No ótimo O Drible, de Sérgio Rodrigues, o personagem Murilo Filho – o Leão da Crônica Esportiva, o Dickens de Campos Sales – defende uma tese curiosa. Segundo ele, os locutores de rádio tiveram participação decisiva na formação do jeito brasileiro de jogar futebol, por suas fantasiosas narrações que amplificavam a qualidade das jogadas e transformavam a mais vagabunda das peladas num confronto épico. Com isso, e sem a tevê para derrubar as desmedidas versões gritadas ao microfone, os jogadores tinham que se esmerar para reproduzir os chutes, lançamentos, dribles e cruzamentos que, de tão espetaculares, só existiam na imaginação de quem os descrevia. Para Murilo, nossas habilidades se aprimoraram devido à rebuscada retórica dos locutores esportivos.
Faz sentido – e mesmo hoje, com televisão e tudo. Não sei se você já reparou: para os nossos narradores, toda bola que entra pelo alto vai no ângulo. Aí a gente revê o lance, batata: a bola estufa o barbante quase no meio do gol, só que o cara faz um escarcéu, berra golaço, indefensável, lá onde a coruja dorme. Eu, hein.
Pois nunca precisamos tanto da capacidade criativa dos nossos locutores quanto no ano de 2020. Porque o esporte a que estamos assistindo pela tevê, com os estádios desertos, lembra de longe, muito de longe o futebol, chegando no máximo ao status de treino uniformizado.
Quem viu, semana passada, o primeiro gol do Manchester City contra o Real Madrid pode atestar. Lance típico de treino ou, pior, de pelada tosca. E olha que era mata-mata de Champions League, reunindo dois dos cinco melhores times de futebol do planeta e valendo um caminhão de euros, dinheirama capaz de deixar até Geddel pasmo. Ouso arriscar que, com o estádio lotado, aquele gol não aconteceria. Futebol pra valer envolve rivalidade, concentração, cobrança, e em treinos há nada ou muito pouco disso.
Escrevendo sobre as expectativas para o Campeonato Brasileiro, PVC afirmou que a mudança de técnico no Flamengo transformava em ponto de interrogação o que antes era favoritismo indiscutível. Procede. No entanto, embora a saída de Jorge Jesus tenha importância considerável, creio que a ausência de público é ainda mais significativa. Sem a plateia, a competição vira um salto no escuro.
Por enquanto, tudo está sendo um fiasco. As fotos dos torcedores reproduzidas em cartazes de papelão são ridículas e, em tempos de tantas mortes causadas pela pandemia e pela boçalidade, adquirem um certo tom de morbidez. O som fake que sai dos alto-falantes é deprê total. As pretensas análises táticas dos comentaristas, ignorando que o aspecto motivacional foi pro saco, caem no vazio. E é inútil o esforço dos narradores para tentar nos convencer de que, após o apito final, poderemos discutir, em mesas de botecos virtuais, erros e acertos, vitórias ou derrotas, como se estivéssemos em qualquer momento anterior a março de 2020, quando a vida de todos nós virou de ponta-cabeça.
Em um dos melhores depoimentos do filme FlaxFlu – 40 Minutos Antes do Nada, dirigido por Renato Terra, o jornalista Roberto Assaf conta que na primeira vez em que foi ao estádio, justamente num domingo de Flamengo e Fluminense, seu pai tricolor o conduziu pela mão para a arquibancada à direita das cabines de rádio. De onde Roberto viu, extasiado, o espetáculo que a torcida rubro-negra fazia no lado oposto. Ali acabaram as esperanças que o pai alimentava de reverter as inclinações flamengas do filho e fazer-lhe seguir sua escolha clubística. No post que publiquei em 28 de maio, com o título “O Grande Desafio do Grande Dunlop”, na lista dos jogos que moldaram minha paixão pelo Flamengo há vários em que a atuação da torcida superou o que houve no gramado. Essas lembranças valem para quase todos nós.
Não sei se você assistiu à live de Caetano Veloso e filhos, na última sexta-feira. Foi bem legal. Mas quem viu a live e teve a oportunidade de ir ao show Ofertório – um dos mais belos espetáculos da história recente da MPB, um sopro de esperança no meio da chatice que segue disfarçando as evidências, dormindo na praça e torturando nossos ouvidos – sabe que não dá para comparar as duas coisas.
Melhor ter live caseira do que não ter nada, mas show ao vivo é outro papo. Melhor ter esse arremedo de futebol do que futebol nenhum, mas não há como achar que o que está acontecendo é futebol de verdade. Cabe copiar e colar aqui o curto e definitivo parágrafo de Eduardo Galeano sobre o assunto, extraído da crônica “O Torcedor”, do clássico Futebol ao Sol e à Sombra:
“Este jogador número doze sabe muito bem que é ele quem sopra os ventos de fervor que empurram a bola quando ela dorme, do mesmo jeito que os outros onze jogadores sabem que jogar sem torcida é como dançar sem música.”
Vou continuar a ver e a torcer? Ora, ora, claro que sim. Vou deixar de me aborrecer se os atacantes rubro-negros perderem três chances claras de gol com o placar ainda em zero a zero? Claro que não. Daí a discutir o jogo como se, simplesmente, os times tivessem voltado das férias e logo tudo será como antes, vai uma distância enorme.
Francamente, não consigo.
PS: Por falar em Renato Terra, live, futebol e Flamengo, não perca o próximo episódio da live “Raça, Amor & Groselha”, com Arthur Muhlenberg e Diogo Almeida batendo bola com o jornalista, roteirista e cineasta Renato Terra. Sempre com um convidado da pesada – Celso Rocha de Barros, Daniel Furlan, João Paulo Cuenca, Mauro Cezar Pereira e outros craques já estiveram lá –, as lives do Arthur e do Diogo sobram na turma e são o que há de melhor em conversas sobre Flamengo, futebol e muito mais. Amanhã, 11 de agosto, às 21h, canal da TV MRN no youtube.
Pro pessoal que tá metendo o pau no Sampaoli aí:
1. Provavelmente o Flamengo é o maior freguês do Sampaoli. Já sofremos goleadas, nós táticos, eliminações vergonhosas e tudo mais que for possível dos times do Sampoli.
2. Terminamos o campeonato passado levando uma goleada para o time do Sampaoli e iniciamos o campeonato atual perdendo em casa para o time do Sampaoli, que novamente disputará o título com a gente, só que agora com um time bem melhor (esses 3 pontinhos vão pesar bastante)
3. A única vitória nossa que me lembro sobre um time do Sampaoli foi o Flamengo 1 x 0 Santos do ano passado, em que ficamos amarrados na marcação santista e só vencemos graças a um pequeno milagre praticado pelo Gabigol
4. Pra quem “não viu nada demais no time do Sampaoli no jogo de domingo”, então reflita sobre o seguinte: time dele jogando fora de casa contra o melhor time do campeonato, faz 1 x 0 no primeiro tempo após levar pressão. O que TODOS os técnicos brazucas fariam? Voltariam para o segundo tempo recuados, tentando atrair o Flamengo para matar o jogo no contra-ataque. O que fez o Sampaoli? Começou o segundo tempo atacando o Flamengo. Praticamente não conseguimos atacá-los no segundo tempo porque estávamos preocupados nos defendendo.
Pra quem não se importa com os itens 1 a 3, basta ler o item 4.
Se isso não for suficiente para fazê-los enxergar os motivos pelos quais o Sampaoli se destaca MUITO dentre os técnicos tupiniquins, aí é uma questão de entendimento pessoal do jogo, e não do que realmente aconteceu em campo.
Perfeito, Murtinho! Os panacas dos narradores e seus comentaristas ainda conseguem ver nó tático, controle do jogo e substituições geniais do argentino amalucado que faz tudo pra ser expulso todo jogo.
Próximo jogo vou tacar um mute nesses pregos!
Abração
Fala, Mauricio.
É.
E, com uma rodada!, o time do Atlético Mineiro já virou o novo queridinho dos jornalistas. Provavelmente, os mesmos que, quando o Brasileiro do ano passado foi interrompido por causa da Copa América, diziam que já era possível entregar a taça ao Palmeiras.
De acordo: mute.
Abração. SRN. Paz & Amor. Se cuida.
Prezado Murtinho,
Este ano irá nos brindar com mais um maravilhoso best-seller? Tomara!
Vi um bom jogo do Flamengo. Os gols perdidos foram por conta da falta de ritmo, eu acho.
Tem uma foto mostrando bem que o BH tinha ainda um ângulo bom para tentar o gol direto. Melhor do que o passe para o Gabigol, no meu entender. O beque estava muito próximo do nosso 9. Acho que foi o certo a fazer. Uma pena não ter entrado.
Arrascaeta também fez tudo certo, só esqueceu de combinar com o Sobrenatural de Almeida.
Fato é que os times do Sampaoli são dureza. Foi assim ano passado, no jogo a vera do turno. O sacode do returno não conta; ninguém iria se expor à toa, a poucos dias do mundial. Até o Mister se segurou, com receio de distender as cordas vocais.
Quanto à mudança de postura do Domènec em relação ao JJ, pra mim não quer dizer nada. Carlinhos, o técnico com mais títulos, era tranquilo. Cada qual com seu jeito. Importante é jogar bonito e vencer, vencer, vencer. No vôlei temos os dois exemplos: Bernardinho, o possesso, e Zé Roberto, o tranquilo, ambos baita vencedores.
Aliás, seja muito bem-vindo, Bernardinho.
Com toda a certeza Domènec sabe muito, está trabalhando muito e, já já, vamos voltar a ver o que adoramos: ganhar tudo, jogando bonito.
SRN!
Pra cima deles, Flamengo!
Fala, Fernando.
O time foi bem no primeiro tempo. Filipe Luís deu azar no lance do gol e cometemos uma falha geral feia de marcação, naquele contra-ataque em que o Diego Alves fez uma defesaça. Também não vi problema algum na escolha do Bruno Henrique. Qualquer uma das duas opções estaria de bom tamanho. Se ele tivesse tentado o Gabriel, pegasse mal na bola e algum zagueiro cortasse, neguinho ia chiar: “Porra, porque não chutou?” Pra quem tá no sofá, tudo é sempre fácil. Agora, acho que Arrascaeta não precisa de tanto preciosismo nas conclusões. Não é a primeira vez que o vejo desperdiçar uma chance clara por tentar colocar a bola rente à baliza, quando bastava acertar o gol. Mas, outra vez: sentado no sofá, é mole.
Sim, não há vida mansa contra os times do Sampaoli. Em relação aos quatro a zero na Vila Belmiro, ali Jorge Jesus errou: era pra ter entrado com onze reservas, e de repente nem ele mesmo no banco. Importância zero.
Também concordo que está havendo um certo exagero quanto ao histrionismo do Mister. O que ele fazia de mais importante acontecia nos treinos, com as mudanças táticas e de mentalidade que implantou, e não nos espetáculos midiáticos durante os jogos. Ali – nada contra, faço questão de deixar claro -, mas me parecia que ele jogava para a plateia. Excelente a lembrança dos vitoriosos Bernardinho e Zé Roberto Guimarães. Muito mais que o temperamento, o que vale é a competência.
Claro: vamos deixar Domènec trabalhar. Embora cientes, e não me canso de bater nessa tecla, que o que estamos assistindo é outro esporte. Tomara que a gente consiga gostar tanto dele quanto gostamos de futebol.
Obrigado pela força de sempre. Abração. SRN. Paz & Amor. Se cuida.
Grande Murtinho, como sempre belos textos e realmente vai ser osso essa campeonato mas lembrei de um filme que a estonteante Nicole Kidman fazendo o papel principal, no começo eu não conseguia acreditar na história pois foi feita ao estilo teatro mas com o tempo eu fiquei atordoado com as situações que parecia tiro real, uma loucura, mas o que esperar de Lars Von Trier.
Acho que o brasileiro vai ser mais ou menos assim,, a diferença que no filme é a imaginação e no Brasileirão é a triste realidade do nosso país.
Os 10 contaminado pelo covid do time do Goiás, demostra como vai ser o resto do ano.
Vamos torcer e rezar pelos mortos , eu já perdi o meu pai, amigos e podendo aumentar mais essas perdas .
Agora não adianta mais reclamar , o que já foi feito não ajudou em nada na contenção dessa pandemia.
O que podemos fazer é ter consciência de que devemos ter o maior cuidado possível e consciência máxima de saber votar e não perder o seu voto em mitos e ladrões, seja lula ou Bolsonaro, o Brasil não vai progredir.
Ps. O filme em questão é dogville.
Como é ótimo ser flamenguista e saber que temos uma nação que ama como eu e escreve deliciosamente de lê como o Murtinho.
Fala, Alessandro.
Puxa, lamento por seu pai. Lamento por seus amigos. Meus pêsames.
Cara, eu não curto muito Lars von Trier não. Gosto bastante de um dos primeiros filmes dele (“Europa”), mas só. Não gostei de “Os Idiotas”, achei “Ondas do Destino” chato toda vida e fui assistir a “Dogville” sabendo que não ia gostar, porque a linguagem teatral não faz minha cabeça. Ninguém é perfeito. Daí em diante, desisti. Outro dia quase vi “Melancolia” na tevê, pensei bem, declinei.
No mais, vale o óbvio: como tudo em nossa vida, o futebol só vai voltar a ser futebol de verdade após a descoberta da vacina. Enquanto ela não vem, a gente vai se enganando com esse futefake que está aí.
Obrigado pelos elogios. Abração. SRN. Paz & Amor. Se cuida.
esse som fake da torcida no maracanã é o simbolo do futebol na era do covid.
SRN !
Fala, Chacal.
Sem dúvida. E não é só no Maracanã não, tá em todo lugar.
A história das fotos nos cartazes é que, felizmente, não pegou de jeito, e a maioria dos estádios não está fazendo. Mas o som é terrível.
Abração. SRN. Paz & Amor. Se cuida.
Lembrei-me de um Fla x Flor em 2007, em que tivemos 2 jogadores expulsos injustamente numa das arbitragens mais safadas que já vi e, 9 contra 11, a torcida do Flamengo ganhou o jogo sozinha, sendo o primo do Messi apenas o instrumento que materializou o poder da magnética.
Sem dúvida, não teríamos sequer empatado aquele jogo com o estádio vazio. Sem chance.
Será que, tivéssemos 70.000 pessoas no Maracanã, o Arão teria parado tranquilamente para amarrar sua chuteira no meio de um contra-ataque letal do Atlético, que não fosse um pequeno milagre do Diego Alves se transformaria em um 2 x 0 ainda no primeiro tempo? Decerto que não. Certamente, ele voltaria descalço, plantando bananeira, se arrastando e, caso não o fizesse, seria massacrado com vaias pelo resto do jogo.
Sem torcida, muda tudo. E a meu ver equilibra mais os jogos no Maracanã.
Temos que usar isso a nosso favor nos jogos fora se casa, especialmente naqueles estádios em que sempre nos damos mal, tipo Vila Belmiro.
Fala, Trooper.
Eu acho muito doido o fato de a imprensa especializada (?) ter passado tanto tempo ignorando essa questão. Só agora comecei a ver comentários nesse sentido, mas aí eu já tinha jogado a toalha em relação às análises táticas ou técnicas dos caras.
Olha que coisa: depois de quatro meses parado, o campeonato paulista voltou numa quarta-feira, 22 de julho, com o jogo entre Corinthians e Palmeiras. Naquele dia, estava sozinho em casa e, enquanto almoçava, liguei a televisão no programa Seleção SporTV. Apresentação do André Rizek, comentários de Arnaldo Ribeiro, Carlos Eduardo Lino e o ex-jogador Zé Roberto. Em certo momento, um quadro que torcedor adora: a comparação jogador por jogador. Logo de cara, os comentaristas tinham que escolher entre Cássio e Weverton. Fiquei assustado quando – confesso não me lembrar qual dos três – um deles disse que o Cássio é sem dúvida um grande goleiro, mas que o momento do Weverton é melhor. Pensei: que momento, cara pálida? Se ninguém joga futebol profissionalmente em São Paulo há mais de 120 dias, como é que se vai saber quem é que está melhor no momento? Acho que a nossa imprensa esportiva também ficou desnorteada, perdendo a noção de tempo e de tudo o que é capaz de interferir no andamento dos jogos – como o comportamento da torcida, seja contra ou a favor. (Romário, por exemplo, era um cara que gostava de jogar “contra” a torcida. Para ele era motivador.)
Deve dar uma tremenda paumolecência você entrar no Maracanã, olhar pra aquele anelzão todo – sempre lotado e tão festivo no ano passado – e não encontrar um torcedor sequer. Motivação é fundamental até em pelada. Faça o teste: compare uma pelada que tem time de fora (quem perder, sai) com uma que não tem. A primeira vai ser sempre muito mais brigada.
Ontem estava conversando no telefone com meu neto – o sacana sabe tudo de bola – e o assunto era exatamente esse: os estádios vazios eliminam esse papo de jogar em casa ou fora. Virou tudo campo neutro. Teoricamente, há favorecimento aos times mais fortes. Só que, na prática, é possível que os mais fortes sejam, justamente, os que mais sintam a falta de motivação. (Sabe aquela bobagem de que um gramado ruim é ruim para os dois? Ora, se um gramado é ruim, óbvio que o mais prejudicado será o melhor time.)
Vamos ver que bicho vai dar.
Abração. SRN. Paz & Amor. Se cuida.
Pois, Murtinho, meus neurônios continuam vesgos, e agora, sei lá eu por que, me implantaram na cuca o tal exemplo clássico de anacoluto que foi desenterrado lá do ginásio: “quem ama o feio, bonito lhe parece”.
Grande Xisto!
Outra possibilidade é o bom e velho “só tem tu, vai tu mesmo”. Mas que tá uma sem gracice absoluta, isso tá.
É possível que, com o time reengatando (o novo técnico mal começou), a coisa melhore. Torcer pra que isso aconteça rápido.
Abração. SRN. Paz & Amor. Se cuida.
[corrigindo]
Texto belíssimo, Murtinho, como os belos troques de passe que nos encantou no ano mágico (que jamais teria acontecido ou teria a mesma proporção/dimensão sem a Magnética).
Depois da partida no último domingo, fiquei me perguntando o quanto o sistema de som com o canto das torcidas nos estádios ao invés de ajudar, pode gerar um efeito contrário e atrapalhar na concentração dos jogadores. E outra dúvida que me pegou: já que estamos nessa situação, o Flamengo não pode mandar seus jogos na Gávea (com um gramado mais à altura e menos espaço para articular as jogadas)?
SRN
Abraço
Valeu, José Douglas.
Embora seja mera conjectura, tenho a sensação de que o som fake total joga a motivação ainda mais pra baixo. Como se a cada momento em que acontece uma manifestação daquelas lembrasse aos jogadores (como em casa nós lembramos): que bosta que é isso! Concordo com você: pode ter efeito contrário e atrapalhar.
Quanto a mandar os jogos na Gávea, acho que o problema está no tal do protocolo. Não há necessidade de acomodações decentes para os torcedores, claro, mas tem que haver condições de distanciamento nos vestiários e outros itens que, me parece, na Gávea são inviáveis. Grêmio e Inter andaram fazendo jogos pelo campeonato gaúcho em lugares que se assemelham a campos de CT, mas aí eu não sei se há diferenças nas exigências. Só sei que o reflexo de tudo isso é um futebol sem sal, sem graça, sem tempero. Até maldade chamar de futebol.
Abração. SRN. Paz & Amor. Se cuida.
Texto belíssimo, Murtinho, como os belos troques de passe que encantou nos encantou no ano mágico (que jamais teria acontecido ou teria a mesma proporção/dimensão sem a Magnética).
Depois da partida no último domingo, fiquei me perguntando o quanto o sistema de som com o canto das torcidas nos estádios ao invés de ajudar, pode gerar um efeito contrário e atrapalhar na concentração dos jogadores. E outra dúvida que me pegou: já que estamos nessa situação, o Flamengo não pode mandar seus jogos na Gávea (com um gramado mais à altura e menos espaço para articular as jogadas)?
SRN
Abraço
Tá osso mesmo esse futebol de pandemia, tesão zero pra torcer.
Também sou filho de pai tricolor, fui a muitos Fla-Flus com o velho, mas não lembro o adversário, muito menos o placar, da minha primeira vez no Maraca pra ver o Flamengo, em 87. Acho até que o Zico estava em campo, mas nem isso eu lembro. Só lembro da massa vermelha e preta na arquibancada, do barulho, da emoção, da energia atômica concentrada em milhares de vozes alucinadas, e a charanga, os gritos, os palavrões, a raiva e o êxtase, tudo misturado e caótico, uma paixão fulminante que não acaba nunca.
Fala, Rafael.
Pois é, rapaz. Eu e Roberto Assaf temos mais ou menos a mesma idade, fomos colegas de turma no Colégio Padre Antônio Vieira por dez anos e nossa iniciação futebolística é parecida, pois tanto o meu pai quanto o dele eram tricolores doentes. Minha irmã mais velha (que adorava futebol e também torcia para o Fluminense) contava que tinha acontecido comigo e meu pai exatamente o mesmo que houve com Roberto e o pai dele, num FlaxFlu. Mas como eu não me lembro, deixo quieto.
O importante – e que é o eixo do texto – é isso aí que você falou: todos os torcedores rubro-negros da cidade do Rio de Janeiro (os de fora não tinham como, né?), e que se acostumaram a frequentar o Maracanã, têm histórias semelhantes de momentos da torcida que os conquistaram definitivamente ou amplificaram-lhes a paixão.
Salve Eduardo Galeano: futebol sem torcida é como dança sem música.
Abração. SRN. Paz & Amor. Se cuida.
Murtinho, como sempre magistral. Essa história de reproduzir gritos da torcida em volume ensurdecedor o jogo todo é de um mau gosto típico dos dias de hoje, embora pareça inspirada em campos de “reeducação” da Revolução Cultural na China comunista. Coisa para Kubrick nenhum botar defeito. Parece menos mal servir o jogo “au frois”, ainda que as comparações com as peladas de condomínio sejam inevitáveis (vide Marcelo Rubens Paiva neste final de semana em o Estado). SRN!
Valeu, Passos. Obrigado pela moral.
Excelente a lembrança do Kubrick. Tudo a ver com o mestre. E agradeço pela dica: não li o Marcelo Rubens Paiva no Estadão, vou dar uma chegada lá.
Abração. SRN. Paz & Amor. Se cuida.