O República Paz & Amor, o mais humilde satélite na órbita do Planeta Vermelho e Preto, protocolou por estes dias uma sugestão crucial para o sucesso das próximas Copas Américas, torneio que no Brasil tem penado com estádios amuados e torcidas desérticas. Segue a reprodução da carta formal:
“Hola que tal, Conmebol! Tudo arriba? Que tal en vez dessas invitaciones sin pé ni cabeza para Catar e Japón, por que nón invitar el Mengón nos próximos años? La garantia (soy yo) será de arenas apiñadas de molambos (harapos) y mucha, mucha cantoria, mosaico e autofotos de celular. La pelota ahora esta com ustedes!”
A resposta foi animadora (“Sai fuera, loco!”) e já pensamos em pleitear, junto à Fifa, uma vaga para as moças do Flamengo na Copa do Mundo feminino. Enquanto a decisão final não sai, aproveitamos o recesso e esta segunda pré-temporada rubro-negra para dar voz aos nossos ansiosos torcedores, escolhidos por nosso bravo estagiário nas ruas e estádios, aleatoriamente – a única condição era estarem trajando o Manto Sagrado. Os melhores papos gravados vão a seguir.
– Olá, o senhor costuma vir sempre aos jogos?
– Bom, acho que fui mais a jogo do Flamengo que ao banheiro fazer pipi, meu filho. Mas tou achando que a torcida do Mengo anda amolecendo. Outro dia, um amigo passou por mim na Lagoa, ali no quiosque Palafitas, e veio se consultar: “Ô Moraes, acho que não vou conseguir ir ao Uruguai ver Flamengo x Peñarol”. Já não gostei, mas perguntei o motivo, podia ser coisa séria: “É que meu filho está para nascer justamente no dia do jogo.” Se tem coisa que não tolero muito é nego que não enxerga as prioridades. “E isso é motivo para não ir?”, questionei numa boa, pegando o cabo de vassoura para dar nele. “Tu que está grávido? É tu que vai parir?”. Não, respondeu, o Nicolau tava na barriga da mãe. Tive de explicar: “Então é claro que dá. Chega pra patroa e diz: Mô, vou meio-dia pro Uruguai e volto na madrugada. Segura aí as pontas! Em todo caso vou deixar do lado da cama o serrote, alicate, agulha, linha, tudo esterilizado, dois pacotes de biscoitos, um litrão d’água e um pedaço de pão, fora as fraldas. Vejo o jogo e volto num pé só!” Como ele ainda estivesse desconfiado, emendei: “De mais a mais, se esse trombadinha for Mengo mesmo não vai fazer uma sacanagem dessas de nascer na hora do jogo né? Pode ir que vai dar tudo certo!”. Mas o papai ainda retrucou: “Olha, a patroa até que vai entender, mas e minha sogra? Vai falar um monte…” Tive de dar uma ideia sensata: “Corta a língua dela. Ou tu vai deixar a velha te esculachar por aí?”. Ele ficou de pensar, mas acabou, sabe-se lá por quê, não indo a Montevidéu. Mané, perdeu aquele 0 a 0 épico por um motivo tão simples… Ao menos agora o Zicão parece estar pelo Rio e vamos levar o bebê para ser benzido.
– Com licença, quem o senhor tanto vaia?
– Hein? Isso é meu grito de apoio, é que estádio tem que ter palavrão, né? Eu sou torcedor raiz, acostumado a ver Zico, Júnior e Nunes, e não consigo aplaudir esses manés cheios de gel. O Nunes aliás eu vaiei foi muito, viu como funcionou? Então, tem que ser na morteirada, jogador só entende a linguagem da pólvora. Eu tento curtir esse novo Maracanã aqui mas não dá, né, meu prezado. Nem soco inglês entra. No meu tempo de garoto é que era divertido, era pelada, churrasquinho, trem e estádio. Qual pelada? Ah, rapaz, a melhor era a do compadre Rato, no Cachambi, ali na praça Manet. Os malucos engordavam uma ratazana de sexta a domingo, sei lá onde arrumavam o bicho. Antes da peleja, em vez de pontapé inicial, soltavam a ratazana no campo e nego ficava chutando a bicha de um lado pro outro. Até o dia em que um levou uma lata de querosene e a ratazana flambada corria ensandecida pelo campinho. Ou seja, era um evento educativo onde aprendi muito.
– Opa, esta torcedora eu conheço. Um prazer, dona Zica! Conte um pouco da sua rotina para ver o Flamengo…
– Ah, eu moro no Complexo do Alemão, na casa mais rubro-negra da comunidade. A parede de fora é toda pintada de preto e vermelho, não tem como errar. Devo ter uns 217 Mantos Sagrados, e todos os itens da minha casa são do Flamengo, do sofá ao cachorro. Os objetos eu compro, mas só pago até cinco reais. Por 30 pratas, se forem muito bacanas eu ainda compro, o resto eu imploro até me doarem. Tem até um Cristo Redentor de Flamengo abençoando a bagunça. Você sabe que um dia foi lá um vascaíno me visitar? Pediu um copo d’água, foi ficando mais branco que nossa linda camisa reserva, e não aguentou. “Dona Zica, eu vou desmaiar, não aguento esse preto e vermelho para todo lado, a senhora me perdoe”. Eu perdoei, claro, tadinho do bichinho. Imagina se ele cai duro no meu chão? Se bem que isso é que é sonho, né? Morrer cercado de vermelho e preto para tudo que é lado. Ai, ai…
– Olha aqui, um nobre senhor com o Manto Sagrado por cima do terno! Isso é que amor… O que está achando da atuação?
– Sou Flamengo realmente há um bom tempo, jamais mentiria sobre isso nem no Senado, você sabe. Realmente é uma exibição muito equilibrada. Marcando em cima, correndo muito e movimentando-se muito bem, sempre optando pela jogada correta. Adorei mesmo esse juiz. Ando pensando em adotar nos meus tribunais no futuro esse aparelho comunicador conectado diretamente com os bandeirinhas e os procuradores do VAR que ficam na sala. Sabe se tem risco de grampo? Só leitura labial, né? Humm, acho que serve (tampando a boquinha).
– Opa, outro senhor vidrado no Mengão, esse está com uma cara de quem é louco mesmo por futebol.
– Iac, iac, iac, e olha que eu de camisa com esse tom vermelho vocês não vão ver muito não, hein! Olha só, tenho uma pergunta séria para você: se quem nasce em Pernambuco é pernambucano, quem nasce em Tilambuco é o quê? Iac, iac, quase caiu, hein! Ô Marcos Braz, que parada esse Bruno Henrique! Pena que é ponta-esquerda. Para parar esse cara só com fuzil, hein? Aliás, boa ideia, vou arrumar um pro Felipe Melo… Mas realmente é um estádio bonito, é até uma pena desperdiçar com futebol. Aqui cabe uma bela missa dos meus amigos bispos batistas, anota essa aí, assessor. Vamos dar umas voltas lá embaixo pelas instalações da arena? Com todo esse espaço, isso é capaz de humilhar o velho Estádio Nacional do Chile, no caso desse bando de congressistas e repórteres continuarem a me encher os colhões. Acabou a pergunta? Ótimo, iac, iac. É que preciso postar no Twitter um vídeo de algum professor ou jornalista para tentar arruinar a vida dele. Obrigado, viu?
Dunlop, gostei, parodiando uma peça do Millôr Fernandes: “Diálogos da mais perfeita compreensão rubro-negra.” Agora, mudando de polo, e o nosso Jesus, heim? Tanta parafernália, tanta presepada, de fosforilação já basta a nossa diretoria, o torcedor só quer que o Jesus faça nosso time jogar fubebol, só isso.
Desculpem a pressença exagerada, mas não posso deixar de registrar a máxima mais recente do filósofo Daniel.
^Se você nos vaia, está vaiando o seu País.^
Impossível algo mais profundo e verdadeiro.
A última é genial.
Como se dizia remotamente – do BALACOBACO !
SRN, bem cansadas de tanto rir.
FLAMENGO SEMPRE
Nem imagino a reação de certos coleguinhas.
Vai ferver.
kkkkkkkkkkkkkkkkk genial