Teve gente que não curtiu o Flamengo x CSA do domingo. Normal. O sujeito olha a tabela do Brasileiro, vê o Flamengo luzindo sozinho lá no alto e tem que dar uns dois, três, scroll na tela pra achar o CSA. Automaticamente, o sujeito conclui que o aparentemente desequilibrado embate entra essas potências será um massacre. Quando o massacre não ocorre, nada acontece, feijoada. Aí o sujeito fica putinho e exige que Jesus ponha geral ajoelhado no milho.
Mas a realidade no gramado passa longe do que a tabela mostra. A tabela é só a parte aparente do Brasileiro. Dentro do próprio campeonato estão rolando vários outros campeonatos simultaneamente. Campeonatos que muita gente, em especial os torcedores do Flamengo, que já se acostumaram a só olhar pra cima e pra frente, nem se toca da existência.
O Flamengo não está disputando o mesmo campeonato que o CSA. Enquanto o Flamengo, humildemente, só quer o mundo de novo, os azulinos alagoanos estão envolvidos um uma luta de peixeira pela sobrevivência na Série A contra Avaí, Chape, Ceará, Fortaleza, Cruzeiro e Fluminense. É pra essa turma de matusquelas que o torcedor do CSA está olhando. Por isso que a derrota pelo placar mínimo para o líder inconteste do campeonato deve ter sido muito comemorada no Mutange. O saldo de gols pode ser decisivo pra salvar o pescoço da marujada no dia 8 de dezembro, também conhecido como o Dia do Julgamento.
Façamos um pequeno exercício de empatia e nos coloquemos no lugar do Flamengo. Depois daquela quarta-feira histórica, dionisíaca, em que todos os santos baixaram do céu para ver o massacre quíntuplo do conceito de imortalidade futebolística, onde é que os nossos formidáveis jogadores iam buscar motivação para cumprir tabela de um campeonato de pontos corridos em que já encaçaparam tudo e a única coisa que resta na mesa é a negra bola 7?
Nem eu, que sou um tarado notório, consegui me empolgar pra ver o jogo com o CSA. Considero nossos jogadores, todos eles, verdadeiros heróis só de terem aparecido no Maracanã. Qualquer um de nós com algo pra fazer no domingo às sete da noite teria metido um atestado sem o menor remorso. Mas sob o jugo do insaciável e colérico Jorge Jesus quem teria a coragem suicida de miguelar?
Sob tal ameaça, lá se foram nossos astros pisarem distraídos o relvado sagrado da rua Eurico Rabelo. Só pra manter as aparências e subir mais um pouquinho o altíssimo sarrafo estatístico que o Flamengo vem erguendo em 2019. Em termos de motivação, necessidade e urgência, o Flamengo não era páreo pro CSA. Ao contrário dos alagoas, o Flamengo tinha pouco a ganhar e menos ainda a perder.
Somemos a tudo isso o cansaço, que tem que ser mantido em segredo porque se alguém chiar Jesus castiga, o tédio, subproduto da rotina insana de jogo, treino, concentração, viagem, e a ansiedade muito natural para quem sabe que depois da próxima curva tem uma Libertadores te esperando e fica mais fácil entender porque o Flamengo não massacrou ninguém e andou até correndo uns riscos. Que foram todos neutralizados pela atuação segura, profissional e paredona de Diego Alves. Sorte a nossa que temos goleiro.
O fato de o campeonato Brasileiro ter virtualmente acabado pro Flamengo, mesmo que seja pelos mais nobres motivos, acaba provocando um ligeiro declínio na disposição dos jogadores. Claro que todos querem quebrar todos os recordes possíveis e escrever seu nome na história, mas não é mole ser paradigmático todos os dias. A tendência do ser humano quando está de barriga cheia é fazer uma siesta. A sorte do Flamengo é que Jesus não deixa ninguém se encostar.
Mas o esquálido placar não pode ser justificado apenas pelo enfado dos rubro-negros. Não, o CSA jogou bem, dentro das suas limitações fez muito mais e trouxe muito mais perigo ao Flamengo que 75% dos times que disputam a Série A. Jogaram com coragem e método e ainda contaram com um pouco da sorte que descalibrou os arremates dos nossos mortíferos atacantes.
Ainda bem que Arrascaeta é meio avoado e nem deve ler as páginas esportivas. Por isso não sabia que devia estar tímido e cansado. O come que ele deu no beque do CSA antes de fazer seu gol logo no começo do jogo foi o ponto alto da noite. Depois, pelo menos pra mim, o jogo se resumiu a esperar o tempo passar.
Enquanto o Flamengo seguia seu calvário cumprindo tabela no Maracanã lotado com quase 70 mil almas a roubalheira pró paulistada sem escrúpulos seguia a todo vapor na Ressacada. O Palmeiras, que vergonha, mais uma vez precisou lançar mãos dos muitos recursos cleptocráticos do arsenal de maldades da Comissão de Arbitragem da CBF pra não deixar mais dois pontinhos pra trás.
O pênalti sintético que arrumaram pra eles no finzinho do jogo com o Avaí foi tão ou mais escandaloso que os injustificados e escandalosos acréscimos de tempo em suas partidas. Acréscimos tão exorbitantes que já fizeram que o Palmeiras, em 28 rodadas, tenha jogado, em minutos, o equivalente a 30 ou 31 jogos.
O que nos leva a refletir se vale à pena chafurdar nessa lama sulfúrica que desintegra reputações só pra ser vice de um campeonato no qual já não tem quase que nenhuma chance de êxito. Ficaria muito mais bonito pra eles ser vice sem perder a dignidade. Mas isso é problema deles, não temos nada com isso. Quem com porcos anda, farelo come. De vices queremos distância.
Ainda faltam 10 jogos a serem jogados e o Flamengo já alcançou a marca mística de 67 pontos que o levou ao Hexa em 2009. E olha que pra chegar aqueles 67 pontos sofridos o Flamengo, que apesar dos perrengues sempre foi o mesmo homem, transou com Deus e o lobisomem.
Para o Hepta falta pouca coisa, muito pouca coisa mesmo. Mais três ou quatro vitórias e a competição, para a meritocrática Magnética, vai virar Campeonato Brasileiro de Churrasco. O que não será exatamente um problema. Se nós queremos o Brasileiro assado na brasa, cerveja gelada, muita batucada e cachaça de litro é porque nós merecemos.
Mengão Sempre
Parabéns pelo conteúdo do seu site, sou a Camila Da Silva gostei muito deste artigo, tem muita qualidade vou acompanhar o seus artigos.
Uma mente brilhante a serviço do Mengão!
O Siro Darlan, desembargador e conselheiro do Flamengo, tem que ser expulso do clube sem direito a defesa. Tá manchando o nome do Flamengo. Corrupto na Nação, NÃO.
Arthur, maior escriba do futebol em atividade, pelamordedeus pára de falar que essa joça está ganha. Do alto de meus cinquenta e muitos anos, tendo assistido à luta contra o Cobreloa e tantos “deixou chegar” frustrados e frustantes, comemoro cada jogo como se fosse o último. Mas sei que não é e acordo tão nervoso quanto na véspera. “Ainda não ganhamos nada”. Palavra de Jesus.
Endosso o apelo, meus 30 e alguns anos me mantém com a chama da desconfiança sempre acesa. Gato escaldado tem medo de água fria, já dizia minha avó.
Américas, Santo Adres e congêneres sempre me lembram que a tragédia no Flamengo nunca é pequena.
O sapatinho da humildade nunca nos fez mal.
Saudações Rubro Negras
Que prazer ler suas lucidas e divertidas cronicas. Continue sempre, por favor
Grande Arthur, acompanho todos os seus post aqui da distante (de você claro) São José dos Campos – SP. Sigo no martírio de tentar comprar um ingresso para ir, ao menos uma vez ao ano, ao templo sagrado do Futebol, o grande Maracanã, como uma peregrinação à Meca. Esta torcida não me dá a menor chance de conseguir o famigerado bilhete de entrada.
Mas, se Zico quiser, estarei mais uma vez no estádio para ver este esquadrão desfilar. SRN
As amargas, sim. A verdade nua e crua é que o Flamengo deu mole esses anos todos, onde já se viu um clube da grandeza do Flamengo demorar 38 anos para disputar uma final de Libertadores? Mesmo nos últimos seis sete anos poderíamos descolar alguma coisa mais que os carioquetas de praxe, até porque os times que ganharam alguma coisa não eram tão melhores assim do que o nosso Mengão. Nesse período deveríamos ganhar, no barato, uns dez brasileirões, umas cinco libertadores e uns três mundiais. Pois é, nem gosto de pensar em retrospecto, aí me vem aquele gosto amargo das fugas de rebaixamento. É muito sofrimento para um mortal que só quer ser rubro-negro sem ser melhor do que os outros. Os jogadores parecem que também estão doidos para definir logo esse Brasileirão, daí a ansiedade demonstrado no último jogo. Querem enfrentar o River de mãos lavadas, como um João Cabral de Melo Neto saindo de um poema. Eu não aguento mais ouvir esse ramerrão: é mais até agora não ganharam porra nenhuma. É a pura verdade.
Muito bom é ler tuas crônicas, cumpadi.
É muito bom ver os mal vestidos se debatendo e rezando só pra TENTAR chegar.
De cleptocracia os seguidores do ancião de 9 dedos entendem muito bem. Devem ser palmeirenses…
Taí uma resposta que faz tanto sentido quanto o VAR.
Kkkkkkkkkkk
Agora, falar em cagadas, o que é que tem o cu com as calças?
arthur,
até eu deixei de ir no maraca nesse domingo,pura preguiça !
mandei meu filho levar minha nora botafoguense no meu lugar.
espero que na quinta haja mais tesão pela partida.
SRN !
E aí Arthur, muito bom, parabéns. Mas parabéns principalmente para a magnética, sempre. Cara, considere lançar um livro no estilo Hexagerado ao fim da jornada globetrotter doutrinator do mais querido. Comprarei com certeza, grande abraço!