O rubro-negro mais apaixonado que eu não conheci se chamava Ciro Monteiro. Era o saudoso cantor quem dizia:
“O maior time do mundo, vocês sabem, é o Flamengo. Já o segundo maior time do mundo, naturalmente, são os reservas do Flamengo. Já o terceiro, sem um pingo de parcialidade, é o juvenil do Flamengo…”
Na funesta manhã de sexta-feira, 8 de fevereiro, o terceiro melhor time do planeta segundo o velho Formigão foi exaltado em verso, prosa e orações por todos aqueles que amam a bola, de Messi a Pelé.
O escrete nos deixou com: Christian, o goleirão; Samuel, Arthur, Athila, Pablo Henrique e Rykelmo; Jorge Eduardo, Bernardo, Vitor Isaías e Gedinho.
Ao Clube de Regatas do Flamengo, resta a oportunidade de provar que é mesmo gigante como sempre se apregoou. Gigante em responsabilidade, solidariedade, apoio. Se agir como o time grandioso que luta para ser há 123 anos, fará tudo – e mais um muito – pelos familiares destroçados.
Aos torcedores, há outra missão. O Rio de Janeiro há uma semana, graças a Fla e Flu, só tinha um brado: todos ao Maracanã. Tracemos nova rota: todos à Gávea. Tricolores, rubro-negros, vascaínos, alvinegros, americanos, todo mundo lá para uma despedida à altura do imensurável sonho de dez jovens jogadores.
Sim, todos à Gávea nesta tarde para exaltar os pequenos ídolos de Pelé e Messi. Vamos todos, usando a fidalguia, saudar os jovens heróis de cada jogo, a começar por mim. Não importa a camisa, vale o coração.
Para o enlutado torcedor negro-negro, particularmente, será uma data inédita: tão acostumado a reverenciar seu passado, o flamenguista terá um dia para prantear seu futuro. Um futuro que não mais será.
Aos que ficam, em especial as dez famílias que cultivavam o sonho de ver seus rapazes um dia com os nomes entoados por milhões de fãs eufóricos, só uma despedida assim, com cânticos e aplausos calorosos, será capaz de fazer sentido. Ainda que nada mais faça sentido algum.
Tristeza profunda e indignação raivosa se misturam numa velocidade tal que me joga na cama.
Insisto no ponto que publiquei no Mauro Cezar e outros sites: Não é a instituição C.R.Flamengo que tem que ser penalizada (isso seria o mesmo que punir seus torcedores, os únicos puros nessa história trágica), mas sim seus dirigentes, a começar pelo Bandeira e seguido pelo Landim.
O primeiro por não ter feito a transferência dos meninos pro CT já a mais tempo, especialmente porque os jogadores profissionais com seus salários milionários e suas mansões cinematográficas não precisam.
Os meninos deveriam ser prioridade numa administração que se orgulhava de ser clube cidadão.
Se fosse – clube cidadão – os meninos teriam, por obrigação dos dirigentes, que ser encaminhados diretos pro CT com pompa e circunstância – afinal, são o futuro.
O Bandeira não deu bola, não levou em consideração e não deu a atenção necessária que os garotos precisavam.
O Landim seguiu na mesma toada.
E o resultado é esse horror que nunca, NUNCA, vai ser apagado de nossa memória.
Um amigo flamenguista do Mauro Cezar, numa brilhante ideia, sugeriu a refundação do clube.
Começando do zero, mudando o nome para Clube de Regatas Flamengo (sem o “do”, que, acho, se refere à praia).
Eu seria mais abrangenteo eliminando a regata, que só conta com a torcida dos parentes dos remadores e consome uma verba sem retorno, e os esportes olímpicos, deixando apenas o basquete e o futebol.
Mas a mudança mais importante seria eliminar esse horrível símbolo do urubu, bicho feio comedor de carniça e símbolo de coisas ruins.
Trocaria pela Águia, um dos mais belos animais, símbolo da visão superior.
Como não há tristeza que não possa se aprofundar, sou chocado com a morte do Boechat, o melhor jornalista do Brasil, com sua belíssima voz, isenção absoluta, caráter inatacável, integridade acima de qualquer suspeita, carisma irresistível e capacidade de comunicação inigualável, a quem eu ouvia todas as manhãs na Band News.
Só resta aos profissionais do futebol ganhar todos os títulos deste ano jogando pelos meninos.
Menos que isso, não dá.
E que tanto Bandeira quanto Landim sejam punidos exemplarmente, sustentando, dos próprios bolsos, essas famílias até o fim dos dias.
Mesmo assim, não haverá indenização que pague.
Fiquei tão perturbado que, no seu artigo anterior, escrevi 8 de JULHO como a nossa data do LUTO.
Não sei explicar o porquê, assim como nada justifica que tenha acontecido tamanha tragédia, com a morte de DEZ garotos, de 14 a 16 anos.
Enquanto morava no Rio, sempre acompanhei a BASE, na época com uma idade mínima de 16/17 anos.
Não havia, ainda, todas essas competições Sub-15, 17, 20.
Eram os antigos juvenis, o terceiro melhor time do mundo, no dizer do Ciro, que, graças a Deus, é MONTEIRO, que conheci bem, pois, lá por 1957 ou 58, estivemos juntos em uma pousada de Terezópolis, durante um Carnaval, nos velhos tempos do Higino.
Sem palavras para maiores comentários, principalmente por não conseguir engolir as condições em que estava a garotada, confinada em um container (pode, Freud) com uma só portinha de saída.
Estejam em paz.
Tristíssimas SRN
Dor imensa! Deus conforte os pais, familiares, amigos!
Lamentável!!!
“Conhecemos o som de duas mãos batendo palmas. Mas qual é o som de uma mão batendo palmas?”
Meu Deus, Salinger em um momento como este !
É querer fundir com a minha cabeça !
SRN
PS – estou , há três para quatro meses, esperando pacientemente pelo seu triunfal retorno ao RP&A.
Fala, Mestre. Obrigado pelo prestigio, mas minha pena não tem sido capaz de produzir uma prosa à altura dos tempos que vivemos. Abs Mengão Sempre
Concordo que os tempos estão mais do que negros.
Também não consigo expandir meus sentimentos, que ficam entupindo a mim mesmo.
SRN
Dor imensa, meu carinho aos familiares!