Coração-bobo. Eu não sei definir o meu, só sei que, como diz a canção: a gente se ilude dizendo que não há mais coração. Mas há. Sempre há quando se trata de Flamengo. Eu vi o filme da minha vida passar na televisão durante 90 minutos. Em pé. Enquanto a bola não entrava fui recolhendo todo o sentimento e colocando no corpo de novo. Um por um. Alegria por alegria. Dor por dor. Derrota por derrota. Decepção por decepção. Conquista por conquista. Ausência por ausência. De vez em quando pegava um que não era meu, com isso ganhei mais um irmão. Para que tudo ficasse perfeito ele resolveu entrar em contato com o pai que não o atendia há mais de seis meses. A bola não chegava no gol. Mas ele insistia. O pai atendeu. Não tinha nada perdido. Entretanto o pai decidiu não reconhecê-lo mais, pede que retire o seu sobrenome, não deixa ele se aproximar. Em 33 anos de tentativas. O coração dos aflitos pipoca dentro do peito.
Coração-bola. Faltam 10 minutos para terminar a partida. E eu quero dizer pro meu novo irmão, não desiste não. Lute como um Gabigol. A história de Flamengo de todos nós é feita de luta. Por um ingresso, por uma vitória, por um novo título. Por mais um título. Por dois títulos. Por sete. Por um manto novo. Por comida. Por uma viagem. Por ingresso. Por uma regata. Por amor. Não desiste não. Espera os 43 minutos. Tem gol aos 46. Tem jogo nos acréscimos da vida. O Flamengo dos avôs, das avós, dos tios, dos irmãos, dos amigos que os piores jogos nos deu. Afinal, tem time perna de pau que nos une pra sempre. Tem jogo merda que cria laços de amor. Tem irmão de arquibancada e perrengue que a gente valoriza mais que os parentes. Escrevo e lembro dessa família que estava espalhada por aí, pelos jogos, pelos títulos, pelos sufocos de resultados. E pelo time treinado por Jorge Jesus.
Coração-balão. Escrevo e penso em tantos: “Eu só lembrava de você, Vivi.” (substitua pelo seu nome) TODOS nós ouvimos isso pelo menos uma vez nessa vida de Flamengo. Eu passei a semana ouvindo, lendo isso, recebendo afeto pela minha ausência. Eu quero dizer para o meu novo irmão reescrever o sobrenome dele como eu fiz com o meu: Viviane de Sant´Anna Gabigol Mariano. Ou Viviane Henrique Mariano. Ou Viviane de Jesus. Ou ainda, Viviane de Arrascaeta Mariano. Também pode ser Viviane de Sant´Anna Mariano Luís. Ou tipo família real, Viviane Arão Souza Santos Caio da Silva Mariano Ribeiro Marí. Meu coração tá batendo, como quem diz: “Não tem jeito!” Zabumba bumba esquisito. Batendo dentro do peito. Quero correr até o novo irmão, abraçar, cair desfalecida no gramado. Quero dizer para ele que o Flamengo nos faz família. Que na arquibancada somos todos irmãos. No Maraca, no Monumental, na Av. Presidente Vargas. A gente se ilude dizendo que não há mais coração. Mas há. Não é só futebol, é Flamengo. Ele nos reconhece. E nós nos reconhecemos no outro. Na determinação do Diego. No pedido pra sair do Gerson. No nariz sangrando do Rodrigo. Dá pra virar em três minutos, meu novo irmão. Dá pra virar.
Coração São João. Coração São-Judas. Coração TODOS os Santos. Coração-Torcida-do-Flamengo. Eu quero dizer para o meu novo irmão: tem passe decisivo do Diego nessa vida. A glória eterna é ser Flamengo. É conversar com os que já foram como se eles estivessem do nosso lado na arquibancada, de pé em frente a TV, é se misturar no meio da multidão de desconhecidos e se reconhecer neles. É assumir uma verdade dita por Jesus depois do jogo. Uma palavra da salvação: “Fomos felizes, mas fizemos tudo para ser felizes.” Abrace um desconhecido vestido com o manto sagrado. Aperte a mão de quem te reconhece campeão. Adote um irmão na arquibancada. Faça uma prece pelos Garotos do Ninho. Grite na janela: É campeão, Irmão.
Pra vocês,
Paz, Amor e É muito bom SER Flamengo.
Pois é Vivi, olha que coisa? A minha irmã é tricolor. Quando ela ligou a televisão, faltavam pouco menos de 10 minutos para acabar a partida.
Ao ver que o Flamengo perdia, disse-me ela: “eu só me lembrava de você,” da sua dor, da sua tristeza. Então, ela esqueceu a paixão pelo Fluminense, e começou a rezar pedindo a Deus que o Flamengo vencesse o jogo.
O amor pelo irmão falou mais alto do que o amor pelo Fluminense.
Após o término da partida, ligou-me chorando de alegria.
Beijos, querida Vivi.
Que suas palavras sejam sempre lidas pela necessidade da perpetuação flamenga!
Brigado, Vivi.
Ainda estou em Lima, minha SAGA de retorno começa amanhã, onde chego ao amanhecer de sexta em Sampa , pego meu carro e dirijo mais algumas horas até o Rio. Chorando muito nesse momento com seu texto MARAVILHOSO. TE AMAMOS .MIL BEIJOS DOS ALVARENGA.
Magistral, querida. Nada mais digo, não precisa.
Saudades.
Acompanho o comandante nessa, Vivi, suas palavras transbordam sentimento.
SRN bjs
“É conversar com os que já foram como se eles estivessem do nosso lado na arquibancada, de pé em frente a TV, é se misturar no meio da multidão de desconhecidos e se reconhecer neles. ”
Sábado estava do lado de um monte de irmãos desconhecidos. Comemoramos como loucos.