Libertadores, 4ª rodada da fase de grupos.
Há um ano, a edição 139 da revista Piauí trazia um artigo do sociólogo Celso Rocha de Barros, sob o título “O Brasil e a recessão democrática”. Em certo momento da narrativa, num contexto que não cabe reproduzir aqui, o autor indaga: “O acrobata será beneficiado se o público começar a urrar sua desaprovação no meio do trajeto?”
Nos doze minutos passados entre o gol de empate do San José e o do desempate, por Everton Ribeiro, imaginei alguns jogadores do Flamengo como uma trupe de acrobatas vaiados e perguntei a mim mesmo: isso ajuda exatamente em quê?
Maracanã, 64.811 torcedores a favor e 3 contra, adversário que dificilmente conseguiria empatar com o arrumado time do Bangu, ótima chance de gol com 1 minuto, um a zero aos 2, um a mais em campo a partir dos 4, ok: nada seria capaz de nos fazer supor que aquela noite de quinta-feira poderia trazer problemas. Porém, mesmo levando em conta recentes e fatais vacilos rubro-negros em partidas com baixo grau de dificuldade, não temos o direito de esquecer que o nome disso é futebol. E que uma das graças da bagaça está, justamente, na constante capacidade de provocar surpresas. (Por isso não concordo com o uso da palavra vexame. Futebol é o único esporte em que um time pode ser muito mais forte que o outro, pode massacrar o outro durante noventa minutos e pode perder em um contra-ataque no último lance. Essa é uma das razões do sucesso e da popularidade do jogo. Aí, quando acontece, chamamos de vexame. Vai entender.)
Não sou contra a pressão por um elenco que corresponda à atual capacidade financeira do clube, e me incomodam a teimosia e a insistência de dirigentes e treinadores – como foi irritante a longa permanência, no time titular, de Alex Muralha, Rafael Vaz, Márcio Araújo e Gabriel Perninha de Siriema. Também acho que Pará e Renê estão abaixo do que o clube pode ter, e que Willian Arão costuma atuar entre um bocejo e outro. Mas, na boa, não consigo entender qual a vantagem de vaiar durante a partida, sendo que, contra o San José, isso passou a acontecer quando ainda havia 72 minutos por jogar e estávamos com um a mais em campo. Resultado: aumento do desespero e do número de cruzamentos a esmo. E, por favor, esqueçam esse papo de salários, CT de primeiro mundo etc. Ganhar muitíssimo bem e dispor de condições de trabalho privilegiadas não tira de ninguém a possibilidade de se desestabilizar e produzir menos do que é capaz. (Ao ser duramente criticado, em suas primeiras apresentações pelo Manchester United, o meio-campista francês Pogba pediu que esquecessem o quanto ele custara e o deixassem jogar bola.)
Estranho, ainda, como desperdiçamos tempo e energia torcendo, mais do que qualquer coisa, para ver nossas convicções confirmadas. Lembro perfeitamente de um caso que presenciei, no Maracanã, há mais de cinquenta anos. Eu estava com meu pai e um grande amigo dele, que se chamava Portocarrero, no estádio. Era um amistoso preparatório da seleção brasileira para a Copa de 1966. Portocarrero defendia com vigor, e ai de quem discordasse, que o meio-campo titular deveria ser formado por Lima e Gérson. Bola pra lá, bola pra cá, Pelé faz um a zero. Na comemoração, olhos esbugalhados, Portocarrero perguntava: “Foi o Lima? Foi o Lima?” Ao ser informado de que o gol fora de Pelé, não escondeu a decepção. Continua o jogo. Bola vem, bola vai, Pelé faz dois a zero. E o Portocarrero, aflito: “Foi o Lima? Foi o Lima?” O amigo do meu pai torcia menos pela seleção brasileira do que pela confirmação de sua tese. E garantia: “É Lima e Gérson, ninguém segura!” Só que a Hungria segurou: na Copa, Lima e Gérson fizeram o meio-campo na derrota por três a um para os húngaros.
Da mesma forma que os outros 39.999.999 torcedores rubro-negros, gosto bastante do Cuéllar. Não é por isso que vou empurrar para debaixo do tapete o pênalti desnecessário que ele cometeu, em 2017, na final da Copa Sul-Americana. O gol de empate do San José nasceu de um erro de passe do Cuéllar e, se houve falha de marcação, foi coletiva. Por que vaiar Willian Arão a partir dali? Insisto: não morro de amores por aquele jeito sonolento e quase sempre displicente do Arão, só que não vejo proveito na vaia “no meio do trajeto”, como bem escreveu Celso Rocha de Barros.
No fim, deu a lógica, impulsionada pelos acontecimentos dos primeiros quatro minutos. Estava na cara que, no segundo tempo, o San José botaria a língua de fora e seria barbada. Time fraco toda vida, sem a altitude que tanto o beneficia, um a menos em campo desde o começo, tudo isso formava um conjunto de contrariedades impossível de superar.
O Flamengo fez o que tinha de fazer e agora precisa de mais um pontinho para se garantir nas oitavas e entrar na Libertadores de verdade. Vão ser duas partidas fora de casa, bicho vai pegar, mas, ao contrário do que tínhamos em 2017, as características de caras como Everton Ribeiro, Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabriel – os dois primeiros inteligentes e bons de passe, Bruno Henrique muito veloz e Gabriel frio nas conclusões – favorecem o contra-ataque, fundamental na competição quando se é visitante.
Mais do que de vãs valentias – viu, Sr. Bruno Henrique?, viu, Sr. Gabriel? –, precisaremos de cérebro, equilíbrio e olho no regulamento, três coisas que nos faltaram na derrota para o Peñarol. Talvez por saber que, se não definirmos o jogo nos primeiros vinte minutos, a plateia começa a urrar sua desaprovação.
Lances principais.
1º tempo:
Com 1 minuto, Everton Ribeiro arrancou pelo meio e serviu Arrascaeta, que chutou rasteiro e cruzado, de canhota. O goleiro Lampe fez uma difícil defesa para escanteio. Arrascaeta cobrou, Bruno Henrique desviou e Diego completou de cabeça. Apesar da conclusão ter sido de dentro da pequena área, Lampe deu uma pequena ajuda, indo com mão de alface na bola. Dois minutos, um a zero.
Aos 4, Bruno Henrique recebeu ótimo lançamento de Léo Duarte, despachou o zagueiro Toco na corrida e sofreu falta por trás, quando ia ficar cara a cara com Lampe. Toco levou cartão amarelo e, após as reclamações dos jogadores do Flamengo, o vermelho. (Como o site oficial da Conmebol não registra o cartão amarelo, deve ter rolado o clássico “cancela e substitui”.) Arrascaeta bateu a falta, Lampe saltou e, de um jeito bem esquisito, defendeu com o peito.
Aos 12, Renê cruzou, Willian Arão disputou no alto com Gutiérrez, Everton Ribeiro pegou a sobra com um bonito voleio, que desviou em Gutiérrez e passou perto da trave esquerda.
Aos 18, Cuéllar tocou errado para Pará, cedendo lateral que foi rapidamente batido. Ramallo recebeu, iniciou a jogada e houve uma boa tabela entre Sanguinetti e Saucedo, embora Sanguinetti tenha entrado em posição de impedimento. O atacante do San José deu um bonito drible em Rodrigo Caio, chutou forte e Diego Alves conseguiu salvar, mas Saucedo aproveitou o rebote e mandou para a rede. Um a um.
Aos 24, Arrascaeta e Everton Ribeiro trabalharam pela esquerda, e Arrascaeta virou o jogo até Pará. Pará rolou a Diego, que bateu rasteiro. A bola raspou em Ovando e saiu junto à trave direita.
Aos 30, o San José teve dois escanteios seguidos, se animou e se descuidou, permitindo ao Flamengo um contra-ataque mortal. Rodrigo Caio tirou a bola de cabeça na entrada da área rubro-negra acionando Bruno Henrique, que fez o corta-luz para Everton Ribeiro disparar. Entretanto, ele ficou indeciso na hora de definir o último passe – Bruno Henrique entrava pela direita, Arrascaeta pela esquerda – e Juárez conseguiu cortar. Bruno Henrique pegou a sobra e devolveu a Everton Ribeiro, livre, quase na marca do pênalti. Bastou um leve toque, de pé direito, para deslocar Lampe. Dois a um.
Aos 36, Rodrigo Caio interceptou outra bola de cabeça, tocando para Cuéllar, que lançou Bruno Henrique. O goleiro Lampe saiu da área, se enrolou todo no domínio e Bruno Henrique ficou com o gol aberto, porém se precipitou e finalizou mal, por cima do travessão.
Aos 42, o San José atacou pela direita, Renê fez um corte arriscado e pavoroso, dando um presente dentro da área para Saucedo, que rolou para trás. Ramallo completou e Diego Alves caiu no canto esquerdo para defender bem.
2º tempo:
Aos 2 minutos, Everton Ribeiro deu uma meia-lua em Rojas, no meio-campo, e serviu Diego, que adiantou para Arrascaeta. Ele recolheu na esquerda, driblou Rodríguez e cruzou. A bola chegou um pouco alta e a cabeçada de Bruno Henrique não saiu no jeito, encobrindo o travessão.
Aos 7, depois de grande jogada trazendo da esquerda para o meio, Arrascaeta encontrou Bruno Henrique na área. Desequilibrado, ele girou para fora.
Aos 12, troca de passes entre Renê, Diego, Pará e Everton Ribeiro. O cruzamento de Everton Ribeiro chegou no peito de Arrascaeta, que matou com elegância, deixou quicar e bateu firme de pé direito, no canto esquerdo. Belo gol, três a um.
Aos 14, lançamento de Didi Torrico nas costas de Pará, Jair Torrico dominou, trouxe para o pé direito e bateu forte. Diego Alves fez boa defesa.
Aos 19, Renê lançou Diego, que invadiu a área, livrou-se de dois adversários e, sem ângulo, tentou uma cavadinha, para fora.
Aos 22, Diego cobrou escanteio da direita, Bruno Henrique ganhou no alto mais uma vez e escorou para Rodrigo Caio. Livre na pequena área, ele cabeceou no travessão.
Aos 34, ótima jogada entre Willian Arão e Pará, que foi ao fundo e rolou para trás. Novamente de pé direito, Everton Ribeiro fez quatro a um.
Aos 36, Arrascaeta cobrou escanteio e Gutiérrez puxou Arão pela camisa. Pênalti. Dois minutos depois da marcação, aos 38, Vitinho bateu seco, firme, no canto direito. Cinco a um.
Aos 40, Cuéllar fez ótima antecipação, roubou a bola de Ovando e serviu Lucas Silva, que concluiu de dentro da área, em cima de Lampe.
Aos 42, outra jogada de Pará, agora com Lucas Silva. O lateral chegou à linha de fundo e cruzou forte, buscando Vitinho. No meio do caminho, a bola desviou em Gutiérrez e enganou Lampe. Seis a um.
Ficha do jogo.
Flamengo 6 x 1 San José.
Maracanã, 11 de abril.
Flamengo: Diego Alves; Pará, Léo Duarte, Rodrigo Caio e Renê (Trauco); Cuéllar, Willian Arão e Diego (Vitinho); Everton Ribeiro (Lucas Silva), Bruno Henrique e Arrascaeta. Técnico: Abel Braga.
San José: Lampe; Juárez (Rojas), Rodríguez, Toco e Jair Torrico; Ovando, Gutiérrez, Didi Torrico e Ramallo (Gomes); Sanguinetti e Saucedo (Alessandrini). Técnico: Miguel Ponce.
Gols: Diego aos 2’, Saucedo aos 18’ e Everton Ribeiro aos 30’ do 1º tempo; Arrascaeta aos 12’, Everton Ribeiro aos 34’, Vitinho aos 39’ e Gutiérrez (contra) aos 42’ do 2º.
Cartões amarelos: Willian Arão; Rodríguez. Cartão vermelho: Toco aos 4’ do 1º tempo.
Trio de arbitragem chileno. Juiz: Piero Maza. Bandeirinhas: Christian Schiemann e Claudio Ríos.
Renda: R$ 2.543.038,00. Público: 64.814.
Jorge, ainda bem que vc tocou nesse assunto. Eu fico uma arara qdo a torcida vaia os jogadores durante o jogo. É de uma estupidez imperdoável. E fico mais puto ainda por ser a maior torcida do mundo. Outro dia mesmo vi uma entrevista do André Santos falando sobre a diferença entre as torcidas do Flamengo e do curíntia e ele apontava essa diferença.
Nos meus tempos de garoto quando ia pro Maraca com meu pai e o Zequinha Estellita, personagem do Pasquim e torcedor fanático (ao contrário do tio Renato Estellita), além de meu mentor sexual, quando isso acontecia em volta da gente ele partia pra porrada direto sem pedir explicações.
Acho um assunto muito mais grave do que possa parecer à 1ª vista pelos motivos que vc elencou muito bem. Sugiro uma campanha contra vaia.
Grande abraço
Grande Murtinho, não poderia concordar mais com as palavras do cara da Fox:
https://www.foxsports.com.br/news/403911-facincani-cita-jogador-que-sacrifica-setor-importante-do-fla-e-diz-duas-mudancas-que-faria-no-time
Arão não é o ponto de equilíbrio como disse o Abel, mas sim o de desequilíbrio do time.
Nada justifica sua titularidade, ainda mais tendo Ronaldo que marca melhor, chuta melhor e é muito mais concentrado no jogo.
Nem vou mencionar o garoto Daniel Cabral, que já deveria estar treinando com os profissionais há muito tempo.
SRN e grande abraço.
Fala, Marco.
Concordo que considerar Willian Arão o ponto de equilíbrio de um time – qualquer que seja o time – é prova de fraqueza. Embora não o considere mau jogador, também acho que ele está abaixo do que hoje o Flamengo pode ter.
Bom, a caixa de comentários do RP&A serve pra gente debater qualquer assunto sobre o Flamengo, mas insisto que não é esse o eixo do post: o eixo do post são as vaias durante o jogo e o quanto elas podem desconcentrar e atrapalhar o time.
Lembro de uma ocasião, logo que Roger virou comentarista do SporTV, em que um dos narradores do canal fez a ele mais ou menos essa pergunta: “Roger, você que jogou pelo Flamengo e contra o Flamengo, fala pra gente como é que, dentro de campo, um jogador percebe o papel da torcida rubro-negra?” Roger respondeu assim: “A torcida do Flamengo é poderosa. Quando você joga pelo Flamengo, você sente o apoio. Quando você joga contra, você fica intimidado.” Não me conformo com o fato de ver a torcida do Flamengo intimidando os próprios jogadores do time, o que obviamente acaba por dar moral aos adversários.
Já que você falou no Ronaldo: não sei se ele é melhor que o Arão, vi Ronaldo jogar poucas vezes no time de cima – que é o que vale. Mas você não acha que existe uma expectativa superdimensionada da torcida em cima do Ronaldo, como quase sempre acontece com todos os que passam pela nossa base? Ou será que ele é o jogador mais perseguido da história do clube? Porque, desde Zé Ricardo (que foi seu técnico na base) até Abel Braga, já são seis treinadores diferentes, e nenhum o efetivou.
Não conheço Daniel Cabral e torço para que seja tudo o que falam dele.
Abração. SRN. Paz & Amor.
Fala Murtinho,
De fato o post é sobre as vaias, e nisso eu concordo integralmente com vc, inclusive já manifestei minha opinião por aqui inúmeras vezes: você jamais verá a torcida do Corinthians ou do Boca vaiando jogador após o mesmo errar 2 passes com 10 minutos de jogo, nem mesmo se o time toda estiver uma nhaca vc não vai escutar vaia enquanto a bola estiver rolando. Cansei de ir ao Maracanã e ver a torcida matando jogadores promissores após alguns erros de passe. Muito pior do que isso, naquela derrota contra o Ceará no Maraca no ano passado os caras tiveram a coragem de vaiar o Paquetá, o que gerou um comentário muito bacana do Lisca: não estão felizes com o Paquetá? Mandem ele lá pro Ceará!
Aliás, eu atribuo em boa parte os seguidos micos do Flamengo na Liberta a esse comportamento deplorável da torcida.
Eu mesmo, por mais que me dê nos nervos ver o Arão em campo, eu jamais o vaiaria durante o jogo.
Não acho que o Ronaldo seja um craque (talvez o tal Daniel Cabral seja, vale a pena vc dar uma olhada no cara jogando), mas tenho certeza que ele é muito melhor do que o Arão naquela função. Mais rápido, mais marcador, melhor finalização, e muita concentração. Aliás, Ronaldo fez fazendo bons ou mesmo ótimos jogos no time titular, inclusive naquela jogo com o Ajax na Flórida Cup foi impecável.
Não dá Murtinho, Arão não nenhum dos 2 únicos atributos que se exige de um jogador que vista o manto sagrado: técnica ou raça. Veja o Renê por exemplo, falta alguma técnica (embora eu ache que ele está longe de ser limitado mesmo para os padrões nossa exigente/intransigente torcida), mas compensa com muita raça, o TEMPO TODO. Não é a toa que foi eleito o craque do Brasileirão no ano passado.
Arão não tem nem uma coisa e nem outra. E pior, no banco tem gente melhor pedindo passagem.
Enfim, é apenas a minha opinião.
SRN e parabéns pelo post.
Então, Marco.
Deixa eu reforçar, para que não haja dúvidas: o post é sobre as vaias, mas os comentaristas aqui no RP&A têm a total liberdade de trazer ao debate qualquer assunto a respeito do Flamengo. Portanto, fique à vontade.
Ainda sobre elas: eu acho, rapaz, que as vaias têm a ver com a mudança que houve no perfil da torcida, devido ao processo de gentrificação do Maracanã. Uma vez vi o Mauro Cezar Pereira falar algo interessante sobre isso: os caras passam a agir não como torcedores do time, mas como consumidores. O cara compra um ingresso caro e acha que isso deveria lhe garantir a vitória, o show de bola, a atuação perfeita, o chocolate. E no futebol as coisas não funcionam assim. Exigir um time preparado e lutador é uma coisa, mas quem não estava correndo no jogo contra o San José? Não vi ninguém. Enfim, são os novos tempos.
Em relação ao Ronaldo, tenho uma opinião que eu mesmo questiono, mas vou compartilhar aqui. Treinadores de futebol são, por definição, seres teimosos – o que, muitas vezes, os levam a ser demitidos, como aconteceu, por exemplo, com Cristóvão. Entretanto, eles não agem contra si próprios. Se tem um cara bom de bola pra cacete, se esse cara arrebenta no treino, se é visível que ele vai ajudar a melhorar o time e, consequentemente, a avaliação que torcida, imprensa e diretoria fazem do treinador, por que o cara não vai escalar? A não ser que ele seja um negocista, um esquemeiro, um pilantra, o que não me parece o caso de nenhum dos seis que passaram pelo Flamengo nesses últimos anos (Zé Ricardo, Rueda, Carpegiani, Barbieri, Dorival Jr., Abel). Depois que ele entrou e provou o que era, quem seria louco de não escalar o Vinicius Jr.? Ou o Paquetá? Agora, o cara entra, vai mais ou menos, tira nota cinco e tal, paciência. Vamos torcer pelo Daniel Cabral.
Abração. SRN. Paz & Amor.
PS: Pô, Marco, Florida Cup? Aquela em que o Uribe arrebentou e impressionou Abel?
Concordo com quase tudo, Murtinho, mas o jogo da Florida Cup foi contra o Ajax, o mesmo time que meteu um chocolate no Real Madrid pouco tempo atrás. Acho que vale mais como teste pro Ronaldo do que uma boa partida contra os Vices, Faísca ou Flor, não acha?
Abração.
Calma lá, meu amigo Marco.
Digamos que foi o mesmo clube, mas muito longe de ser o mesmo time.
Além da motivação completamente diferente – ela é fator fundamental no esporte em alto nível -, comparemos as escalações.
Ajax contra o Flamengo na Flórida Cup: Lamprou; Kristensen, Schuurs (Veltman), Magallan e Sinkgraven (Bakker); Eiting (Jensen), Gravenberch (De Wit) e Labyad; Cerny (Lang), Huntelaar (Traoré) e David Neres (Ekkelenkamp)
Ajax contra o Real Madrid pela Champions League: Onana; Mazraoui, De Ligt, Blind e Tagliafico; Schone (De Wit), De Jong e Van de Beek; Ziyech, Tadic e David Neres (Dolberg).
Dos dezoito jogadores que entraram em campo contra o Flamengo, apenas dois – De Wit e David Neres – enfrentaram o Real Madrid. O cara que engoliu a bola no Santiago Bernabéu (o sérvio Dusan Tadic) não deu as caras.
Mas, beleza. Antes que fique parecendo o contrário, faço questão de deixar claro que também torço pra caramba pro Ronaldo entrar e arrebentar.
Abração. SRN. Paz & Amor.
Se o time fosse mais compacto e não deixasse tanto espaço os erros individuais não ficariam tão evidentes.
Arão não é essa cocada toda mas é muito útil quando não se desliga. Só que o Abel bem que podia dar uma rodagem para o Ronaldo assim como poderia revezar Arrascaeta, Diego ou de vez em quando jogar com os dois e um volante só, dependendo do freguês. Entrar com o Vitinho quando o Bruno Henrique estivesse muito pilhado…
Que o time precisa ser melhor treinado, isso é fato.
E vaia só cabe quanto o jogo acaba.
Tem uma galera meio afobada que faria melhor se botasse pressão só no adversário.
Fala, Ricardo.
Acho isso também.
A gente vê times que, mesmo com jogadores bem mais fracos, se mostram menos expostos. Mas você não acha que é comum times de características ofensivas se tornarem defensivamente vulneráveis? Sem querer fazer comparações estapafúrdias, até o Manchester City de Guardiola foi recentemente criticado por isso.
Também não consigo entender por que, contra o San José, o Madureira e até alguns times do Campeonato Brasileiro, temos que entrar, necessariamente, com dois volantes. De forma geral, os treinadores brasileiros são engessados, medrosos, limitados e conservadores.
Por fim: o post não é uma defesa de Arão, e sim um questionamento a respeito das vaias durante o jogo. Ou melhor: vaias com menos de vinte minutos de jogo. Uma coisa é botar pilha em redes sociais, grupos de WhatsApp etc., que nada interferem no rendimento do time. Outra coisa é fazer isso no Maraca.
Abração. SRN. Paz & Amor.
Murtinho,
excelente a sua iniciativa de comentar as partidas da Libertadores e delas apresentar um resumo dos lances. Parabéns!
Vou contar uma breve história, sobre essa questão da vaia:
Quando ouço a torcida vaiar times do Flamengo, lembro-me com orgulho de que em centenas e centenas de jogos a que assisti no Maracanã, eu jamais vaiei o Flamengo. E destaque-se que sofri com times do tipo Onça, Tinteiro & Cia. Ltda.
Um certo dia de meio de semana, talvez uma quarta-feira, não vinha jogando muito bem o Flamengo, quando os alto-falantes anunciaram: “Sai Reinaldo e entra Adriano.” Adriano só tinha 17 anos.
Uma sonora e estrepitosa vaia quase arrebentou os meus tímpanos.
Passado o barulho, comentei com um amigo ao meu lado:
– Se essa cambada de babacas assistisse aos jogos dos juvenis, não estaria vaiando o Adriano.
A porrada só não comeu solta, porque além de o cara que me havia interpelado ser muito frouxo, a turma do deixa-disso interferiu.
Nem sempre a maioria tem razão. Muito longe disso.
Por isso, praticamente abandonei as redes sociais. Não suporto ler gente malhando o time no momento do transcorrer da partida. Terminado o jogo, todos de cabeça fria, normal uma crítica aqui outra acolá. Mas, na hora do jogo não. É como se fosse vaia.
SRN!
Valeu, Aureo. Obrigado pela força.
Pois é, rapaz, eu também sou desses tempos aí. Onça, Tinteiro, Buião, Michila, Caldeira, uma barangada de dar dó.
E tem a clássica história da vaia no ponta Julinho, da seleção brasileira, quando o alto-falante do Maracanã (“Adeg informa!”) anunciou que ele jogaria na vaga de Garrincha. Nessa eu não estava, mas parece que foi a maior vaia da história do estádio. Julinho entrou e acabou com o jogo – um pouco diferente do que costuma fazer nosso Willian Arão, né?
Só discordo de você quanto às redes sociais. Claro que há exageros, falta de paciência e excesso de apego às convicções, mas ali não há interferência no rendimento dos caras.
Abração. SRN. Paz & Amor.
Murtinho,
eu não fui bem claro, relativamente à questão das redes sociais.
É lógico que os comentários criticando jogador no transcorrer da partida jamais irão interferir no rendimento deles.
Mas, interferem no meu estado emocional, me deixando completamente abalado. Conforme afirmado acima, eu jamais vaiei time do Flamengo.
SRN!
Ah, sim. Quanto a isso, de acordo.
Abração. SRN. Paz & Amor.
Vou entrar, sem pedir licença, nesse papo, muito gostoso há que se admitir.
JULINHO
Um craque, sem a menor dúvida.
As vaias e o seu porquê.
Não sei bem o motivo, mas todo e qualquer jogo contra a Inglaterra foi sempre motivo de uma expectativa maior do que se fosse contra o Uruguai, a então União Soviética, só perdendo mesmo para a Argentina.
Lá estava eu, em um jogo que começaria as cinco da tarde, no meio da semana.
Estádio lotado, público nervoso.
Citado o nome do Júlio Botelho (ou Giulio) a maiaor vaia de todos os tempos.
Poucos não vaiaram, entre eles eu.
Primeiro motivo. A histórica rivalidade Rio x São Paulo, traduzida entre Garrincha x Julinho.
Segundo motivo. A histórica participação do Mané na recentérrima Copa da Suécia, ele e seus ^João^.
Terceiro motivo. Uma certa ignorância do público presente.
Temos que retroceder CINQUENTA ANOS.
Não havia a facilidade de comunicação dos nossos dias.
Imperava o RÁDIO com Jorge Cury, Oduvaldo Cozzi ou Waldir Amaral.
Na Copa de 1954, nem VT havia. a ponto de, mesmo com meus 16 anos e certa facilidade para saber das coisas, ter ficado irado com o ^roubo^ de que fomos vítimas na derrota de 4 x 2 para a Hungria e consequente eliminação, na verdade alucinações de Mario ViaNNa e do Zezé Moreira.
Fiquei até envergonhado quando vi, por meio de uma filmagem de má qualidade, o incrível pênalti do Pinheiro, que JUrARAM não ter acontecido.
O povão estava ainda chocado com a derrota para o Uruguai em 50.
Sempre no Maracanã (quando não jogávamos fora), acompanhou nervosamente as vitoriosas eliminatórias contra o Chile e o Paraguai, mesmo sendo dois fregueses de caderninho.
Apesar disso, ignorava-se a presença do Julinho, além do mais jogador da pequenina (embora, à época, bem inoportuna contra todos os grandes de fato) Portuguesa de Desportos.
A venda milionária para a Fiorentina, entre os cariocas, passou batida.
Em suma, quem seria o tal de Julinho para barrar o fenomenal Garrincha.
Veio o jogo e, em poucos minutos, 2 x 0 (seria o placar final), em jogadas cerebrais do Julinho, uma delas concluídas pelo nosso Henrique Frade.
Abraços e SRN, à espera de mais uma decisão contra o Vasco.
FLAMENGO SEMPRE
Meu querido Carlos Moraes.
Além da desinformação sobre Julinho – compreensível, para a época -, me parece que há outra que você não citou: já cheguei a ler em algum lugar que, na verdade, naquele jogo Garrincha foi vetado em cima da hora por contusão. Só que o público não sabia, atribuiu a escalação de Julinho a uma decisão bairrista e não perdoou.
Como posso estar enganado, vou ver se encontro algo a respeito. Se encontrar, posto aqui.
Abração. SRN. Paz & Amor.
Murtinho, parto do princípio de que não há titularidade. O melhor tem obrigatoriamente de jogar. Dessa forma, não haveria panelinha. E é exatamente o problema que vem se arrastando há anos no time. Alguns jogadores permanecem sem nenhum progresso coletivo, emperrando a possibilidade de subida dos jovens ou de outro jogador de fora.
O atual problema da defesa em tomar gol a cada jogo é decorrente de uma melhor marcação dos volantes. Acredito que o Arão deve ser deslocado para uma posição mais a frente. Sua participação na faixa direita de campo é sempre positiva. Defensivamente, deixa a desejar. Seria sacado o Diego. Com dois volantes mais marcadores esse problema seria resolvido. Além de eliminar o líder dessa panelinha.
Acho o Cuellar um jogador bem regular, mas tem o grave defeito de jogar de cabeça baixa. Elimina parte de visão de jogo, causando uma demora na reposição de bola, além de impedir uma mudança de jogo lateralmente, pois, não consegue girar o corpo rapidamente em sentido oposto a sua posição. ( observe). Apenas detalhes que podem ser consertados.
Quanto ao jogo, foi bem fraquinho. Esperamos que contra o Anão da Colina o time tenha um melhor rendimento.
SRN
Fala, João.
O princípio da não titularidade devia ser regra. Ano passado, quando o técnico era Dorival Jr., Diego saiu do time por contusão, as coisas funcionaram com Everton Ribeiro pelo meio, e Diego teve de aturar o banco durante um bom tempo.
Eu não sei, rapaz, mas acho que a história de levar gol a cada jogo está na resposta que dei ao comentário do Ricardo. O time é ofensivo, quase sempre toma a iniciativa, e aí fica difícil não se expor. Também tenho dúvidas quanto ao rendimento do Arão mais avançado, apesar de achar que o Diego, que nunca mais foi o mesmo desde a contusão contra o Atlético Paranaense, na Libertadores 2017, reduz a velocidade na ligação e deixa o time previsível.
Sim, o Cuéllar tem esse defeito que você falou, mas a combatividade do cara é impressionante. No entanto, morro de medo quando a jogada se passa nas proximidades (ou dentro) da área do Flamengo e ele parte para o combate. Acho um pouco ansioso, um pouco açodado, mas hoje é um cara imprescindível.
Abração. SRN. Paz & Amor.
Também acho que existe uma perseguição desproporcional ao Arão e que o Cuellar virou o protegido da panelinha. Ê mania que essa torcida não perde!
Fala, Marcos.
Pois é. Nem o Arão é tão ruim como boa parte da torcida quer fazer crer, nem o Cuéllar, apesar de ter se tornado imprescindível, é o maior volante que já passou pelo Flamengo. Um pouco de equilíbrio, tanto dentro de campo quanto na arquibancada, seria bem melhor para todos nós.
Abração. SRN. Paz & Amor.
Se tem algo que eu sei é que não foi Pênalti na final da Sul Americana em 2017 e qualquer pingo de sensatez em uma pessoa convenceria ela do mesmo, marcar aquilo foi um erro descabido ainda corroborado pelo VAR.
Fala, Lucas.
Acho discutível e concordo em parte. Creio que há um excesso de pênaltis no futebol e que eles só deveriam ser marcados quando fossem absolutamente claros, o que não aconteceu no lance contra o Independiente. Até aí, ok.
Entretanto, por mais que gostemos do Cuéllar, precisamos reconhecer que muitas vezes ele é afobado e sua ânsia em tomar a bola dos adversários – algo sempre bem-vindo – dá aos árbitros chance de erros de interpretação. Como houve naquele lance, de resto uma jogada em que o cara estava carregando a bola para o fundo do campo.
Quanto ao pingo de sensatez, rapaz, ficou parecendo o amigo do meu pai, o Portocarrero, que não admitia que discordassem dele.
Abração. SRN. Paz & Amor.