No dia 9 de março de 2020, quase nove meses depois de chegar de vez ao Brasil, Jorge Jesus deu sua primeira entrevista exclusiva a um dos nossos canais de televisão. O programa “Jogo Sagrado”, conduzido por Benjamin Back, no Fox Sports, ultrapassou duas horas de conversa com o treinador, e ele esbanjou conhecimento e sinceridade.
Na contramão do habitual e hipócrita paternalismo dos treinadores brasileiros, não teve pudor em citar seus quatro jogadores que renderam abaixo do esperado na final do Mundial Interclubes de 2019 – Gerson, Everton Ribeiro, Arrascaeta e Gabriel. Em vez de se esconder atrás de disfarces como projeto, comprometimento e semelhantes platitudes, deixou claro que o que emperra o acerto do novo contrato é a bufunfa. No lugar de omitir seus proventos, abriu o jogo a respeito de quanto ganhava para dirigir o Benfica – oito milhões de euros por ano, o que mais ou menos bate com o que circulou como sendo sua pedida para renovar.
Trata-se de um salário indecente? Claro, óbvio, evidente. Mas, se com ou sem Jorge Jesus a ideia for preservar o padrão, terá de ser algo por aí, a não ser que se opte pelo retorno aos tempos de Jorginho, Ney Franco e Cristóvão Borges. Quem pretende ganhar tudo, e quer ser grande de verdade, nessas horas não pode escorregar para a pequenez.
Em um dos momentos descontraídos da entrevista, Jorge Jesus disse a frase que virou meme e foi destaque em todas as publicações, impressas ou digitais, que tratam do Flamengo (também postamos no Instagram do República Paz & Amor). Aspas para o Mister:
“Treinávamos e começou a escurecer. Alguns jogadores reclamaram que não estavam vendo a bola. Eu disse: é pra vocês aprenderem a jogar até de olhos fechados.”
Corta.
Dois dias antes da entrevista, no sábado 7 de março, fui beber algumas cervejas com o grande rubro-negro Carlos Delpupo, que me emprestara sua linda bandeira para os lançamentos de “Festa na Favela” em São Paulo e no Rio, e – de quebra – foi generoso a ponto de comprar três exemplares do livro. Por sugestão do Delpupo, escolhemos um bar na Pompeia chamado Botões Clássicos, que além da simpatia dos donos, da cerveja tinindo e de um respeitabilíssimo sanduíche de pernil, disponibiliza mesas e times de botão para quem quiser brincar. De graça.
Enquanto viajávamos no tempo e ouvíamos a transmissão radiofônica dos três a zero sobre o Botafogo, comentei com Delpupo que eu acabara de assistir a Barcelona e Real Sociedad, no Camp Nou, pelo Campeonato Espanhol. Jogo em que a Real Sociedad foi melhor, mais organizada e o Barcelona só venceu porque sua senhoria, em comum acordo com o VAR dos poderosos, marcou um penaltizinho pra lá de maroto. E concluí: “Vou dizer, Delpupo, que o Flamengo encara fácil esse Barcelona que eu vi agora há pouco.”
Por falar no genérico: a partida pareceu uma luta de peso-pesado contra peso-mosca. Mais um massacre rubro-negro, cujo auge aconteceu ainda com o placar em zero a zero, na avassaladora jogada que não terminou em gol mas mostrou o que é nosso time sob Jorge Jesus: aos 8 minutos do primeiro tempo, uma furada do lateral adversário Velasco, perto da nossa área, permitiu a montagem de um contra-ataque impressionante, pela força e velocidade, com os quatro de sempre – Everton Ribeiro, Arrascaeta, Gabriel e Bruno Henrique – mais o Rafinha. A impotência e o desespero do sistema defensivo do Barcelona de Guayaquil produziram uma fotografia fiel e definitiva do que é e como joga o Flamengo de hoje.
Everton Ribeiro em mais uma aula de seu precioso curso de mestrado sobre como fazer um time de futebol andar. Gabriel escancarando o tempo que perdemos apostando em centroavantes com as características – e, por que não dizer, a ruindade – de Henrique Dourado e Uribe. Gustavo Henrique dando conta do recado lá atrás e participando de nada menos de quatro jogadas de gol, duas em cada tempo. E no meio de tanta coisa boa, o que mais me chamou a atenção: outra tacada precisa dos caras que tocam o futebol do Flamengo, representada pela contratação de Thiago Maia. Consistência tática, ótimo senso de cobertura, toque elegante, saída de bola segura – foi ele quem começou, com categoria e autoridade, a jogada do primeiro gol na partida anterior, contra o Junior de Barranquilla. Precisávamos de um cara assim, para fungar no cangote de Willian Arão, ou, de repente, compor o meio com ele, nas partidas em que Gerson não puder atuar. Repetindo o que já fizera em 2019 – Rafinha, Rodrigo Caio, Pablo Marí, Filipe Luís, Gerson, Arrascaeta, Gabriel e Bruno Henrique –, o Flamengo foi muito bem ao mercado. Mais comedido, porém incisivo.
Nossa Libertadores começou com duas vitórias, do mesmo modo que aconteceu no ano passado. Sempre bom. Ainda não sabemos quando poderá acontecer a partida com o Independiente del Valle, em Quito, e seja quando for, não se deve acreditar em facilidade. Da mesma forma que esteve longe de ser fácil o jogo de ida pela Recopa Sul-Americana.
Entretanto, hoje temos time para encarar inclusive o Barcelona de Messi. Um time cada vez mais empenhado em chegar ao ponto de, como se dizia antigamente, jogar por música. Ou, como prefere Jorge Jesus, enquanto não são inaugurados os holofotes dos campos de treino do Ninho do Urubu, jogar até de olhos bem fechados.
E o que esperamos por muito tempo. Um time que mereça o Flamengo!! E que nunca mais tenhamos formações que só não n9s fizeram desistir, porque quem é Flamenguista desconhece essa expressão!!
gente …
final dos tempos mesmo !
lembro da época do urublog qndo um texto do arthur batia mais de 1000 comentários e agora nesse exato momento que escrevo só 6 …
nesses tempos de corona virus só me resta lamentar tal fato.
SRN !
Ótimo comentário, Chacal.
Acho até que, em vez de responder aqui, vou escrever um post sobre isso, pra publicar ainda hoje ou no máximo amanhã no blog.
Abração. SRN. Paz & Amor. E se cuida.
Três, corrigindo, QUATRO grandes amigos – Murtinho, Chacal, Rasiko e, não se pode omití-lo, Delpuppo, o Xará.
Pelo menos até agora é só.
Só, uma ova. Quatro expoentes sempre é difícil de encontrar juntos.
Tempos maravilhosos que, de repente não mais do que de repente (e salve o Poetinha !), transformaram-se em tempos sombrios e, muito pior ainda, tempos ameaçadores,
Ao que tudo indica, dando, mesmo de forma indireta, razão ao Chacal.
A vida sempre tem caminhos surpreendentes.
Quem diria que ficaria confinado por tempo imprevisível.
No que interessa neste comentário, confinado e sem futebol.
Como ficará o milionário e dispendiosíssimo time do nosso Flamengo.
Sem jogar, sem faturar em consequência, por longas duas semanas.
Duas SEMANAS. Será que alguém acredita. No mínimo, dois MESES. Por baixo.
É o imponderável atacando uma vez mais.
O Mister, técnico que não consigo entender, de tão bom que se apresenta, apenas aos SESSENTA E CINCO anos.
Os milionários salários de Gabigol, Rafinha, Arrascaeta. Bruno Henrique, Everton Ribeiro e outros mais, não me interessando, com toda sinceridade, os do desconhecido Pedro Rocha e do fraquINHO VitINHO, a serem pagos, independentemente de tudo.
No mais, algo a se discutir, apenas em torno da prática do futebol.
Flamengo x Barcelona, o verdadeiro.
Um time totalmente novo e em fase ascendente, o outro parecendo, pelo contrário, entrar em baixa, com jogadores já um tanto cansados e entrando naquela fase próxima do desinteresse. Já ganharam tudo.
Mesmo assim, uma interrogação, que, pelo menos se espera, o tempo permitirá um esclarecer.
O tempo, quanto mais, indago.
Ou quando.
Ninguém é capaz de responder com segurança, pelo menos hoje.
Só nos resta torcer para que passe depressa e sem maiores consequências.
Torçamos todos.
Confinadas SRN
FLAMENGO SEMPRE
Meu querido Carlos Moraes.
De fato, tá difícil falar qualquer coisa sobre Futebol & Flamengo em tempos de confinamento. De qualquer modo, pensemos: o bicho pegou pra todo mundo, e obviamente quem estiver mais forte terá mais capacidade de reagir. Em outras palavras: se ficou ruim pro Flamengo, imagine pro Vasco, pro Botafogo, pro Fluminense, pro Cruzeiro. Sei lá.
Confesso que salários altos não me preocupam. Ou a gente se acostuma com isso ou escolhe outro esporte para acompanhar e torcer – como, por exemplo, futebol de salão ou de praia, que eu ainda resisto a chamar de futsal e beach soccer.
Além disso, como escrevi na resposta ao comentário do Chacal, acredito que a mudança no estatuto impede os desvarios que, infelizmente, as diretorias do Flamengo se acostumaram a cometer. Talvez eles tenham nos marcado demais, e como a gente sabe, cachorro mordido por cobra tem medo até de linguiça.
Agora, o que resta é paciência e serenidade para esperar que a peste passe.
Abração. SRN. Paz & Amor. E se cuida.
acho que tudo na vida tem limites ,não vejo com bons olhos essa negociação com JJ.
se o flamengo pagar o que o treinador está pedindo ( 7 milhões de euros) vai cometer uma loucura !
nenhum clube do brasil pode pagar isso, nem o flamengo.
a economia mundial está em colapso …
nossa folha salarial é enorme e cada dia fica maior.
estamos parecendo o novo rico,esbanjando dinheiro sem dó.
já diria um amigo,dinheiro não aceita disaforo.
só pra mostrar o que estou dizendo,temos um reserva que ganha 1 milhão por mês e nem faz parte dos planos do treinador(pedro rocha) nunca entra nas partidas.
vitinho é outro com salário milionário na reserva,mas esse pelo menos entra nos jogos.
rafinha no outro dia exigiu aumento de salário e a diretoria fez um acordo rápido,parecia sem autoridade ,sem comando ,meio que refém do milionário elenco rubro-negro.
isso já vem me incomodando já faz tempo.
outra coisa foi bater de frente com a globo ….
tem hora pra tudo nessa vida,será que era o momento certo pra issso?
acho que tá na hora dessa diretoria rever alguns conceitos e puxar o freio de mão.
eles estão com muitos creditos pelos titulos conquistados,mas pode por tudo a perder se continuar esbanjando do jeito que vem fazendo.
SRN !
*desaforo
Chacal, gostaria de saber de onde/com quem vc obteve essas informações quanto aos salários do Pedro Rocha e do Vitinho e o pedido de aumento salarial do Rafinha. Grato
srn p&a
Rasiko,
não tive nenhuma informação privilegiada ,soube lendo noticias do flamengo.
globo.com
uol
terra
SRN !
Fala, Chacal.
Também acho que há limites, só tenho dúvidas é se estamos perto de atingi-lo.
Não entendo nada de contas e balanços, mas creio que a atual diretoria do Flamengo é rigorosa quanto a regras e planejamentos. A longa negociação com Filipe Luís, por exemplo, é um bom exemplo. E há salários – indiscutivelmente altos, como o futebol moderno impõe – que só são pagos porque as transferências não envolveram custos, o que me parece ter sido o caso do Pedro Rocha. Já nos casos dos altos valores de transferência (Gabriel, Arrascaeta, Gerson), aposta-se na capacidade de valorização. Não há futebol sem apostas, e sabemos que, quando se aposta, às vezes ganha-se, às vezes perde-se. É quase certo que o Flamengo perderá dinheiro na má aposta feita em Piris da Motta. Por outro lado, quanto o clube ganharia caso vendesse hoje o Bruno Henrique?
Existe um site legal chamado transfermarkt.com.br, que, entre outras coisas, faz uma avaliação dos elencos de cada clube, com o valor dos jogadores no mercado futebolístico mundial. E é claro que os salários precisam ter o mínimo de relação com o que os jogadores valem. Pois bem: se você pegar os times titulares do Flamengo e do River Plate, vai ver que eles valem mais ou menos a mesma coisa. Aí você pode dizer: ah, mas o Fulano é reserva e ganha uma fortuna. Ok. Pegue, então, os dez jogadores mais valiosos de cada clube. A correspondência permanecerá.
Jorge Jesus e Gallardo (técnico do River) também recebem hoje quase a mesma coisa. Só que o Mister ganhou Libertadores e Brasileiro, enquanto Gallardo perdeu Libertadores e Campeonato Argentino. Como o contrato de Jorge Jesus está por se encerrar, paciência. Cabe a quem toca o futebol do clube perceber até onde o investimento pode ou não ser positivo.
Outra coisa importante: um dos maiores feitos das últimas gestões do Flamengo (não lembro quando foi e não tenho o menor saco pra essa discussão de Bandeira, Bap, Walin, grupo, era pra sair e não saiu, só sei que foi pós-Patrícia) é a mudança no estatuto, que impede – ou ao menos inibe – a irresponsabilidade administrativa e o descalabro financeiro. Creio que não há risco do Flamengo “cruzeirar”.
Abração. SRN. Paz & Amor. E se cuida.
Se o Flamengo quer atingir o patamar europeu em todos os níveis – e quer – tem que pagar o que o JJ pede, ou negociar/barganhar, mas perde-lo, jamais. O nome disso é investimento. JJ não é apenas um dos melhores treinadores de futebol do mundo, mas também dos mais carismáticos, inteligentes e que parece ter uma ilimitada capacidade de gerir um grupo de estrelas, uma autêntica seleção., deixando todos os jogadores apreensivos quanto a ele ficar ou não (aposto minha mansão nas Bahamas que ele fica). Inclua-se sua relação com os dirigentes e sua total independência de falar o que bem entende sem medo de represálias. Como foi o caso do alerta quanto ao gramado do Maracanã que provocou a imbecil declaração do presidente do Fluminense que, até agora, pelo que sei, não pagou seus débitos pelo uso do estádio. São muitos ingredientes fundamentais reunidos numa só personalidade. Falar na simbiose com a torcida seria o óbvio.
Onde se encontraria outro que chegasse aos pés?
srn p&a
Fala, Rasiko.
Pois é. Concordo.
Se tivermos alguém parecido com Jorge Jesus que aceite ganhar menos do que ele quer, beleza. Só que não parece ser este o caso. Sendo assim, o que resta a fazer é utilizao o máximo da nossa capacidade de negociação, mas o cara tem que ficar.
A não ser que a gente decida, para desapontamento do grande filósofo Bruno Henrique Pinto, que popularizou a expressão, esquecer esse papo de outro patamar.
Abração. SRN. Paz & Amor. E se cuida.