Qualquer rubro-negro racional há de concordar que soberba e arrogância nunca foram o nosso forte. Nascemos humildes, naturalmente talhados para o exercício da modéstia e somos quase geneticamente incapazes de um vitupério. Mas vou pedir licença à nobre audiência pra mandar a tradição às favas. Porque na prática das sub-modalidades esportivas Chacoalhamento de Baranga e Perfuração de Canhão, modéstia e humildade à parte, somos muito sinistros!

O que demonstramos de maneira discreta e moderada na pelada amistosa da noite de quarta-feira. Mais do que um jogo de futebol, o Fla x Vices disputado em Manaus era um extraordinário desafio físico. Imagine jogar 90 minutos à temperatura de 25° Celsius e 87% de umidade relativa do ar. Pra quem tava em campo devia ser como disputar o Ironman numa sauna a vapor, coisa de maluco.

Mas é assim que se brinca de futebol nas regiões onde predomina o clima tropical úmido de monções, que é o nome científico do calor dos infernos de Manaus. Mas se o Fast e o São Raimundo são capazes de jogar naquelas longitudes o Flamengo também tem que ser. E mesmo voltando das férias, ainda com alguns atletas visivelmente na fase de queimar banhas, o Mengão entrou forte em campo. Nossos formidáveis rapazes correram, jogaram duro e teriam suado os Mantos jogando bola se já não o tivessem suado caminhando entre o vestiário e o gramado.

Por outro lado, nosso ex-rival em atividade foi uma decepção. Nunca tinha visto um vice tão café-com-leite. Se nem jogando contra nós, que somos a Nemêsis lusa e a própria razão daquele estabelecimento em São Cristovão permanecer de portas abertas, os caras mostram algum elan, alguma vontade de vencer, o que farão diante das potências futebolísticas Barra Mansa e Cabofriense no Carioqueta? Dá até pena (mentira). Diante da debilidade cruzmaltina não podemos ficar de oba-oba. Mais do que nunca, o Vasco não pode ser usado como parâmetro de nada. O Flamengo tinha obrigação mesmo de sacudir a bigoda e o 1×0 foi um placar extremamente comedido.

Pra falar a verdade mais sincera, hoje, pro torcedor rubro-negro médio, ganhar amistoso da vasca é igual a ser muito rico jogando Banco Imobiliário. Não dá vontade nem de beber o chopp do Eurico. Esses anos todos de administrações amalucadas em São Januário foram como alquimia reversa, transformaram ouro em chumbo e o finado Clássico dos Milhões hoje não passa de uma fábrica de bocejos.

Não obstante, entre um bocejo e outro, ficamos amarradões de ver Paulo Vitor fechando o arco com defesas maneiríssimas, alguns bons momentos do Marcelo, que aparentemente não veio do planeta fome e o menino Everton Bolt, roubando a bola do beque da camisa feiona e balançando a rede da bigoda no melhor estilo trombadinha da Avenida Rio Branco. Fazer gol no bacalhau com o balão roubado é, definitivamente, mais gostoso. Chora, freguês, ganhamos outra sem ajuda do juiz!

Esperamos que na decisão do Super Series contra a São Paulo o desafio técnico seja mais condizente com as nossas altíssimas aspirações para 2015 e nos permita, ao fim dos 90 minutos, fazer alguma avaliação do time que temos nas mãos com um mínimo de coerência. Porque da edição desse ano do Carioca tenho a impressão de que pouco podemos esperar em termos de competitividade. Fato que, caso se confirme meu prognóstico, só aumentará a nossa responsabilidade e o peso nas costas do elenco. Porque vai ser o Carioca mais molezinha da história e o Flamengo terá, mais do que nunca, a obrigação de passar o rodo. Vamos observar atentamente.

Mengão Sempre