pinho Sol esses sicofantas não se voluntariam, mas estão sempre prontos pra criticar o que é, essencialmente, incriticável. Como ganhar da vasca, mesmo que jogando mal, roubando, matando ou praticando a elisão fiscal (que não é crime).

Se esses caras que merendavam Danoninho e Yakult levados nas suas lancheiras Ben 10 fossem realmente rigorosos no campo ético e moral deveriam se indignar quando o Flamengo fosse obrigado a jogar bem pra vencer a rafaméia cruzmaltina. Quando o Flamengo germanizado precisar lançar mão do talento incomparável do seu plantel pra subjugar o 10º colocado do Brasileiro aí sim devemos nos preocupar. Porque significará que o mojo do Flamengo está fraco ou perdido.

Ganhar jogando mal, só no impacto visual do Manto e nas boas relações comerciais com as empresas de software integrantes da cadeia produtiva do VAR (um abraço pra rapaziada que cuida da linha azul) diz muito mais sobre como o Flamengo é visto pelos seus adversários do que propriamente sobre o seu desempenho dentro das quatro linhas. É a nossa reputacão. Comprovando a tese de que dominar a porra toda não é assim tão necessário, basta que os outros pensem que a porra toda tá dominada e se entreguem sem muita luta.

Ganhar da vasca jogando bem qualquer um ganha, é uma realização meio vulgar. A beleza e o valor que atribuímos à beleza também está relacionado à escassez, à raridade. Socar a baranga dentro da pocilga com gol ilegal deles anulado no finalzinho é como cavar um buraco pra fincar um guarda-sol na praia de Maria Angu e achar uma trufa branca. Não serve pra muita coisa e nem mata a fome de muita gente, mas pode comemorar, tá autorizado.

O que o Flamengo do Dome Office tem realizado em campo sob as mais adversas condições, passando o rodo sem piedade e subido degrau por degrau do zigurate do Brasileiro contrariando toda a gatomestragem, cristãos novos, o Club du Vin e aquele cabeça branco apoplético da Fox Sports, é um aula de “cuide de suas porras e me deixe trabalhar” de inestimável valor educativo.

Com ou sem protocolo, com ou sem coronga, com ou sem Arrasca, Ribeiro, Rodrigo Caio e Isla, o Flamengo esta anos luz à frente de quem está jogando o Brasileiro de olho em vaga em outras competições. É o único time no Brasil que tem vontade, capacidade e roupa pra ser Octacampeão. Tem pra ninguém, esse ano é tudo nosso.

Depois que o Flamengo botou a cabecinha no G4 a paraguaiada aloprou. A galinha, que geral sabe que pira à nossa aproximação, já começou a flatular. O porco até do Foguinho perdeu e os demais concorrentes, coitados, já fazem contas pra ver se pegam uma Sula. O Mengão reuniu, em seu estilo próprio, os quatro ingredientes que fazem um grande mojo: identidade, resultado, reputação e contentamento.

A identidade é sobre o que pensamos sobre nós mesmos, o resultado diz respeito sobre nossas recentes realizações, a reputação é o que as outras pessoas pensam sobre nós e o contentamento, sobre o qual falamos outro dia, diz respeito à consciência sobre o que podemos mudar e o que está fora do nosso controle. É aquele papinho da oração da serenidade que vem salvando vidas de pinguços e doidões desde priscas eras.

Conceda-me a serenidade
Para aceitar aquilo que não posso mudar,
A coragem para mudar o que for possível
E a sabedoria para saber discernir entre as duas

Partiu Toquio!

Mengão Sempre