OK, nesta vocês não vão acreditar, e entenderei. Um tempo atrás, eu estava ali pelo Baixo Gávea, onde marcara encontro com meu guru Claudio Lampert – uma daquelas adoráveis figuras que conhecem todos os garçons do Rio pelo nome e todo poema pela página exata. Ao passar pelo Hipódromo, o Lacerda foi me puxando para dentro, com um maço de papel amarelado nas mãos.
– Meu filho, vê se me ajuda a decifrar isso, que ainda estou me recuperando da cirurgia de cataratas. Um senhor cabeludo com sotaque francês, creio que professor da PUC, esqueceu na mesa.
No topo da página puída, escrita parte em francês e parte em português, numa tentativa de tradução, lia-se o nome de Nostradamus, numa caligrafia clássica. O velho Nostra, para quem não tem intimidade, foi um similar francês do Walter Mercado (que Deus o tenha), e que por sinal aniversariava num dia 21 de dezembro. Curioso, estiquei o pescoço para fora do bar e chamei:
– Ô Lampert, se Albert Camus se fala Cami, Nostradamus é Nostradami?
Claro que fui solenemente ignorado, pois Lampert tentava, sem sucesso, fazer uma incorruptível garçonete do bar da frente aceitar sua gorjeta. Me pus então, com um pigarro teatral, a ler em voz alta o que consegui descodificar daquele papiro, enquanto o bom garçom me espiava por cima dos óculos:
“A 1001ª profecia perdida de Nostradamus
(localizada por nômades na velha biblioteca de Zubarah, norte do Catar)
Ungida por um mago vindo da Ibéria
A imensa tribo de mantas negras e vermelhas
Cruzará rios, montes e bosques
Para uma épica batalha numa cidade sem telhas.
No vilarejo onde um antigo Guerrero se intoxicou
Ao sopé de uma montanha, num areal
Na 46ª batida do sino
Hão de superar o potente rival
E a defesa amurada inimiga
Só começará a ruir se:
O mais brigão acalmar
O mais veloz recuar
O mais tímido abusar
E seu povo com energia cantar
E assim, antes de chacoalhar os bagos para o inimigo
E deixar um cruel governador prostrado
O canhoneiro de exibidos muques
Encerrará a batalha com apenas um tiro disparado
Logo que o tiro bater na relva e acertar a meta
Ateus vão orar como bispos
Criancinhas vão berrar palavrões
Pais vão chorar no colo dos filhos
E 40 milhões verão a alma sair do corpo por segundos
O triunfo histórico os levará
Para desertos e palácios no Oriente
Onde hão de escalar o monte Pahtamar
Verão miragens no caminho, virão armadilhas
E, diante dos inimigos vermelhos, há de aparecer…”
– Há de aparecer o quê, Lacerda? O que vai aparecer? Cadê o resto dessa bagaça?
– É, foi justo nessa parte que o cara deixou cair pizza e chope, rasgou. Deixa isso para lá, pelo que você leu não faz mesmo o menor sentido. Ele parecia um professor, mas tou vendo que isso foi escrito mesmo é por um maluco. Vou te trazer um chope. Falar nisso, e amanhã? Acha que o Flamengo ganha do Peñarol?
Mais do que genial! Os comentaristas bem vestidos estão em outro patamar!
SRN! Pra cima deles, Flamengo!
Extra, Extra , foi encontrado o francês cabeludo comendo peixe com açaí em uma barraca do ver-o-peso no norte do país deixando a outra parte do maço de papiro amarelado.
Sendo que imediatamente foi entregue a uma tríade de ilustres flamenguistas que são descendentes da tribo dos mantas negras e vermelhas. Mestre Moraes ” a enciclopédia viva em histórias flamengas ‘ e ao bom baiano Edvan” o escritor perito em javanês baianês de Alagoinhas” e Bill Duba” O pizzarolo vindo das terras de Cuba del norte” e diante de várias horas em uma mesa de bar tentando decodificar a profecia, claro com algumas cervas bem geladas a disposição e uma garrafa de cachaça de jambu que dizem ser alucinógena, eis que conseguiram descreve-la mais ou menos.
E, diante dos inimigos vermelhos, há de aparecer….
…. O último guerreiro da tribo dos mantas negras e vermelhas
Destinado a destronar o até então temível liverpona .
Em uma épica batalha pela conquista do mundo.
O último guerreiro urubu-rei de bago grande chamado de ” O Pica das Galáxias”
Usando um manto branco que faz o liverpona tremer ao lembrar de épocas imemoriais que perdeu seu trono para o mesmo guerreiro que estás agora em sua frente.
A profecia se cumpre com a camisa rubro-negras sendo fincada no final ao campo de batalha com o liverpona de joelho pedindo misericórdia ao urubu-rei.
Eis que ele diz: VAPO.
Como é maravilhoso ser flamenguista e saber que temos uma nação que ama o Flamengo e viaja nos sonhos mais loucos, como o Dunlop e eu,kkkjk.
In Vapo we trust!
Juro que fui no maps atrás do tal monte Pahtamar…ei, pera!
Esse Dunlop é uma figura! Não consigo parar de rir. É por essas e essas que repito meu mantra proferido pouco antes do gol de empate contra o River e que segue valendo pro Liverpool: não faz sentido o Flamengo não ser campeão – o universo é equilibrado e justo. kkk hahaha hehehe rsrsrs (não esqueço mais).
srn p&a
Sensacional, Marcelo!
“E, diante dos inimigos vermelhos, há de aparecer um singelo papiro com os dizeres:
Hoje tem gol do Gabigol!”
E que assim seja!
Fábio, o Lacerda bem que disse que um outro cliente passou na mesa antes da pizza chegar e leu a profecia até o fim. Será? SRN! ; )
Dunlop,
Tenha fė, acredite, pois assim estava escrito!
SRN
Genial!