Termina, neste domingo 21 de abril, mais um Campeonato Carioca, evento que este ano cativou uma multidão tão numerosa e barulhenta quanto aqueles capinhas amarelas diante da cachoeira no desenho do Pica-Pau. Sim, estamos chegando ao fim do desmilinguido Estadual 2019 (“Iêeeee…”).
Foi um campeonato tão caótico, desconexo e nebuloso que, durante o primeiro jogo da decisão, entre VARco e Flamengo, o Maracanã esteve às moscas (“Iêeeee…”), que voavam indignadas quando aparecia uma ou outra família para fazer selfies diante do Bellini. Um torneio montado tão nas coxas que, mesmo com ingresso comprado, acabei aceitando o convite para jogar uma pelada de masters contra os Voleissauros, no Engenho Novo, na hora em que a bola rolava no Engenho de Dentro. E confesso que não me arrependi.
Mas futebol é futebol (anotem essa frase, ela vai longe), e até o pior dos campeonatos sempre tem seus momentos de suspense – no caso deste ano, o desafio começava já ao decifrar o regulamento da Federação Estadual do Rio (FERJ), o que exigia o manuseio de astrolábios, livros do Stephen Hawking, mapas da antiga Iuguslávia e um dicionário de esperanto aberto sobre a mesa. Normal que muitos tenham entregado os pontos.
Mas houve quem não desistisse. Como um companheiro que, logo depois de entrar no Engenhão “lotado” por 9.975 pagantes (“Iêeeee…”), me disparou via torpedo telefônico:
“Com dois empates somos campeões, fera? Ou tem quarto turno? Ouvi que se o primeiro jogo for 3 a 0 o Bangu recupera a taça do Brasileiro de 1985, confere?”. Como se percebe, meu amigo é perdidinho, esse era o regulamento do ano passado.
Ah, minha irmã de arquibancada, meu irmão flamengo, explique quem puder: como a gente ainda entra nessa? E pior, como sair? Eu sei, eu sei, a culpa é nossa. Nós do Flamengo estávamos, mais uma vez, caminhando estressados pelo centro da cidade, metaforicamente afrouxando o paletó, quando recebemos uma filipeta amarfanhada, nos atraindo para as dependências escuras e enevoadas da FERJ:
– Opa, drinquezinho incluído? Não estou fazendo nada mesmo… Que mal pode haver?
Tudo para sairmos, novamente, de cara cheia, bolso vazio e tomados de remorso.
Essa presença constrangida do Flamengo no rendez-vous administrado pela FERJ – sendo sempre um dos últimos a sair – me lembra episódio comovente vivido por um conhecido, acho que tricolor. Marido fiel, respeitador, era dos que não perdia a hora no bar, sempre pronto para bater na mesinha de mármore e anunciar: “Vou nessa, turma”, e lá ia, cedo, de volta ao seu aconchego, para os paparicos da esposinha. Até um dia que…
Foi “um dia que…” absurdamente normal. Tão normal era o dia que logo virou noite – fim do expediente, as luzes na rua aumentando o brilho, enquanto a terra se movia lentamente para fora do alcance dos raios do sol. (“copyright: F.S. Fitzgerald”). O único pormenor foi que naquele dia o maridinho deixou-se levar pela insistência da corja. Por pura curiosidade antropológica, bateu na mesa e concordou: hoje iria enfim conhecer um daqueles locais descritos em verso e prosa pelo trovador Catra. E foi – foi, fitou, firulou e farreou.
Mas, como bem sabia Nelson Rodrigues, toda nudez será castigada, ainda mais para quem der mole com a fatura do cartão. Sim, a atenta mulherzinha fez as contas, percebeu o gasto atípico em estabelecimento ainda mais atípico e chegou-se, languidamente, no ouvido do esposinho:
– Que porra é essa, Epaminondas? (Não é o nome verdadeiro.)
O que você faria, respeitável leitor, respeitável leitora, se pego em flagra tão embaraçoso? O bandalho de primeira viagem, claro, cantou feito um canário e entregou a rapadura na hora, numa delação premiada que atingiria outros correligionários. O prêmio da delação? O travesseiro para dormir no sofá por uma semana (justo, réu primário). Mas o que entrou para os anais, o que os amigos não esquecem, foi sua brilhante argumentação de defesa, a frase sucinta que lhe ocorreu na hora, inspirada quiçá em juristas célebres como Sobral Pinto, Luís Gama ou Eliézer Rosa:
– Mas amor… Foi só uma punhetinha!
Irmãs e irmãos flamengos, relato tudo isso de maçãs coradas para fazê-los ver com clareza nossa real situação. Já caímos na esbórnia. Já estamos arrependidos de onde estamos, cientes das péssimas companhias que tentam manchar nossa reputação. E já até tomamos o primeiro drinque. Temos consciência do tamanho da ressaca e do que virá depois. O que nos resta?
Ah, meus amigos, como a pitoresca história do nosso amigo aí em cima ensinou, não é ocasião para ficarmos no onanismo, limitados à quiromania. O Flamengo tem dois tempos de 45 minutos para honrar a fama de velhos ídolos como Adriano Imperador e Almir Pernambuquinho e soltar os bichos de uma vez.
É hora de 90 minutos de maldade. De jogar papel higiênico em campo, puxar guerra de ovos, comemorar sem camisa, esfregar o mamilo nas câmeras; ouvir funk no banco, urinar na taça, convocar o geraldino que carrega um porco gigante, besuntar o Pará com óleo de coco no vestiário e, para desespero geral, liberar um urubu, dois cabritos e três javalis no gramado; é dia de levar bumbo, lamber a orelha do bandeirinha na hora do lateral, ligar o Sexy Hot no telão do VAR e aterrisar de paraquedas no gramado no meio do jogo, peladão. Um banzé daqueles, só encerrado com Adriano e Aluisio Chulapa numa magnífica corrida de bigas em volta do campo, na hora exata em que Rodinei se distrai e tromba até o fosso com um radialista, um gandula e um aba assessor do governo. De capinha amarela na mureta, a turma vibra: “Iêeeee…”
Tudo o que for preciso, claro, para jamais sermos convidados novamente.
É apenas uma pergunta, e talvez reflita somente a minha insuperável ignorância do assim chamado velho esporte bretão:
Só eu vejo que o Gabigol é uma merda de um suposto jogador de futebol que recebe 1 milhão e lá vai fumaça de salário e a diretoria está considerando seriamente em pagar 80 milhões por esse pereba que não tem noção da regra do impedimento, por pouco não perdeu o gol, mesmo estando 3 dias na frente do zagueiro adversário, e tá sempre nervosinha como o Neymar sem ter meio por cento do futebol da supra citada prima-dona? O cara é simplesmente horroroso!
Como respeito a inteligência da maioria dos comentaristas me sinto à vontade pra declarar que não há absolutamente nada a comemorar. Não só pelo patético campeonato em si, mas, principalmente, por esta merda não servir nem como pré-temporada. Se chegarmos mais longe nas 3 competições (Brão, CdB e Liberta) será pela ruindade dos adversários e não por nossos méritos.
Que timinho vagabundo! Não há pau que levante.
No tocante ao Gabriel Segundo, fecho com o Rasiko.
Além do mais, um cara INSUPORTÁVEL, metido a gozador e reclamão crônico.
Já em relação ao time, apesar do péssimo jogo de ontem, quando, durante boa parte, CONSEGUIU ser dominado pelos VICES, não sou tão cético.
Tem bons jogadores.
Pode conseguir bons resultados nas três competições citadas.
Vai depender muito do De Arrascaeta.
Sempre admiradores SRN
FLAMENGO SEMPRE
Concordo com o Xisto e as três brilhantes citações – Bonsucesso 2 x 0 (depois 4 x 1 , mesmo, sendo que este imecil foi aos DOIS jogos), Santo André 2 x 0 e, o pior de todos, Cabanas 3 x 0, todos os três jogos em pleno Maracanã.
Piores lembranças, não tenho.
Apesar disso, vou afirmar categoricamente.
Hoje, é impossível.
O atual time do Vasco é MUITO pior do que Bonsucesso/Botafogo, Santo André e, infinitamente, do que os mexicanos, que, ao contrário do que se diz por aí, tinha um bom time, pois, logo em seguida, eliminou também o Santos.
5 x 0 é o meu placar, considerando um fracasso se não for pelo menos de três.
Confiantes SRN
FLAMENGO SEMPRE
Mexicanos eliminaram, é óbvio.
Em um momento pensei de duas formas.
Por um lado mexicanos, por outro America.
Muito boa crônica Dunlop. Como disse um amigo meu, de maneira épica, em desses tipos de estabelecimentos citados acima às 3:00h da manhã, com todos os amigos também casados tentando arrastar o cara para casa, “Já que estamos no inferno, vamos abraçar o capeta!”.
SRN
Saudações Rubro-negras!
Para o Flamengo ganhar o título, basta jogar 10% do seu potencial. E não esperar os Vices.
Partir pra cima da Baranga antes mesmo que ela diga: O que está acontecendo meu bem? E já dar aquele trato.
Com vantagem no placar e a Baranga, digo Vice, jogada na cama indefesa, podemos ainda mais ser legais, mandando os torcedores/esperançosos/viceinos para casa curtir o restante do Ô louco meu, vulgo Fausto ou se debaterem vendo a festa na favela ao comando de Didico.
#VaiPraCimaDelaMengao
Meu caro, Marcelo Dunlop,
pois é, eu também fui um desses malucos que tentaram decifrar o tal regulamento do Carioca.
Confesso que o único enunciado que dele compreendi foi o seguinte:
“DA CLASSIFICAÇÃO GERAL
Art. 46 – A classificação geral do campeonato será feita da seguinte forma:
I – O campeão e o vice-campeão estadual ocuparão, respectivamente, o primeiro e o segundo lugar;”
Quanto ao mais, esse regulamento me pareceu tão difícil de se alcançar, quanto o idioma grego e a física quântica.
Em relação a esse tal de “Video Assistant Referee”, posso assegurar que foi inventado somente para o árbitro caVAR interpretações de lances contra o Flamengo.
Uma verdadeira coVARdia.
Tenho as mesmas preocupações do Xisto Beldroegas, ainda mais quando soube que o Juan ficará no banco para uma possível entrada em campo, como forma de despedida. Sei não.
SRN!
Sensacional, Dunlop!
Dunlop, curioso esse negócio de Flamengo, esse carioqueta não vale porra nenhuma, mas ai do Flamengo se perder. Já que você falou no meu velho Engenho Novo, lá era assim, a mulher podia esculachar o maridão em frente de todo mundo, mas ai de quem fizesse o mesmo ,geralmente a mulher do vizinho, que pegava o embalo: “sabe que você tem razão? Tô contigo e não abro.” A mulher do maridão, furibunda: “O que que você está dizendo, repete, anda, repete, quem é você pra falar mal de meu marido?” Assim somos nós rubro-negros, nós podemos esculhambar o Mengão, mas ai de quem cometer tal heresia. E eu continuo aqui, preocupadíssimo com esse tal passado que nos condena, lá vem um jogo com o Bonsucesso, sei lá que ano, sei lá quem jogava pelo Flamengo, e seríamos campeões com a vitória, nem me lembro se o empate também serviria , e perdemos e o Botafogo volta esbaforido de uma excursão e nos mete 4 a 1 se não me engano, e o Santo André, Copa do Brasil, em pleno Maracanã, e o já gasto de tanto repetido “paradigmático” ( royalties para o Arthur) de coisas negativas, contra o América do México, 3a 0…Pois é, aquele “desconforto” me perseguindo em forma de cosquinha nas costas…tomara que a gente ganhe logo essa porra com ou sem VAR.