Marcelo Dunlop vestiu a camisa listrada e saiu por aí.
Em vez de se fantasiar de Antonieta e dançar no Bola Preta, preferiu passear sua picardia pela Ilha do Governador, Leblon, Gávea, Lagoa, Glória, Copacabana, Recreio, Tijuca, morro da Mangueira, Buenos Aires, catedral de Puebla e o mais sagrado de todos os templos – o Maracanã –, além de algumas incursões rápidas pela Eternidade.
Malandro até não mais poder e bongando as palavras com destreza, Dunlop tem o dom de transformar em boas histórias tudo o que passa diante de seus olhos trajando vermelho e preto. Mais um produto com a grife República Paz & Amor, Crônicas Flamengas é uma bem-sucedida reunião de surpresas. (Quem mais se lembraria de uma derrota para o Paraná em 1999 por um a zero, com um dos únicos dois gols da carreira do volante Pingo?)
O livro é repleto de humor, como na entrevista em que São Judas Tadeu tira o dele da reta: “Se o treinador de goleiro não é capaz de preparar o atleta para não pular para o canto três segundos antes, não tem milagre que dê jeito.” Não há torcedora ou torcedor que não se recorde do recente período de sofrimento e ira: o padroeiro se refere à final da Copa do Brasil de 2017, perdida nos penais para o Cruzeiro. Ainda nesse quesito, outro dez, nota dez vai para a preleção bilíngue de Reinaldo Rueda antes da partida com o Club Atlético Junior, em Barranquilla, valendo vaga na decisão da Copa Sul-Americana. Desde que foi publicada no RP&A, em dezembro de 2017, devo ter lido a crônica umas oito vezes. Acabei de escrever esse parágrafo e fui ler de novo. Nove.
Há controladas doses de veneno, como no texto sobre o desempenho eleitoral do ex-presidente Bandeira de Mello, candidato derrotado a deputado federal em 2018. Há as agruras por que passava, até bem pouco tempo, o pessoal que trabalha na Ouvidoria do clube: imagine o que essa turma tinha de escutar na fase pré-Jorge Jesus. Há revelações curiosas, como a bola fora de Paulo Angioni perpetrada entre os bons bacalhaus e vinhos verdes do Adegão Português: “Podem anotar. Time que quer vencer a Copa do Brasil ou a Libertadores está fora da disputa do Brasileiro. E vice-versa”. Lascou-se.
Quer mais? Pois receba.
Tem troca de e-mails com Zico. Tem uma declaração dita diretamente a Dunlop pelo rei da prancheta, Joel Santana. Tem uma carta endereçada à rainha da Inglaterra: ela esteve no Maracanã em 1968, quando o estádio ainda era grande, para assistir a um amistoso entre a Seleção Carioca e a Seleção Paulista, e o abusado autor achou por bem convidá-la para uma revisita, a fim de viver a mística experiência produzida por nosso conjunto time e torcida. E tem a pergunta que vale 1 milhão de dólares (proibido googlar): o que é que Urubatão tem a ver com a história do Flamengo? E-mails para escribasoficial@gmail.com, aos cuidados do editor Carlos Fialho. Ele é quem banca a parada, minha comissão a gente acerta depois.
Destaques, ainda, para o sonhador capítulo com o título “Legendas que nunca li, de fotos que não existem”. Para o lirismo crítico de “O velho e o supermercado”. Para o texto em que o autor revela a bela relação que cultiva com seus heróis rubro-negros, alguns improváveis. E para a divertida crônica a respeito do soluço de José Carlos Araújo, o Garotinho que respeitamos, durante a narração de Flamengo e Athletico Paranaense.
Claro: do mesmo modo que todos os que escrevem sobre futebol, Dunlop também se estrepa. Isso acontece em seu otimismo quanto ao estilo paizão de Abel Braga (capítulo 21) e na crença de que o time do Flamengo precisaria ser montado em torno da presença de Cuéllar na meiúca – equívoco no qual todos embarcamos, e atire a primeira pedra aquele que pensava de outro jeito. Em contrapartida, é justo registrar a gloriosa premonição do autor no final da crônica “A noite dos 11 cavalos”. Não darei spoiler. Compre seu exemplar e confira.
No parágrafo de abertura do último capítulo de Festa na Favela, livro que eu e minha querida amiga Nivinha lançamos no início do ano, escrevi que o tempo me transformou num sujeito choroso e babão. Certamente não foi por isso que li o texto de encerramento de Crônicas Flamengas com os olhos inundados. Ô coisa linda!
Crônicas Flamengas diverte, informa, envolve, reclama, celebra e emociona, tanto que ninguém consegue ler uma vez só. O meu chegou em casa há menos de uma semana, e já está até gasto.
Tem refil, Dunlop?
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Crônicas Flamengas. Autor: Marcelo Dunlop. Editora: Jovens Escribas. Nº de páginas: 175. Preço: R$ 43,00. Para comprar, clique aqui.
Eu lembro do bendito jogo contra o Paraná com gol do Pingo!
por motivos de ter sido minha primeira ida ao Maracanã kk
Ih, então tu vais gostar do livro. Isso é um sinal…
Que maravilha de texto!! Este final de semana começo a leitura do meu belíssimo exemplar!!!
Obrigado, Giselle.
Posso te garantir: se você gostou da resenha, com certeza vai adorar o livro. Marcelo Dunlop é um cracaço nas crônicas e nas coisas do Flamengo.
Beijo. SRN. Paz & Amor. Se cuida.
Jorge, procurei e não encontrei a crônica do Dunlop de dezembro de 2017. Ajudaí.
Fala, Rasiko.
Clica aqui.
Abração. SRN. Paz & Amor. Se cuida.
O texto mais que incentiva a leitura do livro, é quase uma ordem de que outros venham. Assim esperamos
Fala, Mario.
Não é nada fácil, pra mim e pro meu 1,70m, ordenar alguma coisa a um cara daquele tamanho. Mas se outros livros não vierem, você puxa as orelhas dele em casa, eu puxo aqui no blog.
Você também está de parabéns. Como dizia o grande Chico Anísio, na pele do Professor Raimundo, “eu queria ter um filho assim”.
Abração. SRN. Paz & Amor. Se cuida.
Obrigado pelas palavras, Murtinho, grande bongador! Vai ter volta, se Jesus quiser.
Grande Dunlop!
Cara, não fala em volta de Jorge Jesus, pelo amor de Deus! Deixa o cara quieto onde ele está que tá bom demais.
Abração. SRN. Paz & Amor. Sucesso e se cuida.
Acho q vou dar boas risadas Marcelo. Abs e sucesso !
Fala, Junior. (Quase o chamei de Léo, mas como não tenho intimidade e cultivo o máximo respeito pelos craques que vestiram o Manto, vou de Junior mesmo.)
É uma honra ver você prestigiando nosso humilde blog. Valeu demais.
Quanto ao livro, pode apostar: além de boas risadas, você vai virar a última página com sua alma (e sua lendária pele rubro-negra) lavadas.
Abração. SRN. Paz & Amor. Se cuida.
Pela resenha já dá pra prever o sucesso do livro.
Fala, Mestre.
O livro é uma delícia e Dunlop merece.
Abração. SRN. Paz & Amor. Se cuida.
Maravilha de texto….
Fala, João.
Valeu pela força, mas você está enganado: maravilha mesmo é o livro do Dunlop.
Abração. SRN. Paz & Amor. Se cuida.
Dunlop é fera, está com a galera! Parabéns! SRN
Fala, Marcos.
Pois é, rapaz. É comprar e curtir.
Abração. SRN. Paz & Amor. Se cuida.
Acabei de receber o meu. Parabéns, Dunlop!
Agora só falta o Festa na Favela. Como faço pra comprar?
Abraço pra turma toda do RP&A.
Fala, Mauricio.
Não sei a quantas anda a reabertura de lojas e livrarias no Rio. Os lugares em que “Festa na Favela” está sendo fisicamente vendido são a Livraria da Travessa e a loja Fla Copacabana (Avenida Nossa Senhora de Copacabana, 219 C).
A Fla Copacabana não vende online, mas você pode comprar pelo telefone: (21) 2295-5057.
A Travessa faz vendas online.
É só clicar aqui.
E você também pode comprar pela Amazon.
Aqui.
Abração. SRN. Paz & Amor. Se cuida. E não esqueça: quando essa porra toda passar e tiver show aqui em São Paulo, avisa.