Era o Mundial de Berlim, o que pedia um chope. Campeonato de atletismo, no glorioso ano de 2009. A turma do saudoso bar Azeitona & Cia (1996–2016) jogava conversa fora, quando alguém pediu silêncio:
– Olha lá, agora é a prova do Bolt!
Cem metros rasos. Às suas marcas. Pou! Nove segundos depois, a história estava escrita. O semideus jamaicano cruzava a linha com mais um recorde mundial. O botequim do Leblon, ali na Dias Ferreira, se ouriçou todo. O Ivanzinho cuspia perdigotos, naqueles tempos inofensivos:
– Esse sujeito é o maior de todos. Um monstro! É um ser humano que ignora seus limites. Vocês não estão percebendo?
Só o Suíço, na mesma posição que estava, o mesmo olhar bovino, mantinha-se impassível. E tome loas ao Bolt. Quando os elogios rasgados se assentaram, Suíço chupetilhou seu chope, limpou o bigodinho preto característico e murmurou:
– Também, ele só faz isso…
Ah, a sutil sabedoria do Suíço – ou, para os íntimos, Andreas “Suíço” Thomi. A história, eternizada no livro do poeta, médico e cronista Mario Victor Nogueira, na verdade simboliza toda a aspiração do torcedor de futebol: a de não se espantar jamais, a de não sofrer nem morrer de taquicardia por culpa de um esportista que nem nos conhece.
Imaginaram o estádio do Maracanã há 20 anos, naquele Estadual de 2001, repleto de Suíços?
– Quarenta e três, faltando dois para acabar, Petkovic na falta, prepara. Atenção! Pet pra bola: bateu, guardou, é campeão! É triiiiii!
– (Bocejo) Que curva interessante, você viu?
– Sim, você poderia passar o polvilho? Também, ele só faz isso, né. Quanto tempo que ele treina cobranças, uns 20 anos? E não estava acertando nenhuma há uns 85 minutos.
– O polvilho tá meio mole, pegaí. Seja como for, um estupendo tricampeonato, meus parachoques.
Eu sei, eu sei, seria ridículo. Mas também traria algumas vantagens, fora os benefícios cardiovasculares. Por exemplo: sem tanto fanatismo, o Messi não precisaria ganhar bilhões, e provavelmente sobraria emoção e investimento em outras áreas e profissões humanas. E ninguém mais cortaria o cabelo como o Neymar.
A grande vantagem, contudo, seria a de passarmos tardes bem mais serenas. E não andando de um lado para o outro até uma da tarde, como hoje, com o coração palpitando diante dos papeizinhos da Conmebol, num sorteio das oitavas da Libertadores que fazia lembrar um jogo de basquete no Maracanãzinho. O que a sorte vai nos reservar? Flamengo x Boca? Flamengo x São Paulo? Fla-Flu? Onde vejo a altitude de Assunção? Enfim, um drama só.
No fim das contas, o povo reagiu mansamente, feito o Suíço no bar. O papelzinho com o nome do Flamengo saiu rápido, na primeira bolinha do pote um, ante o argentino Defensa Y Justicia, um time retrancado e justiceiro até no nome. Alô Deni, pode dobrar o estoque de caneleiras, vamos precisar.
O sorteio seguia e a torcida rubro-negra, aí sim, começava a se exasperar e não entender nada: de um lado, a gente. Do outro, Boca, Atlético, River Plate, Racing, São Paulo e Palmeiras, além de argentinos e chilenos. O leviatã apavorante do Oba-Oba ameaçava tomar conta das redes sociais, com cierta y defensável justicia.
Sorteio positivo na Libertadores, vitória na estreia do Campeonato Brasileiro, Flamengo base da seleção, basquete voando… Era preciso agir rápido e injetar nas redes sociais uma boa dose de más notícias para esmagar na raiz o Oba-Obismo, e levantar o Sapatismo que tão bem costuma fazer ao clube. E os macambúzios agiram rápido: no futebol feminino, o Flamengo só apanha! Ceni é freguês do treinador argentino! Tite vai nos ferrar, o patife. O Gerson não tem substituto! E o Arrasca tá virótico, ai Jesus.
Calma, nação. O melhor a se fazer, até as oitavas de final em julho, é adotar a pachorra do Suíço, sem empolgação excessiva ou exasperação inútil. Peraí, eu disse julho? Potaquipariu, o jogo de volta das oitavas vai cair no meu aniversário! Cadê o desfibrilador?
Até porque, o leitor que chegou ao fim desta crônica há de sacar que a lei de Suíço, do bom e velho Suíço, não se sustenta facilmente.
– Leu a última crônica no República Paz & Amor?
– Sim, perdi meu tempo.
– Também, e o cara só faz isso, hein.
‘You play better than Mbappe’ – Marcelo captured chatting with Neymar.
“You play better than [Kylian] Mbappe,” Marcelo said to Neymar, as
was captured by Movistar’s cameras.
Impressionante como o Brasil, atolado até as orelhas em varias merdas, das mais fétidas possiveis, consiga se colocar em situaçao pior ainda.
Eh inacreditavel.
Leio que o prefeito do Rio nem conversa teve com o comité da Copa América.
Bem, parei de balançar a cabeça. Depois de anos e mais anos com o genocida na frente (?) do pais, qq coisa parece ser possivel. Qualquer.
Dondié que o Dunlop tira essas coisas?! Além de tudo já falado com brilhantismo pelos nossos 2 cronistas (os outros devem estar de férias sem prazo pra acabar), enaltecendo e sapateando a glória de pertencer à Nação, ainda temos os mais inteligentes e criativos escribas da atualidade. Depois perguntam porque a gente somos marrentos.
O alcatra nao era aquele que posou sem mascara numa festinha de periferia? Uns 7 dias atras?
E nao é o mesmo alcatra que conviveu até pouco com os outros jogadores do Flamengo?
O que estah pra vir?
Eh perigosa, esta preocupaçao com as “chaves”.
Uma dita pior, outra melhor, etc.
Deveriam é se concentrar so e unicamente com o adversario proximo.
E com nada mais.
Todo desvio de concentraçao pode ser fatal.
A Luana é bonita e a outra é feia – e só faz isso. Não me importo se a Luana solta pum. Sei que vão tentar desqualificá-la.
Felicidades na data querida e esperada.
SRN.
De pleno acordo, inclusive na mais que provável tentativa de desqualificação.
Até que enfim, percebi algo de bom (na verdade, de fantástico) , mesmo que apenas por dez dias, neste governo destrambelhado.
SRN
Como o gentil Ogrão, reverências. SRN.
Ótimo, como sempre.
Já até escrevi, lá no Grão Mestre.
Se não chegarmos à final da Liberta, Ceni, para alegria minha, admito, será definitivamente defenestrado.
Estamos, para tristeza de muitos, da lado esquerdo do chaveamento, enquanto todos os demais favoritos, do outro lado.
Julho começará a dizer se estou certo.
Ótima, e também não faz só isso! Será que dá FlaxFlu na semi? Haja tranquilidade-Suiço
Brilhante como sempre
Parabéns
Pois, Dunlop, a sabedoria do Suiço está no fato de que ele só diz o óbvio. A meu ver extrair do óbvio o que ele traz nas suas profundezas é a sabedoria absoluta. É só não ter vergonha do lugar-comum, mesmo sabendo, que lugar-comum é memória, nunca sentimento. Por isso que eu só falo o óbvio, uma tentativa nada humilde de ser sábio. Sabe a última que eu descobri ( mais um óbvio ululante nelsonrodrigueano)? O dirigente sábio será aquele que com o andar dessa carroça que está o nosso futebol em futuro próximo só deve contratar bons/excelentes jogadores não selecionáveis, quer dizer, aqueles que o Tite não godera . No Flamengo já temos, os Diegos, goleiro e meia, Arão, Vitinho ( com as devidas restrições), no Grêmio outro Diego, o Souza, por aí, que eu estou como sempre com uma tremenda preguiça de me lembrar de mais. Quem refutar ou se lembrar de outros, cartas pra redação.
Kkkkkkk, muito boa essa crônica flamenga, mais uma tirada da cartola geniosa do dunlok hehehe.
Como é ótimo ser flamenguista e saber que temos uma nação que ama e vive diariamente o Flamengo assim como eu e o Dunlop.
… e como é bom ver o Alessandro, lá do Pará, de volta à família rubro-negra.
Se fosse seguir o conselho de ser mais como o Suíço e adotar um ar mais “blasé”, só o faria de depois de elogiar esta crônica.
Grande texto.
SRN
FELIZ ANIVERSÁRIO desde já grande XARÁ !!!