Durou menos de 48 horas a pose do Flamengo Guerrilheiro que enfrenta monopólios em prol da independência financeira dos clubes. Em uma decisão controvertida que misturou falta de empatia e miopia o clube escolheu cobrar R$ 10 para que a torcida assistisse a semi-final do Campeonato Carioca, uma competição mais morta do que viva cujo desfecho desperta pouquíssimo interesse.
Mas uma bola fora da diretoria, que não ajuda em nada a dissipar as nuvens de antipatia que se formaram em torno do Everest rubro-negro desde a tragédia no Ninho de Urubu. Antipatia que continua a ser anabolizada com as canhestras explicações oferecidas pelo clube após a divulgação da esdrúxula cobrança.
Se o Flamengo não tinha bala na agulha pra manter seu time de estrelas não deveria ter desprezado os 18 milhões oferecidos inicialmente pela Globo. Oferta que subiu até 40 milhões durante as mal sucedidas negociações. O dano causado à imagem de grandes gestores já está feito, a eficácia de seu planejamento e a robustez do caixa rubro-negro agora são itens discutíveis e não mais verdades absolutas e elogiáveis.
A necessidade empresarial de testar o modelo e aferir com maior acurácia o preço ótimo de um jogo do Carioca se sobrepôs ao compromisso não escrito com a torcida de ser o clube mais popular do país. Essa prevalência do que é contabilizável sobre o que é valor intangível pode até ser uma profissão de fé da diretoria e atender, no curto prazo, aos manuais de boa gestão. Mas não deixou de ser um tiro no pé avançar no bolso de quem já está todo ferrado como a maioria da torcida do Flamengo.
Toda coragem exibida pelos generais do Flamengo na “guerra contra a Globo” se derreteu quando o clube mandou pra linha de frente os fudidos da torcida para amortizar os custos da guerra travada entre os ricos. E num momento em que o país atravessa a maior crise econômica dos últimos anos, com desemprego e queda de renda recordes. Difícil não perceber que tá todo mundo sem dinheiro. Difícil até imaginar como piorar o quadro.
Mas conseguiram, atrelando essa cobrança inoportuna a um aplicativo obscuro, sem muita relevância no mercado, cujos highligths de seu cardápio são os campeonatos da Bielorussia e da Mongólia. Na quarta-feira os usuários do aplicativo na gringa que pagaram oito doletas para assistir ao Flamengo x Boavista já sofreram com a instabilidade e com o delay da transmissão.
Pro jogo de jogo de hoje a plataforma já está mostrando que não é parruda o suficiente para atender as solicitações da maior torcida do Brasil. Não estão conseguindo garantir o acesso aos sócios-torcedores com direito à gratuidade e nem cobrar de quem está disposto a pagar.
Já que a diretoria optou por ser antipática, insensível e antipovo por que não manteve a transmissão na Youtube, plataforma consolidada com interface intuitivo e confiável? E que ainda serviria para o propósito de fidelizar o torcedor à Fla TV? Se é do bolso da torcida que sairá o dinheiro para pagar a aventura é justo que ela seja informada dos custos reais. O que o Flamengo ganhou com essa escolha? Ninguém sabe, porque a transparência ficou em segundo plano na condução da negociação.
Em 1954, quando tinha 12 anos, o menino prodígio Daniel Baremboim tocou piano para o poderoso maestro Wilhelm Furtwängler. Furtwängler ficou chapado, chamou o jovem Barenboim de fenômeno e o convocou para a rara distinção de tocar o Primeiro Concerto para Piano de Beethoven com a Filarmônica de Berlim. Aída Schuster e Enrique Barenboim, pais do prodígio e também pianistas de talento, não permitiram sob a alegação de que não era aconselhável uma criança judia tocar em Berlim menos de nove anos após o Holocausto.
Aída e Enrique ainda não sabiam até onde o talento de Daniel poderia lava-lo, e apesar do orgulho paterno por aquele feito quase mozartiano do seu moleque tiveram sensibilidade de perceber o momento histórico e projetar o prejuízo que tal apresentação poderia trazer à imagem do filho.
Mais uma vez, faltou essa sensibilidade à diretoria do Flamengo.
Mengão Sempre
Com sinceridade, nada tenho a acrescentar ao meu comentário do artigo anterior do nosso Grão Mestre.
Naquela oportunidade, usando exatamente os fatos agora relatados, ^abri a dissidência^, pois todos estavam eufóricos.
A realidade, muitas vezes, dói.
Aproveito para acrescentar um dado para muitos desnecessário.
Daniel Baremboim tornou-se um músico consagrado. Pianista e Maestro. Argentino de nascimento, um artista do Mundo. É vivo até hoje, sendo, inclusive, um pouco mais novo do que e do que a Claudia Cardinale. A história autêntica que foi relatada pelo Arthur é profunda, pois, acima de tudo, está a proximidade com a decência e a moralidade, coisas, lamentavelmente, que parecem passar longe dos nossos Presidentes.
Ainda envergonhadas SRN
FLAMENGO SEMPRE
Vou fazer uma observação e todo diletante.
Há anos atrás, o grande Arthur colocou, em um de seus memoráveis artigos, a foto de Martha Argerich.
Na oportunidade, não pude deixar passar em branco.
Foi uma das minhas paixões, naquela época em que, na prática, batia palmas e gritava bravos no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Mais de cinquenta anos já se passaram.
Faço a citação pela coincidência.
Martha é argentina, judia, artista do Mundo, um pouquinho mais velha que Baremboim e um tantinho mais nova do que eu (lendo o comentário acima, reparei que engoli o EU).
Para mim, um monstro sagrado dos teclados, sem igual no sexo feminino.
Genial.
A falta de sensibilidade é um sub-produto da ignorância em relação ao todo e leva, inevitavelmente, à burrice, já que vai se repetir todas as vezes em que a sensibilidade for necessária – e sempre é. Sensibilidade significa a capacidade de sentir, de perceber, de ter empatia por pessoas ou situações independente de qualquer nível de envolvimento ou proximidade. Sensibilidade e inteligência são uma única e mesma coisa. Dessa diretoria, depois do asqueroso, repugnante e desprezível papel no caso da morte das crianças, não dá pra esperar nada melhor. O que temo, daqui pra frente, é que essa falta de visão, própria de uma sensibilidade embotada, prejudique seriamente o Flamengo como instituição e respingue no futebol, por mais forte que seja o Marcos Braz. Pela pessoa sensível que é o JJ, não deve estar gostando nadinha do que tá vendo e engolidor de sapo ele não é.
srn p&a
Marcos Braz e Jorge Jesus cuidam das jogadas celestiais!
Landin e BAP estão sempre flertando com as profundezas…