Ver o Flamengo jogar está entre as melhores coisas do mundo. Mas o excesso de jogos e competições satura até os fanáticos. Mal saiu da guerra insana em que se transformou o fácil jogo com o Ceará pelo Brasileiro e lá vai o Flamengo novamente se meter em confusão interdivisional com a Ponte Preta pela Copa do Brasil. Pra apimentar o que já anda ardido os capa-preta da CBF (ou do STJD, tanto faz porque são igualmente inúteis) ainda resolvem punir a Macaca proibindo a torcida visitante de ir ao estádio. No caso, a torcida do Flamengo.
Nem precisamos comentar a estupidez e surrealismo da punição, e o Moisés Lucarelli é um dos estádios mais hostis ao visitante no país, mas aquela parte da torcida do Flamengo mais participativa, que cultiva a violência nas arquibancadas, um narcisismo exacerbado nas redes sociais e uma notável falta de noção sobre sua própria relevância, bem que merecia ficar de castigo. O evento vândalo no embarque pra Fortaleza, protagonizado por animais que ignoram a distinção entre cobrança e intimidação covarde, infelizmente não foi o ponto mais baixo da semana passada.
Esse antiprêmio ficou reservado aos inúmeros torcedores pacíficos e ordeiros, na sua maioria gente de bem e cristã, orgulhosos com a barbárie, que se declararam representados pelos marginais que atacaram a delegação do Flamengo. Não satisfeitos em passar tal vergonha em público esses mesmos torcedores pacíficos e ordeiros passaram o domingo assinando inúmeros atestados de cretinice ao atribuir ao súbito fogo no rabo do time e à performance honrosa ao “incentivo” recebido no embarque do Tom Jobim. Como se não fosse absolutamente de rigor que o Flamengo passasse sem maiores dificuldades por um time pequeno que ainda traz entre as travas das chuteiras o barro dos campinhos onde disputou a Série B. 3 x 0 foi pouco, quase nada, se liguem!
Infelizmente parte da nossa torcida, assim como parte da imprensa, se deixou contaminar pela tolerância à violência e ao relativismo ético e moral que pontua a política nacional. Valores que até outro dia eram inegociáveis hoje são desprezados em nome de protagonismo e lacração. No tiroteio diário a primeira a cair fedendo é a isenção jornalística, a imparcialidade (ainda que retórica) também leva pipoco e clamores populares são criados artificialmente pra agradar às massas incultas que seguem sem qualquer discernimento à pseudo lideranças que incentivam e anabolizam a ignorância de uma geração de torcedores autofágica, que demonstra enorme inocência ao devorar ao Flamengo e a si mesma.
É um processo muito semelhante ao que ocorre com a imprensa esportiva carioca, que ao contrario das demais imprensas locais no país, é sempre a primeira a atacar os clubes cariocas e a desvalorizar tudo que é nosso, sejam jogadores, torcedores ou dirigentes. Contribuindo, muitas vezes conscientemente, para fortalecer o futebol de outras plagas. Não é uma coincidência que se venda cada vez menos jornal. Ainda mais agora que o Flamengo vai se impondo, mesmo que aos trancos e barrancos e amparado até agora apenas na força da grana que ergue e destrói coisas belas, diante dos demais clubes do Brasil. O Flamengo, mais do que nunca, é o alvo preferencial, o time a ser batido. De preferencia por algum clube de Piratininga, estribado no continuísmo malsão da turma de São Paulo na direção da CBF. É preciso deixar claro, o Flamengo não tem amigos. Estão todo contra nós.
Enquanto o verdadeiro crime ocorre, nada acontece, feijoada, o torcedor do Flamengo é distraído por discussões minúsculas, fofocas sem fundamento, denuncias vazias e linchamentos públicos que o impedem de enxergar o quadro em toda a sua amplidão. Pra piorar ainda tem a porra da eleição no clube em dezembro, o que aumenta consideravelmente a quantidade de mentirinhas, mentiras cabeludas e estatísticas em circulação. O que é perfeitamente compreensível dadas as avantajadas dimensões da montanha de dinheiro que o Flamengo movimentará no próximo triênio. Ano de eleição no Flamengo é uma desgraça.
Neste enredo, que junta paixão, vaidade e ambição, as coisas perdem sua proporção natural e até enfadonhas reuniões de conselho para aprovações de contas se transformam em eventos políticos com direito à claque e barraquismo. É muito saudável que os associados examinem os livros com o máximo rigor, e nesse mister o papel das oposições é fundamental, mas também é muito chato que isso seja tratado com a profundidade de uma conversa de botequim. Quando o Flamengo estava fudido e devendo até as calças, ou quando não é ano de eleição, muito poucos se importam com formalidades contábeis.
O que sempre importou pro torcedor foi ter um time forte. E mesmo tendo plena consciência de que no lugar que só dá um não é possível dar dois, de preferência com ingressos baratos. Ora, ser a favor de ingresso barato é igual a ser a favor da natureza, da paz mundial e da minissaia. Todo mundo é. É ridículo pra caralho ficar se vangloriando disso. O que não impede que diversos marmanjos, a maioria com mais de 15 anos de idade, discutam acaloradamente pelas redes a paternidade da iniciativa do Flamengo em adotar uma precificação “social”. Uma típica discussão desses tempos em que a política é feita gastando muita energia discutindo o que é acessório e desprezando o que é essencial.
O essencial nesse caso é saber se ingressos a 10, 20 ou 30 paus são sustentáveis. Se consideramos o pouco que sabemos sobre os altos custos do Maracanã e toda a prosopopeia que desde 2013 sustentou a politica anterior de preços altíssimos em defesa do binômio times fortes (times caros soa mais honesto) + equilíbrio financeiro, parece óbvio que não. Se com os ingressos custando 5 vezes mais eram necessários 30 mil ou 40 mil presentes para que o Flamengo não ficasse no prejuízo, qual é o milagre que os fiéis da Escola de Chicago estão esperando que aconteça cobrando 10 real? Ou agora tudo bem que o Flamengo volte a pagar para jogar no Maracanã? O fato é que os preços vêm baixando há algum tempo e a torcida do Flamengo nem tchuns, só lotou o Maracanã no treino em que os ingressos eram doações de alimentos.
Ano de eleição no Flamengo é uma desgraça. As coisas quase sempre não são o que parecem ser. Mas é bem fácil para nós, leigos, sabermos se alguma medida é ou não é eleitoreira. Se tiver cara de medida eleitoreira, se for adotada em período pré-eleitoral e se for uma decisão tomada por quem tem algum interesse na eleição que se avizinha, muito provavelmente é eleitoreira.
Ano de eleição no Flamengo é uma desgraça. Mas a lógica, em quase todos os campos do conhecimento, não se aplica ao Flamengo. E a torcida se empolgou com a surpreendente, ainda que pouco significativa, liderança na terceira rodada e ameaça bombar o Maraca contra os Sem-Drenagem. Vai que embala e multidões comecem a lotar os jogos? Aí pode ser até que o ingresso passe a custar 5 reais. Se rolar vai ser lindo.
Mas nada de empolgação extemporânea, só após a publicação e uma boa análise de uns 3 ou 4 borderôs que vai dar pra se ter uma ideia realista se esse New Deal caboclo é mesmo uma medida popular ou apenas populista. Sabemos que os números, sob tortura, falam o que a gente quiser. Mas nesse caso vai ser difícil enganar todos os 40 milhões de especialistas em finanças, marketing e precificação que se formaram nos últimos 6 anos nas universidades livres das redes sociais. Não estou dizendo que é impossível, estou dizendo que vai ser difícil. Fé em Deus, DJ!
Ano de eleição no Flamengo é uma desgraça. Foda-se, vamos tratar de ganhar hoje da Ponte e domingo do Inter.
Mengão Sempre
Basta o time ganhar uma ou duas para tudo – mudar e virar um timaço.
Basta um jogador, que nao jogou NADA durante mais de um ano, fazer UM gol, para ser tratado de craque.
Etc.
Nao vou entrar nessa discussao esquisita. Vou é esperar o que vai seguir acontecendo.
O REAL é que, da noite pro dia, temos RESULTADOS. Deus sabe como, mas temos.
Porque no fundo nao mudaram nada – a nao ser somente na visao de esquisitoes a razao para os resultados resulta da saida do nosso melhor jogador, o Diego.
Esse jah saiu varias vezes e o outro, o cracasso de UM jogo, jogou e nao fez resultado algum.
Entao, nao é simples assim.
Vamos ver o que segue. Estou surpreso e isso muito. Quem nao diz nao estar – esta mentindo.
Seja como for. Teremos um monte de jogos importantes pela frete e ai veremos se isso tudo se deve a sorte ou a algo mais.
Lula.
Sobre esse tema naot existe muito mais a escrever. Todo mundo que quer ver, ve que é uma tremenda sacanagem que fazem com um cidadao, que nao ha mais lei no pais.
E é mais do que CLARO que a vida da esmagodora maioria no pais tinha SIM , mudado para melhor. Qualquer outra conversa é meramente ridicula e nao pode ser levada a sério.
Como o Carlos bem diz, o pais esta afundando e isso rapidamente. Os problemas sao muitos e nao sao somente brasileiros, e sim de um capitalismo do século 21.
Nao se ve um jeito de se escapar de uma entrada na zona de lixo para muitos e muitos anos. O golpe nao soh nao mudou o sistema em Brasilia, sistema que PRODUZ injustiças e subornos sem fim – como acham que algo verdadeiro mudarah?
Hoje em dia dou graças a deus que vivo longe disso e nao pretendo me aproximar tao cedo.
Absolutamente TUDO o que o Brasil tinha de bom – culturalmente – morreu e esta profundamente enterrado. O que existe hoje em dia nao me atrai. Nem um pouco.
Como o futebol do Flamengo, até uns 10 dias atras.
Se esse mudou – o Brasil tem chances de mudar tb.
Passe magico. Sem ninguem saber por que. Milagrosamente.
SRN
Henrique, com sua permissão e na tentativa de um debate civilizado e esclarecedor, quero dizer que concordo com algumas coisas e até acho que entendo os teus sentimentos, tanto em relação ao Flamengo como ao Brasil.
Na minha curta visão/compreensão tática, me parece que o Barbieri está fazendo um bom trabalho, ou pelo menos começando. Primeiro ele escalou um time titular. Se é o do desejo da maioria ou não, é outra conversa. {Me parece que] ele acertou com os posicionamentos do meio de campo, especialmente Paquetá e Everton Ribeiro. Paquetá, no momento, dispensa comentários – é o melhor jogador do time, referência e peça chave insubstituível. O Everton vem melhorando jogo a jogo. Dizem que é fruto de sua conversa com o técnico quando se posicionou de como e onde renderia melhor. E vem rendendo. Se ainda não é o que esperávamos, também é outro departamento, mas vem crescendo. Diferente de vc, não vejo o Diego como o craque do time, ao contrário, vejo ele segurando demais a bola, não dando sequência com velocidade e ainda voltando muito (talvez por vício) em vez de ficar perto da área e do centro-avante, ou pra dar o último passe ou pra finalizar. Mas o fato é que com ele o time fica mais lento.
Algumas coisas têm que ser reconhecidas: o Renê tem cumprido bem seu papel de marcador e ladrão de bola. Às vezes até consegue bons cruzamentos e lançamentos. O Trauco NÃO É lateral-esquerdo, mas um meia/ponta esquerda (e venho dizendo isso desde que ele foi contratado porque seu bom início deixou claro). Não pode ser lateral porque não sabe cumprir o papel principal de um lateral, que é marcar, mas quando vai à frente, ele cresce e suas qualidades aparecem. Resumo, Renê é o que temos e é muito pouco, reconheço, mas pelo menos tá conseguindo fechar por ali.
Com essa diretoria infame e a insistência doentia do Banana em se meter onde não é chamado nem benvindo, as cagadas são anunciadas e previsíveis. Não tenho a menor esperança ou expectativa de título (muito menos no plural).
Quanto ao Brasil, o fato é que só sabemos o que sabemos através da mídia, que é tendenciosa e nada confiável. O que acontece nos bastidores e atrás das cortinas, só podemos supor e especular. Não perco tempo e energia com jogo de cartas marcadas. Pra mim, e isso é definitivo, políticos e sedentos de poder em geral seja em que área da sociedade for, são todos farinha do mesmo saco. Só têm interesses pessoais e ponto. Mesmo quando aparentemente dizem/fazem alguma coisa em benefício do social é apenas estratégico pra que o interesse pessoal seja conquistado/atingido. A transformação desse quadro só pode acontecer a partir da expansão de consciência de cada indivíduo ao compreender que a cooperação é mais inteligente que a competição, que a generosidade é mais sábia que o egoísmo e que a união, de fato, faz a força. Qualquer discussão (e não debate, são diferentes e opostas) sobre esquerdaxdireita, comunismoxcapitalismo, e outras dualidades do nível, só reforçam a posição dos que manipulam e controlam os andares de baixo em benefício próprio. E isso, vc sabe muito bem, ocorre no mundo inteiro, com colorações e estratégias adequadas a cada background cultural, mas o fim é o mesmo: manutenção do poder usando como chave-mestra a separação entre os que estão sendo manipulados e controlados. Lula, Bolsonaro ou seja lá quem for, não passam de fantoches usados pra manter o circo em atividade nos entretendo. Eles são as fake-news em pessoa.
Entendo sua alergia ao Brasil. Eu também tenho urticárias por lá. O nível de consciência é baixíssimo e isso é fruto de uma história onde ao povo tem sido negado acesso à educação. Mas também é fato que esse mesmo povo nunca se esforçou e reivindicou esse acesso como direito inalienável. Ao contrário, a omissão e o conformismo têm sido suas características mais marcantes, optando pelo vitimismo e coitadismo, facilitando o trabalho dos controladores e só eventualmente, quando a trolha passa da linha combinada, se ouve um lamento um pouco mais alto. Nada que faça muita diferença. A trolha continua enfiada, um pouco menos funda, mas ainda lá dentro, sem deixar o enrrabado respirar direito.
Os responsáveis por tudo isso, tanto no Flamengo como no Brasil (e no mundo)? Eu e você. Nós. Vós. Eles. Os poderosos estão fazendo o papel deles. E muito bem, por sinal. Resta saber se bobos da corte e idiotas é o papel que entendemos e aceitamos como sendo o nosso.
Um abraço