Em sensacional esforço de reportagem, nossa equipe conseguiu uma inédita entrevista com um dos mais célebres rubro-negros de todos os tempos. E bota tempos nisso, afinal esta espirituosa figura nasceu ainda antes do nosso amado Flamengo, que ora completa 122 anos de glórias e glórias, aleluia.

Sim, estamos aqui com o grande filho de seu Alfeu e de dona Maria Cléofas, abençoado torcedor com fama de milagreiro mas que já começa a ser questionado após as últimas derrotas, com direito a atuações pífias.

Parte da torcida já começa a protestar com veemência, e a paróquia do Cosme Velho acordou pichada com os dizeres: “Salário em dia, milagre em falta?”. Com vocês, para comentar esses e outros assuntos palpitantes, o nosso grande São Judas Tadeu.

RPA: É uma honra, senhor Tadeu.

SJT: Manda ver, meu filho.

RPA: Antes precisamos admitir que esta pauta parecia uma causa impossível. Obrigado pela entrevista concedida.

SJT: Não tem de quê. Como eu costumo dizer, ”por que razão hás de manifestar-te só a nós e não ao mundo?”. De modo que é um prazer conversar com a torcida rubro-negra por meio de um blog com Paz & Amor no nome.

RPA: Vamos lá: o senhor está completando no ano que vem 65 anos como padroeiro do clube rubro-negro; admite que é a sua pior fase como fazedor de milagres?

SJT: Epa, calma aí, Cícero Mello, sai deste corpo que não te pertence. Olha, não vejo assim. O torcedor flamengo com um pouco mais de memória vai lembrar de alguns Brasileiros onde o rebaixamento parecia inevitável. Em 2001, aquela vitória com gol do Felipe Mello foi tão difícil que eu precisei escalar outros dez santos para me ajudar. Em 2004, o time sofria com goleadas de até seis gols, e era comparado a Jesus Cristo: era o time que ressuscitava defuntos. O Primo ficava furioso com essas brincadeiras.

RPA: É verdade então que o senhor é primo de Jesus, família mesmo?

SJT: Não gostamos muito de falar sobre isso, afinal há línguas maldosas que podem acusar o Primo de nepotismo. Sem falar em muitos políticos que adoram empregar parentes incompetentes. Se eles lembram disso, podem alegar que se até Jesus Cristo abriu precedentes, por que não eles? Mas eu suei o manto para conquistar essa santidade, preguei da Mesopotâmia à Síria, gastei muita sandália e ralei muita canela para estar aqui hoje, e ainda tenho alguns milagres a fazer.

RPA: Amém. Então por que a bola não anda entrando, Santidade? Ou melhor, por que nossa defesa é tão furada?

SJT: Ouvi uma teoria de que é praga de ex-zagueiro. O Wallace, excomungado pela torcida, teria dito às portas do clube: “Vocês ainda vão sentir saudades de mim!”. E veio o Vaz. Praga de ex-zagueiro é dureza. O Flamengo melhorou muito do ano passado, mas acho que deu uma ostentada nas contratações. Times de futebol são como famílias: devem trazer do mercado apenas o que é necessário, e não comprar para impressionar. O goleiro foi uma boa. O Geuvânio é ostentação. Isso prejudica o grupo, ninguém sabe quem vai chegar ou vai partir na semana seguinte.

RPA: Tudo bem, senhor Tadeu, mas onde estavas naquele fim de jogo na Libertadores?

SJT: Ah, meu filho, não houve jeito: era o time do Papa, ele e o Chefe são unha e alma. Tentei de tudo, mas o Barba bateu o pé firme, deu até um terremoto na Pérsia. O que é preciso que o povo saiba é que, com a situação atual brasileira, eu hoje estou acumulando a Vice-Presidência de Economia, a de Justiça e a de Segurança. O Barba disse que precisava de alguém com experiência em fazer o impossível, saca? “Tadeu, aquilo ali está um Eu nos acuda!”, ele disse, exasperado. Então de fato a coisa está complicada, muitos afazeres. Eu tento vigiar os jogos, mas é olhar para outro lado ou ir fazer pipi e o Pará e o Vaz entregam a paçoca.

RPA: Nem promessa salva o Mengão, então, Santidade?

SJT: O mais difícil é que, além de tudo, anda faltando perna. O Flamengo já vai para mais de 70 partidas no ano, com jogadores que nem fizeram pré-temporada. Por milagre, me perdoe a imodéstia, ainda pintou uma final de Copa do Brasil. O mais difícil a gente fez, né? Se o treinador de goleiro não é capaz de preparar o atleta para não pular para o canto três segundos antes, não tem milagre que dê jeito.

RPA: Bem, então o senhor nega que vá entregar o cargo de padroeiro do Flamengo para a próxima temporada?

STJ: Hein? De onde tirou isso, meu filho? Você é jornalista mesmo, ou é freelancer? Olha, torcedor tem esta mania, só sossega quando vê uma cabeça rolar. E de cabeça rolando a machadinha eu entendo, né? A história gloriosa do clube é marcada por demissões e arrependimentos. Eu ainda preciso lembrar que já vimos Renato Gaúcho, Djalminha, Marcelinho e Paulo Nunes – jogando juntos! – e mesmo assim o clube não conquistou nada? Quantos ídolos e bons treinadores o clima de oba-oba da Gávea já mandou embora… Queremos mesmo queimar mais ídolos? É preciso aprender com os erros, confiar no trabalho de profissionais experientes, conversar e não exigir sangue. É o que dá certo, há 2 mil anos, em qualquer esfera. Repare só o que houve com o Corinthians, time do meu parça São Jorge: teve protesto, e o time seguiu na mesma. Quando a diretoria abriu o treino para 32 mil apaixonados demonstrarem carinho, o time venceu o Palmeiras e pacificou. O calor do povo é a melhor das vitaminas, seja você jogador, político, artista ou santo.

RPA: Falando em povo, ele quer saber: qual foi o pedido mais bizarro que o senhor já recebeu, em relação ao Flamengo?

SJT: Hum… Recentemente um alemão, se dizendo da Adidas, me pediu para trocar meus mantos por um pano amarelo brilhante com detalhes em azul, perguntou se tinha negócio. Mandei o fera pentear macaco.

RPA: Seu Tadeu, para encerrar: seria abuso pedirmos apenas três graças? São bem simples: uma porradinha no Corinthians neste domingo, a taça da Sul-Americana e o Drauzio Varella presidente (vice: Zeca Pagodinho). Pode ser?

SJT: Hein? Meu filho, és jornalista ou freelancer?