Pouca gente lembra disso, mas o Richard Feynman, Nobel de Física em 1965 pelo seu trabalho de vanguarda em eletrodinâmica quântica, morou em Copa e trabalhou na Urca. O gringo sabia chegar, em pouco tempo descobriu as rodas de samba no Morro dos Cabritos e o futebol nas areias da Princesinha do Mar. Como se revelou pereba voltou sua atenção pro samba e até tocou frigideira no Farsantes de Copacabana, um bloco que nos anos 50 desfilava pela Avenida Atlântica nos domingos de Carnaval.
Antes de vir pro Brasil, quando ainda era um frango de 22 anos, esse malandro apresentou a sua tese de doutorado em Princeton. A tese, O Princípio da Menor Ação na Mecânica Quântica, tinha uma sacada genial — Feynman afirmou, e apresentou equações sinistras para sustentar a afirmação, que os fenômenos, todos e qualquer um deles, são influenciados 50% pelo futuro e 50% pelo passado.
Podemos simplificar esse sofisticado conceito usando uma linguagem bem mais pedestre: Nada é o que é. Tudo é metade o que já foi e metade o que ainda será. Sei que ficou parecendo música do Lulu. Me dá um beijo então, aperta a minha mão. Tolice é viver a vida sem saber que, ao contrário do que se pensava desde os tempos de Demócrito, os minúsculos átomos são constituídos de imensos espaços vazios. A maior parte das coisas é feita de nada.
Foi mal aí a nerdice, mas era importante pedir essa ajuda quântica (referente aos quantos, os saltos dados por certas partículas subatômicas ao emitir ou absorver radiação) para dar maior credibilidade ao que tenho a dizer sobre o Santos x Flamengo que encerrou o Brasileiro de 2019.
Analisar o semi-amistoso-saideira disputado na Vila Belmiro valendo-se unicamente da observação do que aconteceu dentro de campo naquela janela de 90 minutos de bola rolando que se abriu às 16 horas de domingo e desconsiderar, tanto o futebol que o Mengão jogou nos 3.330 minutos anteriores na competição, quanto os 180 minutos que julga-se ainda ter a jogar no Mundial no Catar, não passa de manipulação muquirana de informação e anticientificismo.
Quem joga bola pelo prazer reptiliano de se divertir e queimar as banhas somos nós, os peladeiros. Jogadores profissionais podem até amar o que fazem, mas é o trabalho deles. Ninguém corre ou mete o pé em bolas divididas arriscando sua integridade física se não houver um propósito, uma meta a ser alcançada. Nem precisamos falar que o Flamengo já não tinha nada a esperar do Brasileiro desde que o porco peidou em casa pro Grêmio no mês passado.
Desde aquele então tudo que poderia se exigir dos jogos em que o Flamengo Heptacampeão — Chupa, Sport! — teria que cumprir tabela no Brasileiro é que nenhum jogador se machucasse, que ninguém trouxesse Itaipava ou Schin e que não deixassem o carvão apagar e nem a picanha (R$ 48,98/kg no Guanabara) esturricar na churrasqueira.
Se o Flamengo estava oficialmente de pomba rolou desde 24 de novembro e levou seus craques para Santos apenas para satisfazer aos desalmados patrocinadores e à insaciável torcida rubro-negra, os jogadores e o treinador do Santos encaravam o compromisso meio sem sal da 38ª rodada como a sua última chance de caitituar seus talentos diante do grande contratador Flamengo, apontado em pesquisa da Forbes feita junto a profissionais do segmento futebol, o melhor lugar para se trabalhar no Brasil.
Os nossos craques, bem vestidos à beça, estavam muito preocupados era com as inúmeras festividades marcadas pro dia seguinte, onde teriam que receber prêmios, bolas de ouro, chuteiras de platina e os demais espólios destinados àqueles que ganham a porra toda. Quem já teve a oportunidade de se dedicar seriamente ao lazer sabe que é uma atividade que demanda preparação e cuidados. Já os caras do Santos, avoaram no jogo.
Entraram em campo no créu velocidade 5, encarando aquele joguinho mixo que nada valia como se fosse uma prospecção de um grande negócio ou uma entrevista de emprego. Como culpa-los? A boca do Santos vai à falência no ano que vem, e não tem mais nenhum Bruno Henrique ou Gabigol pra eles nos venderem. Que se lasquem. Correram pra caramba pra garantir a honra dúbia de serem nossos BI-Vices no Brasileiro.
Admito que o Santos foi bem no jogo, muito bem mesmo. Tão bem que era só ganhar do Flamengo mais umas seis vezes que podia até ser campeão. Mas teria que ganhar as seis seguidas, se ganhasse só cinco o Flamengo era Hepta do mesmo jeito. Agora senta lá, Cláudia. Presta atenção: não se pode usar o resultado anômalo de uma partida festiva para traçar previsões de um passado alternativo que nunca aconteceu. Agora bate palma aí pra noisx.
O jogo, exatamente como disse em Princeton o ritmista do Farsantes, Feynman, foi influenciado em 50% pelo que o Flamengo e o Santos fizeram no passado. Onde o Mengão abriu uma pornográfica vantagem de 16 pontos pros praianos e 49 gols de saldo. E 50% pelo que o Flamengo e o Santos fariam no futuro próximo, i.e., o Flamengo indo disputar o título de Campeão do Mundo e o Santos ficando em casa vendo tudo pela televisão. Por isso que ao fim do jogo o time do Flamengo tomou a única atitude aceitável para quem tem o mínimo de vergonha na cara: aplaudiu a torcida e comemorou no relvado santista, nosso mais novo salão de festas, a conquista maiúscula do Heptacampeonato Brasileiro.
Não dá pra comparar esse churrasco de fim de ano, sem qualquer objetivo prático que não o congraçamento da rapaziada, com a campanha irretocável e sem jaça que ali se encerrava. Todo mundo deve ter percebido que nem o Míster ficou puto com o resultado. E se Jesus, que é sempre pelo certo, não ficou puto, quem sou eu pra tumultuar o ambiente em dia de festa? Confessar um negócio aqui, nem sei mais como é que se deve reagir após derrotas. O Flamengo em 2019 me fez esquecer o que é isso. Não tenho mais nada dizer sobre a partida.
O que não podemos deixar de fazer é exaltar as façanhas e proezas realizadas pelo Flamengo em sua campanha histórica que pulverizou os recordes de antanho e estabeleceu parâmetros de comparação tão altos que durante muitos e muitos anos não será possível deixar de citar Diego Alves, Rafinha, Rodrigo Caio, Marí, Gerson, Arrascaeta, Vitinho e até Rodinei, entre outros, quando se cotejarem números e performances em futuras edições do Brasileiro.
E nem precisamos falar de Jesus, que comprovou, até para o mais empedernido dos ateus, que é mesmo o caminho, a verdade e a vida (João 14:6). Em menos de seis meses o português fez mais pelo futebol brasileiro do que todos os nossos cartolas reunidos em festim fizeram em 105 anos desde que fundaram a Federação Brasileira de Sports, em 1914.
Jesus, com sua implacável ética de trabalho e sua obsessão pela vitória, está reensinando a todos nós do que se constitui a essência do futebol. Que pouco mudou desde os tempos em que Conan ainda estava na Ciméria: Matar seus inimigos, esmagar seus crânios e ouvir suas viúvas chorarem. Isso que é bonito no futebol. Sejamos gratos ao Míster por nos mostrar como resgatar esses valores que andavam obliterados pelo resultadismo que assolou nosso futebol desde que o gol passou a ser considerado um detalhe. Quem sabe agora o Brasil sai desse transe macabro?
Claro que foi importante que o Brasileiro terminasse da forma mais bonita, sustentável e justa possível. Foi a 50ª vez que o Flamengo o disputou e como sempre a torcida foi determinante para o seu sucesso. A Magnética, força telúrica que bota o Flamengo pra frente fazendo as guitarras trabalharem imprimindo o tutu que sustenta nossos luxos e extravagâncias, só precisou ficar um ano falando Rumo ao BI. Nenhum ano falando Rumo ao TRI. Teve ficar 4 anos gritando Rumo ao TETRA, mais cinco berrando Rumo ao Penta, dezessete anos esbravejando Rumoal Equiça e mais dez vibrando o mantra Rumo ao Hepta. We got it!
Mas assim como o time, a torcida também precisa de motivação, de metas e objetivos para alcançar. A partir de agora a nossa luta, o nosso Santo Graal, é o Octacampeonato Brasileiro. Laurel ao qual o Flamengo, se não deixarem a entropia esculhambar o que está funcionando tão direitinho, provavelmente estará sendo comemorado em, no máximo, 12 meses corridos. Anotem em suas agendas e podem me cobrar na época. Deus Vult!
Agora vamos mudar o disco, o Brasileiro foi pro ovo, é tudo nosso, nada deles. Temos um Mundial para conquistar lá no areal catari. Felizmente contra um freguês tradicional e acostumado a levar ferro quando cruza os bigodes com o Flamengo Destruidor de Mitos. Conquista que será um fecho perfeito, adequado e merecido para o Ano Mágico de 2019. Um ano que, a exemplo de 1981, não vai acabar nunca.
Lembram das minhas expectativas, que fugiram da minha casa viradas no Jiraya logo depois da nossa estreia contra o Cruzeiro? Voltaram ontem, chapadonas da qebradeira. Os seis meses de rolé na pista fizeram muito bem à elas. Estão parrudonas, espertas, de bom humor e com um apetite insaciável. Nem parecem aquelas expectativas macambúzias uivando baixinho por causa de Carioquetas e Copas Mickey.
Pelas reclamações que recebi da vizinhança durante o período em que estiveram vivendo a vida loka, as minhas expectativas são muito brabas e tocaram o terror por onde passaram. Justificadamente, eu diria. Claro que fiquei feliz com a volta delas, mas confesso que tô com um pouquinho de medo dos monstros que elas se tornaram. Não sei se o Mundo será suficiente para que elas sosseguem. Desconfio que não.
Mengão Sempre
Pra quem não viu a festa da Fla-Londres. Tem flamenguista na porra do mundo todo.
https://www.youtube.com/watch?v=VeDNsGfzv8M
O lateral é o coitado que mais corre numa peleja.
Filipe Luis, depois da cirurgia no joelho, só tem entrado em campo para entregar o ouro ao bandido, erodindo rapidamente a imagem formada.
Enquanto não transmuta-se em técnico, na vaga do mister, deve ser deslocado para a meia, substituindo Arrasca, que também não aguenta jogar uma partida inteira em alto nível.
Deixa Renê (o maior pulmão da Gávea) marcar, enquanto Filipe fica a armar, ora pois pois !!..