O rubro-negro ficou triste e decepcionado com a eliminação da Libertadores, em pleno Maracanã, daquele Flamengo, que segundo o pensamento de nove entre dez gato-mestres juramentados, tinha tudo para ser hegemônico no continente por pelo menos umas três temporadas. Mas entre 40 milhões de bem vestidos ninguém foi pego de surpresa, à nossa décima quarta melancólica despedida da Libertadores faltou o componente indispensável às nossas tantas tragédias, a certeza inocente na vitória flamenga. Já fazia tempo que o barco rubro-negro fazia água e até os menos perspicazes já sentiam os pés molhados desde a temerária volta do futebol, ainda na primeira temporada da pandemia.
O que se viu em campo na lamentável noite de terça-feira foi o reflexo de uma longa cadeia de decisões equivocadas da diretoria. Equívocos que vinham se acumulando desde janeiro de 2019, mas sempre obliterados pelos resultado obtidos em campo. Assim como a bola não entra, Everton Ribeiro e Arrascaeta não vão pro banco, enquanto Vitinho fica no jogo, por acaso.
O memorável, e hoje comprovadamente fora da curva, 2019 ensinou às massas rubro-negras o que 1981 já tinha ensinado, mas o Flamengo tinha esquecido por 38 anos. Que pra ganhar Libertadores tem que se ter o melhor time, o melhor esquema tático, a melhor torcida e mais vontade de vencer que todos os outros. O Flamengo em 2020, por motivos muito alheios à nossa própria vontade, não teve nada disso.
A torcida do Flamengo mantém o saudável hábito de querer ganhar tudo, que é anterior a 2019. Mas os seus padrões de qualidade e exigência se modificaram, se elevaram. Mesmo querendo ganhar tudo o torcedor tinha plena consciência de que o futebol apresentado pelo Flamengo em 2020 não era digno de figurar nas quartas da Libertadores. Os mais assanhados não se furtaram ao exercício ilegal da futurologia e no fim do jogo desligaram a TV até tranquilos com a desclassificação vinda após dois empates com o limitado Racing. Certos que o Flamengo escapara de inevitáveis vexames maiores em fases subsequentes da competição.
Se os assanhados estavam certos nunca saberemos. O que hoje é de conhecimento geral é a incapacidade de brilhar em campo que o Flamengo demonstrou desde a saída de Jorge Jesus do comando. Os desdobramentos da sua traumática saída, cuja motivação ainda é uma incógnita, expuseram a fragilidade do planejamento, da estrutura e da suposta excelência na gestão que deveria sustentar o sucesso esportivo do Flamengo por séculos e séculos. Por trás da fachada bonita estava tudo colado com cuspe. É nesse ponto que personagens como Landim, BAP e Marcos Braz, se encontram com o historiador inglês Edward Gibbon (1737-1794).
Em sua monumental História do Declínio e Queda do Império Romano, Gibbon apresentou, à socapa, uma tese ousada. Para Gibbon, o que erodiu lentamente e acabou por dizimar o Império fundado por Augusto em 27 A.C. não foi a decadência moral do patriciado, nem as migrações das tribos germânicas ou as invasões bárbaras. Quem botou abaixo o barraco do Império Romano, o corroendo por dentro, foi Jesus.
A passagem de Jesus pelo clube, que se originou de uma série de acontecimentos aleatórios e venturosos, mostrou ao mundo todo, principalmente à sua porção bem vestida, que o Flamengo não só poderia voltar a conquistar o mundo, como já tinha encapsulado em seu código genético todo o necessário para a realização da façanha. Ainda que reconhecido internamente como o catalisador de um Flamengo de sonho, Jesus partiu deixando poucas sementes e nem um jardineiro para cultiva-las.
A autossuficiência, a confiança injustificada em seus próprios talentos e uma indisfarçada arrogância de quem confundiu sorte com genialidade foram os venenos com que a diretoria, por livre e espontânea vontade, resolveu se intoxicar. Os mesmos caras que em janeiro de 2019 escolheram Abel Braga para comandar o futebol do Flamengo tiveram que agir com rapidez para garantir a continuidade da supremacia rubro-negra. E falharam clamorosamente.
Talvez ainda dê pra salvar um pedaço do horrível ano e levar mais um Brasileiro pra Gávea. Impossível não é, mas já não depende apenas do Flamengo. Se o Flamengo será capaz de voltar a vencer desfalcado do seu jogador principal, a torcida, ainda é um mistério. Enquanto aguardamos a resposta para essa gravíssima questão tratemos de nos salvar e torcer para a rápida chegada de uma vacina. Só quando pudermos estar novamente ao lado do time, com a Fla-Mureta bufando no cangote do treinador, ela poderá ser respondida.
E vamo devagar com essa parada de barca. O Papa Francisco I, que é do San Lorenzo, mas apesar disso é muito gente boa, em sua encíclica Fratelli Tutti – Sobre a fraternidade a amizade social”, de 4 de outubro, foi definitivo: “Salvamos todos ou não se salva ninguém”.
Mengão Sempre
Touche. Great arguments. Keep up the good effort.| Shara Gianni Jillian
depois desse jogo contra o Bahia,tem que ter um novo post…
SRN !
Aquele linkzinho maroto pra um rubro negro saudável e que anda no sapatinho poder assistir ao jogo na responsa e na humildade por morar no exterior e ter voltado ontem ao Brasil sem ter um tv por assinatura disponível? Gratidão tão eterna quando 23/11/3019.
SRNs!
A SUDERJ informa, …
escalação do Clube de Regatas Flamengo: Isla, Rodrigo Caio, Natan e Filipe Luís; João Gomes, Gérson, Everton Ribeiro, De Arrascaeta, Gabigol e Bruno Henrique
Técnico: Cavalo de Tróia do Tietê
escalação do Santos Futebol Clube: qqq, www, eee, rrr, ttt, yyy, uuu, iii, ooo, ppp, aaa e FRANGO AVES
Técnico: Kuka
Ao receber a escalação, o Garoto do Placar pensou, coçou a cabeça e ajustou-o para…
Flamengo -1 X 0 Santos
Xará, arranja aí uma ilustração da Charlize Teron, é linda demais. Já viu Uma saída de mestre? Tô babando até agora. Valeu antecipado.
Arthur e suas analogias geniais. Jesus nos salvou e sua saída deixou um vazio impreenchível. Perfeito
SRN
Apoio, mas dos primeios filmes.
Fui sacanear o vizinho bo(s)tafoguense e recebi uma notificação do IBAMA (agora é ICMBio) dizendo que não pode estressar o cara porque ele é uma espécie ameaçada de extinção, tem que preservar antes que acabe de vez. Parece que o problema é que, pela avançada idade da maioria, eles não se reproduzem mais, vai saber se é fato ou fake…
Tive que respeitar, fazer o quê? Eu respeito a vida…