Ao pensar em Flamengo, a primeira ideia que vem logo é a de emoções. Basta o Flamengo vencer uma partida importante para, no dia seguinte, o Rio amanhecer sorrindo de felicidade. Quando ganha um campeonato então… E isso é coisa que não acontece com nenhum outro time. Só o Flamengo encanta a cidade.

Desde pequenininha, em Padre Miguel, sou flamenguista roxa. É coisa de nascença e também influência do meu pai, que era rubro-negro doente. Lembro muito bem da paixão dele pelo Zizinho, seu grande ídolo. Muitos anos depois vim a conhecer o Zizinho pessoalmente. Que pessoa! Um ser humano iluminado.

Meu pai era tão fanático pelo Flamengo que acabou morrendo de enfarte após o jogo final contra o Vasco no Super-Super de 1958. O coração não aguentou aquela carga de emoção tão forte.

Isso talvez tenha contribuído para que eu – mulher de coragem – me torne uma covarde quando se trata do Flamengo. Não consigo ir a nenhum jogo. Quando o Flamengo joga, sofro tanto que prefiro nem ver.

Agora, imaginem só, nessas condições, o sofrimento que era ser casada com Garrincha, que, durante muitos anos, foi um verdadeiro carrasco do Flamengo. Véspera de jogo contra o Botafogo, então, era terrível. Eu pedia a ele: “Neném, não maltrata muito o Flamengo, tá?” E ele, naquela calma toda, se limitava a dizer: “Olha, crioula, eu só vou fazer o meu papel.” E eu ficava dividida, mas acabava torcendo por ele. Agora, que fique bem claro, torcia pelo Mané, não pelo Botafogo.

O Mané guardou até quase o final da sua carreira uma grande mágoa do Flamengo. Coisa que pouca gente sabe, que quando menino, ele era torcedor do Flamengo e seu grande sonho era jogar pelo clube. E sua mágoa vinha de ter sido recusado. Nem deixaram o Mané treinar, dizendo que ele era aleijado.

Mas ele acabou me premiando ao jogar pelo Flamengo. A festa que fizeram para ele no Maracanã foi linda. Pena que ele tenha apanhado tanto. O que os jogadores do Vasco bateram nele nesse jogo não foi brincadeira. Sofri muito, mas isso não me tirou a felicidade de ver o Mané vestindo o Manto Sagrado. Valeu, puxa, como valeu! Foi uma emoção e tanto.

Hoje, com relação ao Flamengo, espero que este centenário seja o sinal de grandes alegrias. Uma vez Flamengo, sempre Flamengo.

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