Como era de se esperar a fugaz boa impressão causada pelas vitórias sobre o Fortaleza e o Corinthians se desfez no Fla-Flu. Mesmo com o empate safado e injusto (teve pênalti não marcado a nosso favor e o VAR nem tchuns) o clássico interdivisional de número 422 foi um evento esclarecedor para a torcida rubro-negra. Ao menos para parte dela que ainda nutria alguma ilusão sobre o nível de desenvolvimento tático do Flamengo após 5 meses submetidos aos métodos e à controvertida doutrinação abeliana.

Por mais que o Fera contasse com o apoio da rapaziada, e tudo indica que ele contava mesmo, fazer o time jogar de maneira empolgante e eficiente estava um pouco acima das suas capacidades, ainda mais no curto espaço de tempo que teve à frente da equipe. Parece óbvio que Fera só quer manter a palhaçadinha em níveis mínimos, para que esses jogos que nos restam antes da chegada do novo treinador acabem logo e ele possa voltar às suas funções originais. Não está errado o Fera.

Fera inclusive parece ser um rapaz simpático, inteligente. Mas que, no entanto, perde tempo com bobagens. Como, por exemplo, insistir com Diego pelo meio no papel de organizador. Até os stewards do Maracanã, que ficam de costas pro gramado durante os jogos, já sabem que não dá pé pro Diego exercer aquela função.

Não que falte vontade ao fotogênico 10, ele se esforça, dá carrinhos, tenta jogadas. Mas as coisas simplesmente não dão certo, o passe não chega no companheiro, a bola bate na trave, o amigo Bruno Henrique leva dois tabefes na lata e ele, com a faixa de capitão no braço, não peita o juiz. Quando o adversário é mais ou menos arrumado ou famoso Diego não funciona.

Foi só Diego sair e o departamento de criação ser assumido pelo Everton Ribeiro pro time mudar da água pro vinho. Tudo bem que era um vinho vagabundo, mas já não era mais água. Além dos inegáveis recursos técnicos, Ribeiro tem uma visão de jogo superior à média. Dá passes bons pros amigos todos, que nem sempre são capazes de acompanhar a velocidade do seu raciocínio, faz a bola correr. Jesus, que segundo os fiéis está sempre de olho em tudo que acontece, deve ter percebido na hora que o nosso 10 usa a 7.

Mesmo que a propalada onisciência de Jesus seja um exagero ele estava de corpo, alma e, talvez, espírito santo, no Maraca durante o Fla-Flu e deve ter visto também que Arão de segundo volante é uma tremenda forçação de barra. O cara não marca ninguém! Só aparece pedindo bola na hora de ir pro ataque, na hora em que estamos sendo atacados ele desenvolveu a técnica malandra de estar sempre entre dois adversários, mantendo a distância segura para que, mesmo que quisesse, não conseguisse chegar em nenhum deles. Comportamento que pode ser classificado tranquilamente como farisaísmo.

É claro que Jesus viu. E viu também, a não ser que seja um tolo, que ele tem muito trabalho pela frente. O Flamengo é praticamente cabaço em termos de armação tática. O time joga orientado pelo mesmo senso comum compartilhado por jogadores que fazem o time de fora nas peladas. É tudo muito básico e primitivo. Um otimista diria que o time do Flamengo tem muito espaço para o aperfeiçoamento.

O Flor, ao contrário, tem um time arrumadinho, faz um tiki-taka meio bastardo, que por mais maluco e suicida que seja denota claramente que existe um trabalho, um conceito futebolístico por trás daqueles passes trocados imprudentemente dentro da própria área. Fosse o Flamengo pouquinha coisa mais organizado e poderíamos ter dado uma bela lição aos tri rebaixados sobre responsabilidade compartilhada e a seriedade como componente inegociável na ética de trabalho.

Mas quem viu o jogo sabe que eles poderiam muito bem ter nos vencido se não fosse um domingo bom de Diego Alves. Diante das circunstâncias e dos nossos defeitos, que não desapareceram como num passe de mágica após a demissão de Abel, o empate foi um resultado bom pra nós. Mesmo sendo o time reserva do Flor, mesmo sendo um adversário oriundo e fortemente identificado com a Z4, empatar ainda é melhor do que perder.

Vamos em frente, temos mais um jogo em Brasília contra o CSA e acaba a palhaçada. Tem que recolher todo mundo no Ninho pra fazer o recall tão necessário. O Brasileiro ainda tem 30 rodadas pela frente, ninguém morreu. Ainda. Por enquanto, só mesmo Jesus na causa.

Mengão Sempre

P.S. Eu já sabia!