Uma das virtudes distintivas da torcida rubro-negra é a sua muito peculiar humildade. O rubro-negro em seu estado natural não hesita ao se colocar um ou dois degraus acima dos torcedores de agremiações de menor estatura. E faz isto sem um pingo de soberba, arrogância ou mistificação. Se apoiando apenas em fatos de fácil comprovação que assinalam de maneira inequívoca a superioridade do Flamengo sobre os alemão da vez e agindo de acordo com este entendimento.
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Foi o que aconteceu quando sortearam os grupos da Libertadores. O rubro-negro racional olhou pra aqueles três times meia-boca que deram o azar de cair no grupo do Flamengo e, sempre com humildade, fez seus prognósticos de desempenho do Mais Querido nos seis primeiros jogos da competição.
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Os menos exaltados levaram em consideração os dois adversários na altitude e cravaram com tranquilidade 18, 16 e até mesmo 15 modestíssimos pontos. Os mais empolgadões, antevendo uma jornada mais tranquila, julgaram que a vantagem do Flamengo era tamanha que não teria dificuldade em alcançar a marca recorde de 21 pontos.
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A torcida do Flamengo é assim mesmo, sempre confiante, positiva, alto astral e, às vezes, analfanúmero. Ninguém é perfeito. Esse é o serviço do torcedor, fornecer à equipe e também aos outros torcedores a confiança inesgotável que poreja às catadupas da pele rubro-negra. Que outros torcedores se contagiem com essa confiança, se embebedem com ela, se narcotizem com ela e entrem todos na mesma onda malucona para sintonizados se transformarem numa entidade sobre-humana muito maior que a soma das partes, é um fenômeno da natureza, nada ou ninguém pode impedi-lo.
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A torcida não tem que ter respeito pelo adversário e nem pela competição, torcedor não é obrigado. Quem tem que fazer isso é a direção do clube, a comissão técnica e os jogadores do time. De preferência sem muito alarde, no sapato, sem maiores demonstrações públicas de respeito, admiração ou mesmo de admissão do tamanho do adversário. Essas palhaçadas pra pagar de bom esportista soam terrivelmente insinceras e revoltam os torcedores mais conservadores.
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No fundo, no fundo, cartolada, comissão técnica e jogadores nem precisam ser humildes, mas tem que pelo menos fingir que são. É a convenção social vigente, então que se cumpra. Mas não precisar ser humilde não é a mesma coisa que ser arrogante ou soberbo. Agora que o barraco na Liberta desabou e o Flamengo que fatura 1,5 bi por ano conseguiu a façanha de estar em terceiro no seu grupo, com apenas quatro pontos e só dois jogos a realizar, muitos especialistas apontam que rolou arrogância e soberba, dentro e fora de campo.
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Que desde o primeiro jogo contra o Milionários o Flamengo não tem demonstrado o respeito que a leviana, vingativa e biscateira Libertadores exige nem se discute. Poupar jogadores, seja pro mixuruca Carioca ou pro Brasileiro, tem sido o padrão do Flamengo de Tite. E essa economia no manejo dos recursos humanos levou o Flamengo a sua pior sequencia sem vitórias na sua história na Libertadores. Até o time do Paulo Sousa fez mais que o Flamengo do Tite. Isso é um indicador claro do tamanho do buraco que Tite cavou com seus pés.
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No jogo contra o Palestino, em Coquimbo, Tite assinou a direção de uma das mais bizarras, canhestras e constrangedoras apresentações do Flamengo em todos os tempos. Um Flamengo de meião branco e totalmente desorientado em campo se mostrou sumamente incapaz de suplantar um adversário no máximo esforçado, que já estaria muito satisfeito se conseguisse perder de pouco pro elenco mais foda das Américas. Tudo propaganda, marketing e auto-engano.
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O Flamengo real está a bilhões de quilômetros de distância do Flamengo imaginado. Nossos craques comprados e pagos com seu peso em ouro não conseguem justificar em campo os investimentos feitos em seus talentos. Nem por isso a maioria deles deixa de se comportar como se pudesse resolver suas broncas a qualquer momento, num estalar de dedos. Soberba purinha, arrogância aplicada e devidamente castigada. Os deuses da bola são coléricos, não suportam essas palhaçadinhas. A Libertadores não tolera essa falta de compostura e pune os vacilões com extrema severidade. Falta humildade pra nossa rapaziada e os péssimos resultados do Flamengo são a maior prova disso.
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Uma deficiência que é até natural do ponto de vista humano. Afinal estão todos eles vivendo o apogeu de suas carreiras, jogando em um clube tão descomunalmente gigante que é fisicamente impossível não se sentir um pouco decadente quando se transferem do Flamengo pra outro clube. Seja lá ele qual for, o Flamengo é comprovadamente o maior. Só que em vez de se mostrarem cônscios do privilégio de envergar o Manto Sagrado e deixar dentro de campo até o ultimo grama de energia, até a ultima gota de suor, os caras ficam de bolinha pra cá, bolinha pra lá, se guardando pra quando o Carnaval do Tite chegar. Só que jogando assim, sem chutar, sem empolgar, sem dar tudo sem miséria, a Primavera Titiana não vai chegar nunca.
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Um time ruim, e hoje o Flamengo é um time ruim, não está condenado a perder todos os jogos. Desde que compense a sua ruindade com raça, amor e paixão. Artigos de primeira necessidade no Flamengoverso que se encontram atualmente em uma terrível escassez. Tite ainda não conseguiu fazer o time correr por ele, alias, o time não corre por nada, nem por ele mesmo. Todos os ingredientes pro fracasso estão à mão do cozinheiro, assim como os do sucesso. Cabe a ele a escolha certa e, de acordo com a realidade e não com o que se escreve na imprensa, fazer com o que o time corresponda às altas aspirações da torcida.
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Se o Flamengo ficar fora do mata-mata da Libertadores vai ser catastrófico, uma desonra pros jogadores, comissão técnica e cartolada, uma ignomínia pra cada torcedor. Vai ser o fim dos sonhos de muita gente. Mas aconteça o que acontecer, pro torcedor do Flamengo nada vai mudar, ele vai continuar a ser exatamente o que já é. Um modesto inato, um arrogante sem ostentação, que como Friedrich Nietzsche, entende a humildade como uma falsa virtude que dissimula as desilusões que uma pessoa esconde dentro de si. O rubro-negro não se desilude, porque nunca se deixa iludir.
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As próximas duas semanas serão decisivas para que se defina o que esperar da temporada. Maio é o mês das noivas e há anos é também o mês de demitir técnico do Flamengo. Se Tite almeja a honra de manter a cabeça colada no pescoço durante esses mês tradicionalmente guilhotinesco, ele vai ter que fazer duas coisas:
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Operar grandes e profundas mudanças na maneira que enxerga o futebol do Flamengo, que até por ser muito mais velho não tem que se curvar ao titismo, seja lá o que o titismo for. O Flamengo é pra frente, Tite. Revoguem-se todas as disposições em contrário.
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Classificar o Flamengo pro mata-mata da Libertadores. Custe o que custar! Você não está na Libertadores pra se divertir. Dá teu jeito aí.
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Mengão Sempre
Vamos FLAMENGO!!!!!!!
Excelente texto. Quando Tite passou a ser cotado como técnico do Flamengo eu tive muito claro em minha mente: Flamengo e Tite não têm absolutamente nada a ver um com o outro. Eu já senti o cheiro da merda antes do Flamengo cagar de fato com a sua contratação. O Flamengo perdeu seu estado da arte. Pra onde você olha dentro do campo há um miserável mais perdido do que o outro. Será mais uma Libertadores daquelas, como há alguns anos não tão distantes, quando televisionavam nossos papelões contra América do México, San Lorenzo e afins. Eu estarei sintonizado no jogo porque não vou abandonar meu esquadrão à própria sorte, como fez o Tite com seus selecionados depois da derrota contra a Croácia, quando partiu ao vestiário como quem se enfia num bunker. Expectativas estranhas. Flamengo sempre. SRN de Maceió, AL.
grande texto, arthur.
ficar de palhaçada na Liberta, aí não tite
esse fdp vai ter que arrumar um jeito do Maior do Mundo passar naquela p….!