Os Flamengo x Grêmio possuem o condão de fazer de mim um patriota. Durante a peleja repouso a foice, o martelo e a rosa da Internacional Socialista com que construiremos o novo mundo e me ufano de ser brasileiro, exaltando este torrão auriverde abençoado por Deus e pelo Beato Salu.
É mais forte do que minhas convicções ideológicas, alguma coisa acontece no meu coração, que é só quando o Flamengo cruza o Mampituba em missão cívica para disciplinar os meridionais. Especialmente quando estes se assanham com a ultrajante possibilidade de surrupiar uma ou mais vagas reservadas ao futebol brasileiro na Libertadores para o apátrida futebol norte-uruguaio. Identidades regionais ainda vá lá, mas perdas internacionais jamais permitiremos.
Sempre apolítico, mas com o peito inflado com o mais sincero patriotismo e em legítima defesa dos interesses nacionais é nas coxilhas insurretas que o Flamengo atende ao clamor da pátria e não foge à luta. Por se alimentar de paz, o Flamengo gigante pela própria natureza não se aflige e corrige a próprias falhas. E sem temer a clava forte e a cara feia dos farroupilhas, faz do Grêmio a sua puta.
Não perdemos pros caras lá há quase duzentos anos, mas pra zoar os mortos de fome nem precisa se apoiar em resultados já recobertos pela pátina do tempo. Basta dizer que nos seus últimos oito jogos com o alcunhado Imortal o Impávido Gigante Flamengo venceu meia dúzia e empatou dois, fazendo 18 gols e levando apenas cinco. Imortal é o meu ovo.
Mesmo assim o Flamengo levou susto. O primeiro tempo foi de sofrimento moderado, porque o Grêmio é ruim, mas teve aquela imprecisão desenfreada que faz do Flamengo o líder da estatística no quesito perdeli goli. E, claro, tomamos um gol de um ancião no final do primeiro tempo causado pela boca-aberta da zaga. E lá foram os nossos formidáveis rapazes para o vestiário para darem um belo de um esporro no Rogério de Troia.
Dizem que não foi só o esporro. Municiado pelo seu staff com imagens ao vivo da sua batata ficando croc no assador, o treinador foi facilmente convencido a ficar na dele e a deixar os caras jogarem. Ceni ficou mesmo na dele, não pediu café, não trocou de casaco e não mexeu no time que voltou ao gramado com outro ímpeto. Em pouco tempo a gauchada estava na roda e a república continuava una e indivisível.
O primeiro gol do Flamengo foi duplamente comemorado, pelo empate, claro, e pela prova inequívoca de que o essencial Everton Ribeiro está vivo e gozando de boa saúde. A partir desse instante o jogo mudou mesmo, os gremistas caíram em si e perceberam que suas pretensões separatistas eram desconectadas do mundo fático e resignaram-se a, enfim, aceitar o resultado da Guerra Cisplatina. Enquanto isso, o Flamengo, como se estivesse despertando de um longo transe de perebice, ensaiou várias tentativas de praticar o controvertido futebol arte que tanta confusão causou na última temporada.
As jogadas até que saíam, mas na hora de arrematar era só frustração. Foi então que Gabi, o antigo Gabigol, meteu um gol de antologia pra virar o placar. O centroavante, que já tinha servido o Ribeiro na jogada do empate, recebeu uma bola ali pela meia direita do ataque e avançou com aquela ginga que os malandros têm ao caminhar. De fora da área mesmo surpreendeu a burguesia brasileira jogando a bola lá no canto esquerdo do gol, totalmente fora do alcance do goleiro dos caras.
Um golaço que fez baixar o Pai, o Filho e o Espírito Santo na nossa rapaziada. Possuídos por espíritos benignos os caras começaram a jogar como no tempo em Jesus caminhava entre nós. Durante uns breves minutos houve harmonia, paz e compreensão entre os homens. Solidária, a bola passava de pé em pé em tiki-takas bonitos, como se os jogadores se conhecessem e treinassem juntos todos os dias desde 2019.
Para explicar o terceiro gol, uma troca de passes impecável entre Gérson, Bruno Henrique e Gabriel que Arrascaeta mandou pro fundo do barbante, os católicos falariam em milagre, os espíritas em reencarnação, mas o materialismo dialético me obriga a acreditar que houve uma feliz convergência de interesses e propósitos que resultaram no bem comum. Jesus é amor.
Com 3×1 no placar relaxou-se a marcação sobre Rogério Ceni, que se aproveitou do descuido pra colocar Vitinho em campo. Que, verdade seja dita, não teve culpa do segundo gol (cagado) dos norte-uruguaios, responsabilidade única dos hipsters que bebem macchiatos em roof tops e ficam se lamentando “Ai, meu Deus, há quanto tempo não sai um gol de falta”. Parem com essa otarice, estão engendrando a peste.
Vitinho não jogou nada, mas não comprometeu, ao contrário, inclusive meteu uma bola muito boa pro Isla, que pra espanto de todos acertou uma finalização difícil e deu números definitivos à peleja. Que diante do protagonismo rubro-negro, ainda mais jogando em território hostil e sem treinador, podem ser considerados até modestos.
Foi assim, combatendo o descrédito e vencendo o pessimismo, que o Flamengo voltou a exercer o seu fascinante e hipnótico dom de iludir. A Nação inteira voltou a acreditar que o Octacampeonato Brasileiro está ao nosso alcance e mais perto do que nunca das opulentas galerias de troféus da Gávea.
Principalmente pelo singelo motivo de que o Flamengo não depende mais apenas de si mesmo. É essa certeza o que mais nos tranquiliza e provê a força necessária para as seis derradeiras batalhas de um campeonato que está durando muito mais do que deveria. Está oficialmente aberta a temporada de promessas loucas pro Flamengo ser campeão.
Pelo menos em meu coração de pessoa de bem o patriotismo está de volta. O Octa é um sonho intenso, um raio vívido. Rubro-negro é o novo auriverde. O Campeonato Brasileiro para os brasileiros. Nossa bandeira jamais será vermelha. Todos juntos vamos. Pra frente, Brasil!
Mengão Sempre
Caraca mano, que foi aquilo que eu vi ontem? Final de liberta? Tão de sacanagem. Depois os anti querem reclamar que só se fala de Flamengo. What else? como diz o meu parça George Clooney.
Acabei de assistir Santos e Palmeiras, uma coisa tenebrosa que chamaram de futebol, me deu uma angústia terrível, como o Flamengo não chegou a essa final? Como o Flamengo não superou essa mediocridade? Os dois times pareciam estar sendo treinados pelo Felipão, ou o Abel, o Braga, aliás, o que foi campeão o treinador também se chama Abel. Os meios de campo das duas equipes poderiam ir pra casa curtir o final da partida, pois a bola raramente passava por ali, senti saudades do mano a mano da infância que enquanto aguardávamos chegar gente para a pelada ficávamos chutando um para o outro gol, éramos atacante e goleiro ao mesmo tempo. Pior o papel dos comentaristas e narradores, ficaram maquiando a partida como se fosse uma dessas boazudas holofotizadas pegando mão pesada no photoshop, usando eufemismos, os mais gastos lugares-comuns pra enganar os espectadores, uns cretinos, jornalista não foi feito pra informar? Por que não disseram logo que esse jogo está uma merda, só tem pereba em campo. Dá impressão que eu estou numa de raposa e a uva, talvez até esteja, mas não perdi totalmente a lucidez. O horror!o horror! do Conrad. Perdoem o leite derramado, mas a bem da verdade, o Flamengo pode jogar mal como tem feito ultimamente, mas mesmo perdendo para os medíocres que pululam por aí tem um certo requinte, a gente não vê as barbaridades que eu acabei de ver. Conclusão óbvia: o Flamengo perdeu para ele mesmo.
Verdade!
Tb acho que o Fla não tem adversário.
Ele joga contra o desempenho dele próprio.
Dessa forma, se repetir o 2º tempo do jogo contra o Grêmio, seremos campeões.
Fato é que o Palmeiras pode até ganhar mais que o Flamengo em termos de títulos.
Mas mesmo assim, já considero o Flamengo maior. E isso não é clubismo. Porque o Fla de 2019 foi um cometa. Jogou demais, encantou. Algo que o Palmeiras jamais fez.
Enfim, tenho certeza de que todos os clubes invejaram o Fla de 2019. Nenhum viveu recentemente algo parecido. O Flamengo de 2019 só é comparável ao Santos do Neymar e aí Corinthians campeão do mundo nesta década que se encerra com o título do Palmeiras.
Falar em Flamengo, que axilas, meu Deus!
Nós fomos salvos pelo gongo, Ceni, o chato, estava doido pra mexer no que estava dando certo, um pouco antes do gol do ER acontecer ele parecia inquieto, suarento esfregava as mãos na calça e mandou o Pedro e um outro la se aquecer, claro, ia tirar o Gabi, ou lá que porra ele quer ser chamado. Essa atração pelo Vitinho é uma questão de homossexualismo latente, como se dizia antigamente em português castiço(epa!) parece coisa de viado.E é, como acaba de dizer a Carol Solberg. Agora a indefectível perguntinha que não quer calar: o time que venceu o Gaymio pode vencer o xiporte?
Eu comecei a acreditar que talvez seja possível. Mas aí, me pergunto: o que aconteceria com o Ceni se o título viesse? Seria sonhar demais um Flamengo campeão e sem o Ceni treinador?
Eu tava aqui fazendo as minhas contas e eu vi que com o dinheiro que eu tenho dá pra viver sem trabalhar até eu morrer.
E aí eu vi que eu tenho que morrer é hoje.
Certa vez, mandei um cavalo de corridas para o Hipódromo de Campos ao cuidados de um treinador chamado Silvio Cruz, já falecido.
Passadas algumas semanas, Silvio me ligou dizendo:
– Doutor, o cavalo está tinindo, na ponta dos cascos. Corre amanhã. É barbada.
Joguei umas pratas no bicho e fui assistir à carreira. Chegou em último.
Foi aí então que eu perguntei ao Sílvio:
– o que houve?
Resposta:
Não sei. Só perguntando ao cavalo.
Após duas semanas, o cavalo venceu o páreo disparado por vários corpos.
Esse time do Flamengo comparo ao meu cavalo de corrida. Não dá para confiar. É uma no cravo e outra na ferradura. É como a mulher infiel que jura fidelidade. Se perder ou empatar com o Sport na segunda-feira não será surpresa para mim, quando cantarei:
“E agora, desfeita a farsa,
só me resta esquecer.
Mentiras que calam na alma,
fazendo sofrer.
Rasguei suas cartas,
queimei suas recordações.
Mentiras. Cansei de ilusões.” (Tito Madi)
À la Carlos Moraes, sonoras Saudações Rubro-Negras.
Em tempo: como sempre, magnífica a sua crônica meu caro Arthur.
Questo fiore del partigiano
O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao
Questo fiore del partigiano
Morto per la libertà
“Everton Ribeiro está vivo e gozando de boa saúde” kkkkkkkk…essa foi foda!! Ôôô MENGÃO!!! Pára de me iludir. Lá vamos nós de novo.
KKKK, muito bom o escrito, e gostei de constatar que vc tb acredita no campeonato!
O Cenil tentou cagar a vitoria no ultimo momento colocando em campo os piores do banco (fora o Pedro , que nao deveria ter entrado nunca a essa altura do jogo) – mas nem isso conseguiu. Ele nao consegue mesmo nada.
Experiencia nova minha com esse tecnico: o medo, o pavor, o horror (the horror …) quando ele decide fazer troca.
Ele é capaz de tirar o goleiro e colocar o Michael na zaga.
Quem sera que o cara vai tirar? Deixa eu ver quem esta melhorzinho – sim, la vem a placa, é esse que sai…
Nao vejo a hora desse senhor ir pro tricolor, phudê com eles longe da gente.
Enfim um segundo tempo bom, em termos de resultado e gols, até otimo. Vamos ver se os senhores jogadores vao conseguir seguir o caminho apontado por eles mesmo.
Agora, o idoso é uma piada de mal gosto. O gol veio de novo do lado dele, ele assistindo.
Teve até uma cena antologica: O GH (sim, o GH !!!) teve que mostrar, correndo pra tras, quem o idoso deveria marcar, aquele que estava (como sempre) em suas costas, livre, livre. Depois dessa, o vexame deveria ser tao grande que ele deveria se retirar, antes que o tirem do campo numa cadeira de rodas empurrada por enfermeiras.
E como o ER esta melhorando e vimos (até que enfim!) de novo o que sabe – melhor nao vender. (Senao entra o Vitinho!!!)
Que os arabes duros (!!!) procurem em outras bandas jogador barato. Nao foram eles, alias, que demoraram anos a pagar a ultima parcela de um jogador transferido? Que cavem procurando mais um poço de petroleo, os trouxas du karai. E outra coisa – pensa num lugar chatissimo para viver!
Esperando pelo tropeço dos outros, umzinho basta – SRN alegres.
Esse é o meu xará! O cara manda bem demais, me faz rir o tempo todo, dá aula de história e ainda ilustra com umas mina que vou te contar.
Texto que começa com Eva Green tinha que ser fantástico.
Sinto-me compelido a comentar só pra dizer que concordo. Ao contrário da porcaiada paulista, a Eva é Green mas é ótima…
Porra Arthur, essa crônica é gêmea do ER, miteira pra caceta!
Porra tu tava inspirado
Foda esse texto