Foi por pouco que o Flamengo não estreou no Cariocão 2016 conforme determinava a tabela. Algumas horas antes da partida a fiscalização de Mesquita interditou o campo do América, uma demonstração inequívoca do alto nível organizacional dos promotores da competição. Olha, vou pular aquela parte em que eu deveria descer o sarrafo na FERJ, enumerando as pisadas na bola da proba entidade. Me diz quem é que ainda tem saco pra esse blá? Aos leigos pareceu que a interdição do Giulite Coutinho era meio fajuta, mas deram um jeito lá e o jogo começou na hora marcada. Não foi o pior programa de TV que eu já assisti, mas também ficou longe de um programa legal.

Gostei do Juan, que fez uns desarmes sem fazer falta que deram gosto de ver e fizeram muita gente começar a relativizar a questão da idade. Gostei do gol do Guerrero, tem que manter o ritmo e marcar em todo jogo. E gostei bastante do William Arão, que jogou muito bem e fez a diferença. A vitória do Flamengo não seria imerecida, afinal dominou as ações e ditou o ritmo de jogo. Mas deu mole numa bola e foi castigado. Empatar com pequeno é chato, ainda mais na estreia. Mas suspeito que esse fenômeno já ocorreu antes e mesmo assim o Mengão terminou na frente e levou o caneco pra Gávea. O resultado significa pouco, não é motivo pra muita onda.

E mesmo que o Flamengo não tivesse dado aquele mole no final a avaliação do time ainda seria a mesma. Que é o bom e velho nada a declarar. Os caras ainda estão se entrosando. Está muito no começo pra dizer qualquer coisa mais consistente além de que as deficiências técnicas apontadas em 2015 não desapareceram na pré-temporada. Ainda bem que agora o Flamengo é trabalho. E é bom o Muricy e os novatos irem se acostumando com a intensidade da nossa corneta.

Apesar do Flamengo frequentar com admirável assiduidade a Primeira Divisão do Campeonato Carioca desde 1913, a torcida do Flamengo, principal interessada na competição, parece que ainda não aprendeu a jogar o troço. Deve-se a nós, torcedores de todas as matizes rubro-negras, a proeza de ter transformado o nosso simpático e charmoso rural em dos campeonatos mais difíceis do mundo. Mais difíceis do mundo para o Flamengo, lógico.

Porque pro torcedor o Carioca é assim: se o Flamengo ganhar não fez nada além da obrigação e se perder é motivo de condenação antecipada pela inevitável decadência rumo ao rebaixamento e aos indignos jogos às terças e sextas no ano seguinte. Intensos, os rubro-negros. E assim colocamos sobre as costas da nossa rapaziada um peso extra, como se eles já não estivessem com as espaduas suficientemente vergadas pelas toneladas do Manto.

Antigamente, no tempo em que os bichos falavam, quando o Paulo Bayer jogava no dente-de-leite, o Carioca tinha a maior importância, era o campeonato mais importante do mundo, e um dos mais importantes do Brasil. Nessa época sim, valia a pena se descabelar por um empate com o Bacaxá. Mas hoje em dia ninguém mais liga pra Carioca. A cada ano que passa fica mais sem importância. A julgar pelo comparecimento do distinto público e pelo nível dos estádios a ele oferecidos, o Carioca hoje em dia é praticamente uma competição clandestina.

No último parágrafo era o meu eu-racional falando. Mas neste parágrafo aqui sou eu-torcedor mulambo falando e posso afirmar que não interessa o valor real da conquista do Carioca , seja em mariolas ou em balas Juquinha, se o Flamengo entra no bagulho tem que ser pra ganhar. É por isso que pro Mengão o carioqueta é um dos campeonatos mais difíceis do mundo. Porque pra nós, os clientes, a razão de ser de tudo que o Flamengo é, quando o assunto é Carioca, nunca estamos satisfeitos. Mas, em compensação, umas das caracteristicas distintivas da Torcida do Flamengo é jamais exigir do time mais do que ele é capaz de dar.

Mengão Sempre