Não. Ao contrário do que parece, o título da postagem não se refere ao personagem em primeiro plano, e sim ao que vemos desfocado, ao fundo da foto. Ninguém.
Com as palavras, Maradona, após uma partida entre Nápoli e Real Madrid, disputada com portões fechados em 1987: “Jugar sin público es jugar adentro de un cementerio.”
Aspas para outro fora de série, Eduardo Galeano: “Jugar sin hinchas es como bailar sin música.”
E, mais recentemente, o atual presidente do Grêmio, Romildo Bolzan Júnior, foi preciso a respeito do que previa para o futebol com estádios desertos: “Será triste e desestimulante, porque a torcida é parte importante do jogo. Sem ela, os jogos serão treinos que irão valer alguma coisa.”
Em 6 de abril de 2021, na primeira partida pelas quartas de final da Champions League, o atacante Phil Foden fez, aos 46 minutos do segundo tempo, o gol que deu ao Manchester City a vitória por dois a um sobre o Borussia Dortmund. Bola na rede, Foden, que sequer tinha completado 21 anos, baixou a cabeça e pôs-se a caminhar lentamente para o meio do campo, mais ou menos como se fosse da sala para a cozinha de sua casa a fim de fritar um ovo. A não vibração de Foden pra mim foi a gota d’água.
Tenho sentido um misto de inveja e admiração por quem está assistindo às partidas e enxergando acertos ou desacertos táticos, méritos ou deméritos individuais, fulano é melhor que sicrano, põe esse e barra aquele, contrata um e manda o outro embora. Fui criado no amor pelo futebol e cedo aprendi que treino é treino, jogo é jogo. Não consigo chegar a conclusão alguma vendo treinos uniformizados.
Morri de rir com os narradores e comentaristas brasileiros que elevaram o mediano time do Palmeiras – nenhum gol marcado nos dois jogos do Mundial Interclubes, nenhum gol marcado nas duas partidas decisivas do Campeonato Paulista – à potência de timaço por ter vencido o River Plate, na casa do adversário, por três a zero. Que casa, cara-pálida? Casa vazia? Sem ninguém na arquibancada empurrando o time durante os 90 minutos, como invariavelmente fazem os torcedores argentinos? Sem ninguém para fungar no cangote dos bandeirinhas ou cuspir no ponta palmeirense que se aventurasse a cobrar um escanteio? Mais: percebendo que jogar em casa deixara de ser um diferencial, o River aproveitou para fazer obras no Monumental de Núñez, e usou o estádio do Independiente. O ufanismo da nossa imprensa esportiva seria cômico se não fosse irresponsável.
Lembro que, logo que pendurou os chinelinhos e virou comentarista, Roger Flores participou da transmissão de um jogo do Flamengo e o narrador Luiz Carlos Júnior perguntou: “Você já jogou, aqui no Maracanã, pelo Flamengo e contra o Flamengo. A torcida rubro-negra realmente influencia?” Roger respondeu mais ou menos o seguinte: “Ah, sem dúvida. Quando você joga pelo Flamengo, ela apoia como nenhuma outra; quando você joga contra, ela intimida.”
Tenho a impressão de que estamos assistindo aos jogos sem levar em conta tudo o que sempre nos fez sentir um enorme orgulho da nossa torcida.
No entanto, a mesa está posta e convém que a gente se alimente com o cardápio servido. Confesso que, no início, relutei, na tola esperança de que tudo ia durar bem menos. Cheguei a pensar que era melhor deixar o futibinha pra lá, até que ele pudesse voltar como sempre foi. Não deu para esperar.
E aí entra em campo o personagem em primeiro plano na foto.
Vim do Rio para São Paulo em maio de 2005, um mês depois da conquista do título paulista pelo São Paulo F.C. Logo depois, em julho, o clube ganharia a Libertadores e, em dezembro, o Mundial Interclubes. Na sequência veio o tricampeonato brasileiro (2006/07/08). Parecia não haver limites, a ponto de os torcedores são-paulinos acreditarem em um projeto de marketing elaborado por uma das mais importantes agências de propaganda do país e que assegurava que, em cinco anos, o clube teria a maior torcida do Brasil. Ah, esses publicitários. Ô raça!
A arrogância era tanta que virou bicho e comeu o dono. E o símbolo máximo dela era o intragável Rogério Ceni. (Me recuso a escrever o apelido pelo qual era chamado por seus fãs tricolores.)
Dizer que, com o tempo, Domènec daria certo não passa de especulação. E mesmo que desse, seria quando e às custas de quantos sacodes mais? Atlético Goianiense, Independiente del Valle, São Paulo, Atlético Mineiro. Na ocasião, achei que era preciso mudar.
E aí a gente olhava para um lado, olhava para o outro, e não via muito o que fazer. Ainda mais num quadro de incompreensíveis decisões a respeito da pandemia, com o filme do país queimadaço e as consequentes dificuldades para importação de um cara batuta. Doía pensar assim, mas entre as opções locais Rogério Ceni me parecia uma das poucas possíveis.
O time vem oscilando, é fato, só que a dificuldade de Rogério se aproxima do insuperável: quando o time joga bem e ganha, é por causa do talento dos jogadores; quando o time joga mal e perde ou empata, a culpa é do técnico. Com essa má vontade, nem Coutinho. Nem Jesus.
A opção por uma formação ofensiva é elogiável e os erros da zaga podem ser entendidos como consequência disso. Prefiro jogar exposto do que não jogar o jogo. Costumamos reclamar dos zagueiros centrais quando sofremos gols em jogadas aéreas, quando o principal problema quase sempre está na origem. Outro dia o Junior Barranquilla fez um gol, em cima do Fluminense, nesse tipo de lance. Ninguém reclamou dos centrais: a bronca foi toda no lateral Calegari, que não diminuíra o espaço para o cruzamento.
Continuo a olhar em volta sem enxergar solução. E não adianta fantasiar com caras que recebem salários anuais da ordem de 5 milhões de euros. Nosso futebol é pobre e nossa cultura não aceitaria. Pep Guardiola ganha mais de 20 milhões de euros e, depois de cinco temporadas, ainda não conseguiu levar o City à sonhada conquista da Champions League. Aqui, se pagarmos a um técnico um décimo disso, vamos exigir todos os títulos, desde o sub-12 até os 60+, incluindo, óbvio, Supercopa, Recopa, Taça Guanabara, Campeonato Estadual, Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro, Libertadores e Mundial Interclubes. Isso aqui é Flamengo, tá pensando o quê?
Embora esteja longe do que gostaríamos, futebol sem torcida é o que temos. Apesar do nosso treinador não convencer nem mesmo com o difícil título brasileiro, não vejo quem possa chegar e matar a pau. Só tem tu, vai tu mesmo.
Enquanto isso, paciência, serenidade e andar com fé. Para cada displicência do Bruno Viana, um passe debochado do Arrascaeta. Para cada desatenção do Arão, uma imparável arrancada do Bruno Henrique. Para cada gol de falta que não sai, mais um pênalti do Gabriel lá dentro. E, fora das quatro linhas, para cada Heinze uma Dra. Luana.
Aos bicudos eu pergunto: tira o Rogério Ceni e traz quem cara pálida?
Lembrando, dentro do orçamento, alguém que possamos pagar.
Porque nunca um elenco do Flamengo teve tanta facilidade, pois de ganha é por causa dos craques e apesar do Rogério Ceni, se perde é só tapa no técnico. Assim papai, me dê que eu quero também.
Esmagamos o Coritiba.
Mais um do milionário elenco do Flamengo fazendo cagada, agora chegou a vez do Gabigol, parece que essa seleção de merda não é lá muito boa para o Mengão quando não voltam contundido, voltam sem vergonha na cara. Repito o que o Carlos Moraes falou em outro comentário, vade retro satanaz.
E nao é que hoje nao tem nem “tu”.
Fora de que não tem os 2 artilheiros e o Arrasca. Sei nao.
Vou assistir para ver como o “não-tem-nem-tu” vai lidar com a situação. De longe, claro, mas ele vai ter que resolver.
Mas que ninguém chore, pq disso tudo sabíamos faz tempo.
Se entrarmos em campo despreparados será nossa a culpa. E somente nossa.
O que me deixa tranquilo – Arthur Maciel – é que atras temos uma defesa segura. Pela esquerda nao entra ninguém… sei.
Mas existe pelo jeito uma pequena confusão com o Gabi. Faz tempo. Acho ele meio dificilzinho, pode até ser que seja enchedor de saco? Vamos ver.
Ah, um “dirigente” do Flamengo, o famoso e idiotissimo bap, acha que a covid é algo “natural”, que vacina nao resolve nada e que todo mundo vai pegar mesmo. Então que encham os estádios.
Se alguem me perguntasse, eu diria que o natural seria esse dai levar um chutasso na bunda gorda dele pra sair da orbita e que deveria ser o primeiro “dirigente” a pegar o vírus. A força e abaixo de muitas bofetadas .
PM – esse fdp dirige o meu clube !!!
Mengao sempre !
Vou resumir o jogo de ontem e o contexto geral das Eliminatórias.
Jogo morno, vitória justa, campanha impecável, adversários fracos.
SRN
E o tal manifesto da seleção, hein?Tão esperado. Falaram pouco, mas em compensação não disseram porra nenhuma.
Xisto e sua cômica e certeira sinceridade. Obrigado cumpadre por me fazer rir. É isso mesmo, o manifesto é a cara deste país caído em desgraça: omisso, sem caráter e repugnante.
Certa vez, um jornalista perguntou ao Sócrates quando chegou a Itália para jogar na Fiorentina:
– Quem é o italiano que mais estima, Mazzola ou Rivera?
Sócrates respondeu firme:
– Não os conheço. Estou aqui para ler Gramsci na língua original e estudar a história do movimento operário italiano.
Si non é vero, é ben trovato.
Otimo artigo do Casagrande.
Eu tb fui ingenuo.
“Confesso que fui ingênuo em acreditar que os jogadores fossem realmente tomar uma atitude histórica de empatia ao nosso povo. Foi uma demonstração de comodidade e covardia perante a tudo o que está acontecendo no país. ”
Casagrande
https://globoesporte.globo.com/blogs/de-peito-aberto-por-casagrande/post/2021/06/07/a-covardia-e-geral.ghtml
E deixem eu colocar so mais uma coisinha que me perturba:
Nao pensem – essa covardia ai de cima toda mostra bem onde estamos – que o genocida ja perdeu a eleiçao.
Nao pensem, seria um erro fatal.
casagrande calado é um poeta !
SRN !
A História repete-se sempre, pelo menos duas vezes, disse Hegel. Karl Marx acrescentou: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.
Desculpe-me, meu caro Murtinho, trazer aqui um assunto diverso dessa sua brilhante crônica.
Mas, essa Copa América me remeteu ao ano de 1970, quando João Saldanha foi demitido do comando da seleção brasileira.
O General Médici, que já andava não medindo esforços nos bastidores para derrubar o João Saldanha, em razão de um dossiê de mais de 3.000 presos políticos, com denúncia de mortes e torturas que o Saldanha distribuíra a organizações internacionais, forçou a convocação do Dadá Maraviha, como pano de fundo para a demissão do técnico.
João Saldanha resumiu sua queda da seguinte forma:
“Considero Médici o maior assassino da história do Brasil. Ele nunca tinha visto o Dario jogar. Aquilo foi uma imposição só para forçar a barra. Recusei um convite para jantar com ele em Porto Alegre. Pô, o cara matou amigos meus. Tenho um nome a zelar. Não poderia compactuar com um ser desses”.
e Arrematou:
“A pressão foi ficando insuportável. Por gente da própria CBD e da ditadura. Era difícil tolerar um cara com longa trajetória no Partido Comunista Brasileiro ganhando força, debaixo da bochecha deles”.
Passados 51 anos, vem agora o Bolsonaro agir no mesmo sentido em relação ao Tite, agora considerado um comunista nas redes sociais. Se o tal do Caboclo, um desses “cidadão de bem”, não tivesse sido afastado da direção da CBF, para se defender da acusação de assédio sexual e moral (a gravação já está disponível na internet), a partir da próxima quarta-feira, o novo técnico da seleção seria o Renato Gaúcho, um simpatizante do Bolsonarismo.
Entretanto, neste momento há muita coisa no ar além dos aviões de carreira, como disse o Barão de Itararé, ao notar o enfraquecimento do Estado Novo. Após a partida do Brasil de terça-feira, tudo pode acontecer. Vamos ver como irão se desenrolar os fatos.
Meu querido amigo Carlos Moraes, vou repetir suas palavras:
“…pessoa alguma conseguira me trazer de volta a esperança.”
“E, fora das quatro linhas, para cada Heinze uma Dra. Luana.” (Jorge Murtinho)
SRN!
Aureo, falou e disse, é isso aí, muito bem resumido. Parabéns.
Palmas de pé, gritando bravos e pedindo bis, como nos velhos tempos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
SRN
FLAMENGO SEMPRE
Domingo, oito e meia da manhã.
Nem sei o motivo de estar de pé tão cedo.
Valeu a pena. Um texto notável do Murtinho.
Notável e sereno, com análises perfeitas.
Como o nosso amigo Henrique colocou, “não vou me prolongar agora”.
Pelo contrário, tudo a respeito de futebol fica para depois.
Destaco, neste primeiro momento, a última e genial frase.
“E, fora das quatro linhas, para cada Heinze uma DRA. LUANA”
Em maiúsculas mesmo, pois, de há muito, pessoa alguma conseguira me trazer de volta a esperança.
Esperançosas SRN
FLAMENGO SEMPRE
seja bem vindo de volta …
acho até que os jogadores estão acostumados com esse vazio das arquibancadas.
SRN !
Beleza, Murtinho. Sua opina. Não concordo com algumas coisas, mas não vou me prolongar agora.
Agora so quero dizer que fico feliz com os jogadores da seleção que parecem ter a coragem de peitar varias políticos, nessa ação deles “apolítica”, como querem dizer.
Como se falava antigamente: TUDO é politico. Eles vão se dar conta disso logo, logo.
Tomara que de certo e gere uma tremenda confusão.
Ninguém quer ça melda de torneio, mas todo mundo quer seus jogadores de volta.
Força, seleção !!!
SRN
Texto fodástico, Murtinho!
Você abordou duas realidades: a falta da torcida desmotiva, mesmo o jogador se esforçando nos lances. Quando se joga bem uma partida, a ausência dos gritos de elogios parece não agir no cérebro de cada jogador. A outra realidade é a ausência da torcida não influir quando se joga “em casa” ou “fora” ; as condições são as mesmas e é nessa que nosso técnico RC tá falhando por ter um plantel poderoso e não saber aplicar técnicas e táticas. Ok! ele é um técnico estreante em equipe grande; vamos ter paciência… ora, Flamengo não é laboratório para testes de experiência. Outra coisa: ele já tem seus seis meses comandando a equipe; Flamengo já era pra estar jogando ao nível de 2019. Portanto, faço aqui minhas críticas ao técnico. Dois anos seguidos de campeonatos fáceis de ganhar e estamos patinando sempre pra seguir vencendo. É lamentável que atualmente não temos como contratar um técnico de ponta e vamos com ele mesmo. Não tem jeito…
SRN.
É, Murtinho, a coisa aqui tá preta, como diz a canção do Chico. Agora esta do Caboclo que baixou o xará, caboco mamadô, e entre uns goles de marafa e murmúrios de meu zifio, andou querendo pegar a funcionária. Tá tudo meio esquisito mesmo, manja aqueles espelhos de antigos parques de diversão que divertia a gente mostrando imagens deformadas? Pois é, agora está tudo deformado e nem precisa espelhos. O tal Caboclo ainda foi fazer discurso lá antes do jogo e estava “alterado”, esse eufemismo é empregado na mídia quando quer dizer que o cara estava de porre. Aqui entre nós, mas quem tava de porre mesmo, foi quem o colocou para presidente da CBF. Aliás, quem tava de porre também foi um certo núcleo de bovídeos que colocou um facínora para uma outra presidência de um outro país. O ministério da saúde informa: cloroquina com álcool faz mal.
Adorei o texto! Sensato Murtinho. Muito sensato. Parabéns
É meu amigo, não tem tu vai tu mesmo, a vida vai demorar mais um pouco para normalizar , acho até que não vai ser mais do mesmo, enfim, é o que temos pra hoje, futebol, politicagem e muita paciência pra aguentar os desmandos da CBF, as políticas genocidas, a manipulação da imprensa e fora outras cositas mais.
Mas não podemos parar de ver as coisas boas, as crônicas insuperáveis de nossos mestres de letras flamengas, a vacina chegando, a ciência trabalhando, os homens de bem fazendo o caminho, o tempo é inegociável, cada um com suas escolhas, a colheita é com toda certeza inevitável.
Como é ótimo ser flamenguista “Apesar de você” e saber que temos um ” Um país tropical” que ama e não desiste de lutar por esse amor ao Flamengo assim como eu e o Murtinho.