O futebol vibrante, ofensivo e fominha que o Flamengo está jogando não está fazendo bem apenas aos sentidos e emoções de 40 milhões de declarados torcedores rubro-negros. O futebol do Flamengo está fazendo bem a todo o futebol brasileiro. Ao estabelecer novos padrões de aplicação tática, eficiência e estética o Flamengo aponta a direção a ser seguida pelo futebol de todo o país. Se hoje existe alguma certeza no Brasil é que depois desse vento Flamengo varrer o país nada será como antes.
Aproveitemos o breve período em que ainda é possível dizer que o Flamengo não ganhou nada em campo para prestar atenção em tudo que o Flamengo vem realizando do lado de fora dele. Não como um time de futebol, não como objeto de devoção ou doutrina, mas como um extraordinário, um grandioso educador. Que através de posturas, ações e exemplos, e não de discursos ou apostilas, tem dividido a pérola do conhecimento com as massas da Nação.
Desde 2013 o Flamengo tem ministrado as mais impactantes lições sobre higiene financeira. A metamorfose do Flamengo, que em apenas meia dúzia de longuíssimos e intermináveis anos evoluiu de fudido e mal pago para rico e solvente, fez mais para a divulgação dos benefícios da retidão fiscal, e da obrigatoriedade de se manter as despesas menores que as receitas, do que todos os ministros da fazenda, economistas e comentaristas econômicos reunidos fizeram nos últimos 50 anos.
O Flamengo ensina fazendo e, como todo grande educador, o Flamengo aprende ensinando. Quando ajustou o seu horizonte de expectativas ao vulto de seu orçamento, e aos anseios da sua torcida, o Flamengo mostrou que aprendeu a sonhar com os pés no chão. Pés que o tem levado cada vez mais longe.
Nas últimas semanas o Flamengo tem ministrado a milhões de brasileiros profundas aulas de geopolítica. A revolta no Chile não serviu apenas para tumultuar a final da Libertadores e colocar em questão o modelo liberal controlado pelos mãos-grandes, serviu para que o rubro-negro, e quando digo o rubro-negro entenda-se o brasileiro, tomasse consciência da sua condição de cidadão sul americano.
Os mais perspicazes não tiveram nenhuma dificuldade em rapidamente se enxergar como habitantes de uma terra com um imenso passivo criado desde o período colonial que jamais foi resgatado, cujas elites dirigentes insistem em copiar soluções do Velho Mundo sem medir os impactos de tais soluções sobre um continente periférico e terrivelmente desigual.
A ideia de uma final única para a Libertadores, reles macaquice da Champions League, se revelou um tremendo equívoco. A infraestrutura de transportes do continente, sua reduzida capacidade hoteleira e a proverbial inépcia da proba Conmebol criaram a absurda situação de que há 18 dias da data marcada não se soubesse onde se jogaria a final da principal competição do continente. Apenas na noite de terça-feira, 5 de novembro, bateram o martelo por Lima.
A óbvia decisão de tirar o jogo de Santiago foi covardemente protelada pelos dirigentes da Conmebol. Causando um efeito cascata de desarrumação que passou por prefeituras, secretarias de segurança, empresas aéreas, hotéis e agências de turismo que atingiu em cheio o bolso do torcedor rubro-negro. Que é quem, no fim das contas, paga por todas essas aulas gratuitas que o Flamengo vem dando aos brasileiros. A difusão do conhecimento nunca foi barata. Mas tá tudo certo, pagamos com gosto, sabemos que não é gasto, é investimento.
O rubro-negro, esse herói anônimo e bem vestido, que acreditou que seria possível fazer como os europeus e programar uma viagem internacional para torcer pelo Flamengo só se fodeu. Sofreu para conseguir ingressos, sofreu para marcar um voo, reservar um hotel, arrumar uma folga e separar uma grana para o invulgar programa de conquistar a América. O resultado das porralouquices da Conmebol é que foi no lombo do torcedor do Flamengo que o látego excruciante do livre mercado estalou.
Muitos não aguentaram tanta balbúrdia e mais valia, desistiram, vão ver o jogo pela TV mesmo e o dinheiro que não foi perdido em passagens de aviões e diárias em hotéis que nunca serão usadas vai reforçar o orçamento da cerveja. Como culpa-los? Mas muitos mais assimilaram o golpe e junto aos previdentes, os descrentes e os cínicos, que esperaram até a última hora antes de meter a mão no bolso, se preparam para a longa jornada até Lima.
Os jogadores do Flamengo são os astros. Mas os verdadeiros heróis são os torcedores. Uns vão em voos diretos, outros farão conexões complicadíssimas com longas horas de espera em aeroportos como o de Caracas, Quito, Miami ou Ciudad de Panamá, outros vão encarar os 5 dias de ônibus da morte e há até os que vão de carro, Kombi ou Uber. E muitos deles farão o longo percurso até a capital do Peru sem um puto no bolso. Não importa como, eles vão. La incertidumbre es una margarita cuyos pétalos no se terminan jamás de deshojar. — Mario Vargas Llosa
É muito difícil que o estádio escolhido, com seus 80 mil lugares, esteja tomado pelos torcedores dos times que disputarão a final. E do jeito que anda a situação econômica do brasileiro, nem que houvesse antecedência seria possível que a Nação Rubro-Negra mostrasse nas arquibancadas gringas uma fração do seu poderio populacional. Mas isso nunca foi um problema, cada um de nós que conseguir chegar lá representará milhões, geral sabe que é a maior responsa.
Não é difícil ver a beleza e o poder da nossa mística nos esforços dos rubro-negros em deslocamento pelo mundo. Que são apenas uma extensão dos deslocamentos que os rubro-negros fazem cotidianamente em nome, em favor e em benefício do Flamengo. Onde estiver, estarei não é só um pedaço do nosso Tema da Vitória, é a declaração de uma aliança, um compromisso pra sempre, é um modo de vida, a maneira rubro-negra de encarar o mundo. Mais uma lição que o Flamengo oferece ao país.
Mengão Sempre
Inspirado no meu ídolo Muhlenberg, me atrevi a também escrever uma crônica sobre a pelada de ontem e sobre esse arremedo de Botafogo que assistimos. Lá vai:
Nada sintetiza melhor o último Botafogo X Flamengo do que a imagem do Joel Carli vociferando impropérios sobre um Bruno Henrique caído na área após uma disputa de jogada. E, em seguida, simulando uma agressão para tentar forçar a expulsão do adversário.
O Botafogo encarou essa partida como uma verdadeira guerra: cedeu aos torcedores do Flamengo apenas 3 mil ingressos e tratou a partida com uma motivação extra, por ser contra seu adversário histórico e líder inconteste do Campeonato. A proposta clara era “entrar para rachar” em todo e qualquer lance do jogo, demonstrando a tal “raça” para os seus sofridos torcedores e tentando compensar o evidente desnível técnico com uma vontade extra de vencer.
Se tudo tivesse funcionado, o Botafogo arrancaria um pontinho no jogo e seus torcedores sairiam festejando. Talvez festejando mais os dois pontos retirados do Flamengo do que seu próprio ponto conquistado.
Após o jogo, Jorge Jesus demonstrou indignação com relação à postura do adversário, injustificável sobretudo em um campeonato de pontos corridos, onde todo e qualquer jogo vale os mesmos 3 pontos. E, colocando em alto risco de contusão os atletas do Flamengo, a apenas duas semanas de seu jogo mais importante dos últimos 40 anos, uma final de Libertadores.
Em resposta, Valentim, o técnico do Botafogo respondeu dizendo que “nosso time veio para jogar, fomos aguerridos, os jogadores estão de parabéns”. E ainda disse, com total despeito e falta de educação, que “Jesus devia ficar de boca calada”. O técnico ainda disse que “foi um pecado tomar o gol. A expulsão nos dificultou”. Como se a expulsão de algum dos atletas não fosse uma consequência óbvia e natural da orientação dada por ele a seu time!
Essa declaração veio de um técnico que acumula 10 derrotas nos últimos 12 jogos e que desmontou o bom esquema de jogo do técnico anterior, Eduardo Barroca, que ao invés de dar pontapés, valorizava a posse de bola, apesar da limitação técnica do elenco. Vale lembrar o excelente jogo do primeiro turno, um jogo limpo e equilibrado em que o Flamengo venceu de 3 x 2.
Essa postura do clube mostra que o Botafogo se apequenou como instituição. Ao invés de assumir e respeitar a superioridade de outros clubes – como o fez o Grêmio, de forma muito digna após os acachapantes 5 x 0 – , opta pelo caminho da mediocridade, orgulhando-se de sua falta de futebol e excesso de “vontade”, que descamba naturalmente para a violência.
É por meio dessa linha de atuação que o Botafogo está traçando seu caminho inarredável para a segunda divisão. Dessa vez, é possível que lá permaneça por vários anos, em função de seu número baixo e decrescente de torcedores, de sua dívida financeira gigantesca e da sua opção escancarada pela pequenez.
E quando os saudosistas se lembrarem dos tempos gloriosos do Fogão de Mané, Didi e Nilton Santos ou até de Mauro Galvão, Dodô e Túlio Maravilha, essa visão será inevitavelmente confrontada pela imagem de Carli, um pereba metido a xerife, um misto de Felipe Melo e Augusto Nunes, desfilando seus pontapés em um atacante “folgado” do Londrina. Para aplausos efusivos de sua reduzida torcida no Engenhão, numa terça-feira à noite
Brilhante seu texto Mullemberg!
Flamengo educador teve muito trabalho com a turma do fundão no meio de semana. Estavam boladões, distribuindo porrada, tentando intimidar.
O professor de artes deles parece que é um desses nacionalistas xenófobos tão na moda hoje em dia.
O campeonato desse ano parece uma versão tupiniquim da “Noite dos desesperados”, aquele filme com a Jane Fonda. Todo mundo dançando até não conseguir parar em pé.
Daqui pra frente nada vai ser diferente – todos os times vão dar a vida pra parar o Flamengo, não importa de que jeito, sabendo que contam com a complacência dos títeres do gaciba/cbf. Tivemos sorte de não ter nenhum jogador gravemente ferido. Mas pro azar dos anti, as deusas da justiça cósmica estão do nosso lado. Mesmo parecendo um lutador de sumô, Lincoln foi pro jogo e tirou o pão da boca tanto dos caçadores de homens (ui!) como da porcalhada consumidora de ventiladores, leques e abanadores.
srn p&a
Seus textos são foda, Arthur. SRN.
O artigo do Arthur é ótimo.
A foto da Claudinha, na frente do Deux Magots, é fantástica e traz recordações que se tornam ainda mais inesquecíveis.
Portanto, palmas, palmas de pé e gritando bis, como nos velhos tempos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Emocionadas SRN
FLAMENGO SEMPRE
PS – e ainda dizem que não há Justiça nesse nosso Brasil brasileiro. Um tanto ou quanto demorada, vá lá …
DISCORDO que a final unica tenha sido, em si, um erro. Pode-se discutir se são mais.legais dois jogos, mantendo a tradição. Mas QUEM poderia imaginar que no incensado Chile, do qual falavam maravilhas há anos, viraria essa zona?
teria sido um ERRO da Conmebol colocar na Venezuela ou Bolívia, por exemplo. No Chile, achava-se, não havia lugar mais organizado, na América do Sul.
Foi na verdade um azar da confederação.
Nunca comento em blog nenhum, mas preciso deixar registrado: você é foda. Parabéns pelos textos incríveis, que são um colírio no meio do mar de asneiras que são escritas e faladas pelos ditos “especialistas” que se multiplicam nos intermináveis blogs, colunas e mesas de debate. SRN
Que texto primoroso! Em todas as nuances, em todos os aspectos! Do social ao nosso sentimento de torcedor. Parabéns!
“… o Flamengo aprende ensinando”. Insight de sábio.
O roubo a favor do VARmeiras tem sido tão frequente que a galera até esqueceu de tecer comentários sobre mais uma antologia do Muhlenberg.
Exito muito antes de entrar nessa corrente de “cuidado com a cbf, var, esquemas de paulistas etc etc “.
Não que eu duvide disso, mas porque me faz parecer torcedor daquele time de chorão, que sempre acha que vai perder mesmo antes de jogar….
Vamos pra cima deles e, agora, “eles” são ” tudo que sobrou que não seja o FLAMENGO, todo o resto mesmo …..”
Saudações
Lances em que o VAR ou a arbitragem foram determinantes para o Palmeiras conseguir vitórias:
– possível falta contra o Vasco (+ 2 pontos)
– impedimento contra o Ceará (+ 2 pontos)
– pênalti da poça d’água contra Avaí (+ 2 pontos)
– 10 minutos de acréscimo contra a Chapecoense (no mesmo jogo expulsão questionável do simpático Gum) (+ 2 pontos)
Seriam Só do que lembro de cabeça. Certamente há mais lances.
Mesmo assim seremos campeões com sobras. Acho até melhor. Time bom ganha de juiz, de confederação, de tudo. Vergonha pra eles.
“Seriam 8 pontos a menos na tabela”, quis dizer, na frase cortada.
Ontem assisti um dos piores espetáculos da terra, o horror! o horror! como disse o personagem de Conrad, e, pra variar, o tal timeco que se diz na cola do Flamengo ganhou com gol roubado, um juiz indescritível, ladrão assumido, essa incerteza é que mata, o futebol do Flamengo está muitos furos assima do que se joga por aí e , no entanto, não ganhamos nada. Futebol é imprevisível, dizem os filósofos ( ou astrólogos metidos a filósofos) previsíveis, e eu tenho horror, o horror a esta frase, acho o que é imprevisível é um jogo, se esse porco verde tivesse vergonha nas fuças mesmo, num rasgo de humildade suína, já teria entregue o título ao Flamengo e acabaria com essa brincadeira cansativa de gato e rato, ou melhor, de gato e porco.
O CBF VAI SE FUDER O MEU FLAMENGO NÃO PRECISA DE VC.
SRN !
O mais fudido da mais valia da mão invisível imaginada pelos homens que tomam as decisões, foi a não escolha do jogo em Assunção, país vizinho aos nossos, o que facilitaria a vida das pessoas comuns que sustentam, vivem e sofrem nesse sistema. No final das contas, quanto mais sofrimento das pessoas inseridas no sistema, mais benefícios para aqueles que o administram.
Olho nos paulistas. Q esquema escancarado de apoio ao Palmeiras, para impedir que um Tsunami chamado Flamengo seja Campeao! Ontem o Vasquim, foi garfado, como o foram todos os que cruzaram com os verdes!
Melhor calçar o sapatinho no campeonato brasileiro.
A armação orquestrada coma baranga mostra que as forças das trevas andam se movimentando pelos corredores escuros do var.
Abre o olho Mengão.