(Mais um postzinho para tirar o atraso. A partir do jogo com o Peñarol, no Maraca, a ideia é não deixar a peteca do prazo cair.)
Libertadores, 2ª rodada da fase de grupos.
O Flamengo entrou em campo com o país em estado de choque. Cerca de doze horas antes, dois rapazes – um de dezessete, outro de 25 anos – invadiram a Escola Estadual Professor Raul Brasil, na cidade de Suzano, a cinquenta quilômetros do centro de São Paulo, e, armados de revólveres, machadinha, coquetéis molotov e besta, mataram cinco adolescentes e duas funcionárias do colégio. O massacre aconteceu poucos minutos depois de um deles, o mais jovem, ter assassinado o tio a tiros, numa loja de compra e venda de automóveis usados.
Por uma coincidência mórbida e estúpida, há um ano outra notícia nos estarrecera durante a transmissão da partida entre Emelec e Flamengo, também pela segunda rodada da fase de grupos da Libertadores: a execução da vereadora carioca (e flamenguista) Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, no bairro da Lapa. Naquela noite, o batismo de fogo internacional de Vinicius Júnior – ele fez os dois belos gols que garantiram a única vitória rubro-negra de virada em toda a temporada de 2018 – seria ofuscado pelo ato brutal.
Da mesma forma, o massacre de Suzano assombrou o Brasil. Entretanto, o calendário é apertado, a logística operacional e de segurança que envolve uma partida de futebol é complexa e custosa, o show precisa continuar. E apesar da perplexidade de duzentos milhões de brasileiros, Flamengo e LDU foram para o jogo.
A LDU apresentou um futebol adequado ao nome do seu principal patrocinador, o Banco Pichincha. Aliás, creio que aqui cabe uma rápida digressão. Se está longe de ser a competição mais atraente do mundo sob o ponto de vista técnico, a Libertadores é sem dúvida a mais intrigante. Não são poucos os casos de times medianos que a conquistaram. Só neste século tivemos o Olimpia em 2002, o Once Caldas em 2004, a LDU em 2008, o San Lorenzo em 2014, e não se trata de uma lista discriminatória contra clubes de menor tradição: não incluo nela, por exemplo, o Atlético Nacional campeão de 2016. Embora sem o peso da camisa das grandes forças do continente, o time colombiano, então sob o comando de Reinaldo Rueda, era indigesto. Os demais citados ganharam na vontade, na atitude e, no caso da LDU, na altitude. A Libertadores se presta a isso.
Claro: se você tem três ou quatro caras que gastam a bola e sobram na turma, as chances de levar o caneco são infinitamente maiores. Ocorre que, nos últimos tempos, isto se tornou raro no futebol sul-americano, já que os talentos se mandam cada vez mais cedo para encher os bolsos nas endinheiradas ligas europeias – no que fazem muito bem. Fica a realidade do nivelamento por baixo, que aumenta o peso da disciplina tática, da concentração e do empenho.
O time do Flamengo está longe de ser ruim, e mais ainda de ser um timaço. Mas qual o time espetacular existente no atual futebol brasileiro? Ou no argentino? Sendo assim, não me parece absurdo supor que o título da Libertadores 2019 ficará com quem souber juntar caráter vencedor e postura impositiva, desde que acompanhados de alguma técnica. O mínimo de qualidade é imprescindível, e isso o Flamengo tem. Resta encorpar a postura e forjar o caráter, duas coisas que vêm se revelando nossos calcanhares de Aquiles.
Embora a LDU tenha mostrado fragilidade, estamos cansados de ver o Flamengo se embananar em partidas aparentemente tranquilas. Sobretudo na Libertadores. Portanto, ter feito o jogo ficar fácil tem os seus méritos, e boa parte deles cabe novamente a Diego Alves, que defendeu o pênalti cobrado por Intriago aos 44 minutos do primeiro tempo e evitou que fôssemos para o intervalo com um incômodo empate, o que poderia fazer com que a coisa engrossasse. Fora o susto dispensável, o domínio foi absoluto e a vitória sossegada, com todo o time jogando bem e apenas Bruno Henrique produzindo um pouco abaixo do que dele se pode esperar. Vale, ainda, um puxão de orelha e uma despenteada no platinado cabelo do nosso capitão, que cometeu o primeiro pênalti sem necessidade e, na origem do lance do segundo, foi desarmado na entrada da área ao tentar um lençol no adversário, em vez de simplificar a saída de bola. É a tal falta de espírito da qual os torcedores rubro-negros vivem se queixando, e alguns jogadores teimam em não entender.
Bom. Como no segundo parágrafo citei o jogo de 2018 entre Emelec e Flamengo, vale lembrar outra partida disputada pelos dois, em Guayaquil, na fase de grupos da Libertadores 2014. O Flamengo venceu por dois a um, com a seguinte escalação: Felipe; Wellinton (Chicão), Wallace, Samir e João Paulo; Muralha (Recife), Amaral, Gabriel e Everton (Negueba); Paulinho e Alecsandro. Entre os outros quatro que compunham o banco de reservas, as ilustres presenças de Erazo e Lucas Mugni.
Vamos combinar: se de lá pra cá ainda não ganhamos nada, é inegável que melhoramos muito.
Lances principais.
1º tempo:
Aos 6 minutos, lançamento do zagueiro Rodríguez, Léo Duarte e Rodrigo Caio bobearam na marcação – foi a única falha de nossa zaga central em todo o jogo – e Aguirre escorou de cabeça para a chegada de Jhojan Julio, na meia-lua. O chute não pegou de jeito e, bem colocado, Diego Alves defendeu.
Aos 8, o Flamengo saiu rápido pela esquerda e Renê empurrou para Diego invadir a área. Cercado por quatro defensores da LDU, Diego rolou para Everton Ribeiro, cara a cara com Gabbarini. Bola no canto direito do goleiro, um a zero.
Aos 15, Pará arrancou pela meia-direita e sofreu falta de Aguirre. Em jogada ensaiada, Diego ameaçou levantar na área e tocou para Everton Ribeiro, que cruzou. Bruno Henrique se antecipou à zaga, desviou de cabeça para trás e Gabbarini saltou para fazer uma difícil defesa.
Aos 25, depois de ótima arrancada de Rodrigo Caio pelo meio, Everton Ribeiro pôs na área, Gabriel fez o corta-luz, enganando o zagueiro Rodríguez, e Diego bateu de sem-pulo, por cima do gol.
Aos 28, troca de passes entre Cuéllar, Willian Arão, Pará e Everton Ribeiro, que lançou Gabriel livre. Gabbarini saiu bem, abafou o chute e a bola voltou para Gabriel que, com o goleiro vencido, concluiu forte e sobre o travessão, perdendo duas grandes chances no mesmo lance.
O Flamengo mandava no jogo, a LDU poucas vezes ultrapassou a linha de meio-campo. Até que, aos 42 minutos, Quintero cobrou um lateral na área rubro-negra, Cuéllar cortou de cabeça e, na sobra, Diego fez um pênalti tosco – tão claro quanto desnecessário – em Vega. Era o risco que o time não precisava correr, perigando ir para o intervalo de uma partida dominada com um a um no placar. Menos mal que Intriago bateu fraco e à meia-altura, no canto esquerdo de Diego Alves, que pulou certo e defendeu.
2º tempo:
Aos 14 minutos, Renê fez excelente jogada, tomou a bola de Ayoví, livrou-se de Quintero e rolou para Willian Arão na entrada da área. Arão bateu forte e rasteiro, Gabbarini espalmou, Renê pegou o rebote meio sem ângulo e Gabbarini defendeu novamente, pondo a escanteio.
Aos 15, Everton Ribeiro tocou para Willian Arão que, de calcanhar, deixou Léo Duarte à frente de Gabbarini. Léo demorou para concluir, Cruz salvou de carrinho.
Aos 23, Everton Ribeiro lançou na marca do pênalti para Bruno Henrique, que entrava em velocidade e não conseguiu dominar. A bola sobrou para Gabriel e ele pegou firme, de primeira, no canto esquerdo, Gabbarini só olhou. Dois a zero.
Aos 35, Uribe entrou no lugar de Bruno Henrique. E em sua primeira participação, poucos segundos depois, fez o terceiro gol do Flamengo. Renê levantou na área, Willian Arão ganhou de Freire no alto e escorou para o centroavante colombiano, que dominou e virou para o fundo da rede. Três a zero, fatura liquidada.
Aos 42, Jhojan Julio lançou Angulo nas costas de Renê, ele chegou à linha de fundo e tocou rasteiro para trás. Willian Arão tirou contra o gol rubro-negro, Diego Alves conseguiu mandar a escanteio.
Aos 44, outro pênalti desnecessário, embora esse meio mandrake. Pra mim, nada. Diego tentou enfeitar perto da área, perdeu o domínio e fez falta em Murillo. O próprio Murillo bateu forte, a bola tocou na barreira. Trauco – que acabara de entrar no lugar de Renê – disputou a sobra com Freire e houve um choque normal. Germán Delfino marcou. Aos 46, Christian Borja, atacante de esquecível passagem pelo Flamengo em 2010, cobrou bem, diminuindo para três a um.
Ficha do jogo.
Flamengo 3 x 1 LDU.
Maracanã, 13 de março.
Flamengo: Diego Alves; Pará, Léo Duarte, Rodrigo Caio e Renê (Trauco); Cuéllar (Arrascaeta), Willian Arão e Diego; Everton Ribeiro, Gabriel e Bruno Henrique (Uribe). Técnico: Abel Braga.
LDU: Gabbarini; Quintero, Rodríguez, Freire e Cruz; Intriago (Murillo), Orejuela e Vega; Ayoví (Angulo), Aguirre (Christian Borja) e Jhojan Julio. Técnico: Pablo Repetto.
Gols: Everton Ribeiro aos 8’ do 1º tempo; Gabriel aos 23’, Uribe aos 35’ e Christian Borja aos 46’ do 2º.
Cartões amarelos: Cuéllar; Intriago e Aguirre.
Trio de arbitragem argentino. Juiz: Germán Delfino. Bandeirinhas: Diego Bonfa e Ezequiel Brailovsky.
Renda: R$ 2.596.530,50. Público: 62.440.
Pós derrota vergonhosa pro Peñarol.
O Abel é muito simpático, gente boa, queria como amigo próximo nem que fosse só pra bebericar seus vinhos que devem ser de primeiríssima, mas… fique longe, bem longe do Flamengo, por favor. Reconheça seus erros, reconheça, principalmente, que vc não tem a menor capacidade pra dirigir um time cheio de estrelas, embora a maioria mais apague do que acenda.
Passados, o quê? 3 meses?, o time é uma suruba desorganizada, afobado, errando passes ridículos, perdendo gols inacreditáveis, sem jogadas ensaiadas com exceção das manjadas ultrapassagens pelos flancos, Pará me fazendo sentir vergonha por ele, Gabigol mostrando porque não emplacou na Inter e até no Benfica (vai emplacar no Flamengo porque?), Arrascaeta – 13 MILHÕES DE EUROS – no banco, mesmo com o Diego jogando porra nenhuma, Renê voltando ao normal errando tudo e mais um pouco… Enfim, a lista é longa, cansativa e frustrante.
Assim como frustrante, prevejp, vai ser o ano do Flamengo. A única esperança é a revolta da torcida cobrando desse técnico de meia-tijela.
E mais não tenho a dizer. Me cansa escrever sobre baixarias.
Grande abraço, Jorge.
Bem lembrado sobre essa firula desnecessária do Diego, Murtinho, oxalá que ele esteja acompanhando o RP & A. Libertadores se ganha jogando sério!
Sim, Marcos.
A torcida vive reclamando disso, e alguns caras não conseguem se tocar.
Abração. SRN. Paz & Amor.
Faltou uma oobservação importante.
Não quanto ao jogo deste ano, mas em relação ao de 2014.
É de se constatar uma brutal diferença entre os dois times do Flamengo, com vantagem, evidentemente, para o atual.
Consequência óbvia. Um trabalho bem feito vem sendo feito, por mais que se critique, como eu mesmo faço constantemente, a Diretoria rubro-negra.
Por fim, uma recordação.
O gol da vitória, nos minutos finais, foi fruto de uma JOGADA NOTÁVEL do … NEGUEBA. Aonde anda, indago.
SRN
FLAMENGO SEMPRE
Meu querido Carlos Moraes.
Exatamente. A jogada foi dele, largando Paulinho na cara do gol, aos 47 do segundo tempo.
Google informa: nesse momento, Negueba está no Gyeongnam, da Coreia do Sul.
Abração. SRN. Paz & Amor.
Vou entrar pois entendo como extremamente importante um tipo de crônica como esta.
Provocaria a mais animada participação de todos. No condicional apenas pela defasagem. Passados muitos dias – e, com eles, muitos outros jogos, mesmo que do Carioqueta – o tesão do torcedor diminui muito, ou mesmo acaba.
A burrice inenarrável do Capitão (não confundir com o outro, que é bem pior), fazendo um pênalti estúpido, caiu no esquecimento, pelo menos até que nova venha a surgir, só se esperando que não seja no jogo de hoje, contra o Peñarol, adversário bem nais tradicional, quando nunca, mas que, em tese, deve ser derrotado com certa facilidade.
A idéia, em si, do Mestre Murtinho é extraordinária.
Logo após cada jogo, um artigo/comentário, colocando em destaque os principais lances, inclusive envolvendo as arbiragens, eventualmente.
Em assim sendo, cabe-me prometer que, amanhã, estarei de volta, em outro artigo, para elogiar – é de se esperar – mais um feito rubro-negro nesta fase tranquila da Libertadores.
Para terminar.
Sinceramente, em um grupo como o deste ano, não vejo muita diferença para o Campeonato Carioca;
San Jose e LDU são tão fracos quanto o Bangu, enquanto o atual Peñarol está, quando muito, no mesmo plano de Fluminense e Vasco.
Tranquilas SRN
FLAMENGO SEMPRE
Meu querido Carlos Moraes.
O que aconteceu foi o seguinte: escrevi o primeiro post nesse formato, achei que daria um caldo, mas fiquei inseguro quanto à possibilidade de segurar a onda da epopeia. Escrevi o segundo, achei interessante, mas a dúvida continuou. Até que decidi encarar. Não vai ser fácil manter a pegada, vai ser impossível manter tudo rigorosamente em dia, mas vou tentar. Os dois primeiros saíram completamente fora de qualquer razoabilidade, mas a ideia é – justamente como você falou – tentar fazer as postagens no mínimo antes do jogo seguinte.
Tecnicamente, concordo com a comparação entre essa fase de grupos – com exceção de uma ou outra chave – e o campeonato estadual. A questão é que a Libertadores virou o sonho de consumo de cem entre cem torcedores brasileiros, e aí você enfrenta o Rosita Sofia em casa e o mundo acaba. Fazer o quê?
Abração. SRN. Paz & Amor.
Rosita Sofia (INT.)
Campeão AMADOR (mesmo) dos anos 50.
Não acredito que você tenha acompanhado a trajetória de tamanha potência.
À distância, como garoto, torcia por um tal Confiança, que não é o de Sergipe.
SRN
FLAMENGO SEMPRE