[ Por Mauricio Neves ]
E levantou poeira.
Zico bate o córner na sua última partida na Rua Bariri, em 1986. A bola está indo na cabeça de Vinícius que vai fazer seu segundo gol na tarde, na nossa vitória por 2 a 1 contra o Olaria.
Esse jogo foi logo depois da Copa do Mundo e Zico mandou QUATRO bolas na trave – duas em cobranças de falta.
Ter visto Zico jogar nesses campinhos de subúrbio foi uma experiência única, muito diferente de ter visto no Maracanã.

Se no Maior do Mundo (a benção, Jorge Curi) a gente via Zico como uma divindade – o fosso parecia elevar o campo como um altar e o anel da arquibancada elevava-nos como em uma roda de oração -, nos campos de piso misto – terra, grama, areia e capim – do Rio mais profundo, éramos todos gente.
Só um frágil alambrado e menos de dois metros nos separavam de Zico quando ele vinha para o escanteio. O suor colava as camisas no peito de quem torcia e de quem jogava. Zico ouvia o que gritávamos assim como ouvíamos o que era dito em campo.
Quando Zico cruzava uma bola, na metade da viagem ele soltava um “Vai!”
Não dava pra ouvir isso no Maracanã.
Essa poeira levantada não era cal só em licença poética. Era cal de verdade, cal viva, óxido de cálcio, espalhada com carrinhos rudimentares. Fazia uma nuvem linda.
Assim, em Olaria, ou em Campo Grande ou Bangu, ou no interior, Zico estava no mesmo plano que nós e assim éramos todos humanos, mortais, gente humilde. Ou, vai saber, éramos todos deuses.
Não importa, foi lindo. E a poeira baixou e virou saudade.
Que beleza Mauricio, sempre muito humano e, acima de tudo, Rubro Negro. SRN
Maravilha de texto. Leve, já que Dome não trouxe ainda a leveza que queremos ver no Fla. Feliz o trecho que lembra o Galinho Cerebral, arquitetando a jogada, obreiro realizando o lançamento e a fagulha que acendia o time: “vai !!!” Parabéns!
Nunca vi Zico fora do Maracanã, o máximo que cheguei foi Gal. Severiano e Teixeira de Castro ( minha avó morava perto).Eu sou do tempo em que chegávamos mais cedo no Maracanã para ver nos “aspirantes” um certo lourinho raçudo que jogava na meia esquerda (a posição era assim chamada na época)
Caraca, Xará, eu fui nesse jogo! Foi à tarde, num meio de semana. Vi o Flamengo jogar em Campo Grande também, mas o estádio da Rua Bariri deixava a gente quase dentro do campo. Lembro que no final do jogo, duríssimo por sinal, o Zico foi jogar de lateral esquerdo, e nessa posição mandou ver nos carrinhos rudimentares pra garantir os suados dois pontos.
Nessa época, na parede da Rua Bariri, tinha uma inscrição pichada no muro que dava bem a dimensão do clima dos jogos que aconteciam por ali: Estádio do Camboja. Aqui o coro come!
SRN
Se tem uma coisa que faz lembrar o Zico é a reação dos comentaristas anti-Fla já naquela época.
Alguns, especialmente aqui em São Paulo, onde moro, diziam que só jogava no Maracanã.
Outros, que não foi capaz de ganhar uma Copa, azar da Copa como dizia o João Máximo.
Que não chegava aos pés do Maradona, embora fosse admirado pelo próprio e tivesse sido o melhor em campo mais de uma vez quando se enfrentaram.
Zico foi um dos melhores jogadores do mundo enquanto jogou, conquistou tudo o que pôde pelo Flamengo, marcou gol por onde passou e era um jogador completo.
Assisti jogos do Galo no início da carreira, lá por 1974 ele já desequilibrava.
Ave Zico!
Maravilha. Texto perfeito.
Meu caro Maurício Neves,
nunca vi o Zico profissional nos campinhos suburbanos da vida, que tanto frequentei no período 46/49, antes da era do ^Maior do Mundo^ ou, já que você homenageou o Jorge Curi, faço agora em relação ao Waldir Amaral, o ^Gigante de Cimento Armado^.
No subúrbio nunca, em partidas profissionais também nunca.
Por outro lado, quantas vezes pude sentir a mesma emoção sua na nossa Gávea, nos certames da categoria juvenil.
Sagrando-se campeão, não me lembro mais se em 72 ou 73.
Jogava ao lado de um jogador nordestino, que tinha a camisa 9, o Fidelis, que o Flamengo ^importou^, mas que não aprumou ao subir de categoria.
Tinha o Geraldo Assobiador, muitos e muitos outros garotos, até, salvo engano, o Jayme de Almeida Filho, que nunca jogou o futebol do pai, o tri-campeão Jayme, um jogador e tanto.
De todos esses estádios, o mais curioso, pelo menos para mim, era o Figueirinha, exatamente por ser tão pequeno.
Vale a pena recordar, embora não se possa viver somente de passado.
Dá a correta dimensão da grandeza do nosso Flamengo e de seus craques eternos, como o Zico, mas também como o Zizinho, o incomparável craque dos anos 40 e um pouquinho dos 50.
Inesquecíveis SRN
FLAMENGO SEMPRE