Nunca tive a real dimensão do significado desse verso: “eu teria um desgosto profundo se faltasse o Flamengo no mundo.” Nunca. Na minha vida, na minha história, nas minhas amizades, nos meus amores, nunca faltou Flamengo. Graças a Deus, a Zico, ao meu velho pai. Ao Mister, ao Gabigol, ao Bruno Henrique, ao Arrascaeta. Por isso, como nos versos do Vinícius, se o Flamengo quiser voltar, me questiono: que terei eu para lhe contar? A primeira coisa a dizer: todos os abraços de gol serão dados como comemoração de título de Libertadores. Amigo. Desconhecido. Anônimos. Quero apertar a mão de uma Nação e gritar junto: “Ei Covid, vai tomar no cu. Quem manda nessa porra é a torcida do urubu.” Ficar em casa é passar as tardes de domingo no Maracanã. A vasco coisa: quem tem um amigo rubro-negro, tem um tesouro. Uma amiga também.

Sandro sempre me chamou assim: Amiga Vivi. Com o adjetivo na frente do meu nome: AMIGA. Uma amizade que começou no meio de uma disputa eleitoral do Flamengo. Nos bastidores da política rubro-negra. Polarizada. Dividida. Muitas vezes, cruel. Do meio disso tudo surgiram sonhos, planos, memórias, festas, encontros, derrotas, títulos, luta. Os rubro-negros se reconhecem, em qualquer lugar do mundo, em qualquer etapa da vida. Diante de uma pandemia. Já choramos junto. Já rimos demais. Lembro de quando ele levou o Monarco na Gávea. Eu não cabia de tanta felicidade de ver minhas paixões juntas. E ele com aquele sorrisinho de “Tá feliz, né, amiga Vivi…” E quantas vezes discordamos,  eu gritei, bati no peito, subi o tom, e ele calmo, paciente, amoroso. Como tem que ser com quem se ama. E se ama pelo Flamengo. Desde que ele foi pro CTI tenho tido conversas imaginárias com o AMIGO SANDRO. Revivo nossos papos no Vaca Atolada, com as bençãos do Cláudio Cruz, as histórias do Túlio e do Gorô, e meus socos na mesa. A gente se sentia como na mesa da Colombo: os novos Dragões. Revivo os times que nos viraram do avesso, as lutas que travamos, e os jogos que mudaram nossas vidas para sempre. As tristezas e as alegrias das noites perdidas, e ganhas, pelo Flamengo. Ao lado dele, revivo o Maraca, no meio da Organizada: “Canta, Porra! Não para não.”

Escrevo para quando o Sandro acordar. Quero contar pra ele que o desgosto profundo existe sim, mas que vai passar. Ele que tanto valoriza nossa história, nossos ídolos, nossos heróis, vai adorar escutar a do pai do Maneco,  um médico renomado, que passou a vida amando tanto o Mais Querido que no seu velório teve um bandeira estendida, e um desconhecido passando diante da capela, perguntou: “Era algum jogador do Flamengo?” A glória eterna. Mais uma. Escrevo para te contar que ainda tem muita homenagem para fazer, tem as meninas da Clínica de futebol para valorizar, tem nossos ídolos para celebrar, tem show histórico para realizar. Escrevo para te dizer que sou grata ao Flamengo por ter conhecido você, por dividir empada de queijo no bar da piscina comigo. Por aturar minhas críticas, meus questionamentos, minhas dúvidas. Se o Flamengo quiser voltar, que terei eu para lhe contar? Que sou grata por amar e ser amada pelo Mais Querido através da amizade de um Sandro Rilho. Mas se o Flamengo insistir, mas se ele voltar, aqui estou eu a esperar. 

Pra vocês,

Paz, Amor e Fiquem em Casa.