Amar o Flamengo ultrapassa qualquer entendimento. Como o viver. E quando você acha que ao longo da sua história com ele tudo já foi experimentado, até a última ponta, é exatamente nesse momento que acontecem as coisas mais sublimes. Uma viagem. Um jogo. Uma vitória épica. Um gol antológico. Um novo amor. Tudo isso naquele exato tempo em que você determinou que nada mais de especial, único, inacreditável ou interessante poderia acontecer no seu existir e sentir Flamengo. A não ser um novo título mundial, claro. Ou ainda, o próximo e obrigatório resultado positivo no jogo da Libertadores.
Escrevo no intervalo de tempo entre uma vitória arrebatadora e uma derrota injusta. Escrevo para falar sobre a minha primeira noite de amor com o Flamengo. Daquelas que você volta para casa de manhã, toma café na padaria, fala pouco e suspira muito. Eu sofro de Flafilia. Fla [Flamengo] “paixão”, “vida”, e φιλία [filía], “amor”. Eu, meus 11 leitores e a torcida do Flamengo. Escrevo para contar que o templo dessa noite de amor gostoso com o Mais Querido do Brasil foi o lugar mais propício para os seus amantes, o Maracanã. Escrevo pra narrar o tempo que passei colaborando na montagem de mais um mosaico, e que precisei virar a noite sendo voluntária na organização da festa. Afinal, Isso aqui é Flamengo.
Cheguei no Maraca por volta das 21h30. Aos poucos, foram surgindo dezenas de torcedores que seriam testemunhas daquela noite. Disposta a dedicar apenas “algumas horinhas” para ajudar o Flamengo. Nessa relação só o amor basta. Queremos mais e mais e mais dele, por ele, com ele. Só quem ama entende. A montagem exige uma dedicação e operação que só os deuses e magos do mosaico explicam. E nós, mortais, executamos. E eu estava ali para amar o Flamengo incondicionalmente. De corpo e alma. No Amor e no Flamengo, vale tudo? E então, assumi logo minha posição. Não teve variação. Passei a noite toda colando as placas brancas, com as letras que formam a frase do mosaico, nos bancos. Nada podia dar errado. Nem o vento, nem a chuva, nem o cansaço, nem o desânimo. Eu estava cercada de rubro-negros por todos os lados, mas, nessa função, passava horas sozinha, colando, colando, colando e suspirando, colando e gemendo, colando e tendo prazer com o Flamengo.
Da hora que cheguei até, exausta, prender a última plaquinha, revisitei minha relação com o Flamengo. Logo, a minha vida. Passei pelo lugar que assisti os jogos durante toda a minha história no Maracanã. Me vi menina, brincando de tobogã na arquibancada. Me vi procurando o primeiro amor platônico ali na saída do túnel. “Presta atenção no jogo, VI VI A NE. Tá procurando quem?” “Tô ‘prestano’ pai, tô ‘prestano’ ”. Me vi mulher. Ciente dos meus direitos. Do meu espaço. Empoderada do meu lugar na arquibancada tantas vezes machista e preconceituosa. Me vi de pé. Cabeça erguida. Torcedora do Flamengo. Refiz as jogadas que me marcaram. Lembrei de derrotas que me destruíram. E das vitórias que me fizeram nascer de novo. Durante toda a noite, um turbilhão de sentimentos rubro-negros. De histórias. De pessoas. De amigos. De AMOR. Uma hora eu chorei sozinha enquanto prendia as placas. Chorei de amor pelo Flamengo. E a chuva apertou. E as lágrimas se misturaram. Como naqueles jogos que assistimos debaixo do temporal. Sem sair do lugar. Em outros momentos, eu ria de prazer. E por um instante, ao colar uma placa, gritei…É gol! Gol! Gol porra! E voltei a chorar. Conversei com meu pai no céu rubro-negro. Expliquei que estava ali por amor. Um amor dele. Que era meu. E de todos que estavam ali. E de milhões.
Avançamos na madrugada. De repente, três da manhã. Fazer amor com o Flamengo faz a gente esquecer do tempo. Mas, nessa hora, eu já estava entregando os pontos. E comecei a me achar ultrapassada demais para aquilo. Prendia uma placa e repetia: “o que estou fazendo aqui?”. Era nesse momento que a força da arquibancada me refazia,como em todas outras vezes, tantos jogos. Prendia mais uma placa, e dizia, “nossa, estou muito bem”, “estou em forma”, “são três da manhã e estou aqui, de pé, firme, cantando o hino do Flamengo”, “sou uma garota”, quando de repente, ouço o grito ecoando do anel superior: “Tia, tia, me arruma mais fita?” PUTAQUEPARIU. Tenho vontade de jogar aquela merda de rolo na cabeça dele. Sexo animal com o Flamengo. Quero dar na cara dele. E lá vou eu de novo, “o que estou fazendo aqui?”, até olhar para o lado e ver aquele povo lutando contra o sono, o cansaço, gente que deixou família em casa, filhos, esposas, maridos, a cama quentinha, o ar-condicionado, uma boa noite de sono, para fazer amor com o Flamengo. Em grupo. Eu sabia o que estava fazendo ali. E por quem e com quem eu estava. E isso me bastava. Me preenchia.
De repente, encaro o placar e não vejo o resultado. Nem a escalação. Mas o SOL nascendo. Eu estava entregue. Recebo um olhar de cumplicidade. O amor chegou e eu não resisti. E a madrugada acalentaria a nossa paz. Fica ó brisa. Fica. O inesperado me fez uma surpresa. Volto pra casa sozinha. O trânsito intenso aquela hora da manhã me faz sair da rota. Exausta me deparo com um menino de rua com um caco de vidro na mão vindo na minha direção. Corro. Corro. Corro. Mais que a bola. Mais que os jogadores. Enfrento meus dragões. Escapo. Horas depois estou de volta ao meu ninho de amor. Quero mais. E ele não me decepciona. Convicta que o gol é o orgasmo do Futebol, agradeço ao Flamengo por meter quatro naquela noite. Começaria tudo outra vez, se preciso fosse meu amor. Foi muito bom pra mim.
Pra vocês,
Paz, Amor e Orgasmos Rubro-Negros.
PS: Te dedico, Bb.
[…] […]
Sensacional pra variar!
Lindas e belas frases!
Minha amiga, Garota, linda!
Abs e Bjks,
Leandro Q Almeida
Grande Leo, Grande Amigo!
Beijos e SRN, Vivi.
Top como sempre! Vivi nos faz viver o passado e o presente! Parabéns!!!
Ah que bacana te causar essa emoção!
Beijos e SRN, Vivi.
Maravilhoso texto Vivi !! Parabéns !!
Obrigada Querido!
Beijos e SRN, Vivi.
Sempre lindo e emocionante. Obrigado por compartilhar mais uma pérola.
Beijos
Roberto
Eu que agradeço a leitura e sua mensagem!!!
Beijos e SRN, Vivi.