Estava quieto no meu canto, escrevendo os posts semanais para o blog de futebol da revista Piauí, quando recebi uma ligação do Muhlenberg convidando para participar da República Paz e Amor.

Segurando a gambiarra do lema (“o mais humilde satélite na órbita do planeta Flamengo”), Mulamba chegou maneiro e cheio de argumento, tabelou, driblou dois zagueiros, deu um toque, driblou o goleiro, mas manteve a humildade. Mesmo assim, tremi na base.

Não é fácil escrever sobre o maior do mundo, e mais difícil ainda jogar no time de quem melhor escreve sobre o maior do mundo. Só depois que desliguei o celular foi que lembrei as recentes e sábias palavras do professor Luxemburgo: não se tratava de um convite, e sim de uma convocação. Além disso, patrão generoso e franco, o velho Mulamba jogou na mesa uma bolada impossível de recusar.

Reproduzo o diálogo.

Ele: E aí, Murtinho, topa ou não topa?

Eu: Claro, patrão, é uma honra. Mas, só pra saber, sai um qualquer?

Ele: Nem pra condução.

Isto posto, nada no bolso ou nas mãos, vamos à batalha. Como disse o camaleônico Claufe Rodrigues: Poesia não dá camisa / Mas o poeta / Quando tem uma musa / Não precisa de blusa / Vive de brisa

A musa aqui veste vermelho e preto, e atende pelo nome de Clube de Regatas do Flamengo.

O que aumentou minha confiança em dar conta do recado foram os sacrifícios por que a magnética tem passado, provações que parecem criadas unicamente para testar a fidelidade da rapaziada.

Assim: vocês, que viram a elegância e a eficiência de Raul, até bem pouco tempo precisaram conviver com as presepadas e as luvas de madeira do Felipe. Viram a inigualável categoria de Júnior, e foram obrigados a aturar a displicência do André Santos. Viram Adílio deslizar por todos os cantos do campo com astúcia e velocidade, e não pararam de bocejar com a preguiça do Elano. Viram o Imperador Adriano tocar o terror em territórios inimigos, e fingiram acreditar que Dênis Marques era centroavante. Viram Petkovic comer a bola no Brasileirão 2009, e quatro anos depois tiveram que engolir um embusteiro chamado Cadu.

(Sim, fiz questão de não citar o santo nome d’Ele, o que só deve ser feito em casos de extrema urgência.)

Agora, mais essa: mal acostumados com o talento da rapaziada que faz parte do Paz e Amor, vocês terão que suportar minha falta de jeito pro negócio. Mas juro que não vai doer tanto assim. Pra quem já sofreu com Buião, Michila e Caldeira, Diego Maurício, Diogo e Val Baiano, encarar um Murtinho uma ou duas vezes por semana não há de ser tão grave. Peço a paciência de todos e espero que a paixão pelo Flamengo, mais uma vez e como sempre, supere tudo.

Bênção e bola pro mato.