Não tenho nada contra quem gosta de acordar cedo no fim de semana. Mas considero uma tremenda falta de educação fazer com que os outros acordem. É uma questão de respeito à privacidade, um direito de todos. Só que pra usufruir o direito de dormir até a hora que se quer no domingo é preciso cumprir deveres. Não todos, mas alguns. E tudo bem se você não cumpre todos eles, no Brasil os deveres e os direitos são muito parecidos com as leis, uns pegam e uns não pegam.
Desobediência civil é muito maneiro, mas tudo tem limite. Um dos deveres indribláveis do cidadão rubro-negro no pleno gozo do seu direito de ir e vir é assistir ao Mengão em tempo real, não importa como ou onde. Mesmo quando marcam seus jogos para o insalubre horário de 11 da madrugada de domingo, não interessa em que quebradeira você estava no sábado, o papo é sempre te amarei, onde estiver, estarei. Foda-se a ressaca, tem que ver o jogo!
Pra quem não se importa em tirar remela em público o mais difícil pra assistir ao Flamengo jogar com a Chape nem foi o horário impróprio. O que deu uma broxada foi a comovente incapacidade de uma partida contra o lanterna na 23ª rodada provocar o tesão necessário pra se emocionar minimamente. Mas a culpa disso são os pontos corridos, que estão para os mata-mata, me permitam uma falsa simetria vulgar, assim como o sexo tântrico está para uma foda violenta.
Sair daquela atmosfera carregada de eletricidade criada em torno da semi da Liberta há 3 dias e brotar na Arena Condá pra cumprir tabela é uma violência com o organismo de atletas e torcedores. A medicina hiperbárica já apontou há décadas os perigos relacionados à descompressão muito brusca. O mais recomendável a fazer era o Flamengo, entre o jogo de quarta e o de domingo, jogar uma partidinha do Carioca, podia até ser um clássico, antes de virar a chave da Libertadores pro Brasileiro. Domingo de manhã contra a Chape tava difícil até pros reservas brindados com mais uma chance pra mostrar seu valor se animarem.
Eu até entendo os jogadores. Os caras lá na liderança devem sofrer a síndrome dos filhos do Bill Gates. Assim como a única emoção financeira que os rebentos Gates podem passar na vida seja um dia acordarem falidos, a única emoção que os jogadores do Flamengo podem ter hoje em dia em relação ao Brasileiro, fora levantar a taça, é perder a liderança. E bastou a gorduchinha rolar pra todos terem certeza que isso não ia acontecer naquela manhã de domingo.
A cada jogo que passa a defesa dessa liderança vai ficando mais pesada. Não pelo desafio esportivo em si, mas pelo peso que as rodadas na ponta da tabela, os recordes em sequência, as artilharia e outras estatísticas do capeta que vão se empilhando sobre as costas de cada jogador. A cada rodada a responsabilidade aumenta na razão direta em que diminui a distância pro título. Se a gente aqui do lado de fora sente a pressão, imagina os caras.
O domínio do Flamengo na partida foi absoluto, mas quando se faz a conversão desse domínio para gols, que é a única unidade de medida objetiva válida no futebol, se percebe como o termo absoluto tem sido utilizado com um flagrante excesso de liberalidade. Embora durante o jogo todo a única chance que a Chape teve foi um contra ataque rápido no começo do 1º tempo que deixou um cara lá chutar com perigo, o Flamengo deu espaço para que a tragédia acontecesse. Se aquela bola entra e o Flamengo tropeçasse no lanterna não seria sequer inédito.
Chegamos na frente trezentas vezes, o time não estava com preguiça de atacar. Mas faltou aquela disposição de partir pra cima da bola como quem parte pra cima de um prato de arroz com feijão de que nos falava Neném Prancha. Jorge Jesus, que parecia ser o mais pilhado no estádio inteiro, distribuiu esporros. E percebendo uma certa nonchalance no Reinier, que andou tentando umas jogadas coreográficas que não funfaram, não quis conversa, tirou o moleque de campo e botou o Berrío. Bom, por essa reação tresloucada já se pode presumir o nível de emputecimento do português.
Jesus tava puto porque, apesar do Flamengo ter jogado bem, o jogo foi ruim. Claro que a astenia da Chape em muito contribuiu pra isso. Se eles, que estão com a corda no pescoço, não botaram sangue suficiente no jogo não seria o Flamengo, antes do almoço de domingo, que ia botar.
Era jogo pra golear, aumentar o saldo, disparar na artilharia. Mas tudo certo, é assim mesmo, campeonatos por pontos corridos se conquistam com vitórias sem graça em jogos ruins. Que valem exatamente os mesmos três pontos das vitórias em jogões. Mas futebol não é contabilidade, só tem graça, pra quem joga e pra quem assiste, quando disputado com intensidade. Se não for pra jogar o Brasileiro no modo Rumo ao Hepta é melhor o Flamengo nem jogar.
Pro Flamengo ser bom é preciso que ele seja mau. Sem dar mole e sem esquecer que na parte funda da piscina não se pode ficar de boca aberta. Só faltam 15 jogos, quem quer ser campeão, jogando ou torcendo, que arrume alguma motivação extra e muita paciência. Porque daqui pra frente é certo que vamos ter outros jogos ruins. E quem quer ver show que peça Anitta.
Mengão Sempre
Cadê seu texto sobre o patetico MG? Vitinho deu 6 pontos pro Flamengo. Se isso nao é milagre…
É isso aí, meu chapa xarolá!
Um detalhe: como temos 3 vitórias e grande saldo de gols (inclusive gols pro) a mais que o segundo colocado, podemos dizer sim que hoje faltam 12 e não 15 rodadas.
Faltam 12!!!
Grande abraço, brother!
SRN! Xarolá!
Texto muito bom, como sempre! Seria legal colocar o crédito da foto. A Anita já é milionário, mas um pouco de publicidade flamenga pode fazer ao fotógrafo.
Num Brasil em que há milhões que acreditam que a terra é plana, que o aquecimento global é invenção de comunista e que a teoria heliocêntrica de Copérnico é fake news, é natural que haja ainda quem aprove partida de futebol profissional disputada em pleno meio dia, mesmo com um sol escaldante torrando a cabeça dos caras. Sorte que as tais novas arenas não são como no passado, como no verdadeiro Maracanã, onde a arquibancada de cimento esquentava mais do que ferro elétrico.
Esse time do Flamengo vem numa tocada só, jogando dia sim, dia não, e num ritmo alucinante dentro de campo. Assim, foi mais do que natural ter dado um refresco a partir da metade do segundo tempo, no jogo de ontem contra a Chape, pois não há c* de presidente que aguente. (somente para aproveitar o refrão em moda)
Há tempos, não assistia a uma partida do Flamengo com tanta tranquilidade. Valeu como jogo-treino para a próxima quinta-feira, que, tudo levar a crer, será mais um dia de se comer uma galinha mineira assada, isso se JJ não insistir com Pires da Mota, no segundo tempo.
S. R. N.
Excelente artigo, no melhor estilo muhlenberguiano.
Nada a acrescentar.
Fiquei entalado com a pergunta do Primo Altamirando (personagem inesquecível do inesquecível Sérgio Porto, vulgo Stanislaw Ponte Preta).
Até quando os (mimados) jogadores brasileiros aguentaram os esporros do Mister (Int.)
Pela primeira vez lamento que o mais mimado de todos não tenha sido contratado.
Já imaginaram a reação do Neymar diante de um esporro semelhante ao que recebeu o Rafinha contra o Inter (Int)
Pagava uma nota pra ver.
SRN
FLAMENGO SEMPRE
Derrapei na curva.
Aguentarão.
Quem quer ver show que peça Anitta rsrsrs..
Belo texto.
SRN!
Esse horario deveria ser proibido. Os jogadores não podem tomar um senhor cafe da manhã e ainda vão pro jogo na hora do almoço de barriga vazia. Dá no que dá, todos os jogos que assisti nesse horário foram muito ruins, de dar sono, como o de ontem em que meu filho rezou para o juiz dar decrescimo
Ótimo texto, as usual. Tu é foda, Arthur. Vida longa ao cronista do Flamengão multicampeão…
Nem sei se era preciso se escornar tanto, nessa pelada, agora uma coisa parece clara, a gente só perde essa se algo fora de nossa percepção acontecer. Já que você lembrou o Neném Prancha, o Flamengo só perde se acontecer “uma catastre” e nem pensar em “arrecuar os arfes”.
Otimo e objetivo texto. Mais uma vez, show de bola.
A pergunta que me vem a mente: será que o jogador brasileiro aguenta, depois de um certo tempo, os “esporros” do Mister JJ?
Saboreei, mastiguei e digeri melhor ainda. Texto delicioso.
O Gérson Canhotinha no seu canal no YT (GENIAL!) disse que se era pro Flamengo treinar podia ter ido pra praia – de Ipanema, Leblon, sei lá. Precisava ir pra Chapecó?
“Pra quem não se importa em tirar remela em público…” – Esse cara inventa cada uma! 🙂
Quanto ao sexo tântrico ou sexo selvagem, depende de com quem, quando e aonde – e, claro, se o apetite é por uma salada ricamente sortida ou por um churrasco bem gorduroso.
Alguém precisa apresentar o Reinier ao Zico que sempre deu o sábio conselho aos mais jovens ou a quem quisesse ouvir: “O simples é o certo.” E é bom prestar atenção no Paquetá que tá fazendo merda no Milan com suas firulagens desnecessárias.
srn p&a
O povo pediu Anitta: Ei Bolsonaro, mas V T N C! Kkk
Excelente texto, só pra variar!
Se quem gosta das “músicas” da Anitta e ainda paga para ver “show” dela gostasse do governo, era pro governo parar tudo e começar do zero.
Vai ter mau gosto pra gostar de lixo assim…
Gosto não se discute. Ou vc vai querer regular o gosto dos outros?
Claro que não.
Vc por exemplo, pode gostar de fazer sexo com outros homens à vontade que eu nem ligo.
Pelo contrário, até dou apoio, afinal quanto mais rapazes que gostam de fazer amor com outros rapazes no mundo, mais mulher sobra pra mim.
Já gostar de Anitta fingindo que canta (enganando o público com playback) aquelas bostas com letras vergonhosas, é só coisa de analfabeto musical mesmo.
Por essas e outras a música brasileira tá no fundo do poço, sem perspectivas de sair dele, assim a cultura nacional como um todo, depois de décadas de ode à ignorância e à baixaria, da qual Anitta é produto.
Posso achar que Anitta é uma merda e o governo é menos pior do que seria com o poste pertencente à OrCrim do bandido condenado, ou vc vai querer regular meu gosto?
Concordo que a cultura brasileira, tendo a música como ponta-de-lança, está, e não é de agora, em queda livre de maneira assustadora e isso faz parte do plano da elite de emburrecer cada vez mais a população. Povo estúpido é mais fácil de manipular e controlar. Os exemplos recentes, desde Collor, não deixam margem à contestação e foi coroado com o Boçalnaro e seus pimpolhos. A explicação é simples e óbvia: só retardados mentais se deixam manipular pela dualidade esquerda x direita, como se houvesse alguma diferença entre seus fins que não o de atender seus interesses pessoais. E eu que, ingenuamente, cheguei a pensar que depois do Lula não poderia haver nada pior!
Quanto a gostar de fazer sexo com homem, não se preocupe, só homens inteligentes me atraem.
As duas únicas alegrias do jogo foram a confirmação da Vitória, e, por consequência, a maior delas: o estrilar do apito do árbitro encerrando o jogo.
Aos 25′ do segundo tempo vinha em mente a frase perturbadora: Acaba essa merda, juiz!
Que agonia. Jogo horroroso com personagens estranhos.
Se formos depender dos três patetas que substituíram os titulares, estamos lascados! A ruindade de Vitinho, Piris da Mota e Berrio contaminaram o restantes do time.
O menino levou um corretivo para não criar asas. Jogue o simples, moleque! Deixe de firulagem.
Outros tempos. Que assim seja!
SRN
Deixa eu anotar aqui mais um termo muhlenberguiano para o meu novo Dicionário do Rubro-Negrismo Racional “deveres indribláveis”
Na boa….Jorge jesus, implementou uma “nova” filosofia no Flamengo, se não implantou totalmente, tá chegando lá…”.ganhar, ganhar, ganhar, sem dar mole pro azar”, com um único versículo, convenceu 11 titulares, 18 reservas e os 45 milhões de torcedores (a cada semana aumenta essa conta, é muita gente pulando o muro prá ser feliz) ….e ninguém distorceu as palavras dele, diferente do homonimo que falou, falou, falou e hoje todo mundo distorceu o que foi dito, tanto que quem o segue com mais fervor são justamente os que fazem merda todo dia….Já com J.J. a balada é outra…e esta dando certo!!!!!
Excelente texto (como sempre). Permita-me fazer uma retificação. “… quem quer ver show pede Pink! SRN