Antes de qualquer coisa, e sobretudo antes que o pau comece a cantar pra cima de mim, declaro a quem interessar possa que jogo no time dos que admiram os feitos administrativos alcançados por Eduardo Bandeira de Mello, nos dois períodos em que o Flamengo esteve sob a sua presidência.
Mas o que eu gosto mesmo, Marcelão, é de futebol. E, aí, o buraco ficou bem mais embaixo.
Confesso a você que não ligo muito para o sumiço do Ingá e do Itacoatiara, do mesmo modo que não surfo essa onda de “Orgulho da Nação”. Trata-se, admito, de uma imperdoável lacuna em minha persona rubro-negra, mas não consigo ser igual a esse povo que torce até em disputas de bolinha de gude, desde que um dos competidores esteja trajando o manto.
Quando a gente começa a discutir remo e basquete, é batata: o futebol não está dando para o gasto. E é como te falei, numa conversa de bêbado lá no Braseiro: esporte é futebol, o resto é educação física. (Por favor, meu camarada, não deixe seu pai ler isto.)
No entanto, peço carona nessa misteriosa história do sumiço dos barcos para pedir algumas outras explicações.
Noves fora a arrumação da bagaça, o pagamento de boa parte das dívidas e a volta do respeito – de verdade, e não aquela desacreditada bravata do Eurico –, acho que, antes de passar a faixa, nosso atual presidente bem que poderia explicar algumas coisinhas práticas. De preferência, sem blá-blá-blá, sem essa conversa pra boi dormir de que as decisões eram tomadas em grupo, que todos eram responsáveis etc., etc., etc. Foi isso o que ouvimos ou lemos durante seis anos, e serviu apenas para desgastar a relação.
Curioso é que as questões a ser esclarecidas são simples, só que a nossa brava imprensa especializada nunca se lembra de perguntar. Pois o RP&A, humildemente, pergunta.
Para isso, o destinatário do post passa a ser outro. Sai o grande Marcelo Dunlop (quase 2m de altura), entra o pequeno Bandeira de Mello (não mais que 1,70m, presumo).
Vamos lá.
1) Na absurda decisão que quase mancha nossa honra e nos derruba para a segundona, quem foi que bancou a escalação de André Santos contra o Cruzeiro, na última rodada do Campeonato Brasileiro de 2013? Nome, presidente, queremos o nome da peça.
2) No programa “Bola da Vez”, da ESPN, que foi ao ar em maio de 2017, Mano Menezes declarou aos jornalistas João Carlos Albuquerque, André Kfouri e André Plihal que um dos motivos que o levaram a se demitir do cargo de técnico do Flamengo, em 2013, foi o fato do vice-presidente de Marketing Luiz Eduardo Baptista, o Bap, querer decidir a quem o treinador daria ou não entrevistas. Procede, presidente?
3) É verdade, presidente, que Elias não voltou para o Flamengo no início de 2014 – depois de ter sido nosso jogador mais importante na conquista da Copa do Brasil do ano anterior – por desleixo e preguiça do vice-presidente de Futebol Wallim Vasconcellos? (Só lembrando: para o lugar do Elias, trouxemos Márcio Araújo.)
4) De quem foi, presidente, a decisão de esperar indefinidamente pelo treinador Reinaldo Rueda, no final de 2017, quando até o meu neto de sete anos já sabia que ele não continuaria no clube?
As próximas perguntas exigem contextualização e um pré-enunciado. Seguinte: no atual futebol brasileiro, o único clube com capacidade de investimento maior que a do Flamengo é o Palmeiras, pelos motivos que conhecemos. Não o invejo, já que me parece uma relação que guarda certa semelhança com a que havia entre o Fluminense e o Dr. Celso Barros, da Unimed. Ou, para ser um tiquinho mais ácido, a que havia entre o Bangu e o advogado Castor de Andrade, na década de sessenta. Enquanto a Crefisa continuar tirando dos pobres para dar ao Palmeiras, vai ser duro competir.
Respeitando a exceção, não há, no futebol brasileiro, outro clube tão forte financeiramente quanto o Flamengo. Sendo assim, seguem algumas perguntinhas técnicas e óbvias, referentes a contratações que fizemos ou perdemos a oportunidade de fazer.
5) Por que o Cruzeiro vai ao Mercosul e traz o De Arrascaeta, enquanto o Flamengo vai ao Mercosul e traz o Mancuello?
6) No ano de 2015, três goleiros de times médios se destacaram no futebol brasileiro: Weverton (então no Atlético Paranaense, hoje no Palmeiras), Danilo Fernandes (jogava no Sport, atualmente no Inter) e Alex Muralha (naquela ocasião, no Figueirense). Quem foi que olhou para os três, apontou o dedo e disse que Muralha era o cara?
7) Quando um dos problemas da nossa zaga – reconhecido inclusive por Zé Ricardo no programa “Bem, Amigos”, logo após sua saída do clube – era a lentidão de Réver e Rafael Vaz, quem teve a ideia de jerico de contratar um zagueiro mais lento que os dois juntos, o argentino Donatti? Alguém na Gávea conhecia o Kannemann, que o Grêmio pescou? Tanto Donatti quanto Kannemann chegaram ao futebol brasileiro em julho de 2016.
8) Ano passado, a diretoria comprou uma briga boba com a torcida ao ceder a Gávea ao Sport, numa rodada em que o usurpador enfrentaria o Vasco em São Januário. Esse ano, o Flamengo emprestou Gabriel ao Sport. Ou seja: apesar dos pesares, as relações institucionais com o Sport são boas. Então, por que não trouxemos, de lá, o meio-campista Patrick, que talvez seja o melhor jogador da surpreendente campanha do Inter? Ah, sim: tem alguém do clube de olho no Jair e no Mateus Gonçalves, ambos também do Sport e com pinta de ser bons jogadores?
9) Como é que o Santos tem bala para trazer Bruno Henrique – que esse ano caiu de produção após uma sequência de cinco lesões no olho direito, mas foi o melhor atacante do Campeonato Brasileiro de 2017 – e o Flamengo não tem?
10) Por falar em Santos: agora a gente quer o lateral Dodô, mas por que não chegamos nele no início de 2018, antes do pessoal da Vila Belmiro? Outra santista: Carlos Sánchez não teria sido um ótimo reforço pra gente? Ninguém percebeu que era possível trazer?
Para encerrar, mais uma troca de destinatário: a bola passa, agora, às leitoras e aos leitores do RP&A. Que questões vocês gostariam de ver esclarecidas pelo presidente, antes que ele saia para – segundo suas próprias palavras – cuidar da vida?
A caixa de comentários está aí pra isso mesmo.
Olha eu não estou aqui pra defender presidente nem atacar, Bananão já basta o que virou nosso país, agora custa crer que de pelo menos quatro competições que o time esteva nas finais o presidente teve culpa. Ele não estava em campo, seguramente. A sorte, amigos, a sorte…
Como mero observador, visualizo a inauguração de setor profissional no Centro de treinamento, em final de mandato do Embusteiro. Coisa de primeiro mundo. Na minha ignorância, fico a indagar para que serve? Será que ganha jogo? Fico a indagar e me vem à mente uma analogia a um chefe de família. Um vencedor. Construiu uma estrutura para seus descendentes. O problema é que os mesmos se acomodaram. Não estudam e não trabalham. Vivem nas tetas do patriarca que no seu paternalismo não possui fibra para cobrar uma mudança de atitude. Mimados, se ofendem a simples cobrança e se acomodam nos braços do pai que os afaga e diz para não ligarem. Críticas passageiras. Cai no esquecimento. E continuam a desfrutar de seus novos aposentos. No mesmo come e dorme. Sem responsabilidades. Coisas de criação de primeiro mundo.
Acorda, Flamengo! Já está ficando ridículo tanta desmoralização.
Mudanças já!
SRN