A quarta-feira já começou tensa, ontem à noite, antes de dormir já tava me estressando porque fui dar uma fuçada na previsão do tempo para a noite de hoje em Quito. Doença, eu sei. Mas a previsão era de chuva, 16 graus, 78% umidade relativa do ar, vento de 13 km/h. No papel até que não parecia tão ruim, mas aí lembrei que Quito fica nas fraldas orientais do vulcão Pichincha, só à 2.850 metros de altitude.

Não é tão alto quanto os 3.735 metros de Oruro, mas é longe o bastante das amigas diatomáceas que dão expediente nos oceanos, responsáveis pela produção de 50% do oxigênio que respiramos. Mas o clima que vai fazer em Quito na hora do jogo é irrelevante, sabemos de antemão que vai ser o maior sufoco. Digo no sentido estrito do termo, vai ser difícil mesmo pra respirar.

O que não chega a ser uma desculpa para eventuais fracassos ou pipocadas do nosso Flamengo impoluto. Nem ousem meter papinho de empate é bom resultado. Se não conseguir ganhar de um time equatoriano que só ganhou uma Liberta porque deu a sorte de pegar na final os réprobos terceirenses, vai ser ruim de ganhar dos pelotudos uruguaios que já ganharam 5.

E nem pensar em meter o caô da altitude. Hoje em dia o brasileiro tá muito mais bem informado, pelo zap-zap sabe-se de tudo e ninguém mais precisa ler livros ou ir à faculdades. Essa conversinha de altitude não cola mais. A oferta de oxigênio tem diminuído em todo lugar, nos grandes centros então, tá cada vez mais difícil respirar.

Se considerar a quantidade de dióxido de carbono que o cara deixa de respirar estando no alto do morrão a altitude é até benéfica pro esportista. No Brasil de repente tá até pior. Aqui segue valendo a clássica previsão do tempo de Alberto Dines para o Jornal do Brasil em 68: “Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos.” Resolvido o problema da altitude com o nosso pequeno Ato Institucional de canetada, a parte do Flamengo é mostrar atitude, cumprir com a obrigação e descer do morro com a classificação pra 8as da Liberta RESOLVIDA.

A obrigatoriedade do Flamengo se classificar hoje, sim ou sim, não aumenta muito o peso sobre os caras? Claro que aumenta. Mas a culpa é deles mesmo. Se não tivessem dado mole no Maracanã pros folgados uruguaios, tivessem ao menos empatado em casa, agora não tinha ninguém precisando tirar o pai da forca. Só que deram mole e agora vão ter que dar seus pulos porque o véio já tá balançando as perninhas e começando a ficar azul, em pleno desfrute da, segundo a asfixiologia forense, constrição cervical. O Flamengo tem que agir agora, enquanto o ar, aquela mistura de nitrogênio, oxigênio, gás carbônico e gases nobres, não abandonou completamente os pulmões do coroa. Vambora, Flamengo! Respira fundo e resolve aí essa parada. Queremos estrear no Brasileiro numa relax, numa tranquila, numa boa.

Como estamos falando de ar, fôlego e sufoco, aproveitamos para parabenizar a Raça Rubro-Negra, o Pulmão da Arquibancada, hoje completando 42 primaveras. Quando surgiu em 1977 a Raça foi um sopro de criatividade nas arquibancadas. A proposta da torcida era radical e revolucionária, assistir aos 90 minutos do jogo em pé, apoiando sem parar. Os habitués do Maraca ficaram escandalizados, acharam aquilo um absurdo. Xingavam, tacavam bolinha de papel, lata, garrafa, o que estivesse à mão pra fazer aqueles caras de camisa vermelha sentarem e assistirem ao jogo como gente de bem.

Não funcionou, os caras desviaram das garrafas e das bolinhas, mas não sentaram, continuaram apoiando os 90 minutos e cantando sambas enredos inteiros em pé. Foi juntando gente em torno dos fundadores, os irmãos Cláudio e César Cruz, a Raça virou um fenômeno quase beatlemaníaco. E foi ficando cada vez maior, influenciando mais e mais torcidas. E hoje, 42 anos depois daquela estreia que até hoje não saiu das minhas retinas, no Maracanã ninguém mais assiste aos jogos sentado, nem quando tá a fim. Ô Raça. O tempora! O mores!

Êh! Boi Ápis. Lá no Maraca, festa da Raça. Êh! Deus Baco, bebe sem mágoa. Você pensa que esse time é água? É primavera! Lá no Maraca é a Raça quem lidera. Oh! Que beleza! Mais um golaço do Gaúcho de cabeça. Vou comprar bomba e morteiro, maconha e cocaína. Vou dar porrada na torcida vascaína. . . Relaxa, gente, tô zoando. A vasca nem tá na Liberta.

Mengão Sempre