Às favas com a imparcialidade. Depois de ver o Fla-Flu inteiro pela FluTV fui autorizado a escrever o que realmente aconteceu na primeira partida da final do Covidão 2020. Escrever sem freios, sem pruridos morais, sem me preocupar se as crianças vão ler esse texto. E olha que a transmissão tricolor do clássico foi bem legalzinha. Imagem boa, áudio bom, comentarista que estava vendo mesmo jogo que eu. Em nada lembrava a soporífera transmissão da final da Taça Rio.

E é muito simples descrever o que rolou no gramado do Maracanã que, não devemos esquecer nem por um segundo, tem ao seu lado um hospital de campanha para vítimas do Covid19 em pleno funcionamento. Antes de mais nada vamos descartar todas as análises alucinadas que começarem com algo do tipo, o Flu foi o melhor em campo. Isso não existe. Salvo tenha havido alguma mudança bastante radical na Regra 10 do futebol (O vencedor da partida é a equipe que conseguir fazer o maior número de gols.), o melhor em campo foi o Flamengo mesmo.

O que não significa dizer que o Flamengo jogou bem. Mesmo porque pra esse Flamengo ganhar desse Flor não precisa jogar bem. Basta o Flamengo jogar, o que sabemos que nem sempre acontece em nossos divertidos encontros interdivisionais com o clube dos três rebaixamentos. Que são ainda mais divertidos quando o Fluminense, segundo o entendimento de um expoente da inteligência tricolor, amassa o Flamengo.

Há muito tempo o Fluminense vem amassando o Flamengo. Amassando como se fosse uma namorada no escurinho do banco de trás do carro. Nos últimos 20 Fla-Flus do nosso rural foram 10 vitórias rubro-negras e sete empates. Mas isso é caso antigo, nos últimos 50 Fla-Flus pelo Carioca o Mengão meteu eles 23 vezes e empatou 18. É o tipo de amasso que a gente respeita e incentiva. Vem ni mim.

Mas pra falar a real, o Flamengo jogou mal. Não tão mal quanto na quarta-feira passada, mas mostrou um futebol muito aquém dos elevados padrões de exigência da Magnética. A culpa pelo descontentamento da torcida é exclusivamente do time e do Míster. Foram eles que criaram o monstro, agora ele precisa ser alimentado constantemente. E o monstro mulambo não aceita angu, pra não chiar exige as finas iguarias com as quais foi cevado durante o pantagruélico Ano Mágico de 2019. É pedir demais? Não é.

Entretanto, o Flamengo não pareceu capaz de fornecer o futebol de encantamento e perversidade que alimenta as massas bem vestidas. As mudanças feitas na escalação deixaram o time de roda presa. Se o Flamengo fosse uma orquestra Everton Ribeiro seria o maestro, o condutor, o cara que dita o andamento da música. E o Gérson seria o o cara do oboé, que é quem dá o tom, o instrumento pelo qual todos os outros músicos da orquestra se afinam. A ausência simultânea dos dois afeta profundamente a qualidade da execução da música.

O Fluminense, que novidade, fechou a casinha com a assinatura tática de Odair Hellmann, uma paleolítica retranca recuada. Ferrolho antijogo que funcionou pro Flu tipo funcionou pro Inter nas quartas da Libertadores no ano passado. No primeiro bola-bola que se encaixou, Diego rolou certinha para o liberto Pedro marcar o seu gol De Férias Com o Ex e imprimir alguma normalidade ao placar de um jogo disputado sob condições mais do que anormais.

No segundo tempo o Flamengo voltou visivelmente sem saco pro brinquedo. Numa boca aberta geral da defesa aos 15 minutos o Flor empatou com o seu pensador, Evanílson. Jesus, que pode ser chato mas de otário não tem nada, rapidinho botou em campo Ribeiro, Gérson e o lépido Michael. A entrada dos descansados até mudou o time um pouco, mas não muito. O Flamengo continuou a jogar como se fosse um ladrão de carros inexperiente, desses que precisam tentar fazer 300 ligações diretas até que uma dê certo. Foi um festival de bicudas loucas pra frente.

Aos 28 do segundo, finalmente, Rafinha lançou Gabigol, O Assistente, que passou en passant por Egídio Piscininha e rolou a gorducha para Michael, que à galope chegava na área livre de marcação, se tornar o maior homem em campo e dar números definitivos ao Fla-Flu. Às margens do campo Odair foi à loucura e exprimiu sua contrariedade com um intenso faniquito ao demandar ao árbitro que o jogo tivesse sua duração estendida, por uma questão de justiça, até que o Flor conseguisse empatar.

Claro que não adiantou absolutamente nada, mas deu o tom pro moderado charivari campal que marcou o encerramento da não muito agradável partida. Com direito à expulsão inautêntica e canalha de Gabigol, empurra-empurra, descortesias e malcriações que envolveram até dirigentes. Uma tremenda falta de educação, mas pelo menos o jogo acabou. Ufa!

Quarta-feira tem mais um jogo desse Carioca interminável como o Paulo Bayer. Mas com certeza será o último. Ao mesmo tempo em que será o primeiro Fla-Flu do ano televisionado, dessa vez pelo SBT. Uma ótima notícia para a ínfima parcela da Nação que não tem internet e nem banda larga. Eu, que estou fudido, mas sou elite, vou ver na FlaTV mesmo. Depois de dois Fla-Flus seguidos assistidos no canal rival já dei minha cota de sacrifício pelo desenvolvimento do mercado de telecomunicações do país. Agora só quero ser Bi Campeão Carioca e esquecer que esse campeonato inoportuno existiu.

Mengão Sempre